Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

913. Dance - Jean Jacques André

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912. Alguém que acuda ao homem, caramba!

Lá está ele, uma vez mais, no hemiciclo, em imensa gritaria.

Será que não é capaz de discursar sem gritos? E sem aquela gesticulação... tão convincente!?... Sem aqueles tiques!?...

Já sabemos que nele é habitual tal estilo. Mas será que ainda ninguém foi capaz de dizer-lhe que o estilo é mau e faz reviver tempos que ninguém quer ver repetidos?

Aquele tipo de gritaria, não sendo próprio de uma câmara de deputados, representantes da nação eleitoral, fica-lhe mal e faz-lhe mal.

Porque, ao gritar daquela maneira, irrita quem o ouve e não ganha razão. Será que nunca lhe terão dado a saber a verdade elementar, básica mesmo, de que quem tem razão não precisa de gritar para se fazer ouvir? E que só grita a sua razão quem razão não tem?

Para além disso, com as veias a entumecerem daquela forma, ainda lhe dá um "treco". E, com as urgências hospitalares a minguarem a olhos vistos com a excelência da política do seu camarada do pelouro respectivo, não sei não... Ainda nos arriscamos a ter um desgosto profundo.

Mas hoje, particularmente, as coisas não lhe estão a correr lá muito bem. O discurso está a sair aos repelões (o que já é habitual), mas com muitos engasganços (o que já o não é muito).

Talvez se trate de um problema de discurso lido apressadamente e não suficientemente decorado (onde é que está o ponto electrónico, onde?).

Pois se até já chamou duas vezes de "director-geral" e outras tantas de "secretário-geral" à entidade que diz que vai pôr a coordenar as forças de segurança... Em que ficamos, afinal? Bem. pelo menos sabe que é "geral". Francamente, também não se pode saber tudo!

Aqueles gritos...

Cá para mim, tanta gritaria nem o deixa pensar em condições.

Estou mesmo a ver que, se tivesse barba ou, sei lá!, bigode, os arrancava aos repelões, tal a gana com que está aos deputados que se atrevem a questioná-lo... a ele, o deus no Olimpo, perdão, no hemiciclo. Hemiciclo que, aliás, não está à sua altura, é fatalmente pouco. Para tal personagem, só um ciclo poderá servir. "Hemi" é muito pouco, não é verdade, caro Eça?
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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

911. Que choldra!

Caro Eça,
Quer saber? Portugal continua a choldra que escreveu ser no teu tempo. Estou mesmo em crer que piorou. E muito.
Será que "isto" tem remédio?
Abraço
Ruben
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(Choldra - salgalhada, confusão de gente ordinária, mixórdia)
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910. A Comunicação Social que temos


A Comunicação Social que temos é bem a Comunicação Social que temos. Ponto final. Parágrafo. Requiescat in pace.
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* * *

Podia ficar-me por aqui. No entanto, é bom que continuemos a chamar os bois pelos nomes.

Pois bem:

Dias atrás, em entrevista de corredor, Francisco Pinto Balsemão, referindo-se às estações de TV portuguesas, portanto à dele também, certamente, afirmava mais ou menos isto:


- As nossas TVs estão bem, excepto no que se refere ao noticiário internacional, que dão pouco.


Descontando a afirmação (que seria surpreendente partindo de Francisco Pinto Balsemão, jornalista, mas que já não surpreende tanto, partindo de Francisco Pinto Balsemão, empresário e dono da Sic) de que tudo está bem com as TVs portuguesas, porque, pelo contrário, tudo está mal, com programas de uma pobreza franciscana, sem conteúdo que se veja e de uma assombrosa indigência mental, concordo com Balsemão quando diz que elas, as TVs, dão pouco noticiário sobre o que se passa no mundo.


E vou mais longe. Não dão pouco. Dão... nada. É, na verdade, espantoso como conseguimos ter os maiores noticiários do mundo, em termos de duração, e, ainda assim, não consigamos saber o mínimo dos mínimos do que se passa no planeta.

No tempo da II República, também chamada de Estado Novo, dizia-se que estávamos sós no mundo. E agora, em pleno regime dito democrático?

Se quero saber o que vai lá por fora (na tal aldeia global que o é para todos, menos para as TVs portuguesas), vejo a CNN, a BBC, a TVE ou até mesmo a Al-Jazeera, leio os jornais estrangeiros online ou navego pelos blogs. Através das TVs portuguesas é que não vale a pena. É um verdadeiro deserto. De ideias, de competências, de tudo, afinal.

Imagine-se que dão, como disse atrás, mais de 60 minutos em cada noticiário (da hora do almoço e da hora do jantar) e, desses bem mais do que 60 minutos, a maior parte das vezes não chega a 5 minutos, em cada um, o tempo que é dedicado a notícias vindas do estrangeiro.

Verdadeira mentalidade aldeã (closed mind, sim) tem a nomenklatura portuguesa ao nível televisivo!

E o que é curioso é que, noutros tempos, quando para se ser jornalista nem era preciso ter curso superior, havia mais espírito aberto para o exterior. Hoje em dia é o que se vê. Chauvinismo estúpido. E tanto mais estúpido quanto é certo que assenta em nada. Nada mesmo.

Temos, pois, TVs de índole paroquial. Melhor dito, de nível de comadres. Não têm âmbito mais alargado do que o de qualquer “vila maria”, das que antigamente havia espalhadas pelos bairros de Lisboa, em que as notícias que as pessoas recebiam se limitavam ao recinto onde viviam em comunhão, isoladas do resto da cidade, do próprio bairro.

O que se vê e ouve, pois, nos noticiários televisivos, circunscreve-se a um âmbito territorial contido num diâmetro de umas dezenas de quilómetros. E, mesmo assim, fica-se pelas “comadrices” todas, notícias que a mais ninguém interessam a não ser a, talvez, metade da população do bairro em que se verificam os acontecimentos. E nisto estamos. São raríssimas as notícias que dão, mesmo de âmbito interno, que interessem a mais do que duas dezenas de pessoas.

Àquela surpreendente frase de Balsemão – e surpreendente porque está nas suas mãos “dar a volta ao texto” já que tem o poder e foi precisamente a TV dele que entrou por esse campo, muito embora até já tenha sido ultrapassada – juntou-se ontem uma outra de um amigo meu, setubalense open mind, preocupado com a sua terra, mas não apenas com ela, que se lamentava para mim pelo facto de “os meios-audiovisuais não tirarem partido da nossa história tão rica e bela”. Isto, no seguimento e a propósito de dois posts que publiquei sob o título genérico “Aldeia global portuguesa”, um dedicado à Ilha de Tristan da Cunha e o outro a Punta Arenas.

Não há que estranhar, caro amigo António Alves. As coisas são assim mesmo. A partir do momento em que os jornalistas são licenciados, mas mais ignaros do que antes, tudo é de esperar.

