Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

2988. Tsu e desemprego



O quadro anexo foi publicado anteontem pelo blog “dotecome.blogspot” – a cujo responsável cumprimento – e levado ao Facebook em alguns murais pessoais e de grupos.

Tem muito interesse. É mesmo muito elucidativo.

Através da sua leitura atenta pode constatar-se a evidência que tantos querem esconder.

Na quase generalidade dos casos em que houve transposição para o Face, porém, ela aconteceu por linkagem – o que parece muito insuficiente, porque a maioria das pessoas não se dá ao trabalho de seguir o link.

Mesmo no caso de a imagem ter sido transposta, não se mostram evidenciados os números que interessam, o que torna a leitura mais confusa e a percepção mais difícil.

Deste modo, entendi por bem publicá-lo eu também lá e agora aqui, em tamanho natural e com evidência do que deve ser evidenciado.

Para ver bem o quadro, faça click na imagem, que ela aparecerá ampliada.

O que se constata é que,

* nos países em que a TSU paga pelas empresas é muito mais alto do que a dos trabalhadores, como no caso português, o desemprego é igualmente alto;

* diferentemente se passa em situação contrária.

As excepções, por motivos diversos entre si, estão nos casos da Bélgica, Dinamarca e Finlândia.

Se, depois de apreciar bem o quadro, cujas fontes são a OCDE e o Eurostat, persistir em manter-se cego às realidades, esteja à vontade. A opção é sua. A mentalidade também.

Legenda:
. a azul, os números portugueses
. a verde, os dos países com baixa taxa de desemprego
  . a verrnelho, os outros.

28 Setembro 2012

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

2987. Ecce homo, probus beirão



D epois de seis anos de uma actuação a todos os títulos deplorável, Fernando Pinto Monteiro, ainda Procurador-Geral da República, entendeu por bem fechar a sua passagem pela estrutura do Ministério Público com chave de ouro mas, comme d’habitude, apenas foi capaz de o fazer com chave de latão cheio de verdete.

Em jeito de despedida, resolveu disparar em todas as direcções, a esmo, como por norma fazem todos os desesperados que acabam por verificar que, façam o que façam, jamais deixarão de ter o nome ligado ao período mais negro da magistratura do MºPº.

Mas vejamos em primeiro lugar a parte anedótica da entrevista e que revela bem o que o senhor percebe do assunto e até onde consegue ir na sua atitude pública de desrespeito pelas instituições do Estado. Isto, para não falar da “desconsideração” que a si próprio faz ao proferir tal afirmação.

JUÍZES DO JULGAMENTO DO FREEPORT

Considerou em voz alta e para milhões de portugueses “insólita” a circunstância de o tribunal não se ter limitado a julgar os arguidos que lhe foram presentes, mas tendo igualmente mandado extrair certidões de depoimentos feitos em julgamento, para eventual procedimento criminal contra outras pessoas não constituídas arguidas, entre as quais José Sócrates.

Uma tal alegação não é possível que parta de um magistrado. E mesmo, se se tratasse de um cidadão comum minimamente conhecedor das normas processuais penais, só podia ter surgido de uma mente perturbada ou, quiçá, por qualquer motivo desconhecido mas muito forte, obrigada a defender o indefensável.

Trata-se de algo tão estranho que não devia ser possível ser ouvido na voz de um homem que foi Procurador-Geral da República durante seus anos!!!

CÂNDIDA ALMEIDA

Responsabilizou a directora do DCIAP pelo fecho antecipado da instrução do processo do Freeport, por não ter requerido mais prazo.

Equivale a dizer que foi Cândida Almeida quem inviabilizou o apuramento de todos os factos atribuídos a arguidos que nem o chegaram a ser. Facto muito grave atribuído a Cândida Almeida.

POLÍCIA JUDICIÁRIA
 
A acusação de que a Polícia – e só pode estar a referir-se à Judiciária – leva a efeito escutas ilegais é de uma gravidade extrema e, a menos que tenha seu poder forma de provar o que diz, sem margem para dúvidas, arrisca-se a sérios problemas de cariz penal. É que não se refere a uma ou outra pessoa, mas a um organismo estatal.

* * *

Relativamente a estes três casos de estarrecer, que põem uma vez mais à mostra de todos a pessoa que ainda é PGR,

* quanto ao primeiro, julgo mesmo que os juízes nem devem preocupar-se com o assunto, tão caricato é;

* no que se refere ao segundo, Cândida Almeida que decida o que melhor entender. No seu lugar, eu punha-lhe um processo crime. Mas isso era eu, claro!;

* já no que toca à Polícia Judiciária, vou mais longe. Como cidadão português, exijo que ela tome todas as medidas necessárias a que Fernando Pinto Monteiro prove em juízo o que afirmou. Se não o fizer, que sofra as consequências; se o fizer, que se averigue tudo e que os responsáveis sejam punidos. Provavelmente também o ainda PGR por ter tido conhecimento de actos de tamanha gravidade e não ter actuado, como lhe competia, pelo que, mínimo, será conivente. É que o PGR – e bem assim todo o MºPº é o garante da legitimidade democrática no País.

A ver vamos…

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

2986. Há 25 anos...



H á 25 anos…

* menos de 40% das famílias portuguesas tinha carro;
. hoje, quase 25% tem não uma mas no mínimo duas viaturas.

* todas as médias e grandes cidades portuguesas estavam rodeadas de barracas;
. hoje, todas desapareceram.

* mais de 60% das famílias portuguesas não tinha casa própria;
. hoje, mais de 70% tem e cerca de 15% tem segunda habitação.

* todas as lixeiras eram a céu aberto;
. hoje, é o que se sabe.

* 20% das famílias não tinham televisor, nem telefone, nem frigorífico, menos ainda computador e acesso à Internet;
. hoje, só não tem quase quem não quis e 2 e 3 televisores, plasma, LCD ou LED por família é algo de corriqueiro;

* as estradas portuguesas eram verdadeiros “caminhos de cabras”. Auto-estradas havia três bocaditos, num total de 45 km (25 na actual A1 até Vila Franca de Xira, 15 na actual A2, até ao Fogueteiro, e 5 na actual A5, até ao alto da Boa Viagem);
. hoje, temos 48 auto-estradas (não contam aqui os IPs), num total de bem mais de 2.000 km. Percentualmente, temos a 2ª rede de auto-estradas da União Europeia. As auto-estradas dos Estados Unidos da América, nem por sombras chegam aos calcanhares das nossas.

Estes são apenas alguns exemplos muito concretos e fáceis de constatar à vista desarmada.

* * *

Foi demasiado para a parola mentalidade do portuga chico-esperto!

Sonhou que o Céu se lhe abrira de par em par e que Deus, portuga também, apenas estava, por interpostos cidadãos europeus, a pagar o muito que lhes devia!

* * *

Quem acha V. que pagou estas e outras “mordomias” que agora por aí vemos?
V. com o suor do seu trabalho? Mas… acredita mesmo nisso?
Pensa mesmo que, com os níveis de produtividade de que sempre demos mostra, teríamos conseguido o equivalente a 10% de um desenvolvimento destes? Está mesmo bem da cabeça ou precisa de tratamento urgente?

