É da autoria do meu ilustre amigo José Miguel Dias Pereira, advogado de profissão, defensor acérrimo das gentes e interesses setubalenses, o artigo que adiante transcrevo por o julgar de muito interesse, principalmente na hora que vivemos neste país que é uma bênção dos Céus, mas que muita gente teima em estragar por completo.
Dias Pereira faz parte daqueles que não se conformam com a actual situação nacional, mas também a nível local, e que se vai rebelando como é possível, sem nunca perder a esperança em "amanhãs" melhores, desde que "não cantem", porque de desafinadas cantorias estamos todos saturados até à medula...
Deixo-o, pois, com "A estranha forma de vida", de José Miguel Dias Pereira. Fica em boa companhia, creia.
* * *
Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade (…)
Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão? (…)
Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.
Eu não te acompanho mais:
pára, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.”
Não apurarei se esta letra, imortalizada por Amália Rodrigues, era dela, ou de outro poeta de serviço, nem essa conclusão seria relevante para este escrito, onde venho partilhar com os meus leitores um estado de alma.
A minha deixa, começa com a lucidez do título “Estranha forma de vida”, quando o poeta se refere a um coração que se apaixona e que por isso vive e bate para além da razão, e que ele desiste de acompanhar, porque vive perdido, independente e sem controle, não sabe para onde vai, mas teima em correr. E que acaba com o poeta, coitado, a sentir-se oprimido por um coração assim.
Pronto: eu não sou poeta e por isso, indo direito ao assunto, é estranha a forma de vida do nosso Estado. E da nossa relação com ele. Tal como a relação do poeta com o seu coração. É que, se Coração do Poeta era dele, apesar de se ter autonomizado e ganho vida própria (a tal que é estranha), também o Estado é nosso, e se autonomizou, passando a assumir destinos que nada dizem aos cidadãos (e que por isso nos são estranhos e nos oprimem).
Querem ver? Ele é uma lei estúpida do tabaco, assomo claro de que querem mesmo tomar conta de nós, depois de andarem anos a dizer-nos o que era bom para nós; quer proteger-me a mim – não fumador – duma coisa de que eu me sei proteger e onde não preciso da ajuda de ninguém (muito menos de quem não serve de exemplo…). Outra: uma autoridade ainda mais estúpida – parece que se chama ASAE mas também dá pelo nome de “Polícia das Bolas de Berlim” – que se demarca das leis que aplica, invocando que não legisla, mas que as leva até onde o legislador nem imaginou, salvo no que se lhe aplica…
E que dizer na área da segurança individual, de um sistema de investigação que só apanha um delinquente por denúncia, por escuta telefónica ou por acaso? Ainda há 6 meses soube do enjoo de um Sr. Agente perante uma denúncia de crime de intromissão em propriedade privada e de dano grave por o participante… não poder dizer quem tinha sido. Especializou-se em quem tem morada, número de contribuinte e por onde pagar - o que justifica os gravíssimos assaltos perpetrados pela maioria dos radares de velocidade de Lisboa ou as operações que por cá vemos na Variante ou na descida do Jumbo. E que, por isso, perde mais tempo e aplica mais meios para apurar de quem é um Mercedes estacionado 10 minutos fora do tempo do parquímetro – que há-de pagar um multa de 30€, nem que seja a última coisa que faça! - do que a perseguir e apanhar o marginal que danificou o mesmo carro, em mais de 2.000€… Lindo.
E por aí fora com as taxas do audiovisual, dos resíduos sólidos, do Simplex, ou da Administração Central, Local e Fiscal, toda virada para os números ou as estatísticas, e para servir de palco a uma classe emergente e já poderosa de dirigentes sem Mundo ou Obra, de implacável mediocridade e de sofreguidão pelo poder, que fazem a inteligência parecer uma desvantagem perante a vida. Uma miríade de exemplos que muito me divertiria enumerar aqui (se não fosse triste e, pior, do meu Estado), mas onde não hesitarei em começar uma cruzada, se me provocarem.
