Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 14 de março de 2009

2044. O juramento

14 Março 2009 - 00h30
Alegações: Pinto da Costa jurou, pela filha, ser inocente

Procurador irritado com "mentira"

Uma mentira. O procurador José Augusto de Sá não esteve com meias medidas para adjectivar, ontem, nas alegações finais do ‘caso do envelope’, o argumento da Defesa de que foi um problema familiar que levou Augusto Duarte à residência de Pinto da Costa, a dois dias de arbitrar o jogo Beira-Mar-FC Porto (0-0), da temporada 2003/2004.

'Já lhe chamei mentiroso na cara e volto a fazê-lo. Não me acredito nesta peta. É uma mentira', disse o representante do MP, de dedo apontado a Augusto Duarte, antes de pedir a condenação, sem explicitar penas, dos três arguidos neste processo do ‘Apito Dourado’.

Reza a tese da Defesa que o árbitro pediu, através de António Araújo, para falar com Pinto da Costa, já que estava preocupado com o rumor de que o pai, Azevedo Duarte, se encontrava com uma amante, em Lisboa, sempre que ia à capital para as reuniões do Conselho de Arbitragem (CA) da Federação.

Ora, Duarte queria que o líder do FC Porto falasse com Pinto de Sousa, presidente do CA, de forma a que este último demovesse Azevedo Duarte dos seus descuidos amorosos.

'Está-se mesmo a ver Pinto de Sousa, qual ‘papá’, dizer a Azevedo Duarte para deixar a sua amásia [amante]', ironizou o procurador, lembrando que esta história surgiu apenas em fase de julgamento e que não bate certo com as escutas, em que é António Araújo que insiste com Augusto Duarte para que tenha lugar o encontro na Madelena, Gaia. Aliás, para o MP, o único depoimento que está de acordo com os registos telefónicos é o de Carolina, facto que leva o procurador José Sá a deixar a pergunta: 'Porque não acreditar em Carolina?'

'JURO PELA MINHA FILHA'

A questão levantada por José Sá serviu de mote para Pinto da Costa pedir a palavra à juíza. O dirigente portista lembrou os processos abertos a Carolina por falso testemunho e alegou total inocência.

'Juro perante o tribunal e perante Deus que é totalmente falso que tenha dado o que quer que seja a Augusto Duarte. Se não falo verdade, que caiam os maiores males sobre aquilo que mais amo neste mundo: a minha filha', rematou o líder portista, apelidando a acusação de 'tramóia e maquiavélica história'.

DEFESA APONTA FASCISMO AO MINISTÉRIO PÚBLICO

'Hierarquia fascizante.' Foi com estas palavras que Gil Moreira dos Santos, advogado de Pinto da Costa , descreveu a acção do Ministério Público no ‘caso do envelope’, numa opinião partilhada também por Marcelino Pires, representante do árbitro Augusto Duarte: 'Isto é próprio dos tempos do fascismo.'

Moreira dos Santos, num discurso marcado por citações literárias, defendeu ainda que 'nem tudo o que reluz é ouro'. 'Receber um árbitro antes de um jogo não fica bem a Pinto da Costa, mas não ficou provado, nem indiciado, que houve acto ilícito', sublinhou.

ARGUIDOS NÃO ARRISCAM CADEIA

Pinto da Costa, António Araújo e Augusto Duarte não arriscam prisão efectiva na decisão do ‘caso do envelope’, a ser divulgada no próximo dia 3 de Abril. A pena será sempre suspensa, já que os crimes pelos quais estão acusados não ultrapassam os cinco anos de cadeia.

Augusto Duarte é acusado de corrupção desportiva passiva, punível até dois anos de prisão. António Araújo e Pinto da Costa respondem por corrupção desportiva activa, que vai até aos quatro anos de cadeia.

'QUERO QUE CAROLINA SEJA FELIZ NO ALENTEJO'

'Eu quero é que ela seja feliz no Alentejo e que não chateie as pessoas.' Foi desta forma que Gil Moreira dos Santos, advogado de Pinto da Costa, respondeu a uma possibilidade de Carolina Salgado ser acusada de falsas declarações no ‘caso do envelope’.

Já antes, nas alegações, Carolina foi alvo do sarcasmo do advogado: 'Merece credibilidade a testemunha que primeiro diz que é uma quantia entre 2500 a 3000 euros e, mais tarde, lembra-se que Pinto da Costa lhe disse o valor exacto que estava no envelope.'

REVELAÇÃO DO SEGREDO INCOMODA ADVOGADOS

O 'problema familiar' que, de acordo com a Defesa, justificou a visita de Augusto Duarte a casa de Pinto da Costa, foi ontem divulgado pelo procurador José Augusto de Sá depois de, quer o árbitro de Braga, quer o seu pai, Azevedo Duarte – homem sobre quem recaía o segredo – terem abordado o assunto à porta fechada. Marcelino Pires, advogado de Augusto Duarte, ficou incomodado.

'Não posso deixar de revelar a minha perplexidade e surpresa pela revelação pública dos factos, depois de ter sido a própria juíza a autorizar o sigilo', lamentou o causídico, que entendeu acrescentar que a família do seu cliente é tradicional, 'à antiga portuguesa'.

Outro momento quente das alegações finais de ontem passou pelo facto de o procurador José Augusto de Sá se ter referido ao juiz-conselheiro António Mortágua como 'a testemunha chamada Mortágua'.

'É uma falta de respeito. Mortáguas há muitos, mas juiz-conselheiro há apenas um', defendeu Gil Moreira dos Santos, advogado de Pinto da Costa, que voltou a citar Paulo Lemos para relembrar o encontro entre Carolina Salgado, a jornalista Leonor Pinhão e o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira.

CITAÇÕES

‘Gerente da caixa’ é o homem da massa, é Pinto da Costa, o homem que deu o suborno ao árbitro. Se Carolina dissesse outra coisa é que era estranho.

Augusto Duarte ganhava 600 euros por mês e 750 euros por cada jogo que arbitrava. 2500 euros era muito dinheiro.

(José Augusto Sá, Procurador)

A justificação para a visita de Augusto Duarte sempre existiu. Não foi dita porque Pinto da Costa tem princípios.

O fax de Ana Salgado revela desespero depois do credível testemunho de Carolina Salgado.

(Gil dos Santos Advogado)

Porque temos de acreditar em Carolina Salgado? A testemunha apenas confirmou o enxurrilho de contradições.

(Marcelino Pires, Advogado)

CManhã 2009.03.14

* * *...

Como é que diziam os portugueses antigos? "Quanto mais juras, mais..." quê?

...


2 comentários:

João Menéres disse...

...mentes, não é?

Ruvasa disse...

Viva, João!

Antigamente era assim. Será que ainda é?

No mínimo, revela muito mau gosto jurar-se pelo que o homem jurou. Por norma, juramentos destes, com a invocação feita, só se encontravam na Praça da Ribeira, ali ao Cais do Sodré, e no Bolhão.

Falta o nível, o nivelzinho! - escreveria Eça. Mas não só... - direi eu.

Abraço

Ruben