Desengane-se de uma vez por todas e deixe de fazer figuras tristes. De que, na arrogância que exibe, nem se dá conta

Quem efectivamente pagou tudo isto foram os nossos parceiros europeus, com o dinheiro retirado dos seus impostos, pagos com o suor do seu trabalho e que foi retirado à herança dos seus herdeiros. Rios de dinheiro alheio que, a partir de 1986 e durante 25 anos (um quarto de século!) seguidos, inundaram o país com “milhões de milhões” de euros de borla, a fundo perdido, a título de solidariedade e coesão europeia. E nós a vê-los (aos euros dos outros feitos nossos, claro!) chegar e a malbaratá-los! Indecentemente a malbaratá-los!

Pois bem. Anote o que segue, porque é de toda a importância que perceba e se deixe de patetices, que só o colocam mal a si e aos seus concidadãos.

Os 78 mil milhões que tivemos de pedir á troika, não fazem parte da história de cima.
A realidade é que esses “milhões de milhões” que os cidadãos nossos parceiros europeus nos ofereceram a titulo de esmola, não nos bastaram, tal foi a nossa sofreguidão, a nossa voracidade.

Assim, esses tais 78 mil milhões – que não são apenas esses, porque há mais – correspondem ao endividamento que fizemos PARA ALÉM dos outros que recebemos “à borliú”, para estoirarmos.

Nestas condições, na verdade o melhor é não pagar e mandar os credores dar uma curva e… que não tivessem sido tolos!

Confesso que me encho de vergonha sempre que abordo este assunto.

2012 Setembro 24

terça-feira, 18 de setembro de 2012

2985. Camilo Lourenço revisitado?



José Gomes Ferreira, jornalista de economia da SIC, foi, até há cerca de 10 dias, forte apoiante da actuação do Governo, tendo afirmado sempre que o executivo estava no bom caminho e as medidas que  tomava eram absolutamente indispensáveis para que o resgate do País fosse levado a bom porto. Sem elas, o País não recuperaria.

Era dos pouquíssimos jornalistas a falarem desassombradamente, contrariando o "status quo" vigente na Comunicação Social em geral, na SIC em particular.

Houve até quem, nas redes sociais, lhe profetizasse algum azar, "não tarda nada".

Subitamente, há coisa de 10 dias, tudo mudou.

Para José Gomes Ferreira o que antes era bom e correcto,  é agora execrável e obra de uma cambada.

Uma tão insólita mudança de rumo de 180º graus não surge de improviso. A menos que o utente da mudança se tenha "passado da cuca". Tão repentina inversão de marcha só pode, pois, significar uma certa "madness".

Poderá ser alegado que foi a TSU que o deixou fora de propósito. É, porém, justificação para quem não tem justificação aceitável para apresentar.

O caso da TSU, uma simples medida entre tantas outras, que nem sequer está já decidida, não tem assim tanto poder que dê a volta à cabeça a quem tinha a posição de Gomes Ferreira.

Agitará as massas - que se convenceram de que o corte dos subsídios aos funcionários e pensionistas era mais do que suficiente para pagar 78 mil milhões de euros de dívida, pelo que se podia deixar todos os restantes cidadãos em paz e sossego a apreciar o panorama, lá de cima do balcão - e quem sempre esteve no "contra", que aproveitará o ensejo para ganhar uns pontos.  JGF, porém, só agora aparece nessa barricada. E com uma virulência de espanto!

Tudo visto, resta, pois, outra hipótese:

Será que está a acontecer ao jornalista de economia, José Gomes Ferreira, uma revisitação ao jornalista de economia, Camilo Lourenço, aqui há anos atrás, curiosamente na área do mesmo grupo de interesses?

É que, como sabemos, as pessoas precisam de viver e bem assim de alimentar, vestir e calçar a família. Camilo não recuou, mas nem todos são camilos...

Cabe, pois, a JGF esclarecer o caso. O jornalista transformou-se, por si próprio - voluntariamente, portanto - pelas posturas que assumiu antes e assume agora, em figura pública de grande relevo na conjuntura actual. Ora, as figuras públicas devem explicações ao... público. Noblèsse oblige.

A menos que esteja efectivamente impedido de explicar, ainda que o queira fazer. Aí, o caso muda de figura.

Ninguém tem o direito de exigir seja de quem for que meta a cabeça no cepo, à espera do cutelo do carrasco. Conhecido.

2984. Frase

O PS é, de facto, um partido interessante
Começou com presos políticos e vai terminar com políticos presos!
Esperemos que outros não lhe sigam os exemplos...


(A Junção do Bem)

2983. Manobrismo Político



O lhe bem para este rosto e respectiva pose.

É bem conhecido o rosto. Como diriam na minha terra: de ginjeira!


A pose é também a habitual. Apenas lhe falta o espelho em frente. Ensaio de simulação de grande concentração nos negócios de Estado e de patriotismo serôdio e deslocado. Nada mais, pois, do que basófia improdutiva.


O conjunto espelha bem o manobrismo que de há muito ansiamos que seja arredado da política portuguesa, sem o que não passaremos da cepa torta.


Na verdade, há que, de uma vez por todas, dar uma corrida em pêlo a estes velhos-velhos e novos-velhos, carcaças apodrecidas cada um deles, enorme concentração de matéria orgânica pútrida, insalubre, de todos os partidos, que enxameiam a política e nada são capazes de construir, apenas de destruir, manobrando sempre por detrás das cortinas.


S ó disporemos da possibilidade de fazer a renovação, com a eleição por círculos uninominais, que é a forma de pôr cada um dos trastes, face a face com quem os elege ou… rejeita. Ali, no bem-bom. Para depois darmos lugar a gente mais nova e com ideias mais arejadas que, embora errando durante a aprendizagem, como lógico é que aconteça, pelo menos não esteja ainda empedernida como calhau.


Mas isso é outro assunto que tem de ser tratado em oportunidade mais adequada.


Voltando à vaca fria (sem conotações, bem entendido):


Bom teria sido que esta personagem não tivesse maculado a imagem de sem-passado do governo – limpa, portanto – quando da sua formação.


Trata-se da única excepção. Mesmo assim e pelos vistos, mais do que suficiente para causar estragos muito dificilmente reparáveis, a juntar aos da sua igualha que, uma vez mais, têm vindo a evidenciar todo o seu “valor” nos cantos mais obscuros e debaixo dos calhaus mais inamovíveis do PSD.


Infelizmente, não foi possível, embora lhe tivesse sido atribuído pelouro de mera representação externa, sem actuação ao nível de execução nas pastas que realmente contam.


Foi-lhe oferecido, pois, um avião de brinquedo e um conta-milhas aéreas, para que se entretivesse pela estranja, com isso se tentando evitar que provocasse estragos internamente, como é de seu vício.

Em vão. A ânsia de protagonismo saloio e desestabilização que lhe corrói as entranhas não ficou saciada.

Claro que já se sabia do que a casa gasta. Mas não foi possível evitá-lo.