O melhor é enchermo-nos de paciência e - para não estragarmos os nossos dias, assim que começarem os chamados noticiários televisivos portugueses - corrermos a mudar de estação ou irmos para a Net, em busca de noticiários que não agridam qualquer inteligência mediana.


Quanto ao aproveitamento das virtualidades da diáspora portuguesa, não há que esperar seja o que for cá dentro. Tirando os programas de José Hermano Saraiva, cá pelo burgo, que muita gente dita erudita contesta mas que não se vê que algo faça de melhor, nem sequer de parecido, e alguns timoratos e mal amanhados afloramentos, aqui e ali, como foram os do “bloquista” Miguel Portas, aqui há uns anos, a desertificação mantém-se.


No mais? Viver um dia a seguir a outro, esperando que a crise passe…


Por mim, é o que faço. E vou, também, prosseguir com a publicação, tanto quanto possível regular, de episódios da "Aldeia Global Portuguesa".

Se cada qual se dispusesse a fazer o que está ao seu alcance, certamente que nunca teríamos deixado de ser um grande país em que valesse a pena viver. Sem desgosto.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

909. Aldeia global portuguesa (2) - Punta Arenas


Se lhe agradou a sugestão que lhe dei no post 907, então deixe que, dentro do mesmo espírito, lhe sugira agora que se interesse igualmente pela história de Punta Arenas, cidade meridional, da Patagónia chilena, na região de Magallanes, ali mesmo ao lado do Estreito de Magalhães, que o nosso navegador atravessou, por volta de Novembro de 1520, tendo aportado a um local de “puntas arenosas” ousandy point”, onde se abasteceu de água, antes do início da longa travessia do Pacífico.

Na região está mesmo assinalado com uma placa, o local, numa pequena colina, a que se deslocou um português, de apelido Alves, que seguia na expedição de Magalhães, com o objectivo de verificar se a baía em que se encontravam tinha saída para o mar, do lado ocidental. O compatriota de Magalhães voltou ao navio com a informação de que não se avistava qualquer saída, mas o navegador teve a percepção de que sim e, por isso, ordenou que se seguisse em frente, acabando por chegar a um enorme Oceano que baptizou de Pacífico, pelo contraste que encontrou entre o que dele se dizia e a calmaria que se lhe deparou.

Mais tarde, no local estabeleceu-se uma pequena povoação, de nome Punta Arenas, onde uma significativa comunidade de portugueses se estabaleceu, tendo tido uma influência decisiva no desenvolvimento da região.
, tendo ...
Se quiser, procure mais notícias na Radio Magallanes ou no jornal La Prensa Austral.
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Fernão de Magalhães tem, no centro da cidade, no local mais destacado, um belo conjunto escultórico perpetuando o seu nome e o feito que o tornou conhecido.
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Mas também outro português teve grande influência em Punta Arenas, de que ele e a mulher, Sara Braun, foram expoentes máximos: José Nogueira.
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José Nogueira foi um dos grandes proprietários de Punta Arenas, tendo construído, em 1890, no centro da cidade, na praça mais importante, uma enorme mansão, onde hoje funciona o Hotel José Nogueira. Mas não se ficou por aí. A obra dele na região é vastíssima.
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No mesmo edifício está igualmente instalada a Casa-Museu Sara Braun, que foi residência do casal. Sara Braun sobreviveu ao marido e, após a morte deste, mandou construir, a inteiras expensas suas, um enorme cemitério que passou a ser pertença da cidade, com uma particularidade, que Sara deixou em testamento.

Consistia
ela em que o último cadáver autorizado a passar pela porta principal do cemitério seria o dela. Todos os posteriores teriam que entrar por portas laterais, de menor importância. E assim se fez…

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Além destes links, que lhe indico, procure outros, a partir de um motor de busca, em “Punta Arenas”, “Hotel José Nogueira”, “Casa-museo Sara Braun”, “Estreito de Magalhães” e tudo o mais que a sua imaginação lhe ditar.

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Vai certamente deparar com coisas que jamais imaginara.

Este mundo é realmente uma aldeia global, graças ao aventureiro e empreendedor espírito português. De antigamente, claro está. Infelizmente.

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Mas o espírito não se perdeu. Está apenas adormecido, esperando que a crise de liderança passe, para que ressurja em todo o esplendor. Algo me diz que assim há-de cumprir-se.
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Pode crer que estas idas ao passado constituem um refrigério para a alma, um retemperador de forças e um renovador de confiança no futuro deste povo, que não pode continuar ad aeternum nesta mediania embrutecedora.
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908. Virgem com o Menino

Virgem com o Menino
Hans Memling
c. 1485, óleo s/madeira
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
proveniente do Convento de Jesus, Setúbal
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907. Aldeia global portuguesa (1) – Tristão da Cunha


Com cerca de 300 habitantes, Tristan da Cunha é uma ilha situada no Atlântico Sul, a mais remota a nível mundial (37° 06' S, 12° 18' W). Foi descoberta em 1506, pelo navegador português Tristão da Cunha, quando se dirigia a caminho da Índia.

Ligar-se a Tristan da Cunha, através de Web, será uma forma de se ligar um pouco ao nosso passado aventureiro e glorioso, por forma a dele retirar alguns ensinamentos e conclusões que o/a ajudem a libertar-se da vil tristeza em que ora nos atolamos.
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Existe em Tristan da Cunha um jornal online, o Tristan Times de que você pode receber regularmente uma newsletter, se, para isso, se inscrever no site respectivo.
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Saiba também um pouco mais do descobridor da Ilha.
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Tristão da Cunha, (1460-1540), navegador português, foi proprietário, em Azeitão, entre Aldeia Rica e Oleiros, da Quinta da Torre (não confundir com Quinta das Torres, também em Azeitão, mas esta entre Vila Nogueira e Vila Fresca), foi o primeiro vice-rei da Índia, nomeado em 1505, pelo rei Manuel I, não tendo, porém, chegado a ocupar o cargo.
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Vale a pena estar em contacto com pontos do planeta (e suas gentes) de que os portugueses de antanho deram testemunho.
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Há mais terras e mais gentes. De algumas delas falarei proximamente.
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906. Carta aberta ao ministro da saúde

Em 24 Fevereiro 2007, Professor Catedrático jubilado, do Instituto Superior Técnico, António Brotas, endereçou ao Ministro da Saúde, a seguinte carta aberta:

Exmo Senhor Ministro da Saúde,

Quando tinha 8 anos parti um braço. Um soldado da Guarda Republicana pegou em mim ao colo, correu até ao quartel, e levaram-me ao hospital num carro não sei se da instituição se de algum oficial.

