Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

segunda-feira, 8 de junho de 2009

2285. Europeias 2009 - Análise não enfermada de "doenças" externas

São 22,45h.


Saí da frente do computador e vim para aqui, para alinhavar algumas considerações acerca do acto eleitoral de hoje, 7 Junho 2009, e respectivos resultados.


Faço-o, porque não me revejo nas análises – como sempre cheias de pormenores, mas muito influenciadas por interesses vários que não os da verdade mais cristalina – que por aí estão a ser feitas e continuarão a ser até à exaustão.


A apreciação que tentarei fazer é aquela que entendo dever ser feita, por respeito pela verdade, porque não ditada por estratégias, presentes ou futuras, condicionadoras da difusão da realidade, mas antes esforçando-se por ser fria, isenta e espelhando o que efectivamente está a passar-se.


Vejamos, primeiro, o elucidativo quadro dos resultados apurados até agora:


Desde logo sobressai que:

1. Há uma derrota violenta (não se trata de lapso, foi mesmo violenta) do PS que cai de 46,2% em 2004, para 26,6% agora, ou seja, um trambolhão a pique de 19,6%.

Tal queda só foi uma única vez igualada – e até superada, pois o PS então veio para os 22 a 23% – nas legislativas de 1985, com Cavaco de um lado, Almeida Santos do outro e o PRD no meio (18,5%) a tudo baralhar;


2. Se a derrota do PSD em 2004 foi considerada estrondosa (admitindo-se que dos 34,64% do PSD/CDS, então conseguidos, só 29-30% “eram” do PSD), esta agora do PS bem se pode considerar escandalosa, porque o partido cai mais ainda cerca de 2,4%;


3. Se Vital Moreira julgava – como afirmou, em jeito de quem a teria efectivamente procurado – ter tido a sua Marinha Grande no Martim Moniz, bem se equivocou, pois que o que efectivamente teria tido seria o seu Waterloo, se Vital tivesse contado para alguma coisa nesta eleição;


4. Mas, como está provado, Vital Moreira não contou, foi um mero comparsa, numa eleição que não era a sua e em que se evidenciou que as suas intervenções eram ansiosamente aguardadas pelos opositores, porque constituíam verdadeiros tesouros para a sua (deles, claro!) performance;


5. Para além de uma derrota de antologia do PS, foi uma verdadeira débacle para José Sócrates, já que a campanha foi pessoalmente assumida por si, com a arrogância e gritaria habituais, ambas de um mau gosto confrangedor. Repito que, pior, só nas legislativas de 1985…;


6. Bem se pode dizer que não terá sido o PSD a vencer as eleições por mérito próprio, mas o PS a perdê-las, por responsabilidade maior de José Sócrates;


7. E não se dirá que o PSD as venceu porque, efectivamente, dando de barato que o resultado do PSD de 2004 teria sido na ordem dos 29-30%, com os 31,7% de agora apenas terá subido de 1,7 a 2,7%, o que, há que convir, só por si é manifestamente insuficiente para uma mera vitória, portanto menos ainda para uma vitória convincente.

Louçã não terá estado muito divorciado da realidade ao afirmar que, sendo uma tremenda derrota no PS, não autoriza a que o PSD se considere vitorioso;


8. Mas é uma vitória importante para o vitorioso, esse sim, Paulo Rangel, que fez uma campanha só, completamente desacompanhado e até “desajudado”, não somente pelos contestantes internos – onde assumiu papel sobremodo desagradável Pedro Passos Coelho com a sua fugaz, desastrada e cavilosa aparição na campanha – como também e principalmente pela chefe de fila, Manuela Ferreira Leite.

Paulo Rangel bem pode reclamar para si os escassos louros que o PSD colheu nestas eleições mas que, efectivamente são muitos e bem merecidos se se pensar apenas em Rangel;


9. Manuela Ferreira Leite, por sua vez sorria de satisfação mas não tem razões para que o sorriso não seja laranja desmaiado, isto é, tendenciamente amarelo, já que o triunfo não é dela, muito embora seja ela a colher os maiores e mais imediatos frutos.