Na verdade, não é possível dizer-se ao parceiro de coligação que se aceita a ida de qualquer dos seus membros para o executivo governamental, excepção feita ao presidente, por não ser minimamente confiável.


E, claro, aqui chegámos! Previsível mas inevitavelmente.


2982. Os dados-algodão



A lguns dados esclarecedores do descalabro “daqueles seis anos” que agora amargamos:

Número de Cidadãos em Portugal – 10.555.853
Número de Trabalhadores no Activo – 4.837.000 (45,82%)

- Dívida Pública Portuguesa (2004) – 90.739 M€
- Dívida Pública Portuguesa (2011) – 174.891 M€
(aumento percentual apenas em seis anos - (92,74% = 15,44% /ano)

- Em 2004, o Estado devia por cada português – 8.596 €
- Em 2011, o Estado devia por cada português – 16.568 €
- Em 2011, o Estado devia por cada português, incl. PPPs – 19.032 €

* * *

Todos estes números são provenientes do INE e da Pordata e foram publicados há quatro dias no blog Blasfémias, de onde os retirei. Mas há mais.

Conteste-os quem achar conveniente e dispuser de melhores indicadores, mas faço lembrar que são como o algodão…

* * *

Perante isto e tudo o resto, porque isto é apenas um pequeno afloramento, há ainda inconscientes a pensar em que o corte dos subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas e reformados seria suficiente para cobrir o descalabro.

E pensam tal porquê? Por incapacidade mental? Por feitio? Talvez o Criador saiba!

sábado, 15 de setembro de 2012

2981. Tolices sobre tolices


T udo estava bem quando tolamente se pensava que o corte dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e 11% das pensões de reforma bastava para resolver um problema de 78 mil milhões de euros,

ou seja, tudo estava bem quando tolamente se pensava que em Portugal viviam os malvados funcionários públicos e os cretinos pensionistas mais ricos e poderosos da galáxia e que esses que pagassem a crise se quisessem, para aprenderem a ser mais moderados...

Tolices em cima de tolices!... O que nós fizemos deste pobre País!...

2980. A hipocrisia dos cobardes



A s críticas aceradas que se ouvem de grande parte dos economistas da nossa praça e aparentados revestem carácter mais hipócrita do que as do cidadão comum.

No fim de contas eles sabem – estão fartos de saber!... – que, para as soluções que o governo está a tomar, pressionado pelas exigências dos representantes dos nossos credores internacionais, ou seja, os membros da troika, não há alternativa.

E sabem igualmente – estão mais do que fartos de saber!... – que, aconteça o que acontecer, nada  poderá impedir este caminho, sob pena de cairmos na maior tragédia de sempre da nação portuguesa após a perda da independência em 1580.

Se não tivessem a consciência destas duas realidades amargas, nenhum deles se atreveria a fazer declarações completamente insólitas que temos ouvido nos últimos dias.

Imagine-se qualquer um deles a ter que explicar como aplicaria a receita que está implícita (apenas implícita, por falta de coragem de a dizer claramente) no que afirma – ou mesmo a governar segundo tal receita. Alguém com dois dedos de testa, de capacidade de inteligir, acredita que fariam diferente se estivessem nas condições do governo?

O resultado não seria melhor do que a palermice da proposta “alternativa” que Tozé Seguro – a quem diariamente a máquina de propaganda que continua em funções no Largo do Rato incute dois ou três soundbytes bem sonoros e completamente abstrusos, proferidos em pose balofa – proposta essa que teve parto extremamente complicado e, logo à chegada, se viu ser completamente inexequível e tola. Tanto esforço de meninges, tanto tempo de parto, para logo ser deitado para o caixote das coisas imprestáveis!

A atitude que têm vindo a tomar, explica-se, pois, nesta frase que no silêncio do segredo do seu íntimo, para si próprios proferem:

- Deixa-me cá retocar a imagem perante o "respeitável público", dizendo coisas que lhe agradam, embora saiba que não passam de demagogia irresponsável, porque, no fim de contas, eu não decido nada. Falo apenas, como “a irmã do Solnado”, pelo vício de dizer coisas, de aparecer cinco minutos na TV, e, na disputa com os meus iguais, não ficar com o ferrete de não ter alinhado com a insanidade geral. Como não sou eu que tenho de que decidir, posso dizer tudo o que me venha à cabeça.

Na verdade, se eles não tivessem a certeza de que, digam o que disserem, nada pode ser alterado, jamais se atreveriam a tanto, porque a alternativa é sermos largados completamente desamparados, no mundo da realidade.

É a bem conhecida hipocrisia dos cobardes.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

2979. Dívida pública através dos tempos



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A
dívida pública portuguesa tem sido a seguinte ao longo dos anos da república, calculada em percentagem sobre o PIB:

Datas marcantes e respectivos valores:

1910 – 68% (final da Monarquia e instauração da República)
1925 – 80% (antes do golpe de Estado de 28 de Maio de 1926)
1945 – 33% (fim da II Guerra Mundial)
1968 – 29% (Caetano substitui Salazar e a meio de uma guerra de três frentes)
1974 – 15% (golpe de Estado e revolução dos cravos)
1986 – 50% (entrada na CEE e início da injecção de dinheiro a fundo perdido)
2005 – 55% (início do 1º governo de Sócrates)
2010 – 90% (último ano completo dos “consulados” de Sócrates e do PS)

A realidade é esta. Não concordante com discursos de demagogia e aldrabice…

Esqueçamos os anos anteriores e concentremo-nos apenas nos de 2005 e 2010. Que vemos?

Apenas isto:

* os 90% do final de 2010 correspondem a 150.000.000.000€ (cento e cinquenta mil milhões de euros), o que levou a que o País tivesse entrado em bancarrota em Março de 2011 e fosse obrigado a solicitar ajuda, com intervenção externa, pela 3ª vez em apenas 37 anos!!!
Qualquer outra consideração para além desta realidade angustiante, é pura fantasia em noite de profundo pesadelo.

* em seis anos houve um acréscimo de 35% no montante da dívida;

* esse acréscimo é, de muito longe, o mais acentuado e grave de todos os tempos – os dados existentes não vão além de 1850, mas nunca nos 900 anos de história do País, houve nada igual - verificado em tão curto horizonte temporal
(sendo embora igual, o dos anos loucos do PREC e seguintes, de loucura total, de 1974 a 1986 – de muito acentuada instabilidade política, com governos de várias matizes a serem empossados e substituídos com altíssima frequência – é de 12 anos, portanto mais do que o dobro dos de 2005 a 2010);

* este, o de 2005 a 2010, revela uma média de agravamento de 7% ao ano, o que constitui algo de verdadeiramente inimaginável, cujos responsáveis deveriam estar pura e simplesmente a responder perante uma justiça recta e expedita por tais resultados, que revelam incúria, desleixo e sabe-se lá que mais na condução dos negócios do Estado;

Os valores indicados referem-se, como foi dito, apenas à dúvida pública. O total da dívida externa portuguesa calcula-se em algo situado entre os 400.000.000 e os 500.000.000 de euros!