Lembro-me sempre deste episódio quando tento imaginar o que pode fazer hoje uma família sem carro numa aldeia, numa vila, ou mesmo numa cidade sem urgências médicas, quando um filho tem um acidente. Em situações de excepção, e depois de não conseguir outras ajudas, penso que deveria poder pedir auxílio à Guarda Republicana, ou à PSP. São instituições nacionais que dispõem de viaturas e de meios de comunicação. Custa-me imaginar a situação de uma família aflita com um carro da GNR, ou da PSP, a passar perto sem fazer nada. Sugiro que tenha uma conversa com o Ministro da Administração Interna para ele sensibilizar a GNR e a PSP para situações deste tipo.

A dificuldade está em definir as situações de urgência e excepção. Tenho presentes as palavras de V. Exª quando disse na Televisão que 80% dos casos das pessoas que acorrem às urgências dos hospitais não se justificam. O problema está em que, em muitos casos, só depois de ir às urgências se sabe que a situação o não justificava.

Sugiro, assim, a V.Exª. que organize um serviço nacional contactável telefonicamente a qualquer hora do dia ou da noite, que informe, aconselhe e acompanhe as pessoas que pensam ir a uma urgência.

A família de uma criança que parta um braço, por exemplo, entre Valença do Minho e Monção, receberá o conselho de seguir para Monção. Mas, se a criança tiver batido com a cabeça e estiver com vómitos, receberá o conselho de seguir directamente para Viana do Castelo e o serviço alertará imediatamente o hospital para o caso urgente que vai chegar.

No que diz respeito ao transporte, o serviço providenciará que chegue ao local o transporte mais adequado podendo, nos casos urgentes, pedir a ajuda da GNR e da PSP. Em qualquer caso, uma vez contactado, o serviço ficará a acompanhar o problema.

As pessoas numa situação difícil saberão, assim, que o seu caso não está a ser ignorado. Penso que não será difícil a criação de um serviço com estas funções, que será certamente mais barato e mais imediatamente benéfico para as populações do que a melhoria da rede rodoviária com que o Ministério espera poder vir a atenuar os inconvenientes da supressão de várias urgências.

Permito-me falar num outro assunto.

Eu não sou só um especialista em braços partidos. Também o sou em tuberculose.

No meu último ano de professor, quando tinha 69 anos e pensava ir numa missão a Timor, apanhei uma tuberculose.

Só o soube por acaso. Num dia em que estava com alguma tosse cuspi um pouco de sangue. Fui ai Hospital de São José onde consideraram que devia estar com um princípio de pneumonia e me receitaram um antibiótico. Por uma questão de precaução, aconselharam-me passar no serviço de combate à tuberculose que havia então na Praça do Chile para fazer uma análise. Assim fiz e, uns dias depois, quando já me sentia inteiramente bem, recebi um telegrama com a notícia do resultado da análise ser positivo. Tive de seguir um rigoroso tratamento diário de antibióticos durante 6 meses. Assim, sei algumas coisas sobre o assunto.

Lembro-me de um dia a médica me dizer: "Duas mil pessoas com tuberculose em Lisboa não é grave, mas 15 com bacilos resistentes é terrível". Os sanatórios do Caramulo, que existiam desde o tempo da Rainha Dona Amélia, foram todos encerrados. A decisão parece ter sido de economistas que julgaram que a tuberculose ia acabar.

O País não tem, assim, condições para oferecer um tratamento em regime de internamento a doentes em condições económicas difíceis.

Uma imagem que guardo é a de um cabo-verdiano, trabalhador da construção civil, desempregado, tuberculoso, com 55 anos e a parecer 65, avô, que vivia com os netos numa barraca. Em qualquer lugar de uma Europa minimamente civilizada, que mais não fosse por razões de economia, ser-lhe-ia oferecido um período de internamento numa instituição em que pudesse ser tratado sem contagiar os netos, e pudesse, eventualmente, seguir cursos de formação e reciclagem, como é corrente, por exemplo, em França. No caso dos doentes com bacilos resistentes, a estadia em sanatórios devia ser fortemente aconselhada, para seu bem e para não contagiarem a comunidade a beber galões nos cafés de Lisboa. O Presidente Jorge Sampaio, hoje responsável à escala internacional pela luta anti-tuberculose, ainda pode aprender muito em Lisboa.

Fiquei com um grande respeito pelas pessoas do centro que funcionava na praça do Chile, que tudo faziam para que os doentes seguissem a medicação diária. Mas o seu trabalho foi dificultado. O Hospital de Arroios foi vendido a privados pelo Ministério da Saúde, creio que numa altura em que V.Exª. era ministro, antes mesmo de se saber para onde iria o centro que nele estava inserido, que acabou por ir para a Av. 24 de Julho, onde não há metro e é bastante mais difícil os doentes irem tomar a medicação diária.

O Hospital de Arroios era um edifício indicado para nele instalar um hospital para doentes já convalescentes, ou em situação terminal, em que já pouco há a fazer e a preocupação deve ser a de lhes facultar, a eles e às famílias, algum conforto.

Um amigo meu, o escritor Raimundo Neto, demorou 15 dias a morrer no Hospital de São José, um hospital bem equipado, onde o trataram com todo o afecto, mas onde já nada podiam fazer por ele. No Hospital de Arroios podia ser também instalada uma urgência para casos não muito graves, mas urgentes, como é o caso dos miúdos com braços partidos. No caso de se revelarem graves, de lá seriam encaminhados para os hospitais especializados.

Como cidadão e potencial utente dos hospitais, sinto-me prejudicado com a sua venda. Em qualquer caso, os que a aconselharam foram maus economistas. Já me chegou a notícia de que os privados que o compraram o terão revendido em menos de dois anos com 100% de lucro.


António Brotas
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domingo, 25 de fevereiro de 2007

905. Aborto a simples pedido da mulher

O noss'primêro insistiu - na campanha pelo aborto livre, com especial ênfase a três e dois dias da votação - na necessidade que tínhamos de alinhar pela modernidade, ao lado dos países mais desenvolvidos da Europa a que pertencemos.
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Pois bem, volto ao assunto, para que fique tudo bem claro. E não em águas pútridas como é habitual.
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Vejamos, então, o que se passa na Europa, a nível de aborto livre a mero pedido da mulher.
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Apenas admitem, ou vão admitir, aborto livre, portanto a simples pedido da mulher, sem mais razões, os seguintes países (à frente a indicação do limite do prazo de gravidez, para a intervenção):
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10 semanas - Portugal e Eslovénia
11 semanas - Estónia
12 semanas - Dinamarca, Rep. Checa, Áustria, Eslováquia, Hungria, Roménia, Bulgária, Grécia, Letónia e Lituânia.
13 semanas - Holanda
18 semanas - Suécia
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Ressaltam destes dados, que são fiáveis e concrectos, várias conclusões:
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1. Dos países com os quais temos maiores afinidades e características comuns, ou seja, Espanha, França e Itália, nem um admite o aborto a simples pedido da mulher;
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2. Além destes, também Irlanda, Reino Unido, Bélgica, Finlândia, Alemanha e Polónia, não admitem tal possibilidade;
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3. Pondo de parte Holanda (13 semanas - que todos sabemos a bandalheira que é em termos de sexualidade, digo bem de sexualidade e de droga, bem como de família estruturada), Suécia (18 semanas - cuja taxa de suicídios é a mais elevada do Mundo, por alguma razão, se bem que não apenas por esta... mas também por esta certamente) e Dinamarca (12 semanas - igualmente extremamente liberal nestes assuntos e pertencendo a outro tipo de sociedade que não a nossa nem dos países mediterrânicos ou latinos), Áustria (12 semanas - não está na linha da frente dos países desenvolvidos), e Grécia (12 semanas - que há séculos não é exemplo para ninguém), apenas estão connosco os países constantes do ponto 5.;
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4. Nenhuma das potências europeias, desde as democracias mais antigas às mais recentes, se encontra no rol dos países que conferem à mulher - e a ela só - o poder de decidir discricionariamente sobre a morte do filho que traz no ventre;
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5. Ficamos na companhia de Rep. Checa, Eslováquia, Hungria, Eslovénia, Roménia, Bulgária, Estónia, Letónia e Lituânia, que herdaram a sua situação, também nesta matéria, da extinta URSS, que, como bem sabemos, não primava pelo respeito pelos direitos humanos. Estão, pois, amarrados ainda a uma herança a que não tiveram capacidade para renunciar na totalidade ainda.

