Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

segunda-feira, 9 de julho de 2007

1174. A vergonha e a humildade dos "judites"

A Polícia Judiciária está incomodada e envergonhada mesmo, tendo o seu Sindicato pedido já publicamente desculpa aos Portugueses.

Devo começar por dizer que também eu estou envergonhado e fiquei sensibilizado pelo pedido de desculpa que também me foi endereçado.

Em, tempos, tive oportunidade de contactar e trabalhar amiudadamente com a Polícia Judiciária e habituei-me a ver no seu pessoal - dos inspectores de mais alto nível aos simples agentes estagiários - gente trabalhadora, séria, muito esforçada e muito mal compensada pelo esforço que desenvolvia em defesa da legalidade e da democracia em Portugal. Também a PSP e a GNR me inspiraram sempre, pelos contactos que com eles tive, profunda admiração e respeito. Mas a Judiciária, pelo trabalho específico e postura que sempre revelou, tinha - e continua a ter - um lugar muito especial na minha consideração.

Foi, por isso, com grande incomodidade que tive conhecimento da questão dos 21 inspectores de vários escalões que agora estão sob a alçada da Justiça, pela prática de actos que nada terão de honroso e que muito dano terão causado já na imagem daquela polícia.

Admiro, porém, a forma como a própria Judiciária tratou do caso e o investigou e deu a conhecer, facto que só a enobrece, embora apenas fazendo o que é seu dever. Admiro igualmente a coragem de afirmar publicamente a vergonha sentida e a grande humildade e afirmação de respeito pelos cidadãos e sentido democrático demonstrados, quando publicamente foi pedida desculpa aos portugueses pelo sucedido.

Esta atitude é tão mais surpreendente e reveladora de dignidade raramente vista quanto é certo que todos sabemos não ser habitual no nosso País, onde tudo se faz sem que contas se prestem, sem que as responsabilidades sejam assumidas, sem que a dignidade seja interiorizada para depois se oferecer aos concidadãos em inequívoca manifestação de civilidade e democracia. Muito pelo contrário, o que vemos a cada passo, é precisamente o contrário. A fuga às responsabilidades, a mentira, o logro, o embuste, as trafulhices sem nome.

Estou em crer que a Judiciária - pela atitude que os seus agentes tomaram a diversos níveis, ainda que profundamente ferida por atitudes menos correctas e isentas de alguns de seus membros - vai sair, no seu todo, com a imagem de lisura e sentido de cidadania claramente reforçada aos olhos dos portugueses de boa vontade.

Bom seria que todas as instituições e cidadãos com responsabilidades no país fossem capazes de atitudes de tamanha integridade na correcção do que se fez mal e humildade só possível entre gente de bem entranhadas convicções democráticas.


Aqui deixo, pois, uma saudação muito especial e agradecida à Polícia Judiciária Portuguesa. Agradecida, pelo reconhecimento do respeito que, como todos os portugueses, lhe mereço e de que deu inequívoco testemunho. É que, infelizmente, em Portugal, vermo-nos respeitados, principalmente por quem tem o poder em suas mãos é motivo de profunda emoção e agradecimento sem regateio. Não devia ser, mas é.

Quanto aos elementos da PJ que terão cometido os ilícitos de que tivemos conhecimento, apenas se me oferece chamar a atenção para o seguinte: coisas destas acontecem. Há que investigá-las, puni-las e... seguir em frente.

Portanto, acontecem. E hão-de sempre acontecer. No entanto, certamente que aconteceriam menos e bem menos graves do que esta - que é, efectivamente, de gravidade extrema - se não tivesse sido instalado no país um clima de total laxismo de costumes públicos nos departamentos estatais, mesmo a todos os níveis, e de total e vergonhosa impunidade, cujos exemplos mais expressivos me dispenso de enumerar já que estarão bem presentes no espírito dos portugueses que prezam a dignidade de carácter.

Com a atitude assumida, veio dizer a todos os portugueses que é uma instituição digna, responsável, de mentalidade e prática democráticas, em que os portugueses podem continuar a confiar. Falo da Polícia Judiciária, da "cara Judite" evidentemente, e dos seus agentes, como certamente se perceberá.
...

8 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Caro Ruben;


Só posso subscrever e louvar a atitude e decisão de escrever este artigo.

Pessoalmente tb acho que a PJ merece.



[]

I.

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Merece a PJ e merecem os outros. não é assim?

[]

Ruben

JMTeles da Silva disse...

Caro Ruben
faço também parte dos que admiram o trabalho da nossa Judite.
Este caso faz-me pensar que se os seus elementos, dentro da própria corporação, vão até às últimas consequências por muito que lhes doa, é preciso e urgente que o façam também fora de portas. Que não haja ministro, nem juiz, nem secretário de estado, nem por aí fora que os possa parar!
Abraços
JMTS

Isabel Filipe disse...

Uma atitude sem dúvida de louvar...

e oxála realmente que:

"Bom seria que todas as instituições e cidadãos com responsabilidades no país fossem capazes de atitudes de tamanha integridade na correcção do que se fez mal e humildade só possível entre gente de bem entranhadas convicções democráticas."

bjs e boa semana

Ruvasa disse...

Viva, José Maria!

Do que eu sei, dos tempos em que estava a par do que ia passando - e já lá vão bons anos - posso garantir que as dificuldades com que o pessoal se debatia eram enormes.

Os escolhos eram tremendamente difíceis de contornar, não obstante a grande vontade e pertinácia do pessoal. Julgo - mas é apenas uma impressão - que os escolhos são hoje maiores ainda, se possível.

Talvez por isso a minha admiração por todos esses homens esforçados - há excepções, como em tudo o que é actividade humana - e bem intencionados, que lutam pelo bem-estar da sociedade portuguesa e em defesa da democracia.

Como o José, também eu digo "a nossa Judite".

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!


De louvar? De louvar e de deixar abismados! Não estamos habituados a esta integridade institucional e pessoal. Estamos, isso sim, habituados à bandalheira. Por isso, não pude calar a minha consideração pelo gesto, o meu apreço por quem tem coragem e idoneidade para assim actuar.

Beijos para ti também

Ruben

Ruvasa disse...

Amigo Ruben

Obrigado pelo teu gesto, que só dignifica a cidadania e aqueles que a servem (neste caso a PJ).

Também quero deixar aqui expressa a minha admiração por esses homens e
mulheres da PJ e dizer-te que não é por nascerem algumas ervas daninhas que a seara deixa de dar trigo.

Um abraço
AAlves

Ruvasa disse...

Viva, Alves!

É uma questão de reconhecimento devido e de admiração pelo gesto do Sindicato.

Abraço

Ruben