Por aqui pode – quem não estiver de cabeça feita e vontade comandada pela onda de demagogia e mentira que avassala o País – ter uma pequena noção da situação em que Portugal foi deixado e do esforço que vai ser necessário despender para o resgatar.

Quem alguma vez pensou – ou foi levado a pensar – que o corte dos subsídios de férias e de Natal de funcionários públicos e pensionistas era suficiente para resolver tudo e que, por isso, nem seria necessário incomodar os restantes portugueses, começa agora a despertar para a realidade, a entender que não era nada assim e, claro, a não gostar do que lhe acontece.

Seria bom, por outro lado, que se convencesse de outra realidade da mais elementar evidência:

Não basta sanear por agora as finanças públicas. Isso foi feito em 1977 e, 6 anos após, tudo estava pior; foi igualmente feito em 1985 e, 25 anos após, cá estamos uma vez mais em piores – bem piores – circunstâncias, não obstante a brutal injecção de dinheiros que entretanto, a título de fundos perdidos, nos chegaram vindos de Bruxelas, durante estas últimas duas décadas e meia!

Significa isto que, num período de duração semelhante ao de Salazar no Poder, tendo passado por três situações de aperto económico, jamais antes sofrido, que nos conduziram à tutela estrangeira, nada aprendemos para nos defendermos de tais situações de humilhação nacional e individual. Uma atrás da outra, têm sido sempre agravadas.

Ora, quem não é carente de um mínimo de percepção real das coisas ou não está afogado na propaganda dolosa que tem minado os alicerces da sociedade portuguesa, reconhece que nada pode continuar como antes. Esta é a oportunidade última para sanear de vez as finanças e para reformar as Instituições, a começar pelo próprio Estado, mas não parando por aí. Não o fazer, ou não permitir que se faça, constitui crime sério de atentado contra o Estado Português e, pior, contra a Nação Portuguesa.

A independência nacional não se garante com discursatas inflamadas sem qualquer tipo de sustentação na realidade. Defende-se, sim, pelo fortalecimento da Economia, pela existência de instituições fortes e úteis ao País e aos cidadãos. Pelo trabalho sério e pela responsabilidade cívica, enfim.


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

2978. ... de guarda ao pomar, quem o assaltou?



Por mim, não tenho dúvidas em continuar a apoiar o actual governo, por três razões fundamentais da máxima importância:

1. –
Ter as mãos limpas.

É formado por pessoas que a ele chegaram de mãos limpas e afastadas dos habituais “lobbies” de Poder existentes em Portugal, que conduziram o País à situação em que se encontra.

Insisto neste ponto, por ser muito mas mesmo muito importante e decisivo, não obstante número muito surpreendente de pessoas pareça não conseguir alcançar o seu significado e decorrências.

Na verdade, tanto o primeiro-ministro, como os ministros e secretários de estado –excepção feita ao ministro dos negócios estrangeiros, que terá furado a regra por se tratar do presidente de um dos partidos da coligação, mas está na representação externa – haviam integrado governos anteriores em funções executivas.

2. – Não estar sujeito à ditadura das capelinhas, maçónicas ou não.

A prova de que o governo está afastado dos lobbies, constata-se na circunstância de o próprio partido de origem do primeiro-ministro, o PSD, albergar, como se tem visto, dos maiores e mais ferozes adversários, que o atacam sem dó nem piedade, fazendo mesmo uso de manobras e expedientes de muito duvidosa seriedade e até mais gravosos do que os da Oposição. O lobby do PSD foi deixado, pois, bem longe deste governo.

Todos aqueles que sempre criticaram a influência dos aparelhos partidários na acção dos governos, deveriam ponderar esta circunstância. Não ponho esperança em que o façam, porque outros interesses se interpõem. Mas sempre deixo o apontamento. Assim, ninguém poderá alegar que não foi prevenido.

O governo não tem lobbies, não está manietado por lobbies nem capelinhas, maçónicas ou não, e essa é mesmo a razão pela qual, atacado por todos os lados, até mesmo de onde lhe devia vir o mais forte apoio, surge apoio, sim, mas à contestação. Se alguém exigia provas da isenção e honestidade do actual governo, esta, pode-se afirmar sem receio de desmentido, é a maior de todas.

Nestas condições e por coerência com o que sempre critiquei ao longo dos anos, ou seja, a obediência dos vários governos que temos tido, a todo o tipo de associações secretas e “bilderbergs” adredes, estou mesmo obrigado e apoiá-lo. E de consciência bem aliviada, por observar um dever que considero inalienável.

3. – Estar a cumprir o mandato que lhe foi conferido, respeitando-o, e ser a única esperança que nos resta, até mesmo sem que eles o saibam ainda, àqueles que são seus adversários.



Por entre dificuldades, para além das naturais de governar numa conjuntura destas, para a qual não contribuiu minimamente, não previsíveis de todo em clima de sanidade social, o governo tem vindo a exercer a sua acção, respeitando as obrigações a que tem de responder, embora cometendo, aqui e além, alguns erros de palmatória, erros que considero de significado não decisivo para levar à coluna do seu “Deve”, o maior dos quais reside num débito de comunicação com os cidadãos verdadeiramente surpreendente, por inesperado. Mas isso tem muito mais de forma que de conteúdo.

E, quanto a este, terei que chamar a atenção para a circunstância de, estando o governo a cumprir realmente os deveres do mandato que assumiu, não se vislumbra, nem de perto nem afastadamente, qualquer hipótese de alternativa para tempo útil.

Na verdade, olha-se em redor e em redor está o deserto. E a perspectiva deserto ainda é a que menos dano provoca.

Na verdade, a única alternativa que poderia existir está no PS, sozinho ou acolitado pelos mesmos de sempre, entre os quais laranjas bem conhecidos, que agora furiosa e descabeladamente atacam um governo de que o PSD é a força maioritária. Alternativa apenas formal, note-se, porque não há condições para tal. Mas, mesmo que houvesse, pergunto:

– Existe por aí alguém tolo ou actuando como tal e de má fé, que, prezando o seu pomar, lhe ponha de guarda quem já e repetidamente o assaltou?

Ora, não sendo os assaltantes do pomar que devem ser postos a guardá-lo, quem mais?

Comece-se por notar que, além de cumprir aquilo a que o País está obrigado, por força do memorando de entendimento, pela primeira vez, um governo português não está a limitar-se a sanear momentaneamente as suas finanças, como foi feito quando das anteriores intervenções externas, mas a ir mais além, encetando um vasto leque de modificações que hão de reestruturar e reformar as instituições da sociedade portuguesa, as quais, por não terem sido levadas a efeito nas ocasiões anteriores – esta é a terceira em 34 anos, verdadeiro “record” mundial absoluto, imagine-se!!! – nos trouxeram aonde estamos.

Como é que, nestas condições, eu posso deixar de apoiar um governo destes? Um governo que está a fazer precisamente aquilo que eu – e comigo tanta gente, quase toda a gente, mesmo aqueles que agora se acirram ferozmente contra ele – sempre quis que fosse feito, por acreditar que, enquanto o não for, não vamos lá.?