6. Se retirarmos da lista "dos qe vão ficar connosco" os antigos países de Leste, os tais, o resultado que se verifica é que, dos que antes já faziam parte da UE, apenas Holanda, Suécia, Dinamarca, Áustria e Grécia, na verdade, estão connosco, ou seja, países com os quais não temos a menor afinidade, como é sabido;

7. Não querem, pois, estar connosco
Espanha, França, Itália, Irlanda, Reino Unido, Bélgica, Finlândia, Alemanha e Polónia.
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Significa isto que, além de ficarmos em dissonância relativamente aos países e povos com quem mais nos identificámos como povo, ao longo de toda a nossa milenar História, o grosso da coluna dos países com que agora passamos a identificar-nos são - com respeito se afirma, mas são-no na verdade - resultado da desagregação de um regime totalitário - o mais opressivo de quantos já se conheceram - para o qual os direitos humanos eram letra morta.
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Estamos, pois, em vias de descaracterização, relativamente ao espaço social em que se inserem os que nos são semelhantes e fomos levados a aderir a quem nada tem que ver com a nossa ídiossincrasia e história.
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A isto nos trouxe Sócrates, cantando e rindo. É também e principalmente por isto que a História o julgará. Severamente. Tardará, talvez, mas não faltará.

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É. Quando se analisam as coisas, à luz das evidências dos números e dos factos concretos, com estudo, sem demagogias nem inverdades, facilmente se chega à conclusão de que nem Sócrates consegue iludir o algodão. Sim, porque, na verdade, o algodão não engana. Nem se deixa enganar.
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904. Shangai - 29

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903. Shangai - 19

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Como se pode ver, há sempre arvoredo e manchas verdes ao redor dos arranha-céus.
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902. Sócrates assusta-se e Correia Campos recua

Sob o título de capa

CORREIA DE CAMPOS
RECUA NAS URGÊNCIAS


publica o Diário de Notícias de hoje, a seguinte "cacha":


Recuo do ministro deixa autarcas a clamar vitória

Pedro Correia

No mesmo dia em que se reuniu com um "preocupado" José Sócrates para analisar a escalada de protestos contra o encerramento de serviços hospitalares de urgência a nível nacional, o ministro da Saúde, Correia de Campos, fechou negociações para a celebração de protocolos com os presidentes de seis municípios afectados. O protocolo, ontem assinado em Lisboa, deixou os seis autarcas "muito satisfeitos", conforme confessaram aos jornalistas. E parecem ter boas razões para isso: não só as urgências não encerram em Cantanhede, Espinho, Fafe, Macedo de Cavaleiros, Montijo e Santo Tirso como o Ministério da Saúde acaba de dar ainda mais garantias do que os autarcas esperavam à partida: além de se manterem as urgências, ampliam-se os horários de funcionamento dos centros de saúde e colocam-se viaturas especializadas em atendimento urgente à disposição dos municípios.

Em declarações ao DN, Correia de Campos confirmou ter estado reunido com o primeiro-ministro, entre o meio-dia e as 13 horas de sexta-feira, para debater a questão dos protestos, admitindo que o assunto "preocupa genericamente" não só José Sócrates como a ele próprio. Mas o ministro desmentiu que o chefe do Governo tenha assumido directamente o controlo da situação, como ontem noticiava o Público: "Estou tranquilo. A questão da confiança política não se põe."
(...)
(Diário de Notícias)
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* * *
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Talvez que, finalmente, o noss'primêro comece a convencer-se - e convença os respectivos ajudantes - de que Portugal e os portugueses não são chão vindimado que possa ser atravessado à Lagardère.

E, menos ainda, couto privado, em que o proprietário faz o que muito bem entende, achando que não tem quaisquer contas a prestar seja a quem for.

Talvez que, finalmente, comecem a convencer-se de que as pessoas são indivíduos com direitos, que é preciso respeitar, não podendo ser tratadas como coisas inanimadas, sem alma e sem vontade.

Parece começarem a compreender, mas apenas depois de terem sido empreendidas iniciativas populares mais firmes e de real ameaça.

Infelizmente, em Portugal é assim. Só à bruta as coisas são compreendidas e interiorizadas pelas "altas instâncias". Até esse ponto, vão palpando o pulso e, enquanto sentem apenas matéria glútea, sem nervo, vão avançando, pelo que se torna sempre indispensável o arregaçar de mangas e o mostrar de músculo.

Infelizmente, em Portugal, cerca de 33 anos após, ainda é assim.

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901. Shangai - 6


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sábado, 24 de fevereiro de 2007

900. Ai juro... juro!


Num tribunal de uma pequena comarca de província, o advogado de acusação chamou a sua primeira testemunha, uma velhinha de idade avançada e avó.

Aproximou-se dela e perguntou:

- Sra. Maria: a senhora conhece-me?

- Claro que te conheço. Desde pequenino. E, francamente, desiludiste-me. Mentes descaradamente, enganas a tua mulher, manipulas as pessoas e falas mal delas pelas costas. Julgas que és uma grande personalidade quando nem sequer tens inteligência suficiente nem para ser varredor. Claro que te conheço.

O advogado ficou branco, sem saber que fazer. Depois de pensar um pouco, apontou para o outro extremo da sala e perguntou:

- Sra Maria: conhece o advogado de defesa?

- Claro que sim. Também desde a infãncia. É cobardolas, tem problemas com a bebida, nao consegue ter uma relação normal com ninguém e na qualidade de advogado bem, aí... é um dos piores que já vi. Alé
m disso, engana a mulher com três mulheres diferentes, uma das quais, curiosamente, é a tua. Sim, conheço-o. Claro que sim!

