Nesse Outono fatídico de Lisboa, a produção em cena era das mais luxuosas da época e contava com um elenco de prestígio internacional: um dos castrati (castrados) era Gaetano Guadagni (o eleito de Handel para cantar no Messias e o primeiro Orfeu na ópera de Gluck).
O Divino Sospiro quer resgatar esse esplendor e dar-lhe a vida que ficou perdida nas ruínas do grande terramoto.
A malograda Casa da Ópera do Paço da Ribeira, inaugurada em Março de 1755, foi provavelmente a única que assistiu à interpretação da ópera Antígono, em cena aquando da destruição daquele espaço com o terramoto de 1 de Novembro. O libreto, da autoria de Pietro Metastasi e um dos preferidos pelos compositores da época, conta os “estranhos desastres” que sucedem a Antígono, rei da Macedónia, desde que se junta a Berenice, princesa do Egipto. A partitura de Mazzoni, que regressa agora à vida com o Divino Sospiro, sofreu um trabalho de edição crítica da responsabilidade de Nicholas McNair.
direcção musical - ENRICO ONOFRI
direcção cénica - CARLOS PIMENTA
desenho digital em tempo real - ANTÓNIO JORGE GONÇALVES
figurinos - JOSÉ ANTÓNIO TENENTE
desenho de Luz -NUNO MEIRA
programação multimédia - RUI MADEIRA
reconstrução da partitura, edição crítica - NICHOLAS MCNAIR
MICHAEL SPYRES - Antigono
GERALDINE MCGREEVY - Berenice
PAMELA LUCCIARINI - Demetrio
MARTÍN ORO - Alessandro
ANA QUINTANS - Ismene
MARIA HINOJOSA MONTENEGRO - Clearco
Tradução - COSTANZA RONCHETTI
Maquilhagem e Cabelos - PATRICIA GASPAR | CARLOS LEAL
Legendagem CULTOC, LEGENDAGEM DE ESPECTÁCULOS LDA
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Antígono Monoftalmo (382-301 aC) foi um nobre macedónio, general e sátrapa de Alexandre o Grande.
Foi Senhor da Ásia menor, no terceiro ano da 115a Olimpíada e estabeleceu a dinastia Antígona.
Reinou durante 18 anos, e foi o mais poderoso rei da sua época, atacado por todos os outros, que o receavam. O filho Demétrio escapou, fugindo para Éfeso. Nos dois últimos da sua vida, Antígono dividiu o poder com ele.
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Embora um tanto desagradados com uma ”facécia” só possível em Portugal, agradou-nos imenso a sessão de ópera, ontem, no Centro Cultural de Belém.
A “facécia” chega a raiar o ridículo. Marcada para as 21 horas, lá chegámos, a Isabel e eu, pelas 20,24h, precisamente, porque, em 40 anos de casados, não me recordo de alguma vez termos chegado atrasados fosse a que fosse. A sério.
Começámos logo por estranhar não ver ninguém cá fora e mais ainda por vermos dois jovens, todos aperaltados, a abrir-nos as portas do Grande Auditório em grande estilo. Agradecemos e entrámos. Foi então que nos disseram que houvera um problema e que a sessão já tinha começado há cerca de 20 minutos! Mostrámos a hora assinalada na propaganda e bilhetes e alegaram que tinha sido alterada à última hora, porque a ópera é muito longa (4,30h), pelo que houvera necessidade de antecipar o início. Ficámos para morrer e nem quisemos saber da “oferta” que nos faziam de recebermos novos bilhetes, para hoje.
Recusámos e fomos, com mais uns 5 ou 6 “atrasados”, ver o que faltava (cerca de 35 minutos) do 1º acto, no galinheiro. O 2º e 3º já vimos nos lugares que nos estavam destinados, a três filas da orquestra. E, querem saber? Nem reclamámos. Já não vale a pena. Organizações a la José Rocha, como antigamente se dizia por cá…
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A ópera em si não é muito apelativa. Mazzoni não deveria estar muito inspirado quando acedeu à encomenda da corte do rei D. José. “La Traviata”, “Aida” ou “Rigoletto” serão masterpieces, enquanto que esta não vai além de “una piccola pupilpiece”. A melodia não é desagradável, os seis actores/cantores são magníficos como cantores (como actores não deu para ver, porque a encenação optou por pô-los mudos e quedos – estátuas – quando não cantavam. O que até nem foi nada desagradável.
No entanto, toda a peça enferma, quanto a nós, de demasiadas árias e cada uma delas demasiadamente extensa. Por leitura à vol d’oiseau do libreto facilmente se percebe que, com menos uma hora de espectáculo, tudo ficaria bem mais agradável.
Os intérpretes, porém, são de primeiríssima água. Aliás, só sendo-o conseguiriam aguentar um total “estatuismo” bem como uma completa ausência de adereços e decoração cénicos. O espectáculo é apenas voz e canto, no que aos intérpretes líricos se refere.
A orquestra residente, o “Divino Sospiro”, é isso mesmo: divina.
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No entanto, há outros espectáculos integrados no principal:
A começar pelo maestro. Qual Herbert von Karajan, qual Leonard Bernstein, qual quê?! Maestro, maestro… é Enrico Onofri.
Só para vê-lo vale a pena o espectáculo! Nunca vimos nada igual. Relativamente alto, magro como um cipreste e com uma noção de bailado como nunca encontrámos noutro maestro, Enrico Onofri é, ele só, um espectáculo soberbo. S-o-b-e-r-b-o!
O outro espectáculo é a computação gráfica, exercida em tempo real, da autoria do português António Jorge Gonçalves.
Como disse atrás, a encenação consiste em não haver qualquer encenação. Logo, é distribuída ao homem do computador a tarefa de idealizar – e pôr em prática, em “directo”, e conjugado com a música – os diversos cenários, por projecção em tela. Absolutamente genial! Nem dá para se contar. Só visto!
Se alguma tiver nova oportunidade de assistir a tal espectáculo, não perca. Ficará com ele gravado na memória.
Imagine que até nos esquecemos da “facécia” inicial!...
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