Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 27 de fevereiro de 2010

2595. Sombras chinesas e puppets on a string

As ondas de choque resultantes da divulgação das escutas do caso ‘Face Oculta’ estão longe de dissipar-se. Já rolaram cabeças na PT e sabe-se lá o que mais acontecerá. Os depoimentos, na Comissão de Ética, de dois dos protagonistas de muitos dos telefonemas interceptados revelaram-se confrangedores no que respeita ao seu nível, bem como quanto a inteligência, competência e carácter.
(...)
Correio da Manhã, 17Fev2010,"Cheiro a podridão", José Eduardo Moniz
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Estive para referir este aspecto já no próprio dia da audição de Rui Pedro Soares mas, porque outros assuntos chamaram a minha atenção, tendo sido um dia de muita azáfama, não passou de intenção esquecida, pelo que, ao topar hoje com esta referência de J.E. Moniz, não resisto a vir aqui também deixar a sensação com que fiquei. E mais alguma coisa...

Descontando a questão do "carácter", que não vou aqui analisar, muito embora me tenha deixado surpreso pelo que, embora não conhecendo as pessoas a que se refere Moniz (Rui Pedro Soares e Paulo Penedos), confessso que os seus depoimentos me deixaram colado ao assento em que estava, mudo de estupefacção.

Porquê?!

Não, pela arrogância de Rui Pedro Soares nem pela "mansidão" de Penedos. Sim, pela manifesta falta de substrato de ambos. Assistindo às performances de ambos, em geral, na Comissão de Ética, e a forma como foram respondendo ou fugindo às questões que lhes foram formuladas (canhestramente quase todas) afigura-se-me que ninguém diria estar-se perante dois dos mais intervenientes e assertivos fautores dos desmandos que lhes são atribuídos.


E ninguém diria que se tratava deles, "Rui Pedro Soares" e "Paulo Penedos", não por que não tivessem tido a intenção e a vontade de actuarem em todo o processo como terão actuado, levando às consequências sabidas, mais as que ainda não se vislumbram, mas porque foi claro que não evidenciaram gabarito para tal epopeia.

A titubeação de ambos, a que acresceu a arrogância (em defensiva pouco esclarecida) de Rui Pedro Soares, a manifesta incapacidade de lidar com a situação em que se encontram, escancararam duas pessoas a quem parecem faltar condições mínimamente aceitáveis para chegarem onde chegaram e agirem como agiram. Dois jovens que certamente estão ainda em processo de aprendizagem, num mundo matreiro de gente ainda mais matreira, tarimbada e conhecedora de todos os truques e manhas das altas e nebulosas negociatas.

Foi, na verdade, evidente a sua impreparação para voos de tal altitude.

A título de exemplo, que não é único, mas bem ilustrativo: alguém de bom senso consegue "moldar" um Rui Pedro Soares, que, entrado para a PT em 2001, aos 27 anos de idade, como mero assessor da PT Multimedia, certamente "para aprender", está, pouco mais de quatro anos após, aos 32 anos, portanto, aboletado já como administrador executivo da PT Compras e mexe e dispõe em toda a PT como se de "monte" próprio se tratasse, em muitas circunstâncias mesmo sem conhecimento seja de quem for (o próprio Granadeiro se confessou "encornado" por de nada ter tido conhecimento, ele que, a par de Zeinal Bava, é administrador, embora não executivo, do universo PT)?

E como é que um Rui Pedro Soares da qualidade que vimos de muito sucintamente evidenciar, a partir do seu meteórico trajecto dentro da PT (chega mesmo e igualmente a administrador não executivo da Taguspark!), se movimenta tão à vontade, chegando até a deslocar-se, em avião fretado, a Espanha, para - tão desacompanhado, como o Gary Cooper na célebre cena com milhentos índios prontos a levar-lhe o escalpe... - fechar negócios de milhões incontáveis, assim como quem vai, cantando, rindo e saltitando de poça em poça, comprar um pacote de caramelos a Badajoz?

Na verdade, apreciando o sumo das intervenções de Rui Pedro Soares e de Paulo Penedos (mais até do primeiro do que do último), não fica no ar a interrogação de como é possível que tenham sido eles os arquitectos de uma trama de tal emaranhado? Não será toda essa trama demasiada areia para camionetas com caixas aparentemente tão pouco capacitadas?

Esta a perguinta essencial que me ficou a bailar no espírito após a audição de ambos. E fico-me por esta "certeza" que, não podendo confirmar que o seja efectivamente, me traz fundamente intrigado: quem está por detrás de toda esta manipulação, já que o vilarista também não dá mostras de tão refinada elaboração intelectual?

Parece bem mais obra de uma máquina bem montada, generosamente municiada e sempre operativa, por muitos e muitos anos de uma actuação plena de eficácia e sem peias, porque na sombra e à margem de sociedade democrática, esta necessariamente aberta, sem secretismos sempre muito pouco transparentes, consequentemente democráticos.

Há anos li peças que abertamente atiram essas habilitações (quiçá "habilidades") negociais para a Maçonaria; outras, que não fazem rebuço em atribuí-las ao Clube de Bilderberg.

"Chova ou troveje", porque ambas actuam de forma fechada, secreta, à margem das regras aceites em democracia, o que importa reter é que nem uma nem outra convêm aos Portugueses comuns. Ambas cuidam exclusivamente dos seus próprios interesses, que, de forma nenhuma, se compaginam com outros fora dos seus círculos, designadamente os da sociedade portuguesa.
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