O defensor ficou em estado de choque.

Então, o juiz pediu a ambos os advogados que se aproximassem de si e, em voz muito baixa, disse:

- Se a algum dos senhores ocorrer perguntar ao diabo da velha se me conhece, juro-vos que o meto na cadeia!
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(Com um beijinho à Lili)
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899. Sócrates e a igualdade de oportunidades


Sócrates: Ainda há muito por fazer no combate à discriminação

O primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou esta sexta-feira que Portugal já deu passos significativos no âmbito da igualdade de oportunidades e no combate à discriminação, mas admitiu haver ainda muito para fazer.

«Claro que a igualdade de oportunidades compete, em primeira linha, ao Estado, mas não apenas ao Estado, também aos cidadãos, a cada um de nós e cada cidadão tem o dever de contribuir para uma sociedade livre», disse o chefe de Governo na cerimónia de apresentação do Plano Nacional de Acção do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades.

José Sócrates congratulou-se com o «orgulho que é para Portugal poder exercer a presidência da União Europeia durante o Ano Europeu para a Igualdade de Oportunidades».
Diário Digital

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Ora, se há, noss'primêro, se há!

Quanto a discriminação e igualdade de oportunidades, o senhor, noss'primêro, Vossa Reverência, é uma verdadeira autoridade.

Só não estão aí para o atestar os morituri porque, como sabe, ainda nascituri, vão morrer mesmo. Por sua humanística iniciativa. Não fora esse facto desprezível e certamente que eles seriam os primeiros a atestar essa sua indiscutível autoridade. Uma pena, não concorda, noss'primêro?

E uma pena, porque eles é que saberiam avaliar bem essa sua característica. Os viventes "são muito... voláteis", como diria o seu camarada de lides, Jorge Coelho.

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(A partir deste post da "Sulista")
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898. Shangai - 9

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Peço a atenção para a circunstância de, em todas as fotografias que publiquei e vou ainda publicar, se poder constatar que, tal como anteriormente afirmei, também aqui e à semelhança de Beijing, quase não há um arranha-céus - ou um conjunto de dois ou três - que não tenha junto de si espaços verdes e, mesmo quando isso não seja muito possível, pelo menos arborização razoável.

Isto, sim, revela preocupação com qualidade de vida, numa metrópole habitada por mais de 20 milhões de pessoas.
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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

897. O calafrio de Jorge de Sena

Um calafrio me percorreu, de pensar que eu podia ter descido também, num balde despejado, pela pia abaixo (como outros irmãos meus que os meus pais não tinham querido).

E reagi, pensando maldosamente, como seria bom que soubéssemos, retrospectivamente, quem mandar a tempo por aquele caminho.


Jorge de Sena
Sinais de Fogo, Cap. XXIX

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896. Shangai - 8

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Esta não é uma das maiores avenidas. No entanto, atente-se na zona rodoviária (5 faixas), na zona cicloviária (1 faixa, mesmo a calhar para o Carneiro...) e na zona pedestre (1 faixa), em cada sentido da via... E as três zonas bem delimitadas. Em Pequim ainda é notória essa delimitação.

Anote-se igualmente o arvoredo.



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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

894. "Dez mandamentos do Estado para..."

Vá ler este post de António Balbino Caldeira, em Do Portugal Profundo.

Quanto mais não seja para estar informado acerca de pode acontecer de um momento para o outro.
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893. Ainda o novo aeroporto de Lisboa

O professor António Brotas, de quem aqui já falei em ocasião anterior, concedeu uma entrevista ao semanário O Diabo. A determinada altura, em resposta a uma pergunta, disse o que adiante se poderá ler:

Semanário O Diabo - Alguns especialista também já criticaram o facto do Governo ter optado pela construção do metropolitano quando já havia planos para o aeroporto de Lisboa sair da Portela. Acha que estamos perante mais um grande negócio de especulação imobiliária?

António Brotas - Estava previsto que a linha vermelha do metro se prolongaria para fora de Lisboa para o lado de Sacavém. Era uma solução que evitaria a entrada de dezenas de milhares de carros em Lisboa. Recentemente, foi tomada a decisão (que não foi, que o saiba, discutida em nenhum dos orgãos da Municipalidade) de inflectir para a esquerda esta linha para a fazer chegar ao Aeroporto da Portela.


A Avenida de Berlim, que vai da Portela à gare do Oriente, tem cerca de 2 km. É um trajecto inferior ao de muitos trajectos no interior dos grandes aeroportos. Era incomparavelmente mais barato e mais cómodo para os utentes comprar e utilizar 4 autocarros com fácil entrada para as bagagens, que fizessem o trajecto intercalados de 5 em 5 minutos, com os bilhetes para os passageiros dos aviões incluídos nas taxas do aeroporto. Esta solução foi-me sugerida pelo senhor Rui Rodrigues que tem escrito muito sobre estes assuntos.

Não penso que a insistência num aeroporto na Ota seja devida só a interesses imobiliários. Há o interesse dos grandes construtores, há o interesse da "indústria dos estudos", há os consórcios interessados em ter o domínio e o exclusivo sobre os aeroportos de um país.

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

892. A "leitura não evidente" do ministério da justiça

Esta só mesmo de terça-feira de Carnaval!

Mas não é para rir. Pelo contrário, é para chorar.

Se digo que é de terça-feira de Carnaval é apenas porque se trata de uma autêntica… ai, caramba!, não me recordo da palavra. Quando do governo Santana Lopes, falava-se em “trapalhada”, mas não é essa palavra, não. Ah! Qual é ela, qual é?... E não me recordo, hein?! Esta memória, ai esta memória!...

Bem, adiante!

Como é do conhecimento de toda a gente – mesmo dos mais “ausentes” destas coisas, que os há sempre, e até esquecidos – aqui há tempos, o presidente da república indultou um fulano que fora anteriormente condenado a pena de prisão e que se pusera ao fresco, sem cumprir um dia sequer da pena, existindo até pendentes, mandados de captura, ao que diz de cariz internacional.

Toda a gente entrou em delírio e com razão. O que aconteceu é um escândalo e só foi possível pela cultura de laxismo e incompetência que de há muito vigora em Portugal, mas que tem vindo a agravar-se de forma assustadora nos últimos tempos.

Pois bem, foi decidido que se iria apurar os factos e atribuir-se as responsabilidades inerentes. Comme d’habitude, évidemment. Já se sabe bem do que a “casa” gasta…

Então não é que o ministério da justiça, portanto, o ministro da justiça, de sua graça (nem de propósito, hein?) Alberto Costa, apareceu agora justificar o sucedido com um argumento de truz?

E qual foi ele, qual foi?!?! Pois bem, prepare-se:

Tudo se ficou a dever a um documento que instruiu o processo de concessão do indulto que (sente-se, segure-se…), “não era de leitura evidente”!!!