Na verdade, a conjugação de dois factores decisivos como foram o desastre socialista e a excelente performance de Rangel, apanharam-na sentada – sim, não se trata de lapso, sentada –, inerte e "vendo a banda passar", na intercepção da trajectória de ambos, pelo que os resultados lhe caíram no colocomo as rosas no da rainha Isabel, ainda que esta se mostrasse muito mais activa e eficaze, provavelmente, até lhe terão causado algum sobressalto, pelo inesperado da coisa;


10. Francisco Louçã é um real vencedor destas eleições. Duplicou os votos de 2004. É obra!

Pode-se não concordar com as suas teses – por sinal, algumas delas subscrevo sem hesitar – e até com a forma de as apresentar, mas a verdade é que, esquecido o real posicionamento do BE, é fácil que as pessoas se deixem ir num canto de sereia cantado com perseverança, pundonor e… inteligência qb.

É caso para dizer que, a despeito da canção, o cantor não desagrada nada às multidões;


11. O caso do PCP é mais complexo, mas ao mesmo tempo mais simples.

E mais complexo e mais simples pelos mesmos motivos, ou seja, porque está sempre a ser-lhe profetizada uma radical baixa de cotação no mercado, mas o que é certo é que, baixando um pouco aqui, subindo um pouco além, lá vai persistindo em se manter vivo e actuante. Ainda que tangencialmente, foi ultrapassado pelo BE, o que será sapo muito difícil de digerir lá pelas hostes.

No entanto, subiu o score de 2004. Dificilmente subirá mais, mas também dificilmente se crê que possa descer muito;


12. Paulo Portas e o CDS-PP, mais o segundo do que o primeiro, já que o CDS tem tido destas coisas com todos os líderes que por lá têm passado, é um caso à parte. Caso que, aliás como há pouco mesmo afirmaram, tem que ser tratado nos locais próprios. E a sério.

Na verdade, assume foros de escândalo, a forma como é tratado pelas empresas de sondagens, que os deitam por terra a cada sondagem efectuada, a cada eleição disputada. Se a coisa acontecesse de forma esporádica, ainda vá que não vá.

Mas verifica-se recorrentemente e ad nauseam, há muitos anos. Ora, perante o que tem acontecido, as empresas deveriam ter tido já o cuidado de se precaverem contra tais “falhanços”. Se o não fazem, a que deve ser atribuída a responsabilidade?

É que, apresentando ao longo da campanha e mesmo nos intervalos de eleições, os resultados que apresentam, objectivamente muito prejudicam o partido


Aqui chegados e por falar em sondagens, há que abordar, ainda que não de forma exaustiva o problema que são os chamados “estudos de opinião” que, na verdade, aparentam ser tudo o que se quiser, mas de estudos é que não poderão ser apelidados.


Nem cuido de saber se há marosca ou não nos resultados que vão sendo apresentados. Evidentemente que há casos que deixam muitos de nós suspeitosos que baste acerca da realidade reflectida nas sondagens e das razões que motivam tais resultados. Tal facto, porém, não é bastante para que aqui afirme que há pouco cuidado e seriedade no trabalho apresentado. Até por questão de responsabilidade civil e criminal.


Portanto, até que tenha em minha posse provas irrefutáveis de falta de isenção nos elementos trazidos a público, abstenho-me de outras considerações. Mas não da que me leva a afirmar que fico sempre muito suspeitoso. Que se falhe uma ou outra vez, para um lado ou para o outro, tudo bem, que tudo é falível. Mas de todas as vezes e sempre para o mesmo lado?!


E não se venha esgrimir com a desculpa tola de que os inquiridos “mentem” nos inquéritos, porque se mentem nos inquéritos até dois dias antes das eleições, não é crível que deixem de o fazer à boca das urnas. E, no entanto, os resultados dessas são já bem diferentes dos daquelas. Alguém está "equivocado" e certamente que não são os "consultados".


Vejamos:


A Eurosondagem, do militante socialista Rui Oliveira e Costa constitui um caso paradigmático. Ao longo de várias eleições de há anos para cá tem sido possível observar o panorama que nestas europeias se constatou.


Efectivamente, durante todo o tempo, até dois dias antes da eleição, os resultados apresentados mostram um PS pujante, arrasador, imparável. Na sondagem à boca das urnas, porém, aparece com resultado bem diverso, contraditório mesmo, como se aos “consultados” subitamente tivesse dado uma macacoa que os terá levado a, sem que nada o justifique, desdizerem hoje tudo o que ontem (digo bem, ontem, não a semana passada, nem anteontem) juraram a pés juntos.