Coerência no pensamento e na atitude, mesmo que arrostando com as maiores contrariedades e incompreensões, é o que mais exijo de mim próprio. Por isso, cuido de a preservar.

As coerências alheias não são do meu foro, pelo que delas não tenho de curar.

* * *

Aqui ficam, pois, as razões por que tenho apoiado e vou continuar a apoiar o actual governo. Até que o mandato de honra seja integralmente cumprido ou, deixando de o ser, eu encontre razões justas, para abandonar este que, para mim, é igualmente um ponto de honra.

12 Setembro 2012


NB.-

Talvez a única alternativa viável esteja no PCP, cujos dirigentes, a começar pelo inefável, ele também, Bernardino Soares, tiveram já a suma lata, o descaramento e a pouca vergonha de começarem a apelar ao levantamento popular, suspirando, quiçá, pelo PREC de tão saudosa memória!... Politique à la PCP…

terça-feira, 11 de setembro de 2012

2977. Hollande vai perceber...


A s ameaças de François Hollande  de taxar os ricos de forma diferente de todos os restantes cidadãos (a célebre fórmula de “os ricos que paguem a crise”) estão a começar a dar resultado.

Bernard Arnault, o homem mais rico da Europa, está a tentar conseguir dupla nacionalidade. Além da francesa, quer agora a belga, onde os impostos são bastante mais baixos.

É uma coisa que Hollande ainda não percebeu, mas de que rapidamente tomará nota, de certeza.

Com o poder económico, a forma de actuar tem de ser outra, que não a da força, porque o poder económico tem mais força do que o político. Com os detentores do verdadeiro Poder, há que usar-se de astúcia e de capacidade de persuasão.

Se isso não for feito, eles, porque têm o poder, o real poder, facilmente se subtraem às leis mal enjorcadas e persecutórias, tanto a pessoa como as empresas que tem, as quais, num ápice, pura e simplesmente deslocalizam (onde é que já vi isto?).

E, fazendo-o, lá se vão as receitas fiscais cobradas ao homem e ás suas empresas, confortar os cofres de outros países, onde o Estádio actua com maior lucidez.

Claro que a situação não é nem cívica nem moralmente aceitável. Mas o capital está-se marimbando para o civismo e para a moralidade.

Cabe é aos governantes não se deixarem levar em demagogias cretinas e actuar na defesa real dos interesses dos seus países e dos seus concidadãos. Mesmo que estes não percebem o que está em jogo.

Em Portugal já passámos por fase semelhante quando o radicalismo do PREC levou inúmeros empresários e “retirarem-se” para o Brasil, Argentina e tantos outros países, onde rapidamente refizeram as fortunas e passaram a pagar impostos, tendo ficado Portugal, alegre, feliz e contente, a caminho da miséria por que todos passámos e de que só conseguimos sair, primeiro com o enormíssimo fluxo de dinheiro vindo, às pàsadas, dos impostos pagos pelos nossos parceiros europeus e, depois, pelo endividamento geométrico em que nos afundámos perante a comunidade internacional.

François Hollande vai perceber tudo isto muito rapidamente. Caso contrário, ainda levará a França a pedir, ela também, que a resgatem “pour l’amour de Dieu!”.

A Espanha já lá está.
A Itália vai a caminho.
A França será a “senhora” que segue…

François Hollande vai perceber. Olá se vai! E mais lhe valerá já do que amanhã…

2976. Alguém se lembra?


Alguém se lembra de 1983-85 e de Soares?

Uma coisa é certa:


Vivemos actualmente um período de actuação do poder político muito mais democrático do que nessa altura.


No governo de 1983-85, com o “capo” Marocas
 (“Soares é pixe” – não, não há engano…), as coisas processaram-se de forma muito mais grave e muitíssimo mais autoritária.

O governo fez positivamente o que quis, como quis, e aos portugueses nem sequer deu qualquer justificação, sem lhes passar o mínimo “cartucho”.


A não ser… a não ser… enviar a polícia de choque para acalmar ânimos mais exaltados.


O resto das pessoas nem se deu ao trabalho de reclamar.


Vivia-se em Portugal em muito piores condições do que se vive hoje. O desfasamento entre os ordenados europeus e os portugueses era um mar imenso.


Soares, baixou e subiu os juros como bem entendeu, desvalorizou a moeda de tal modo que o preço de qualquer importação subiu à estratosfera e o de qualquer exportação desceu aos abismos. Cortou nos depósitos, meteu a mão nas poupanças, em vez de dinheiro pagou em títulos que logo a seguir desvalorizou para números inconcebíveis (esperteza saloia), o que penalizou as pessoas por muitos anos mas o livrou de apuros. Enfim… pintou a manta! As pessoas esqueceram-se e outras nem sequer souberam.

 E, note-se!, nessa altura a gravidade da situação não era sequer minimamente comparável com a de Junho de 2011.

Nota:-


“pixe” -> que cheira mal, fétido, nauseabundo.

2975. Economistas, analistas, etc.



P elos vistos as pessoas esqueceram-se de que, há cerca de 18 meses, todos os economistas, analistas, comentadores e políticos, garantiam que vinham aí tempos muito duros.

Os próprios economistas, analistas, comentadores e políticos – todos eles, alguns até de forma surpreendente, pelo modo como falavam e falam agora – parece que se esqueceram igualmente do que disseram então, ou seja,

que os tempos que estavam para vir, durante dois a três anos, seriam extremamente duros, para resgatar Portugal e os Portugueses do regabofe em que estávamos mergulhados há muito anos, com especial relevo durante a última década.

Pelos discursos inflamados de agora, tais economistas, analistas, comentadores e políticos devem, na sua infinita sapiência, ter imaginado que o corte dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e dos pensionistas seriam os tais tempos duros, que só teriam de atingir quem atingiram, deixando de fora – a gozar o panorama – todas as restantes gentes cá no rectângulo das alegrias da cigarra.

E, se bem o imaginaram, melhor o encaixaram nos respectivos bestuntos e, melhor ainda, disso convenceram a generalidade do povo em redor.

É bom que não seja esquecido que no ano passado, as férias não sofreram grandes alterações ao que era habitual e este ano o panorama também não foi muito mudado. Como resultado da impreparação das pessoas relativamente à gravidade d a situação que vivemos. E d essa impreparação são réus os “opinion makers”, os fazedores de opinião cuja principal razão de existência é, como o próprio nome indica, moldar a opinião das massas brutas e ignaras, esclarecê-las, enfim.

Pois… para a cura das maleitas de anos e anos de “boa vai ela”, bastava lixar os subsídios aos funcionários públicos e aos pensionistas e… pronto! Estava o milagre feito! Imagine-se que os sindicalistas até se deram ao luxo e à arrogância inaudita de começarem a “exigir” aumentos brutais de salários, como se estivéssemos no reino da idiotia perene, melhor dito da sacanice sem medida!

Por aqui se vê, na verdade, a qualidade dos economistas, analistas, comentadores e políticos que temos. Depois de as coisas acontecidas, são bons prognosticadores. Infalíveis mesmo no resultado do jogo, quando o jogo terminado.