Hã! É capaz de repetir, ó sôr ministro?! O que é que isto quer dizer? Que o tal documento estava:

- mal escrito?
- redigido em chinês antigo?
- de pernas para o ar?
- com o texto de costas?


O quê, santo Deus?! “Não era de leitura evidente”?! Esta não lembraria a ninguém. Mas o que é que será de leitura evidente? E de leitura não evidente?

Mas, acresce que o ministro, através do ministério, nem se deu ao trabalho de esclarecer para quem é que o documento “não era de leitura evidente”. Limitou-se a acrescentar que a responsabilidade não cabe ao presidente da república. Também era o que faltava que a responsabilidade fosse do homem de Belém! Esse tem responsabilidades, sim, mas serão de outra índole.

Sabendo-se de quem não é a responsabilidade, é de toda a conveniência saber-se de quem é. Ou não?! Sim, é absolutamente indispensável que se saiba a quem se fica a dever tanta incompetência e laxismo. Ou, mesmo, quem ou que entidade é incapaz de interpretar de forma correcta e adequada o que lê. Dito de outra forma: quem ou que entidade sofre de grave iliteracia, isto é, lê mas não compreende, não assimila o que lê.

E quem será esse alguém ou essa entidade?


* Os serviços judiciais?
* Os serviços do ministério?
* Os serviços da presidência da república?
* O ministro ele mesmo?
* O vendedor de castanhas assadas à porta do ministério?
* O atracador dos cacilheiros?

Quem, afinal, gente de Deus? Quem?! Quem ou o quê, meus senhores, sofre desse tormentoso problema de iliteracia?

Para quem não se arrepiou até agora e esse "não-arrepio" se ficou a dever à circunstância de ignorar como se passam estas coisas até ao indulto e pense que se trata de processo extraordinariamente complicado, deixe-me que explique, ainda que de forma sucinta, para que melhor possa apreciar o caso:

Um indivíduo é julgado por determinado crime e condenado a uma pena de prisão que tem que cumprir mesmo. Como está ausente em parte incerta não pode ser preso, pelo que o tribunal emite e distribui mandados de captura, para que o homem seja preso e vá cumprir a pena em que foi condenado.

Todos estes factos, acusação, transformada em pronúncia, julgamento, condenação, declaração de que está ausente em parte incerta, emissão de mandados de captura, etc, e respectivas datas, tribunal, juízo e secção em que tudo se passou, ficam a constar do seu cadastro, no registo criminal.

Tudo bem até aqui? Ora muito bem. Também não é difícil. Tal como o que vem a seguir.

E o que vem a seguir é isto:

Chegada a hora de se conceder indultos, organiza-se o respectivo processo e faz-se a lista dos presos (leu bem, sim senhor, PRESOS, não dos que estão em liberdade…) que estarão em condições – pelo comportamento que têm tido na prisão, etc. – de receber a benesse do indulto, indulto esse que pode ser o perdão do cumprimento de toda a pena restante ou apenas de parte dela.

A esse processo junta-se um documento indispensável, para se saber se o homem não andou a cometer outras patifarias: trata-se do certificado do registo criminal. Sim, aquele que referi lá em cima e de que constam, eu repito, eu repito:

- acusação, transformada em pronúncia,
- julgamento,
- condenação,
- declaração de que se encontra em parte incerta,
- nota de que existem mandados de captura emitidos e expedidos

bem como
- as datas de todos aqueles eventos,
- o tribunal,
- o juízo
- e a secção em que tudo se passou

para além da completa
- identificação do sujeito, com alcunhas incluídas.

Ou seja, está lá toda história do homem.


Feita a apreciação de todo o processo pelos serviços (in)competentes, o mesmo processo é, com o parecer respectivo, entregue no MJ, onde os respectivos serviços o escalpelizam (deveriam escalpelizar, melhor dito) e o entregam ao ministro que, por sua vez, após nova verificação, o apresenta pessoalmente ao presidente da república, para que conceda o indulto que ele, ministro, lhe vem propor. É claro que este, no fim de tudo, depois de tantas verificações e reverificações, não vai, por sua vez, esmiuçar tudo. Nem lhe cabe a ele tal papel. Era o que mais faltava! Há que ter confiança no governo, nos serviços, no ministro, caramba!

Pressupõe, evidentemente, que, estando onde estão, todos cumpram os seus deveres, com escrúpulo e pundonor. Até porque é para isso que são pagos. Como é que é, pois, concebível que, somente depois da "barracada" é que, tendo procedido a averiguações, como sempre "exaustivas", o ministro da justiça, através do ministério que tutela, conclui pela caricata "não evidente leitura" de um documentito?

Ora muito bem: de todos os dados que acima elenquei, quais os que, no entendimento do ministério da justiça, portanto do ministro da justiça, “não serão de leitura evidente”?

* o nome do condenado?
* de que era acusado?
* em que pena foi condenado?
* em que tribunal, juízo ou secção?
* que está ausente em parte incerta?
* que há mandados de captura emitidos contra ele?
* quando é que tudo teria acontecido?
* qual a filiação do homem?
* qual a naturalidade do dito?

* quais os sinais particulares que se lhe notam?

O quê, santo Deus!, o que é que "não é de leitura evidente"?

Quem é que se imagina a viver tal história? E quem é que anda a “chuchar” com o pagode? Isto, senhores, acontece num processo de uma simplicidade notável. E que acontecerá na maioria deles, que são muito mais complicados? Imagina-se, não?!

Só em quadra de Carnaval esta justificação poderia ter aparecido, não acha? Ou será que não. Será que poderia aparecer em qualquer outra quadra, com este ministro e com estes serviços? Valha-nos São Judas Tadeu, padroeiro dos aflitos!... Talvez nem esse consiga. É que nós já nem estamos aflitos. Estamos, sim, à rasquinha!... E, para gente nas nossas circunstâncias, já não haverá santo que valha.

E cá vamos, cantando e rindo, levados, levados sim…


Ridículo! Desconsolador mesmo. Não é mesmo uma tristeza?

891. Desemprego em Portugal

Mas esta terça feira de Carnaval ainda não acabou. Nem podia acabar sem uma parte humorística da parte do escol que nos governa...

Ora imagine que os vários ramos do Estado, tutelados pelo mesmo governo (não se iluda, não é por vários governos, mas sim pelo mesmo, este que nos calhou na rifa...) desataram agora a divergir substancialmente nos números do desemprego actual no País.

Imagine que veio o Instituto Nacional de Estatística (INE), aqui há não mais do que uma semana, disponibilizar números que garantem que nunca a taxa de desemprego foi tão alta em Portugal. Atinge 8,2%, percentagem com que jamais alguém sonharia. Basta relembrar que a percentagem de desempregados, à data em que cessou funções o "incompetente" governo Santana Lopes, rondava os 6%!...

