Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

domingo, 30 de janeiro de 2011

2751. Pousada de S.Filipe - Setúbal


A construção vista do pátio exterior que circunda o castelo, apresenta-se severa e sóbria, como modelar exemplo arquitectónico de traço militar que é. A Obra, cujo projecto obedecia aos modelos mais avançados da época, foi levada a cabo pelo Engenheiro militar italiano, Filipe Terzi.

A primeira cintura de muralhas, mandada construir no século XIV e que ficou conhecida pelo nome de cerca velha, é constituída por quatro portas, dezasseis postigos e numerosas torres e cubelos. A graciosidade das altas torres e o garrido das ameias e merlões são aqui trocados pela imponência de um perfil recortado num traço aberto de fundo em céu e mar, um traço radical a romper esta fusão de azul.

A fortificação abaluartada de planta irregular com seis pontas é reveladora das adaptações à artilharia, permitindo grande diversidade de posições de tiro e maior eficácia na defesa. Por outro lado, as muralhas são de construção inclinada de forma a oferecer também maior resistência ao impacto de projécteis. As saídas dos subterrâneos humanizam, em cada um dos seus ângulos interiores a impenetrabilidade da muralha, se bem que nada se vislumbre na escuridão destas aberturas.

O escudo nacional com as suas cinco quinas esculpidas na pedra, representando as nossas cruzadas, sobre a chave de um arco emoldurado em alhetas, é o único elemento decorativo do belo pórtico do Castelo.

Embora não haja vestígios de um fosso com água contornando a construção, reconhecem-se na parede os traços da anterior existência de uma ponte levadiça. Esta entrada encontra-se vedada por duas portas de madeira, magníficas de volume e antiguidade, com os seus quatro batentes ornamentados por compridos gonzos e pesados ferrolhos e cintas, sendo o seu estado ainda original.

Na amplitude do átrio, a nudez e simplicidade das paredes, restauradas recentemente, não deixam margem a especulações e apenas um pequeno forno ali se encontra, quebrando a impessoalidade desta dependência, tendo servido em tempos para aquecer a sentinela.

Impossível estimar quantos passos traçaram o desgaste desta laje, mas sabemos que a atravessaram tropas e populares que vitoriosas em 14 de Dezembro de 1640 levaram a guarnição castelhana do Castelo à rendição, como também traidores que tentaram assassinar os nossos reis e aqui foram detidos até ao seu julgamento, ou ainda o nobre passado de Jerónimo de Melo e Castro, governador do Castelo e descendente por linha recta da ligação de D. Pedro e Dª Inês de Castro e o circular vigoroso de tanta gente que na sombra existiu, edificando não só aqui como em todo o País, um passado sob o qual vivemos.

Foram alguns os incentivos ao desenrolar da obra, entre os quais, o lançamento de novos impostos à população e aos negociantes de sal.

Embora o forte, cujas obras foram concluídas por volta de 1600, tenha sido mandado edificar na sequência de uma imperiosa necessidade de controlar o acesso à barra do Sado, dos navios estrangeiros que procuravam o forte comércio de sal e pescas, não deixa de ser notável a sua defensiva posição em relação à cidade, factor este que viria a ter expressão na sua tenaz resistência aos tumultos da restauração em 1640.

Com efeito, só no dia 14 de Dezembro do mesmo ano e após seis dias de resistência ao cerco que João Gomes da Silva aqui levantou, depois de aclamar D. João IV Rei de Portugal, esta fortaleza e as suas tropas se renderam aos militares e à população de Setúbal, aceitando por fim o novo regime proclamado na revolução do dia 01 de Dezembro de 1640.

Aqui foram retidos, em 28 de Julho de 1641 alguns dos suspeitos de participação na tentativa de regicídio contra o novo rei, tais como D. António de Ataíde, conde de Castanheira e outros, que foram julgados e sentenciados imediatamente, pela conspiração que tinha por chefe o Arcebispo de Braga, D. Sebastião de Matos e Noronha. Foi este Castelo novamente usado como prisão de estado, quando em 1758 aqui foram retidos alguns fidalgos acusados de conspirar contra a vida de D. José I.

Foi acrescentada a casa do Governador que viria a ser consumida pelas chamas em 10 de Fevereiro de 1868, juntamente com os quartéis, na sequência de um acto criminoso que se julga encobrir uma manobra política destinada a desviar a atenção popular das eleições que nesse dia se realizavam na cidade.