E a ingenuidade do povo, que, por impreparação e por acreditar em contos de fadas, aceita e ingere todas as balelas que lhe metem pela “goela abaixo”.

Sai-se agora da miragem dos sonhos idiotas e entra-se na realidade dura dos factos. Que os tais economistas, analistas, comentadores e políticos que por aí vegetam, cada qual mais incapaz e desrespeitador da verdade que o anterior, tinham a obrigação de prever e do facto alertarem as pessoas.

Porque a ser assim, como efectivamente é, não precisamos absolutamente nada de economistas, analistas, comentadores e políticos, pelo que podem ir dar uma volta e não regressarem, muito obrigado a toda a cambada.

Até porque, depois desta gravíssima falha, apenas de sua culpa, persistem na irresponsabilidade que os caracteriza e lançam agora “postas de pescada” para o ar, acerca do que o governo fez e não devia, mas que eles, inchados e balofos, generalistas de tudo e especialistas de nada, características indissociáveis da menoridade intelectual indígena, sabem de ciência muito bem sabida, mas não revelam, para que não seja malbaratada pela turba… Como aquela de onde ir buscar o dinheiro que tão necessário é se não às soluções que o governo vai anunciando de forma tão canhestra, embora verdadeira e inevitável.

Ao governo cabem também responsabilidades. Claro. Não as que saltam de imediato à mente do zé povinho, prenhe que anda de demagogia infrene incutida pelos tais de que vimos falando, mas porque também estaria obrigado a ter tido, ao longo de todo este lapso de tempo que decorreu desde a tomada de posse, uma política de informação permanente, para prevenção das pessoas para o que era inevitável que surgisse. Como surgiu.

Na verdade, não é compreensível, nem aceitável, que o governo não tenha saudavelmente alertado em constância para o que estava para vir, pois que não bastaria o paliativo do corte dos subsídios a meia dúzia de cidadãos, deixando de fora todo o resto do maralhal. Não bastaria nem seria justo.

Em resumo, não há ninguém aqui pelo rectângulo isento de responsabilidades. E, curiosamente, o governo nem será dos maiores responsáveis – uma vez que está a cumprir o que tem de cumprir, seja lá como for, muito lhe custe ou não – mas tão somente porque não soube preparar as pessoas para o que aí vinha. A comunicação governamental dirigida aos cidadãos é, na verdade, uma completa hecatombe.

11 Setembro 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

2974. Os que efectivamente sentem a crise



N a parte que se refere às responsabilidades individuais, dos cidadãos, portanto, na criação da situação em que estamos, porque a responsabilidade, sendo dos políticos e, primeira mão, não é apenas dos políticos…
e
tendo em atenção que os portugueses que já antes da crise viviam com dificuldades insuportáveis, por serem os mais desprotegidos de sempre da sociedade portuguesa, para os quais a crise pouco agravou a sua condição ou mesmo nada a agravou e, pelo contrário, a melhorou, não somente porque os bens alimentares e outros desceram de preço, mas igualmente porque a eles não foram cortadas benesses que a outros foram e até algumas melhorias os contemplaram já, pelo que a desproporcionalidade se desacentuou,
anotando ainda que,
para além dos que perderam o emprego, num total que estará muito perto das 190 mil pessoas, tendo em atenção que a taxa de 2010 era de 11,5% (632 mil) e no final do primeiro trimestre de 2012 de 14,9% (819 mil), eis a lista dos que efectivamente sentem a crise:

Todos os que, dispondo de rendimentos para determinado estilo de vida, optaram alegre e irresponsavelmente, por um outro consideravelmente superior.

Desde logo porque:

1. – podendo tomar o pequeno-almoço em casa, antes de sair para o trabalho, o faziam e fazem – e levam as famílias a fazê-lo também – na pastelaria mais próxima do bairro (confira-se ainda hoje isso, a título de mero exemplo, repetido por todo o lado, nas “avenidas novas” de Lisboa)

2. – podendo tomar a refeição de almoço como fazem outros povos com poder de compra muito superior, como os ingleses, que o trazem de casa, em lancheiras, ou os americanos, que se limitam a um hot-dog e um refrigerante, optaram sempre por frequentarem restaurantes, para empanturrantes almoços de faca e garfo, sem olhar a gastos (quem achar que não é de ter em linha de conta, que faça as contas a almoço em restaurante diariamente em cada 22 dias do mês a ver a que conclusão chega…) ;

3. – tendo disponibilidades financeiras para adquirir casa de determinado valor – e não mais – em determinados bairros, optaram conscientemente por adquirir outra bem mais cara e com localização mais “in”, para mostrar a amigos e conhecidos “quem é quem e onde vive”;

4. – tendo posses para adquirir viatura automóvel de determinados cilindrada e espavento, se decidiram por outra muito mais cara e dispendiosa, por motivos da mesma ordem dos do número anterior, ou seja, para mostrar a amigos e conhecidos “quem é quem e em que bólide se pavoneia” (atente-se no assombroso número de BMWs. Audis e Mercedes dos mais variadíssimos modelos que por circulam neste País de gente rica e bem assim no não menos assombroso número de veículos tipo “Hummer” que igualmente são exibidos numa ostentação infame, neste “País das Maravilhas, por gente que não tem onde cair morta;

5. – apenas tendo massas para gozar as férias anuais “lá na terrinha” ou, quando muito, nas costas Vicentina, da Prata ou Verde, o ia (e em muitos casos ainda vai) fazer em Varadero, Cancún, Banda Acheh ou Phuket, para tal contraindo empréstimos do caríssimo crédito pessoal para um ano, sem que tivesse acabado de pagar o do ano anterior;

6. – devendo usar roupas normais, de acordo com o seu estatuto pessoal e financeiro, optaram – e continuam a optar – por apenas usar roupas de marca, uma vez que “não pode vestir, nem deixar que a família vista, coisa menos flamante do que vestem “o parvalhão do vizinho e a respectiva família de ranhosos”;

7. – podendo optar por adquirir produtos de origem nacional, mais baratos, fugiam dessa parolice como o diabo foge da cruz, porque os produtos estrangeiros, sendo mais caros, têm outro estilo, sendo, como se sabe, sempre de muito melhor qualidade, mesmo quando são manufacturados nos mesmos locais, pelas mesmas pessoas, com os mesmos materiais (caramba, uma coisa é “adquirir Calvin Klein ou Dolce & Gabanna”, outra, bem diferente é “comprar Lanidor ou Ana Sousa” – têm outro quid, não sei se estão a ver…;

8. –  podendo, no hipermercado que frequentam, abastecer-se ao alcance das suas bolsas, com produtos brancos, dos hipermercados, a preços substancialmente inferiores aos das marcas e com qualidade absolutamente igual, por se tratar, em ambos os casos, do mesmíssimo produto, preferem levar o de marca… o que se compreende porque este faz muito mais vista no carrinho das compras do que o outro… e o que é preciso é mostrar que se tem o que na verdade não se tem, para o vizinho ficar invejoso…

A enunciação destas hipóteses pode estender-se por muitos mais números. É só questão de escolher o tema a abordar.

Tudo é, pois, uma farsa pegada, de gente burra e irresponsável, que precisa de tutela porque não sabe governar-se por si, nem defender os interesses próprios. Que agora paga, claro! Sob o cutelo da justiça divina, assinale-se, aqui sob o disfarce de “troika”!

Reconhece-se em alguma ou algumas das hipóteses elencadas? Não me diga que não!

Quase apostaria que consegue mesmo. E se não nestas, em outras de semelhante valia e efeito. Claro que não sou ingénuo a ponto de esperar que se confesse em público. O que pretendo com isto é que consulte a sua consciência cívica e moral. Será o suficiente.

Pois, o que é que julga que exprime a frase tantas vezes por aí repetida de que “andámos, por anos e anos a fio, a consumir três, quatro, cinco vezes mais do que aquilo que podíamos, em face do que efectivamente produzíamos”?

Sim, é a isto mesmo que a frase se refere. A nada mais do que isto. E acerta em cheio no cerne da questão.

De uma simplicidade e lucidez que até magoa, não é verdade? Mas devia magoar bem mais, porque só a dor da cura que efectivamente magoa e muito, tem o poder de sarar as feridas da maleita!

Quanto aos restantes, os que sempre fizeram vida de acordo com as suas reais disponibilidades – que os há, creia – sem o complexo das grandezas ou a vontade de achincalhar o vizinho ou até de aplacarem a inveja que lhes corrói a alma, a actual crise, afectando-os também, não os derrota.

Esses, não são passíveis de ser derrotados.

9 Setembro 2012

sábado, 8 de setembro de 2012

2973. Comunicação ao País


C omo é bem sabido, sou apoiante do actual governo e do seu primeiro-ministro. Não incondicional, porque incondicional não sou de nada, nem de ninguém. E o meu trajecto político é disso boa testemunha. Considero-me mesmo independente e se entendo ser meu dever de cidadania apontar erros dos que politicamente me são mais próximos, não hesito. Se nunca hesitei quando tinha que ganhar a vida, menos iria hesitar agora que já não preciso de fazê-lo.

* * *


Entendo que a missão de que o primeiro-ministro e o governo estão encarregados é extremamente difícil, sendo indispensável dispor-se de muita força de carácter, muita disponibilidade mental e muita coragem moral para a levar a cabo, como tem que ser levada, para que o País seja resgatado da situação de autêntico lodaçal em que foi afundado por força da incompetência, da venialidade e da profunda – por que não dizê-lo? – ausência de espírito de portugalidade de muitos trastes que, ao longo de décadas, tiveram o Poder nas mãos, para servirem a comunidade e dele apenas se serviram em proveito próprio.

Mas a quem agora detém o Poder e é depositário da ingente missão que é preciso levar a cabo, não bastam as características indicadas.

É preciso convicção pessoal, íntima, não somente para levar à prática os actos que julgue adequados ao desiderato nacional que há que prosseguir sem desfalecimentos, mas igualmente para a transmitir aos governados.

E é indispensável também saber “o quê”, “quando” e “como” comunicar.

Ora, na comunicação de ontem ao País, o primeiro-ministro falhou em toda a linha. Não no conteúdo nas medidas anunciadas, mas na forma como anunciou e no tom usado.

Não falhou no conteúdo porque as medidas muito dificilmente poderiam ser outras – quem disser que tudo se resolve facilmente de outra forma, ou estará equivocado ou a induzir em erro os cidadãos, com dolo, por saber que não há outra forma e não obstante insistir na tecla.

Mas falhou rotundamente na forma com as apresentou e na postura pessoal que adoptou.
 
Na verdade, há muito tempo que não assistia a um discurso tão mal concebido e a um seu débito tão fraco, tão inconsistente.

É sabido que Pedro Passos Coelho usa um tom e uma forma de dizer que tem a preocupação – instintiva, não fabricada, portanto – de não dramatizar as coisas, o que, de modo geral, traduz uma sã e lúcida atitude, porque o pior que um governante pode fazer é dar mostras do desnorte neurótico a que assistíamos com o antecessor no cargo, cujas “sessões” se revestiam de elementos trágico-cómicos que lhe retiravam toda a credibilidade.

Mas há momentos em que um governante – qualquer governante – que se preze, tem que pôr os governados perante as realidades da vida e de usar o ênfase que as sublinhem de forma iniludível. Há momentos, na verdade, em que é sim ou sopas, sem lugar a meias tintas.

Ora, ontem,  Pedro Passos Coelho falhou em toda a linha. Desde logo, na estruturação do discurso; depois, na postura corporal, a postura de um homem derrotado e descrente. Ainda bem que a esmagadora maioria dos portugueses não sabe ler posturas corporais e respectivos significados.

O discurso estava muitíssimo mal estruturado e redigido. Numa intervenção daquelas, muito embora deva ser escrita para evitar percalços, há que ter o cuidado de a redigir de tal modo que, quando lida, não pareça que o está a ser, antes dê a ideia de que sai do fundo da alma, com toda a convicção do mundo. Nesse aspecto, foi um verdadeiro desastre.

Se quem escreveu o discurso – não tendo sido ele – mais valera ter-se dedicado à agricultura de enxada, quem o leu – ele próprio – deveria previamente tê-lo lido várias vezes em voz alta perante gente que saiba alguma coisa de comunicação verbal.

A comunicação em actos de governo não pode estar entregue nas mãos de amadores rascas. Ao menos que, neste capítulo, algo tivessem aprendido com os profissionais ao serviço de Sócrates, que nem a postura corporal do homem e o ângulo por que era filmado descuravam. Ou seja, chegavam ao exagero, ao cómico mesmo, mas mais valia isso do que a insensatez de ontem.

Depois, é profundamente lamentável que o primeiro-ministo apresente medidas como as que teve de apresentar, evidenciando falta de convicção dele próprio – o que ninguém nas suas condições deve permitir-se deixar que se perceba, porque isso apenas desmobiliza, quando tão necessária é a mobilização de quem pretende salvar o País – sem, a título de contrapeso, oferecer um lampejo de esperança.

E a parte final do discurso constituiu a cereja em cima do bolo do exemplo do que jamais deve ser feito. Depois de ter anunciado novas medidas que vão agravar as condições de vida dos portugueses, medidas duras, mas que é minha convicção de que são necessárias, como tenho vindo a dizer, a referência às medidas a tomar relativamente a PPPs, fundações e outras patifarias congéneres, mais valia terem ficado no tinteiro ou na garganta. Porque nelas falar como que a medo e uma vez mais sem convicção alguma, com a voz mesmo sumida, é pior do que calar o assunto.

Apoio, pois, como já inúmeras vezes escrevi e efectivamente tem vindo a acontecer aos olhos de quem me lê, o trabalho que tem vindo a ser feito, mesmo os erros, porque ninguém que faça obra a ergue sem a comissão de erros, mas a prática da comunicação verbal que tem sido adoptada, e que ontem teve o seu auge, é, a todos os títulos, lamentável e fico a fazer votos por que não se repita.