Pois bem, apareceu seguidamente o Banco de Portugal (BP), do conhecidíssimo socialista Vítor Constâncio, o bombeiro de serviço, que, sempre que o socrático governo entra em aflição, desencanta números que só ele vê, através dos quais se constata que tudo está no sétimo céu cá pelo reino. Que disse ele? Que o desemnprego, ao invés de ter subido, baixou.

Outros, sem tanta importância e também sem carros tão luxuosos, foram dizendo que sim, baixou, ou não, subiu, até que, hoje, aparece o Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP) dizendo que é verdade, o desemprego baixou, em comparação com há um ano, muito embora tenha subido em Janeiro.

Não conseguem entender-se entre eles. E são tutelados, repito, pelo mesmo governo. É o desgoverno total!

Imagine que até o Secretário-Geral da UGT, o socialista João Proença, a quem os jornalistas foram a correr pedir a opinião, tendo ficado serm fala, se limitou a dizer que o melhor era esperar pelos dados oficiais referentes ao ano passado, que o INE (entidade que trata das estatísticas em Portugal... o tal dos 8,2%...) há-de fornecer. E por aqui se ficou, no que fez muito bem, digo eu, porque com gente desta, nunca se sabe.
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(não se vá já embora, que a terça-feira de carnaval ainda está a decorrer e quarta-feira de cinzas é apenas amanhã...)

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890. Columbano Bordalo Pinheiro



Aproveitando estra terça-feira de Carnaval, sem graça nenhuma cá pelo burgo (Setúbal como Lisboa), fomos, a Isabel e eu, ao Museu Nacional de Arte Contemporânea (mais conhecido como Museu do Chiado), apreciar uma exposição de quadros do considerado maior pintor português do séc. XIX, Columbano Bordalo Pinheiro.

Valeu a pena!

Confesso que, embora amador de pintura, de Columbano, ao vivo, apenas conhecia um quadro: o retrato de Teófilo Braga, que está no Palácio de Belém.

Dos restantes, tinha visto uma ou outra fotografia e nada mais.

Fiquei admirador confesso e vou deixá-lo na galeria de pintores portugueses de que muito gosto, como José Malhoa, Carlos Botelho e Maria Helena Vieira da Silva, isto para não citar outros.

Se me permite um sugestão, dir-lhe.ei que, se tiver tempo e disponição, não perca. São belíssimos trabalhos, a que apenas faltam, como a tantos outros de artistas portugueses, a divulgação a que fazem inteiro jus.

Basta ver que, dos artistas universais, está a Web cheia. Porque a Arte é para se ver e apreciar, não para guardar am baús poeirentos, em cantos escusos. Dos portugueses, porém, apenas conheço um site que reproduz alguns quadros. É o mesmo de sempre e em todas as actividades...

Para aguçar o apetite, deixo-lhe aqui a reprodução do quadro "O grupo do Café Leão" e um auto-retrato do artista.
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889. Alberto João Jardim


Alberto João Jardim é um político truculento.
Mas sério.
Alberto João Jardim é trabalhador e competente.
Fez pela Madeira o que gerações de políticos não fizeram pelo Continente.
Alberto João Jardim é um político incómodo.
Mas com razão para o ser. Quase sempre.
Alberto João Jardim diz alto aquilo que os restantes políticos pensam mas não são capazes de dizer.
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Desta vez e uma vez mais, tem toda a razão. E actuou em conformidade.
Tem tanta razão que, desta vez, até o PCP e o BE vieram reconhecer a razão que lhe assistia, porque o que o governo da república fez é simplesmente um escândalo.
Para o PCP e o BE virem reconhecer que Alberto João tem razão, imagine-se a razão que o homem não terá!...
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Para mim existe apenas um senão em Alberto João.
Para se ter razão e evidenciar essa razão perante todos e de forma conclusiva, não é preciso gritar nem insultar seja quem for.
Ao actuar-se desse modo, perde-se um pouco da razão que se tem.
Embora permaneça intocada toda a restante!...
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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

888. Portugal: Democracia abortiva

Portugal: démocratie avortive - la suite

Le référendum portugais sur la légalisation de l'avortement est un échec, puisque la participation n'a pas dépassé les 50% nécessaires pour la validation du référendum.


Est-ce que la question va donc être enterrée ? Et bien non, le gouvernement portugais va tenter cette fois-ci de passer par le parlement. Quelle belle conception de la démocratie, n'est-ce pas? Cela me rappelle cette histoire de référendum sur la constitution européenne: le peuple a voté négativement, mais on essaie de l'imposer quand même. On remarquera la présentation pleine de condescendance de l'article de TF1 :

Dans ce pays encore fortement imprégné de catholicisme [...]

Comme si être catholique c'est être sur la sortie et donc être has been...

(…)
lundi, février 12, 2007

dieu-seul.blogspot.com
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887. Sócrates em versão “gauloise”


Ségolème Royal, candidata socialista ao cadeirão da presidência da república francesa tem todas as características necessárias para atingir o desiderato que persegue.

Não. Não pelo facto de a madame se chamar Ségolème, muito embora um tal nome ser muito sugestivo e indicativo já. De facto, não é para todos conseguir “seguir ao leme” mesmo antes de o poder fazer…

Mas, talvez porque tenha seguido o socrático percurso, haja aprendido umas quantas prestidigitações e esteja agora a aliar a prática à teoria. Vai daí, promete tudo e mais alguma coisa, desconfia-se que o que sabe que pode fazer mas, de forma muito especial, o que sabe que não é possível. Mas, na verdade, que interessa isso, que interessa a verdade, quando o objectivo está na conquista do poder? Ignora-se, porém, se entre as promessas está também "a do bacalhau a pataco".

Segundo rezam as crónicas de então, na visita à China, em Janeiro último, a senhora foi um festival, de tal modo se esforçou também pelos “votos” chineses... Na ânsia incontível de sobressair, até terminologia gauloise inventou (substituindo a velha e gasta, desbotada mesmo, “bravoure” pela novíssima, cintilante e a estrear “bravitude”, que será a modos que uma espécie de “brave attitude”).

Sabe-se que a área politica da referida senhora – mas não a confinada à França – é extraordinariamente prolífica na criação de situações similares (Mário Soares foi sempre o expoente máximo, mas, reconheça-se, tem sido bem secundado…), de tal modo que os eleitorados já não estranham e até acabam por achar piada e aderir.

Veremos se desta vez assim acontece também.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

886. Reflexão alheia...

O fraco jamais perdoa, porque o perdão é característica exclusiva do forte.
Mahatma Gandhi
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sábado, 17 de fevereiro de 2007

885. As boas surpresas para os reformados pobres

O documento que reproduzo junto deste texto, é, depurado das partes que não interessam para a apreciação do caso, uma factura autêntica da PT, referente ao mês de Novembro de 2006.

O telefone a que respeita a factura pertence a uma pessoa viúva, idosa (83 anos), que tem como único provento regular a pensão social de 230,00 €, e vive sozinha, a 240 quilómetros da família, pelo que necessita de diariamente ser acompanhada telefonicamente.

