Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 13 de janeiro de 2007

801. Vêm aí os chineses... (2)

Retomo o tema do incrível – pela grandeza e pela rapidez – desenvolvimento chinês, surgido após a morte de Mao Dze Dong e cujo principal impulsionador foi, sem dúvida, Den Xiao Peng, com a transcrição de uma profecia de Napoleão Bonaparte, proferida em 1816 e transcrita igualmente no livro a que venho a reportar-me (Il Secolo Cinese, de Federico Rampini):

“Quando a China acordar, o mundo estremecerá”
...
Esta profecia está a realizar-se, no ponto de vista económico, sem convulsões sociais, sem mesmo o recurso a poderios militares, a que certamente o imperador francês se referia.

Continuemos a ver o que, com a lucidez que dá o conhecimento de causa, Rampini escreve:

(…)
A OCDE (…) revela uma ultrapassagem notória: os Estados Unidos já não constituem o principal destino dos investimentos do resto do Mundo, tendo sido destronados precisamente pela China como mera preferida das multinacionais. As estatísticas da OCDE incluem a criação de novas fábricas, o aumento da capacidade de rendimento de instalações já existentes e o investimento em empresas locais através de fusões e aquisições.

2003 foi o ano dum terramoto silencioso nas hierarquias mundiais; a China alcançou o primeiro lugar absoluto, atraindo 53 mil milhões de dólares em investimentos estrangeiros contra os 40 mil milhões destinados aos Estados Unidos (…).

Em 2004 a tendência continuou a ser reforçada, e o economista da OCDE Hans Christiansen salienta a novidade do ponto de vista qualitativo: a vaga de investimentos na China já não é orientada pelo objectivo de produzir a baixo custo para depois reexportar para a América ou para a Europa; hoje em dia, a prioridade é entrar na China para desfrutar das potencialidades do consumo local.


(um curto parênteses para enfatizar: “…para desfrutar das potencialidades do consumo local", ou seja, já não interessa tanto a barata mão de obra chinesa mas, agora, sim, mais, o poder aquisitivo dos chineses. O grau qualitativo é, na verdade, estupefactante. Menos, evidentemente, para quem tenha tido a oportunidade de apreciar in loco e in loco se surpreender)

Continuemos:

(…)
Contra os 60 mil milhões de dólares de investimentos estrangeiros na China, A Índia assistiu à entrada de apenas 4, a Rússia, de 1. (nota: aqui começam a desfazer-se ideias feitas quanto à continuação da atracção pela mão de obra barata, como único factor da tão abjurada globalização…). A irresistível atracção pela China não é indolor. Num ano, os investimentos estrangeiros na Europa sofreram um decréscimo de 23%: a perda de interesse das empresas pelo Velho Continente traduz-se numa perda de capitais e de postos de trabalho.

(novo parênteses para uma pequena alusão a este assunto, a qual me parece vir mesmo a propósito:
...
É contra este gigante económico e monstro demográfico e respectivas consequências que a velha Europa - que já se debatia com tremendos problemas numa rivalidade que nunca conseguiu que existisse com os USA, e com as sempre presentes ameaças japonesa, sul-coreana e de Singapura – quer bater-se de igual para igual, sem recursos energéticos, com mão de obra soi-disant qualificada e extremamente dispendiosa, numa Comunidade (UE) em que todos se guerreiam e querem para si os louros e o poderio, sem que, não obstante o passar dos anos, consigam chegar a um acordo minimamente consequente, com as partes livres de redutores preconceitos, agindo de boa fé?
...
E que dizer de outros parceiros, como nós, que, pura e simplesmente pouco ou nada damos para o bolo geral, nos recusamos a admitir a necessidade de reivindicar menos e trabalhar muito mais, para que, então, se justifiquem as reivindicações, de, enfim, deixar de viver à custa das migalhas alheias?
...
Sim, é nestas condições que nós, europeus, que nem sequer nos atrevemos a tomar em nossas mãos a defesa do nosso modo de vida, pretendemos cometer o atrevimento de arvorar a veleidade de pensar que fazemos frente a alguém?)

Mas prossigamos:

(…)
A ascensão da China suscita apreensões, mas exerce também um poderoso fascínio, bem visível nos Estados Unidos. (…) “Se há um país no mundo destinado a suplantar o papel dos Estados Unidos na economia global, este país é a China”, escreveu Ted Fishman.

Relativamente ao valor do PIB, a China já ultrapassou a Inglaterra e a Itália na lista das nações industrializadas (facto que torna agora inexplicável a sua exclusão do G7), atingiu a França e prepara-se para alcançar a Alemanha. Todavia, a medição do PIB monetário é enganadora: na China, a moeda encontra-se subvalorizada e o custo de vida constitui uma fracção do nosso na verdade, o poder de aquisição de um euro em Pequim é muito mais elevado do que em Milão. Por conseguinte, os economistas calculam um outro PIB – ajustado de acordo com a paridade dos poderes de compra – e esta avaliação eleva a China ao segundo lugar mundial, atrás dos Estados Unidos.
(…)
O consumidor é o primeiro a saber o que significa “made in China”. Significa um leitor de DVD nos armazéns de Wal-Mart, por 99 dólares (nota: significa também um computador portátil de ultíssima geração – que em Portugal custa 1.300 a 1.500€, fica lá por menos de 500€). Não existe motor mais potente para a contenção da inflação e a defesa do poder de compra.
(...)

I’ll be back.
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