Também aqui foi aprisionado Paulino de Oliveira, poeta e Jornalista republicano, acusado de encabeçar um violento tumulto popular em Março de 1890. Três anos mais tarde escreve “Em Ferros de El-Rei”, em que relata os 30 dias de encarceramento.

Em relação à arquitectura do castelo, destaca-se a sala que agora serve de sala de reuniões, mas onde outrora se estirava um carcereiro indiferente, enquanto na dependência anexa os prisioneiros aguardavam sentados o momento de serem conduzidos a uma cela fria e sem luz, onde muitos passariam o resto dos seus dias.

A capela de S. Filipe foi mandada erguer pelo rei D. Manuel em 1736 e contém um valor decorativo que reside na riqueza do azulejo azuis e brancos do século XVIII, que forra cada milímetro das suas paredes e tecto – manifestação de arte da autoria de Policarpo de Oliveira Bernardes, os painéis que representam parte da vida de S. Filipe, quase intactos nos dias de hoje.

Nas paredes da capela-mor que envolve o altar, a Virgem pintada em sucessivas cenas da sua vida, terá assistido vezes sem numero ao ritual religioso que ali já não se celebra, pois a última cerimónia foi um casamento em 1973.

Ainda assim, se bebe da vista generosa um agradável panorama. A cidade que viu nascer Bocage e Luiza Tody, a cidade que desenvolve ecos do sol escaldante de Julho, transpirando indolente o murmúrio do labor das gentes, existe à esquerda, protegida e súbdita, ante a imponência do forte.

Em frente o rio refresca a visão ensolarada do turista, que estende a curiosidade até onde o Sado vai afagar as areias de Tróia. A serra da Arrábida eleva-se à direita e para lá das curvas onde se perdem filas de carros em busca das praias, se adivinham sombras e frescuras bem capazes de dignificar o crédito paisagístico que merece o nosso Portugal.

Neste Castelo, para além do deleite visual que nos oferece qualquer ponto da muralha, paira um leve cheiro a passado. São passos de uma vida quotidiana soterrada em quatro séculos de história. Se um sopro de imaginação pudesse dar vida às paredes grossas e tumulares veríamos erguer-se da laje fria um quadro animado de vida em corte durante o reinado de Filipe II, rei de Espanha e Portugal.

As obras de restauro efectuadas aquando da adaptação à Pousada, inaugurada em 1965, não vieram apagar completamente o traço anterior. Uma certa rusticidade, a despeito da posterior adaptação, confere à Pousada um ambiente verdadeiramente repousante, temperado com decoração adequada, simples e sóbria, óptimas condições, quer pela amplitude das suas instalações, quer pela selecção do seu serviço verdadeiramente à altura à altura do bom turismo que nos propomos praticar.

Pousadas de Portugal - Pousada de Setúbal - São Filipe


sábado, 29 de janeiro de 2011

2750. Aterragem ao amanhecer, em Lisboa




Aterragem ao amanhecer, em Lisboa.
Voo:
TAP

Procedência:
Brasil

Aeronave:
Airbus 330

Comandante:
António Escarduça

...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

2749. Veja os verdadeiros resultados eleitorais (23Jan2011)

Estes são os resultados que realmente interessam da eleição de ontem e devem fazer pensar muito seriamente todos quantos se preocupam com o País e os Portugueses.

* Número total de eleitores: 9.629.630

(Numa população de 10.300.000! Pura aldrabice! Não se dá baixa dos falecidos, por não convir, por causa dos mandatos, ou seja, dos tachos que os partidos têm para distribuir pelas clientelas)

* Votaram apenas 4.489.904, ou seja, 46,63% dos tais eleitores.

* O vencedor obteve 2.230.104 votos, ou seja, votaram nele apenas 23% dos eleitores.

* Os outros candidatos, todos juntos, representam 20% dos eleitores.

* A totalidade de eleitores que não se identifica com esta pantominice representam 59,56% do total de eleitores, divididos por esta forma:

- Abstenção – 53.37%

- Nulos – 1.93%

- Brancos – 4.26%

Estes os números reais. Os restantes são meras fantasias para endrominar o pessoal.

É esta a democracia que temos!

Chega-lhe?

...

domingo, 23 de janeiro de 2011

2748. A Ópera do Tejo (Abril-1Novembro1755)


« Teve apenas sete meses de vida antes de cair com o terramoto de 1755 mas, apesar disso, a Ópera do Tejo foi um símbolo do reinado de D. José e de Lisboa. A investigadora Aline Hall vem agora defender que o edifício pode não ter desaparecido totalmente.