Abro aqui um parêntese, que vem muito a propósito, muito embora se trate de uma outra história a que, aliás, se vai dar remédio imediato, como abaixo esclareço.

Os contactos diários que referi são efectuados pelos familiares, pelo que o custo das chamadas feitas são contabilizados nos telefones desses familiares, que os pagam, evidentemente, pelo que a titular do telefone o tem praticamente para receber telefonemas.

Serve isto para dizer que a idosa reformada e octogenária em questão não faz as chamadas, nem locais e muito menos nacionais, menos ainda internacional que constam das facturas. As facturas dos outros meses são similares, variando muitíssimo pouco, ou seja, em cerca de um total de 4 a 5 chamadas de uma factura para outra.

Bastará que se diga que 16 chamadas locais, a que acrescem 28 nacionais e 1 internacional, somam um total de 45 chamadas mensais, o que dá 1 e ½ por dia. Uma e meia por dia aos 83 anos de idade, mesmo para mulher... caramba!!! Só a PT descobriria uma destas…

Tratando-se, como digo atrás,

* de uma pessoa de 83 anos,
* com o rendimento mensal de 230,00 €,
* não tendo ninguém de família ou amiga a residir no estrangeiro,
* vivendo numa aldeia com cerca de 200 pessoas,
* morando todas elas junto umas das outras,

deve ser difícil que alguém acredite que faça este número de chamadas mensalmente, ou seja, 1 e ½ por dia, sem falhar um único dia. Ou não?

Ainda por cima sendo os familiares mais próximos que efectuam – e pagam nas suas contas telefónicas – as chamadas de contacto diário.

Antes de encerrar este parêntese, seja-me permitido deixar uma sugestão a cada um que me esteja a ler: se tem telefone fixo não se esqueça de exigir factura mensal detalhada. Digo-lhe isto porque também cá em casa, desde que passámos a exigi-la, a conta telefónica baixou para metade do que era antes. Não faço quaisquer comentários. Limito-me a relatar factos.


E fica fechado o parêntese, pelo que regressamos ao assunto que me trouxe a este escrito.

Como se pode ver no interior do tracejado a vermelho, o Estado subsidiava estes reformados - refiro-me ainda e sempre aos das pensões sociais de 230,00 € mensais, já que com os outros não sei o que aconteceu – em 6,330 €, correspondente a 50% do montante da assinatura mensal do telefone.

Tal desconto, porém, só era atribuído a quem satisfizesse as condições referidas, e anualmente fizesse prova de que assim continuava, mediante apresentação de documento oficial emitido pela junta de freguesia.

Pois bem, chegado momento de renovar o documento, a titular do telefone em causa dirigiu-se à Junta de freguesia, para o efeito.

Debalde. Mal ali chegada, foi-lhe dito que não seria precisa qualquer renovação, uma vez que o “Estado” resolvera acabar com esse grandíssimo privilégio e o “decepara” do Orçamento de Estado para o corrente ano.

Limito-me a transcrever factos passados. Não emito juízos. Serão necessários? Apenas deixo uma pergunta: alguém tem que pagar a crise, não é assim?

Desculpem, mas não resisto a um comentário da Isabel, aqui ao meu lado:

- Está visto que a socrática governação é a que mais convém ao país. Por este andar, não tarda nada, temos todos os nossos problemas resolvidos, pois que o Estado passa a dar lucro. Verás que Portugal ainda vai ser um negócio catita!
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Nota. - Claro que não foi apenas por isto, mas foi também por isto - esta capacidade de, com uma frase directa ao alvo e cortante, reduzir à sua expressão mais simples aquilo que parece ser difícil de caracterizar – que casei com ela. Podem crer.
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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

884. Co-incineração e outros crimes



Providência cautelar pede suspensão das licenças da Sécil

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As câmaras de Setúbal, Palmela e Sesimbra entregaram hoje no Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada mais uma providência cautelar contra a co-incineração, desta vez para suspender os licenciamentos atribuídos à Secil pelos Institutos do Ambiente e dos Resíduos.

"Esta acção cautelar é o encerramento de um ciclo de acções que nós movemos contra a co-incineração", disse o advogado Castanheira Barros, que representa as três autarquias da área do Parque Natural da Arrábida, que se opõem à queima de resíduos perigosos na cimenteira do Outão.

"Trata-se de uma providência cautelar que visa obter a suspensão dos licenciamentos concedidos à Sécil - licença ambiental, licença de instalação e licença de exploração - pelo Instituto do Ambiente e pelo Instituto de Resíduos", acrescentou Castanheira Barros.
RTP online
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As câmaras municipais e outros cidadãos abrangidos pela "zona de intervenção" da Sécil - e seus efeitos -, andam numa roda-viva, tentando obstaculizar, impedir mesmo, de vez, a co-incineração na Sécil do Outão.
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Desejo-lhes as maiores felicidades em todo o processo, pois que também eu sou contra este crime que José Sócrates em devido tempo prometeu/ameaçou que cometeria e está efectivamente a levar a efeito.
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E desejo-lhes e a todos os cidadãos - principalmente aos de Setúbal, que, muito embora, sabendo da ameaça que o noss'primêro fizera, não cuidaram de se precatar e foram (também na cidade do Sado) a correr para as urnas, oferecendo-lhe de mão beijada uma maioria bem maior até do que no resto do País. Estavam, pois, a pedi-las. E aí as estão a levar. O que talvez não seja mal feito.
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O problema é que eu - e outros como eu - que já sabíamos como iria ser e não alinhámos - não alinhamos nem alinharemos - com S.Exª, também apanhamos. Por tabela, claro!
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Assim, oxalá que os movimentos que se geraram contra o crime ambiental - mas não apenas ambiental - sejam bem sucedidos. Do que duvido, mas enfim...
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Mas a Secil não deve ser confrontada com as suas responsabilidades apenas na questão da queima dos resíduos, negócio chorudo que faz mexer muitos interesses.

É que a cimenteira tem andado, de há muitos anos a esta parte, a arruinar a Serra da Arrábida de forma irremediável, transformando num enorme buraco sem vida o que antes era um dos mais belos hinos à natureza selvagem existentes no nosso País.
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Bem se esfalfa a cimenteira por propagandear que, para compensar os estragos provocados, já plantou - em reflorestação - milhões de árvores.
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É isso o que os responsáveis pela Sécil dizem. O que diz a realidade - documentada também por fotografia de satélite que vai aqui reproduzida - porém, é bem diverso. Como se pode constatar, a devastação causada já não tem remédio em boa parte da serra. E das árvores plantadas pela Sécil, nem rasto visível!...
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Ora, se assim é com a actividade normal da cimenteira, é de deixar que tudo se agrave, agora com a co-incineração? Evidentemente que não.
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Mas que a maioria dos eleitores setubalenses merecem o que está a passar-se ou venha ainda a acontecer, lá isso...
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