Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

2582. O exemplo que vem da Madeira

Já neste blog tive oportunidade de escrever dando conta da admiração e da solidariedade que os madeirenses em mim despertaram, pela forma contida, digna e resignada, mas não desistente como enfrentam a adversidade que de chofre lhes caiu em cima, arruinando-lhes as vidas e deixando-os de luto profundo.

Mas essa sua forma de encarar a tragédia, mais impressionante pela ausência dos gritos lancinantes e espalhafato tão habituais nos portugueses - e em os outros povos mediterrânicos -, acentua a minha admiração e o meu profundo respeito por outra circunstância que tem sido possível observar.

É ela a de, imediatamente a seguir à tragédia e logo que surgiram os primeiros sinais de abrandamento do terrível temporal, terem deitado mãos à obra de limpar o que ficou caótico, reerguer o que caiu, restaurar o destruído.

E nem sequer ouvimos nas entrevistas que as TVs trazem até nós, a gritaria choramingona e mendicante de que o Estado é que tudo tem de fazer. Pelo contrário.

Entendendo, certamente, que Estado tem que ajudar muito, o que é natural e dever estatal, não se eximem às suas obrigações pessoais, que, no caso, consistem em serem os primeiros a meter mãos à obra com os recursos pessoais de que dispõem e que, como se tem constatado, em muitos casos pura e simplesmente deixaram de existir. Mas mesmo nos casos em que já não existem, temos visto que, pelo menos, existem duas mãos nos extremos de dois braços, por cada Madeirense...


É certamente por isso, por esse espírito comum ao ser humano normal, habituado a puxar pelos próprios nervos e músculos, obrigando a mente a pensar positivamente e a reagir à adversidade, que não quer ser tratado como ser menor, incapaz de se valer pelos próprios meios, que ao quarto dia após a terrível tragédia, vemos as ruas do Funchal e da Ribeira Brava e eis que o o panorama é já outro. Bem visível está já uma obra descomunal de trabalho, de esforço honrado... de espírito de sacrifício, de antes quebrar do que torcer.

Pois bem, é próprio sem dúvida dos Madeirenses este espírito forte, muito forte mesmo. De assombro. E independente.

Mas há também ali muito da alma indómita, por vezes inconveniente e sempre extravasando do "politicamente correcto", que não se deixa vergar, de quem os governa. O espírito forte que desperta nos governados o incontível impulso de o seguir, de não ficarem para trás. Desde Camões que sabemos que "
rei fraco faz fraca a forte gente". A contrario sensu...

Quem anteriormente visitava a Madeira apercebia-se bem do trabalho que ali havia, que transformava a ilha numa verdadeira pérola - agora sim - em pleno Atlântico plantada. Poderia haver algumas reticências acerca do que determinava o exemplar surto de progresso que se vislumbrava em torno de qualquer observador imparcial. Pois bem, essas dúvidas desvaneceram-se agora de vez, com este exemplo. É na tragédia que se avalia a força mental de um povo.

O espírito indómito e realizador dos Portugueses de antigamente, que não era abatido por nada nem ninguém e que nos levou a descobrir e civilizar mundos, continua desperto. Vive e trabalha na Madeira.

Há muito que o não víamos pelo que supusemos que se perdera para sempre. Não. Está na Madeira. É só olhar, ver, interiorizar e seguir o exemplo, que nos fará voltar a sermos um povo com dignidade recuperada.

A Madeira e os Madeirenses vão ficar, a partir de agora, como exemplo de coragem, tenacidade e espírito de resistência que mister é que seja seguido por todos os Portugueses, tão desistentes de há décadas para cá. E tão dependentes e menorizados parece fazerem gala em se mostrar.

Também nós, portugueses de fora da Madeira, precisamos de rei que não faça fraca e dependente, menorizada, a forte gente que já fomos...
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