Aqui vão sendo deixados pensamentos e comentários, impressões e sensações, alegrias e tristezas, desânimos e esperanças, vida enfim! Assim se vai confirmando que o Homem é, a jusante da circunstância que o envolve, produto de si próprio. 2004Jul23
quarta-feira, 17 de janeiro de 2007
810. Senhor ministro, é uma anedota?
O Ministério da Saúde concluiu que foi correcto o socorro prestado a um homem vítima de acidente, na zona de Odemira, que viria a falecer, a semana passada, afastando a hipótese de realização de um inquérito.
"Concluiu-se que as intervenções do INEM, através do CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes], a acção do Centro de Saúde de Odemira e o acolhimento no Hospital de Santa Maria foram correctos e cumpriram as normais e orientações de serviço", anunciou, em comunicado, o Ministério da Saúde.
O ministro da Saúde, Correia de Campos, determinou "que não há lugar a procedimento de inquérito", uma conclusão divulgada no final de uma reunião entre representantes de entidades envolvidas no socorro à vítima do acidente de viação, destinada a analisar as formas de melhoria do desempenho da rede de urgência/emergência do Alentejo. (…)
Site da RTP
Depois de se ler isto, apenas uma afirmação se pode fazer:
- Senhor ministro, é uma anedota, não é verdade?
Efectivamente, aquilo que o senhor afirmou, fê-lo com intenções humorísticas, de anedota, no estilo do “Portugal no seu melhor”, não foi? Só pode ter sido.
Então o senhor ministro afirma que tudo correu bem, todos os procedimentos de toda a gente foram correctos e um homem em estado, pelos vistos gravíssimo, levou sete-longas horas-7 (!!!) a chegar de Odemira ao Hospital de Santa Maria!
Dizer uma coisa destas, senhor ministro, só de anedota, melhor dito, por anedota.
Senhor ministro: de burro, o homem teria demorado menos a chegar ao destino. Seguramente.
Mais uma vez a culpa vai morrer solteira. Isto está a assumir foros de escandaleira de gravidade extrema e sem remédio.
Será que o senhor, ministro que nos trata da saúde, não “alcançou o alcance” das suas palavras?
É que, se todos procederam correctamente, “cumprindo as normais orientações de serviço”, pelo que, em sua avisada opinião, não há razão para se apurarem irregularidades nos procedimentos, então, senhor ministro que nos emociona a cada dia que passa, então é porque as normais orientações de serviço não são mesmo normais. Porque não é normal que um sinistrado grave - e mesmo em risco de vida - demore 7 (sete, senhor ministro!!!) horas a chegar de Odemira a Lisboa, neste "quintaleco" que, territorialmente, é o país em que vivemos e que V.Exa e tantos outros, anterior e actualmente, governaram e governam mal e descuidadamente.
E se, mesmo assim, o senhor entende que é tudo normal, então não sei que lhe diga mais. Francamente, não sei...
Dê-lhe as voltas que quiser, mas não há dúvida que alguém não cumpriu as normais orientações de serviço. Não sei quem, mas alguém o fez, certamente.
E se não foram os variados socorristas, então, pelo menos, foi o senhor ministro ou, não o tendo sido também, foi alguém do seu governo que não cumpriu o seu dever, não tendo fornecido aos diversos serviços as orientações correctas e, essas, sim, normais. Sim, porque quaisquer orientações que não vão no sentido de assistir integralmente e com urgência um sinistrado daquela gravidade, de modo a dar-lhe possibilidade de continuar a viver, são orientações anormais, anormalmente decididas. E têm que ser banidas dos canhenhos governamentais.
Só por anedota, senhor ministro, o senhor pode ter dito o que disse. Só por anedota. E o assunto não se presta a anedotas. Não concorda?
...
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