Cavaco pede soluções ao Bloco Central
O próximo governo poderá não ser de maioria absoluta. O cenário foi ontem reconhecido, implicitamente, pelo Presidente da República, que deixou um apelo: "As forças políticas devem ter presente que sobre elas recai a grande responsabilidade de encontrar soluções de governo, e que essa responsabilidade é particularmente acentuada nos tempos difíceis que o País atravessa."
No discurso na sessão solene comemorativa do 25 de Abril, no Parlamento, Cavaco Silva aconselhou "consensos entre os partidos estruturantes da nossa Democracia [Bloco Central]" em torno de temas como o emprego, a segurança e o combate à corrupção. E frisou: "Os portugueses estão cansados de querelas político-partidárias que nada resolvem."
A abstenção foi um dos temas abordados pelo Chefe de Estado, que alertou para o problema de "legitimação democrática que a nossa República pode enfrentar". Por isso, deixou também um apelo aos portugueses: "Participem activamente nas três eleições que irão realizar-se este ano."
Mas somaram-se os recados ao Governo e aos partidos: "Este não é, seguramente, o tempo das propostas ilusórias. Este não é o tempo de promessas fáceis, que depois se deixarão por cumprir. A crise cria a obrigação acrescida de prometer apenas aquilo que se pode fazer, com os recursos que temos."
O Presidente pediu ainda aos partidos contenção nos gastos com as campanhas. "Que haja sobriedade nas despesas, que não se gaste o dinheiro dos contribuintes em acções de propaganda demasiado dispendiosas." Preocupado com a crise económica, Cavaco Silva frisou que esta poderá não ser passageira, e que "não pode ser iludida".
PRESIDENTE DISSE
"É importante que o debate se concentre na resolução dos grandes problemas do País (...) sem se perder tempo nem energia em recriminações sobre o passado." "Quem critica deve participar. É cómodo ficar de fora e culpabilizar os agentes políticos ou os agentes económicos."
"NÃO PODEMOS PERDER A ESPERANÇA NO FUTURO"
O 25 de Abril ontem, hoje a amanhã. A promessa foi deixada pelos milhares de portugueses que ontem desceram a Av. da Liberdade em direcção ao Rossio. O tradicional desfile comemorativo da Revolução ficou este ano marcado pelo descontentamento face à crise económica e associado a um sentimento de descrença política. Um cenário descrito pelo próprio Presidente da República no seu discurso. "Haverá com certeza muitos portugueses que se interrogam sobre se foi este o País com que sonhámos em Abril de 1974."
O Presidente Cavaco Silva encerrou o seu discurso com uma mensagem de esperança: "A pior forma de lidar com o presente seria perder a esperança no futuro (...). Acredito que, se todos nos mobilizarmos, se forem tomadas as decisões certas, a crise será vencida. Então, seremos dignos daqueles que, há mais de três décadas, tiveram a coragem de se levantar porque acreditaram num País novo e num futuro melhor."
SÓCRATES E ALEGRE ELOGIAM CAVACO
"Não podia estar mais de acordo com o discurso do Presidente." Foi com estas palavras que José Sócrates reagiu ao discurso de Cavaco Silva, num dia em que voltou a pedir a maioria absoluta para o PS nas Legislativas. Manuel Alegre, que recebeu o primeiro-ministro no Parlamento, considerou que Cavaco Silva "fez um bom exercício democrático".
REACÇÕES
"SINAL DA NOSSA RESPONSABILIDADE COLECTIVA" (Ferreirea Leite, PSD)
Aquilo que se espera do Presidente é exactamente aquilo que ele disse: um sinal da nossa responsabilidade colectiva, que pertence também à sociedade civil.
"UM ESTENDER DE MÃO À IDEIA DO BLOCO CENTRAL" (Jerónimo de Sousa, PCP)
Aquilo que se impunha era de facto uma ruptura com esta política, e essa palavra não ficou. Houve um certo estender de mão à retoma da ideia do Bloco Central.
"DESTACOU IMPORTÂNCIA DA SEGURANÇA" (Paulo Portas, CDS-PP)
Disse coisas acertadas. Enunciou os temas importantes para discutir nas próximas campanhas e pôs à cabeça o emprego e imediatamente a seguir a segurança.
"RECONHECE A PROFUNDIDADE DA CRISE" (Francisco Louçã, BE)
O discurso tem dois aspectos importantes: apelo à participação – e dou-lhe inteira razão, a abstenção é favorecer que outros decidam por nós – e reconhece a profundidade da crise.
NOTAS
ACUSAÇÃO: PAULO RANGEL
O líder parlamentar do PSD acusou o Governo de "roubar a liberdade de escolha às gerações futuras" com o programa das "grandes obras públicas".
ALERTA: JAIME GAMA
O presidente da AR advertiu ontem para o facto de a estabilidade no relacionamento institucional ser um "imperativo de Estado" na actual conjuntura de crise.
CRÍTICA: MARQUES JÚNIOR
O capitão de Abril e deputado do PS sublinhou que "ainda hoje, incompreensivelmente, há militares [de Abril] a aguardarem a reconstituição das suas carreiras".
CM 2099.04.26
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Centrão?! Tu quoque, pater conscriptus? Alembras-te de '85? Não tiveste que arrebentar-les c'os tímbales?Bloco Central?! Fónix, ó Aníbal! A gente sabe que te convém c'um'ó quilé, mas... tem lá maneiras, caraças!
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