Um calafrio me percorreu, de pensar que eu podia ter descido também, num balde despejado, pela pia abaixo (como outros irmãos meus que os meus pais não tinham querido).
E reagi, pensando maldosamente, como seria bom que soubéssemos, retrospectivamente, quem mandar a tempo por aquele caminho.
Jorge de Sena
Sinais de Fogo, Cap. XXIX
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2 comentários:
Que arrepio senti, Ruben.
Ufa!
Mas olhe lá, isto não pode ser considerado terrorismo? Ou o Jorge de Sena ficou imune a estas coisas?
Viva, Agnelo!
Terrorismo? Talvez, mas de quem?
De Jorge de Sena, por ter escrito o que escreveu, ou seja, aquela "heresia"?
Meu, por insistir neste assunto e não tencionar calar-me?
Estou quase certo de que Sena estar-se-ia marimbando para quaisquer opiniões para-homicidas e homicidas; quanto a mim, tenho mesmo a certeza de que me estou positivamente marimbando para isso. No mínimo, tanto quanto certos senhores e senhoras se estão marimbando para os nascituros a quem negam o pimeiro e mais inafastável direito que a um ser humano tem que ser reconhecido: o de nascer.
E, não lhes reconhecendo esse direito, uns matam-no e os outros aplaudem a mãos ambas. Ou seja, uns são a mão assassina e os outros os autores morais desse crime hediondo.
Entre eu e eles há uma diferença: é que eu não mato nem concordo que se mate. Oponho-me, mesmo violentamente, se for preciso. O que, como sabe, faz mesmo toda a diferença.
Acontece que sou politicamente incorrecto. Prefiro sê-lo politicamente do que sob o ponto de vista humanitário.
"Eles" hão-de um dia vir a perceber aquilo que agora oportunisticamente não querem perceber, por não lhes dar jeito.
Será tarde já, porém, para milhões de seres, quando quiserem recuar. Irremediável. E, assim, hão-de ficar conm a vergonha e o arrependimento cravados como espinho lacerante no espírito. Para sempre. Foi o que buscaram, será o que terão. Cada qual colherá segundo o que semeou.
Para um governo que promove um genocídio destes não há mesmo qualquer tipo de remissão. Há-de ficar conhecido como o governo que um dia, num país que era conhecido pelos sentimentos humanitários do seu povo, foi capaz de abertamente e sem remorso promover a morte dos inocentes mais inocentes.
Herodes - atendendo às épocas, a dele e a de agora, e bem assim às circunstâncias (não havia agora o receio de uma rebelião anunciada a temer de qualquer dos nascituros) - não terá sido tão preverso, tão desprovido de humanidade. Nem tão cínico.
A vergonha há-de cobri-los irremediavelmente, aos representantes do governo que foi capaz de tal ignomínia.
Abraço
Ruben
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