A investigadora Aline Gallasch-Hall passara por aquele local milhares de vezes. Sabia que ali, onde hoje fica o edifício do Arsenal da Marinha, no Terreiro do Paço, em Lisboa, tinha-se erguido no século XVIII, e durante uns escassos sete meses, um outro edifício que o rei D. José sonhara como um dos símbolos do regime: a Casa da Ópera, que ficaria mais conhecida como Ópera do Tejo.


Às vezes os sítios tornam-se de tal forma familiares que já não reparamos bem neles. Mas naquele dia, Aline viu uma coisa que lhe chamou a atenção. "Olho para o Arsenal e penso 'eu já vi isto em algum lado'. É um pouco uma verdade de La Palisse, mas o que é facto é que já tinha visto e fora na gravura das ruínas da Ópera".


Aline refere-se à única imagem que chegou até nós do que terá sido esse imponente edifício à beira Tejo, desenhado pelo arquitecto italiano Giovanni Carlo Sicinio Galli Bibiena e inaugurado em Março de 1755. Aí, naquele que se julga ser "o único testemunho fiel do edifício", vê-se o que restou da ópera após o terramoto de 1 de Novembro de 1755: uma parede alta à direita com sete fileiras de janelas, a mais alta das quais termina em arco; no interior, por onde deambulam sobreviventes da tragédia, há algumas estruturas também em arco; à esquerda outra parede com o mesmo número de janelas; e ao centro vêem-se claramente duas empenas que terminam num triângulo e que se mantiveram de pé, ao fundo uma terceira meia derrubada e mais próximo de nós uma quarta da qual pouco mais resta do que a coluna.


E o que Aline viu naquele dia foram essas mesmas empenas no telhado do edifício do Arsenal da Marinha. E de repente, a investigadora da Universidade de Évora, que está a trabalhar num doutoramento sobre os teatros reais na segunda metade do século XVIII, tirou uma conclusão: partes da ópera que ficaram em pé teriam sido aproveitadas para a construção do novo edifício que se ergueu no mesmo lugar. Ou seja, ainda existem vestígios dessa mítica sala na qual se estrearam apenas três óperas.


A descoberta - que, sublinha Aline, para ser confirmada precisava de um estudo muito mais aprofundado do Arsenal da Marinha, nomeadamente por um arquitecto - viria mostrar que as ruínas não tinham sido completamente arrasadas e teriam sido integradas no novo edifício.


Com autorização da Marinha, Aline foi depois tentar conhecer o arsenal por dentro - e recentemente convidou o P2 a acompanhá-la numa dessas visitas. "Se formos ao Google Earth percebemos perfeitamente que toda esta zona, incluindo o Tribunal de Contas, parece um puzzle gigante e que contrasta claramente com a simetria, a racionalidade, o traço quase a régua e esquadro da maior parte da Baixa Pombalina", diz a investigadora, segurando na mão um mapa que mostra as novas construções pós-terramoto, tendo por baixo a traço mais claro as antigas.

Aline chama a atenção para "um corpo mais ou menos quadrangular" que parece corresponder ao que estava lá anteriormente - e que seria a Ópera. As paredes dos dois corpos são coincidentes, o que reforça a ideia do aproveitamento. "Sei que a tradição diz que o Iluminismo favorecia o princípio de deitar abaixo e construir de novo. É verdade, mas nos sítios em que isso era possível. Mas quando temos edifícios com vários metros de altura, ainda sólidos, não faz sentido que um homem tão pragmático como era o Marquês de Pombal, que tinha que reerguer uma cidade e agir com rapidez, não reaproveitasse aquilo que podia".



Uma escada em caracol?

Entramos no edifício e Aline começa a apontar aquilo que considera serem incongruências. "Isto é um verdadeiro emaranhado de reaproveitamentos", sublinha. "Quem espera um edifício tipicamente pombalino não percebe como é que este funciona. Só sabendo que houve aqui uma construção prévia é que se consegue explicar a falta de funcionalidade de alguns destes espaços". Um dos exemplos mais evidentes fica no pavilhão desportivo ao fundo do edifício (uma zona que inicialmente a investigadora admitia que pudesse pe

rtencer à ópera, mas que concluiu que não). Aí, num ângulo entre duas paredes rectas está uma estrutura cónica, com uma porta em baixo e outra em cima, suspensa no ar, que "parece ser uma estrutura em pedra para uma escada em caracol, possivelmente em madeira". Esta estrutura só é visível no interior do pavilhão, e não tem correspondência no exterior, como um corpo estranho, mais antigo, que tivesse sido integrado ali por necessidades de construção.


