Aqui vão sendo deixados pensamentos e comentários, impressões e sensações, alegrias e tristezas, desânimos e esperanças, vida enfim! Assim se vai confirmando que o Homem é, a jusante da circunstância que o envolve, produto de si próprio. 2004Jul23
quarta-feira, 21 de março de 2012
2920. Vida de reformado
Quando saí, um polícia municipal estava a passar-me uma multa por estacionamento indevido.
Aproximei-me rapidamente dele e disse-lhe:
- Vá lá, sôr guarda, eu não demorei mais que cinco minutos... Deus olhe que Deus há-de recompensá-lo se tiver um pequeno gesto para com um pobre reformado...
Olimpicamente, olhou-me de alto a baixo e ignorou-me, continuando a preencher o formulário.
A verdade é que me passei um pouco e disse-lhe que devia ter vergonha.
Olhou-me novamente com a maior friezas, mesmo desprezo, e, rapando de outro impresso, iniciou o preenchimento da notificação de outra, esta por não ter colada a vinheta comprovativa do pagamento do seguro.
Aí, alterou-se-me a voz ao dizer-lhe que já tinha percebido estar a lidar com um autêntico fascista e que nem compreendia como é que ele tinha sido admitido na polícia.
Terminou a anotação da segunda infracção, colocando-a no pára-brisas, e começou um terceiro preenchimento.
Pronto! Eu já estava incomodadíssimo com a história que estava a arrastar-se por mais de 20 minutos e, confesso, cheguei mesmo a xingá-lo um pouco, chamando-lhe algumas coisas que, por algum decoro, aqui não me atrevo a reproduzir. Garanto que não sou muito destas coisas, mas a criatura estava a ultrapassar todas as marcas e há coisas que nem santo aguenta, quanto mais eu!
A cada provocação, o homem respondia com um novo papelinho onde escrevinhava mais uma infracçãozeca a que, escrevia o malvado, correspondia nova multa. Pareceu-me mesmo ver um esboço de sorriso de escárnio sacanola na deslavada cara do facínora. Raios partissem o homem! Não vir o raio de um tsunami e levá-lo de escantilhão, lá para onde o Judas perdeu as botas!
Por fim, já cansado daquilo e vendo que não o demovia da enorme patifaria que me estava a fazer, após a décima violação, cheio de raiva, regouguei-lhe nas fuças:
- Oh, que o pena! – olhou para mim, surpreso, sem dizer palavra, mas com as sobrancelhas em interrogação muda e eu fazendo-me de novas… – Que pena realmente ter de ir-me embora! Sabe… o meu autocarro está mesmo a chegar…
E lá subi para o 9, em direcção ao Rato, pois moro na Rua de S. Filipe Nery.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário