P elos
vistos as pessoas esqueceram-se de que, há cerca de 18 meses, todos os
economistas, analistas, comentadores e políticos, garantiam que vinham aí
tempos muito duros.
Os próprios
economistas, analistas, comentadores e políticos – todos eles, alguns até de
forma surpreendente, pelo modo como falavam e falam agora – parece que se
esqueceram igualmente do que disseram então, ou seja,
que os
tempos que estavam para vir, durante dois a três anos, seriam extremamente
duros, para resgatar Portugal e os Portugueses do regabofe em que estávamos
mergulhados há muito anos, com especial relevo durante a última década.
Pelos
discursos inflamados de agora, tais economistas, analistas, comentadores e
políticos devem, na sua infinita sapiência, ter imaginado que o corte dos
subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos e dos pensionistas
seriam os tais tempos duros, que só teriam de atingir quem atingiram, deixando
de fora – a gozar o panorama – todas as restantes gentes cá no rectângulo das
alegrias da cigarra.
E, se bem o
imaginaram, melhor o encaixaram nos respectivos bestuntos e, melhor ainda,
disso convenceram a generalidade do povo em redor.
É bom que
não seja esquecido que no ano passado, as férias não sofreram grandes
alterações ao que era habitual e este ano o panorama também não foi muito
mudado. Como resultado da impreparação das pessoas relativamente à gravidade d
a situação que vivemos. E d essa impreparação são réus os “opinion makers”, os
fazedores de opinião cuja principal razão de existência é, como o próprio nome
indica, moldar a opinião das massas brutas e ignaras, esclarecê-las, enfim.
Pois… para
a cura das maleitas de anos e anos de “boa vai ela”, bastava lixar os subsídios
aos funcionários públicos e aos pensionistas e… pronto! Estava o milagre feito!
Imagine-se que os sindicalistas até se deram ao luxo e à arrogância inaudita de
começarem a “exigir” aumentos brutais de salários, como se estivéssemos no
reino da idiotia perene, melhor dito da sacanice sem medida!
Por aqui se
vê, na verdade, a qualidade dos economistas, analistas, comentadores e
políticos que temos. Depois de as coisas acontecidas, são bons prognosticadores.
Infalíveis mesmo no resultado do jogo, quando o jogo terminado.
E a
ingenuidade do povo, que, por impreparação e por acreditar em contos de fadas,
aceita e ingere todas as balelas que lhe metem pela “goela abaixo”.
Sai-se
agora da miragem dos sonhos idiotas e entra-se na realidade dura dos factos.
Que os tais economistas, analistas, comentadores e políticos que por aí
vegetam, cada qual mais incapaz e desrespeitador da verdade que o anterior,
tinham a obrigação de prever e do facto alertarem as pessoas.
Porque a
ser assim, como efectivamente é, não precisamos absolutamente nada de
economistas, analistas, comentadores e políticos, pelo que podem ir dar uma
volta e não regressarem, muito obrigado a toda a cambada.
Até porque,
depois desta gravíssima falha, apenas de sua culpa, persistem na
irresponsabilidade que os caracteriza e lançam agora “postas de pescada” para o
ar, acerca do que o governo fez e não devia, mas que eles, inchados e balofos,
generalistas de tudo e especialistas de nada, características indissociáveis da
menoridade intelectual indígena, sabem de ciência muito bem sabida, mas não
revelam, para que não seja malbaratada pela turba… Como aquela de onde ir
buscar o dinheiro que tão necessário é se não às soluções que o governo vai
anunciando de forma tão canhestra, embora verdadeira e inevitável.
Ao governo
cabem também responsabilidades. Claro. Não as que saltam de imediato à mente do
zé povinho, prenhe que anda de demagogia infrene incutida pelos tais de que
vimos falando, mas porque também estaria obrigado a ter tido, ao longo de todo
este lapso de tempo que decorreu desde a tomada de posse, uma política de
informação permanente, para prevenção das pessoas para o que era inevitável que
surgisse. Como surgiu.
Na verdade,
não é compreensível, nem aceitável, que o governo não tenha saudavelmente
alertado em constância para o que estava para vir, pois que não bastaria o
paliativo do corte dos subsídios a meia dúzia de cidadãos, deixando de fora
todo o resto do maralhal. Não bastaria nem seria justo.
Em resumo,
não há ninguém aqui pelo rectângulo isento de responsabilidades. E,
curiosamente, o governo nem será dos maiores responsáveis – uma vez que está a
cumprir o que tem de cumprir, seja lá como for, muito lhe custe ou não – mas
tão somente porque não soube preparar as pessoas para o que aí vinha. A
comunicação governamental dirigida aos cidadãos é, na verdade, uma completa
hecatombe.
11 Setembro
2012
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