Durante muito tempo acreditou-se que única planta existente da Ópera do Tejo seria a encontrada em 1933 pelo historiador José de Figueiredo, primeiro director do Museu Nacional de Arte Antiga e da Academia nacional das Belas-Arte


s. Foi com base nela que Aline fez, em 2005, juntamente com o arquitecto Francisco Brandão, uma tentativa de reconstituição do edifício. A mesma planta serviu também para a recriação virtual da ópera por Alexandra Gago da Câmara e Helena Murteira, da Universidade de Évora.


A planta errada

Mas, no ano passado, Pedro Januário, arquitecto e professor na Faculdade de Arquitectura de Lisboa, apareceu com uma tese que contraria esta ideia. "Inicialmente tomei a planta encontrada por José de Figueiredo como verdadeira, estudei a vida e obra dos Bibiena [família com várias gerações de arquitectos] e comecei a verificar que existiam erros crassos, por exemplo na dimensão dos degraus", conta.



A partir de uma planta de 1759, assinada pelo Conde de Oeiras (Marquês de Pombal), que encontrou na Academia Nacional das Belas-Artes e na qual se vê a localização da ópera, Pedro Januário concluiu que as medidas não batiam certas com as da planta identificada por José de Figueiredo, tal como não batia certo a proporção entre a sala e o cenário (a ideia de que essa não seria a planta certa tinha já sido defendida no passado pelo olissipógrafo Augusto Vieira da Silva). Mas o arquitecto foi mais longe: projectou sobre a gravura das ruínas a planta e o corte do projecto e verificou que faltava profundidade. "A ópera teria cerca de 120 metros, segundo o Tombo de Lisboa de 1758 (levantamento do edificado da cidade), e a que José de Figueiredo propôs tinha à volta de 65 metros".


As investigações conduziram-no a um conjunto de desenhos localizados pela professora italiana Giuseppina Raggi e pelo arquitecto do Porto Luís Soares Carneiro, autor de uma tese sobre os teatros portugueses de raiz italiana, no Museu Nacional de Arte Antiga e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Trata-se de cinco imagens que se julgava corresponderem ao teatro real de Salvaterra de Magos. Mas Januário conclui que de forma nenhuma aquele teatro podia estar implantado no palácio daquela localidade e que, por outro lado, tinha dimensões e características que permitiam arriscar a hipótese de se tratar do edifício da Ópera do Tejo. É, por isso, a partir desse desenhos que Pedro Januário tenta nova reconstituição do mítico teatro desaparecido em 1755.


Seria assim? Seria diferente? Serão as empenas triangulares ainda visíveis no Arsenal da Marinha um aproveitamento do edifício original e estarão as paredes integradas no actual, como defende Aline Gallasch-Hall? Duzentos e cinquenta anos depois de ter desaparecido a Ópera do Tejo continua a guardar os seus mistérios. »


Extracto de um texto em “
Os segredos da Ópera do Tejo

http://ipsilon.publico.pt/artes/texto.aspx?id=228954


click, para ampliar

...

sábado, 22 de janeiro de 2011

2747. Antígono

Foi de esplendor efémero a estreia de Antígono em 1755.

Nesse Outono fatídico de Lisboa, a produção em cena era das mais luxuosas da época e contava com um elenco de prestígio internacional: um dos castrati (castrados) era Gaetano Guadagni (o eleito de Handel para cantar no Messias e o primeiro Orfeu na ópera de Gluck).

O Divino Sospiro quer resgatar esse esplendor e dar-lhe a vida que ficou perdida nas ruínas do grande terramoto.

A malograda Casa da Ópera do Paço da Ribeira, inaugurada em Março de 1755, foi provavelmente a única que assistiu à interpretação da ópera Antígono, em cena aquando da destruição daquele espaço com o terramoto de 1 de Novembro. O libreto, da autoria de Pietro Metastasi e um dos preferidos pelos compositores da época, conta os “estranhos desastres” que sucedem a Antígono, rei da Macedónia, desde que se junta a Berenice, princesa do Egipto. A partitura de Mazzoni, que regressa agora à vida com o Divino Sospiro, sofreu um trabalho de edição crítica da responsabilidade de Nicholas McNair.

direcção musical - ENRICO ONOFRI
direcção cénica - CARLOS PIMENTA
desenho digital em tempo real - ANTÓNIO JORGE GONÇALVES
figurinos - JOSÉ ANTÓNIO TENENTE
desenho de Luz -NUNO MEIRA

programação multimédia - RUI MADEIRA
reconstrução da partitura, edição crítica - NICHOLAS MCNAIR

MICHAEL SPYRES - Antigono
GERALDINE MCGREEVY - Berenice
PAMELA LUCCIARINI - Demetrio
MARTÍN ORO - Alessandro
ANA QUINTANS - Ismene
MARIA HINOJOSA MONTENEGRO - Clearco

Tradução - COSTANZA RONCHETTI
Maquilhagem e Cabelos - PATRICIA GASPAR | CARLOS LEAL
Legendagem CULTOC, LEGENDAGEM DE ESPECTÁCULOS LDA

* * *

Antígono Monoftalmo (382-301 aC) foi um nobre macedónio, general e sátrapa de Alexandre o Grande.

Foi Senhor da Ásia menor, no terceiro ano da 115a Olimpíada e estabeleceu a dinastia Antígona.

Reinou durante 18 anos, e foi o mais poderoso rei da sua época, atacado por todos os outros, que o receavam. O filho Demétrio escapou, fugindo para Éfeso. Nos dois últimos da sua vida, Antígono dividiu o poder com ele.

______ oOo ______

Ontem foi dia grande.

Para comemoração do aniversário de casamento e como é habitual, os filhos ofereceram-nos dois ingressos para a Ópera.

Desta vez, "Antígono” em versão de “Divino Sospiro”, companhia residente no Centro Cultural de Belém, na época de 2010-2011. Ópera em três actos, de Antonio Mazzoni, com libreto de Pietro Metastasio (1755), em estreia moderna mundial.

Embora um tanto desagradados com uma ”facécia” só possível em Portugal, agradou-nos imenso a sessão de ópera, ontem, no Centro Cultural de Belém.

A “facécia” chega a raiar o ridículo. Marcada para as 21 horas, lá chegámos, a Isabel e eu, pelas 20,24h, precisamente, porque, em 40 anos de casados, não me recordo de alguma vez termos chegado atrasados fosse a que fosse. A sério.

Começámos logo por estranhar não ver ninguém cá fora e mais ainda por vermos dois jovens, todos aperaltados, a abrir-nos as portas do Grande Auditório em grande estilo. Agradecemos e entrámos. Foi então que nos disseram que houvera um problema e que a sessão já tinha começado há cerca de 20 minutos! Mostrámos a hora assinalada na propaganda e bilhetes e alegaram que tinha sido alterada à última hora, porque a ópera é muito longa (4,30h), pelo que houvera necessidade de antecipar o início. Ficámos para morrer e nem quisemos saber da “oferta” que nos faziam de recebermos novos bilhetes, para hoje.

Recusámos e fomos, com mais uns 5 ou 6 “atrasados”, ver o que faltava (cerca de 35 minutos) do 1º acto, no galinheiro. O 2º e 3º já vimos nos lugares que nos estavam destinados, a três filas da orquestra. E, querem saber? Nem reclamámos. Já não vale a pena. Organizações a la José Rocha, como antigamente se dizia por cá…

* * *

A ópera em si não é muito apelativa. Mazzoni não deveria estar muito inspirado quando acedeu à encomenda da corte do rei D. José. “La Traviata”, “Aida” ou “Rigoletto” serão masterpieces, enquanto que esta não vai além de “una piccola pupilpiece”. A melodia não é desagradável, os seis actores/cantores são magníficos como cantores (como actores não deu para ver, porque a encenação optou por pô-los mudos e quedos – estátuas – quando não cantavam. O que até nem foi nada desagradável.

No entanto, toda a peça enferma, quanto a nós, de demasiadas árias e cada uma delas demasiadamente extensa. Por leitura à vol d’oiseau do libreto facilmente se percebe que, com menos uma hora de espectáculo, tudo ficaria bem mais agradável.

Os intérpretes, porém, são de primeiríssima água. Aliás, só sendo-o conseguiriam aguentar um total “estatuismo” bem como uma completa ausência de adereços e decoração cénicos. O espectáculo é apenas voz e canto, no que aos intérpretes líricos se refere.