O meu ponto é este: tal como o poeta de fartou do coração e lhe diz “pára e deixa de bater, se não sabes onde vais; porque teimas em correr, eu não te acompanho mais” também os portugueses começam a dizer do seu Estado a mesma coisa. Seja no crescente alheamento eleitoral, que só não é maior porque há abstenção no próprio recenseamento, apesar de obrigatório, como no alheamento cívico e participativo, e como tal na negação desse verdadeiro Colectivo que é um Povo.
E então, parafraseando o poeta: “Oh Estado: Pára e deixa de cobrar, se não sabes para onde vais; porque teimas em existir, eu não te acompanho mais! “
Na verdade, se já nem isto nos importa, se não nos sentimos reprimidos, negados, mesmo gozados, como Povo, é de facto estranha, a nossa actual forma de vida…
Dias Pereira
(Cidadão e Contribuinte)
...
9 comentários:
Desculpem-me ter opinião diferente e achar que não é irrelevante para o caso já que é por aí que o post começa. Por isso aqui fica a nota:
Estranha forma de vida. Letra e música: Alfredo Duarte.
Quanto ao artigo, o mais de acordo possível pois parece que este (des)governo não nos acompanha e está, sim, contra nós, contra o País.
Sobre verdadeiros roubos que as Rep. de Finanças estão a fazer aos cidadãos hei-de 'falar' com o Ruben por email mas posso adiantar aqui qq coisa. Ex: cobrança de impostos já caducados, cartas que não são enviadas, - enviam uma com o 'nº 3' a avisar penhora mas a nº1 e a nº2 nunca foram enviadas porque não existem. Pedidos de cobrança de impostos já cobrados, falta de resposta a cartas registadas com aviso enviadas pelo cidadão pagante... enfim!
Uma alegria!
Quem foi que disse 'O estado é uma pessoa de bem'?
Um abraço a dividir.
I.
Viva, Isabel!
Ainda bem que veio dar a achega quanto a autoria da letra e música do fado. É que eu induzi o meu amigo em erro, tendo-lhe dito que letrista havia sido o João Patrão dos Santos. Felizmente que aparece alguém que sabia.
Quanto ao resto, deixe-me dizer-lhe isto, cara amiga: com esta gente e para usar linguagem muito corrente em Moçambique, direi que, o Estado "erava" gente de Bem e "tinhava" muita honra em ser honrado.
E não digo mais nada, para não me exceder, pois que ultimamente ando muito "excedentário" sempre que me calha falar nos ditos senhores.
Ah! A Isabel, o Dias Pereira e eu somos, cada um de nós, de clubes diferentes, com cores bem diferentes; mas, curiosamente, somos todos também do mesmo clube, com a mesma cor.
A retribuição à parte que me coube no abraço, ai vai.
Ruben
Em suma:
Esta "passagem liquidatária" do "Socratismo-socialeiro",vai-nos deixar mais um legado, para lá da miséria:
A LETRA PARA UM FADO (TRISTE) HUMORÍSTICO!!!
O que me diz das declarações do General Garcia Leandro?!!!
Viva, Camilo!
É verdade, sim. Mais um legado excepcional.
Dali apenas surgem legados destes.
Abraço
Ruben
Viva, Camilo!
Quanto a afirmações de Garcia Leandro, não sei do que fala, mas desconfio de que se trata da falta de pontaria dos polícias,não? Não me apercebi, mas a minha mulher falou-me em algo no género. Apenas não me disse quem tinha sido o orador... Vou ver se descubro.
Abraço
Ruben
Concordo a 500% com o que a Isabel disse...e não digo mais, não vá ser processada por difamação e falta de provas...
Viram aquela notícia de uma médica que pediu o Livro de Reclamações e foi condenada e a reclamação ainda andas "aos papéis" na Câmara?
Pois... é o País que temos...
Bj e continue o "Carnaval"...
Viva, Menina!
Pois é... mas, com um governo destes, o que eu menos quero e que o governo me acompanhe.
Não quero cá misturas dessas. Tenho uma reputação a defender. Amanhã, vinha por aí um maduro qualquer a dizer-me:
- Diz-me com quem andas... dir-te-ei quem és!...
SAFA!
Bj e ele, o Carnaval, continua, pois claro!
Ruben
Ruben;
Assunto: Clubes & Clubes
o capito! (deve ler-se em italiano) :)
Abraço e bom samba! :)
I.
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