Sei que este escrito não vai chegar ao primeiro-ministro, Nem sequer a ninguém dele próximo, que o alerte para o assunto. Mas gostaria que alguém com senso comum suficiente o despertasse para estes pormenores, em política tão importantes, decisivos mesmo, e, em consequência, impossíveis de ignorar e menos ainda de arrasar, dinamitando-os.

Pedro Passos Coelho tem mostrado – a quem está disposto a ver, que os outros, nem a Senhora de Fátima convenceria – capacidade para governar o País nos termos adequados ao incontornável resgate. Tem evidenciado igualmente forte determinação e empenho no cumprimento da missão, que missão é mesmo nas circunstâncias em que está a ser levada a efeito. Mas não pode malbaratar o capital de seriedade que isso lhe traz, com apresentações como a de ontem.

É que nem uma palavra de estímulo, uma palavra de apelo á congregação de esforços, com vista a atingir-se o bem comum; nem uma palavra que desperte os portugueses da letargia em que estão e incendeie os de boa vontade e os leve ao redobrar de energias no combate; nem sequer uma palavra de esperança, de “vamos ter de fazer mais este sacrifício, mas o fundo do túnel está ali a chegar”. É demais! E o que é demais, é exagero inadmissível.

Que é isto, primeiro-ministro? Os portugueses precisam de quem incentive a sua dignidade e reerga o seu orgulho nacional, porque para os desanimar e deitar abaixo já cá temos muitos patifes. Muito mais do que algum dia necessitámos.

8 Setembro 2012


2972. Factura cá, factura lá...

N o programa que acabo de rever, “Negócios da Semana”, de José Gomes Ferreira, na SIC Notícias, com a intervenção de Domingos Azevedo, bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, ambos se declararam muito favoravelmente impressionados com uma solução, dita quase milagrosa, da Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais.
E qual é essa medida? A de os cidadãos pagantes de serviços poderem, a partir do momento em que a medida esteja em vigor, deduzir as despesas que façam com o pagamento de tais serviços na declaração de IRS.

E ainda mais milagrosa porque os cidadãos nem sequer terão de levar essa despesa à declaração de IRS, porque ela lá estaria automaticamente, em fase mais adiantada do desenvolvimento da medida.

Não sou fiscalista, não sou economista, não sou mais do que um simples cidadão pagante, muitas vezes não bufante mas já em algumas barafustante mesmo. No entanto, não vejo na medida assim tantos méritos. Com toda a franqueza!

Acredito na boa vontade e ciência do que está a fazer, por parte do secretário de estado e respectiva equipa, mas fico meio sem graça quando constato que se opta por soluções que ainda têm tudo para não resultarem em cheio, porque repletas de buracos por onde se pisgam das obrigações fiscais todos os malandrins que por aí se passeiam.

Argumenta-se que tal medida tem a virtude de poder subtrair à fuga aos impostos muitos serviços que hoje fogem, o que será um resultado excepcionalmente bom.

Perante isto, fico a pensar:

- Mas por que carga de água esta gente se contenta com o bom, quando pode ter o óptimo e com menores trabalhos e sem dependência da boa vontade do cidadão pagante, boa vontade essa sempre muito falível?

Explico a razão da minha estupefacção:

É certo que, com a medida agora anunciada, muitos trânsfugas serão caçados e boas receitas virão ao Estado, o que não acontece agora.

No entanto, para além de ainda muitas situações não serem abrangidas, como é caso mais flagrante o da construção civil, é evidente que, mesmo nas situações que é suposto estarem contempladas, haverá sempre a possibilidade de fuga.

E haverá sempre fuga porque a coisa assenta muito na necessidade de eu, pagante, exigir emissão de factura.

Explico mais detalhadamente, para não restarem dúvidas a ninguém. Nas redes é mesmo necessário que ninguém fique com dúvidas, porque aparece sempre alguém que percebe tudo ao contrário, por mais bem explicadinho que esteja:

Imaginemos que tenho, há muitos anos, todos os serviços de mecânica automóvel executados em determinada oficina. De tal modo que existe já uma certa cumplicidade entre nós. Nem eles nem eu temos alguma vontade de ver facturas emitidas. E ambos por razões tão evidentes que nem perco tempo a explicá-las. Que me desculpem os tais que nada percebem a não ser com desenho… colorido.

Como é que, com esta medida, deixará de haver figa ao fisco? Haja alguém da secretaria de estado que me explique, que eu não vejo.

Começa logo porque é do nosso interesse mútuo – meu e do meu “amigo” mecânico – continuar sem facturas metidas no negócio. Depois, porque, mesmo passando eu, de repente e por artes mágicas, a ser um cidadão muito consciencioso para com o Estado e pouco para comigo próprio, jamais me passará pela cabeça exigir qualquer tipo de factura ao meu “amigo” que me desempana o carro e me tem desenrascado muitas vezes, com arranjos imediatos, porque não posso ficar nem um dia sem a “máquina”.

Há já, de há anos para cá, uma certa cumplicidade entre nós e não será o charme do secretário de estado que a desfará com um simples aceno da varinha de condão.

Portanto e até para não começar a notar que o meu carro já não é arranjado como era habitual, coíbo-me de fazer exigências ao mecânico e, porque também não me convém, penso cá para comigo que o que gostaria é que o secretário de estado vá dar uma volta ao bilhar grande que eu continuo “abraçado” ao mecânico “fujão”, numa amizade quase familiar.

Aquilo tem sido – e, pelos vistos, vai continuar a ser – uma transacção bolso-a-bolso, sem máquinas “abusadoras” de permeio.

Não vejo, pois, na medida anunciada, as grandes virtualidades que Domingos Azevedo e José Gomes Ferreira vêem. Admito, porém, que o defeito seja meu, até porque sou “caixa de óculos”.

* * *

A “minha” solução seria outra e, quanto a mim, bem mais simples, curta e grossa. Sei que se trata de uma solução muito “despida”, à qual faltarão os “indispensáveis” requisitos de complexidade e confusão, para dar trabalho mental de alta transpiração e largo proveito a muita gente, mas acredito que seria a solução radical para acabar com a fuga ao fisco.

Aí vai ela em 17 palavrinhas apenas, que são muitas mais do que as letrinhas da palavra “mãe”, mas têm igualmente muitas virtualidades:

Quem tem negócio de porta aberta fica obrigado a dispor de máquina registadora, devidamente selada e controlada”.

– Mas… – contrapor-me-ão alguns desmacha-prazeres – … e então como é que isso é controlado? Não vai ficar tudo na mesma?

Quero lá saber de como isso é controlado. A autoridade fiscal que pense nisso, que eu já fiz a minha parte. Mas… não me importo de deixar uma dica:

Não está a ser engrossado o quadro dos inspectores fiscais? Então, que não haja acanhamentos. Mande-se-os para o “terreno”… fazer o seu trabalho ou seja, fiscalizar. De S-U-R-P-R-E-S-A , hã?!

E não digo que, atrás desses se mandem outros para os fiscalizarem a eles, porque, enfim… Mas…