A orquestra residente, o “Divino Sospiro”, é isso mesmo: divina.

* * *

No entanto, há outros espectáculos integrados no principal:

A começar pelo maestro. Qual Herbert von Karajan, qual Leonard Bernstein, qual quê?! Maestro, maestro… é Enrico Onofri.

Só para vê-lo vale a pena o espectáculo! Nunca vimos nada igual. Relativamente alto, magro como um cipreste e com uma noção de bailado como nunca encontrámos noutro maestro, Enrico Onofri é, ele só, um espectáculo soberbo. S-o-b-e-r-b-o!

O outro espectáculo é a computação gráfica, exercida em tempo real, da autoria do português António Jorge Gonçalves.

Como disse atrás, a encenação consiste em não haver qualquer encenação. Logo, é distribuída ao homem do computador a tarefa de idealizar – e pôr em prática, em “directo”, e conjugado com a música – os diversos cenários, por projecção em tela. Absolutamente genial! Nem dá para se contar. Só visto!

Se alguma tiver nova oportunidade de assistir a tal espectáculo, não perca. Ficará com ele gravado na memória.

Imagine que até nos esquecemos da “facécia” inicial!...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

2746. Menos cinco votos no Cavaco!

Esta tarde fui à baixa, onde encontrei cinco amigos que me disseram que, pela primeira vez, não vão votar no Cavaco. Surpresa! Cinco indefectíveis apoiantes de Cavaco desde 1985, a afirmarem não irem votar nele?!
- Mas, então, porquê? – quis eu saber, até porque há anos que ando a ser criticado por isso mesmo…
- A gente tamos furiosos com gajo e com o staff, porra!
- Hom’essa! Muito me contam! Mas porquê com ele e com o staff?!
- Atão, na se está mêmo a veri? Com ele porque na feicha o pífaro rachado e c’o staff porque na esconde o dito, p’ra ninguén mais óviri toleimas!
- Eu… eu… não estou em mim, caramba! – balbuciei – Mas o que é que se passa?
- O qu’é que se passa?! Tu t´ás surdo, ó quê, pá ? – ripostaram cada vez mais irritados – Atão, tu na vês qu’o home só diz asnêradas, sempre qu’abre a bocarra? E perde votos. Aos molhos, pá, aos molhos!!! S’a campanha na acaba já, na sê nã!…
- Bem, mas isso já eu digo desde 1989! E vocês não acreditavam. Diziam que era má vontade minha!
- Tens a razã, pá, tens toda a razã! – admitiram, finalmente – A gente a modos qu’andava mêmo tapadinha de todo! Inté parece qu’andava d’antolhos, com’esses dos burros, catarino, pá!
- Mas desembuchem, que eu estou a ficar em pulgas. Qual é a razão do vosso desassossego?
- Ó homem, atão tu na tás a veri qu’a criatura, na contente c’as tiradas de morreri a riri ou a chorari, conforme a barricada em qu’a malta tá, hoje veio c’a última, qu’é mesmo de lhe arreari uma trólitada no tótiço?
- Ah, sim? E então, o que disse a criatura?
- Que, em vez dos cortes nos salários do pissoal, o magana do governo havera de ter criado um imposto istrórdinário, que era munto mais justo e eficaz, caraças!...
- E então, não está certo? Até acho que foi a única coisa certa que o homem disse nos últimos anos.
- Pois sim… Mas… SÓ DESCOBRIU ESSA TRETA AGORA? No último dia do rai da campanha? De repentemente é que ficou isperto? Atão, se só pescou isso agora, agora devia tar calado, p’ra qu’a malta na topasse qu’o tipo é lento de pinsamento, pá!
- Realmente…
- P’s’tá claro! E o staff é uma cambada qu’a gente nem sabemos o que lá anda a fazeri. Com amigos assim, o melhori é tar co’os inimigos, catarino!
- Realmente… vocês estão com toda a razão. Mas não exageremos, pois que o homem até pode ser um alho.
- Pois… Isso dizes tu, tas a óviri? Tás todo sastisfeito c’o gajo!...
- Eu ?!?! Nem o posso ouvir falar! Fico todo encrespado e com azia, ó gentes!
- Pois… tá ben, mas iss’era dantes. Agora tás todo inxado, pá!...
- Hom’essa! Então porquê?
- Ora, ora… Porqu’o magano só ficou espertalhaço qanda leu o que tu escreveste lá no Feissebuque antes d’onte sobre ess’assunto do imposto de crise, transitóro ó lá o qu’é!
E abalaram, deixando-me maila patroa, pregados ao chão em plena praça, com o Manel Maria, lá no alto, a rir à gargalhada, e a dizer:
- Porrr essa é que tu não esperravas, carramba! Os tipos bem te lixarram o juízo, hã?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

2745. Imposto de crise versus embustes e bandalheira

Esta história do corte nos ordenados é um embuste. Só atinge funcionários públicos e, pelos vistos, nem todos. Além disso, levanta problemas de inconstitucionalidade.

A solução que teria revelado equanimidade e honradez teria sido a da criação de um imposto extraordinário, o "IMPOSTO DE CRISE", a abranger a universalidade dos cidadãos, com as únicas excepções a contemplar quem não disponha de rendimentos mínimos suficientes para uma subsistência digna.

Tal imposto vigoraria temporariamente, até que se mostrasse necessário, devendo de tempos a tempos, ser avaliada em termos públicos a necessidade de continuar em vigor ou não.

Tudo isto precedido de uma explicação completa e cabal ao País. Claro, seria a forma de actuação correcta e democrática de um governo decente.

Quando a necessidade de sacrifício é aberta e lealmente exposta, ao mesmo tempo que fixado o horizonte de localização do final do aperto, a generalidade dos cidadãos aceita de boa mente sacrificar o seu bem-estar em prol do bem comum.

O que não aceita, de forma nenhuma, é o embuste. E a actuação dos vilaristas governos tem-se pautado pela mentira descarada e o mais indecente dos embustes.

Por outro lado, os juros da dívida pública continuam em alta, ultrapassando constantemente a barreira dos 7%. Aliás, nem outra coisa seria expectável.

Quanto mais tempo demorar a chamada do FMI pior será. Poderá não vir cá fazer muita coisa, mas uma fará certamente e dela muito necessitados estamos: evitar mais mentiras e embustes, que a bandalheira prossiga.

O vilarista tenta fugir a essa inevitabilidade a todo o custo, porque, logo que o FMI chegue, acabam-se as sinecuras dos boys que por aí se alapardam na mesa do Orçamento. Pior do que isso, fora do Orçamento, pela calada da noite!

Ora, perdidas as sinecuras, lá se vai o poder do vilarista pelo esgoto. Esta a dura realidade com que estamos confrontados. Tudo o mais apenas serve para engrolar o zé pagode.

domingo, 2 de janeiro de 2011

2744. Aldeia Global Portuguesa (12) - "Papiamento"

Papiamento ou papiamentu é uma língua crioula, a principal língua falada nas ilhas caribenhas de Aruba, Curaçao e Bonaire, de que é também língua oficial.


O papiamento provém do pidgin português conhecido como guene, por ser falado pelos escravos africanos, originários das zonas de Guiné-Bissau, Cabo Verde e S. Tomé, entre outras, que foram trazidos pelos holandeses para os campos de cana de açúcar.


Após a retomada de Cabo Verde por Portugal e a reconquista da Nova Holanda pelos brasileiros, alguns judeus sefarditas (portugueses de Cabo Verde e quase todos os do nordeste brasileiro) foram para as Antilhas Holandesas, levando consigo o português.


A linguagem judaico-portuguesa irá misturar-se com o guene dos escravos africanos, dando origem à primeira forma do papiamento, no século XVIII.


Com a administração do império colonial holandês nas ilhas, a influência holandesa lega muitas palavras de seu idioma ao papiamento. No final do século XIX a influência do espanhol ocorre com o contacto com os países vizinhos, especialmente a Venezuela.


O nome procede da palavra papiá, que significa conversar, derivada originariamente da palavra portuguesa papear, falar, de onde deriva igualmente o termo brasileiro "bater papo".


Tem origem igualmente deste verbo coloquial o nome do crioulo de base lusófona de Malaca, o papiá kristáng. O verbo papiá ainda existe no crioulo cabo-verdiano e significa falar.


Existem já periódicos em papiamento e dicionários bilingues. Alguns intelectuais portugueses interessam-se pela criação de uma rede de pesquisadores de crioulística que enlace os interessados nestas manifestações linguísticas mestiças, incluindo o papiamento.

- Retirado da Wikipedia -