Claro que tais abençoados resultados têm, desde logo, um efeito realmente salvífico para a empresa que os apresenta. Sabido que a memória das gentes é fraca, pelo que apenas “ficam” os últimos números, o que permanecerá como "verdade, verdadinha" sempre apresentada pela Eurosondagem são os resultados da boca das urnas, não os anteriores que os contrariaram sempre e de forma muito acentuada, diametralmente oposta mesmo.


Entretanto, a verdade é que, com os resultados que sempre foram sendo anunciados, algum élan foi sendo dado aos partidos apresentados como vencedores e retirado aos mostrados como antecipadamente derrotados ou, quando menos, não tão favorecidos pelo eleitorado. Facilmente se percebe o significado destas realidades e os seus perniciosos efeitos na limpidez de qualquer eleição.


Até à sondagem à boca das urnas, a Eurosondagem deu sempre o PS como o grande vencedor, o PSD como perdedor e o CDS como “desaparecido”. Como por milagre, à boca das urnas tudo levou uma reviravolta completa, como se os inquiridos de ontem e de hoje, maquiavelicamente tivessem querido tudo baralhar, tudo confundir, premiando quem mereceria castigo e punindo quem nem por isso tal mereceria, por não ter culpas imediatas no descalabro em que está a vida portuguesa.


Mas não se diga que este quadro apenas se aplica à Eurosondagem. Não. O Centro de Sondagens da Universidade Católica afina por diapasão quase tirado a papel químico, embora não tão vincado. E as restantes, pelo que me pude aperceber, não diferem muito, excepção feita para a Marktest que, durante a campanha, lá apresentou um estudo em que PSD venceria com cerca de 3% de vantagem, estudo logo apressadamente contrariado pela Eurosondagem, que afirmava a pés juntos que o resultado seria esse, sim, mas ao contrário.


As próprias sondagens à boca das urnas revelaram-se pouco credíveis, pois que falharam imenso, embora corrigidos os intervalos ao longo da noite.


Apenas a Intercampus teve um lampejo, mas, mesmo assim, falhando bastante em relação ao resultado de PSD e PS. Apresentou como saído da boca das urnas que 28% iriam para o PSD e 24% para o PS, o que significa que “tirou” ao PSD, 3,7%, e ao PS 2,6%. Obra, mesmo assim!


É que os resultados – relembre-se! foram os que se conhecem, ou seja, PSD 31,7%, PS 26,6%, BE 10,7%, CDU 10,7% e CDS-PP 8,4%.


Perante esta “paisagem”, não se tornará indispensável mexer na lei das sondagens ou, pelo menos, tornar mais exigente a fiscalização do seu cumprimento?


E, pronto, acabemos com isto, pois que estamos já todos bem elucidados, presumo.


Para terminar, uma nota humorística da inefável Eurosondagem e do seu patrão, Rui Oliveira e Costa, militante socialista muito conhecido.


Então não é que, não contente com o trabalho apresentado e que acima fica documentado, veio, no final da sessão da SIC, portanto com as coisas ainda bem a quente, com uma sondagem, publicitada toda a santa noite pela isentíssima SIC, “dirigida” às legislativas de Outubro, em que o PS venceria com 39,6.%%, seguido no PSD com 31%, ou seja, 8,6% de diferença, isto é, com uma décalage relativamente ás europeias de ontem, na ordem dos 13,7%(!!!) favorecedora do PS e, consequentemente, penalizadora do PSD (5,1% a seu favor agora + 8,6% contra si neste último esforço “eurosondado”)?


Não aprendem, não têm emenda ou é já um vislumbre do que, uma vez mais, se vai passar com os “estudos de opinião”, relativamente às legislativas?


Repito: claro que não posso afirmar nada de concreto, mas afirmo, sim, que, olhando-me no espelho, me vejo com cara de quem muito desconfia da "realidade" que, uma vez mais, é apresentada aos portugueses.


E, pronto, está dito tudo o que pretendia acerca desta eleição europeia, presumo.


(O texto foi começado a escrever ontem pelas 22,45h. Por imponderáveis da vida, contudo, só agora foi possível terminá-lo. Vai a tempo. Muito).

ATENÇÃO
* De cinco browsers experimentados
(Firefox 3.0, Internet Explorer 8.0, Netscape, Chrome, Opera e Safari) apenas o Internet Explorer mostra este post com deficiências que interferem com a leitura;
* É igualmente o IE que não mostra os
marquee com eles foram concebidos.
...

8 comentários:

H. Sousa disse...

Caro Rúben, uma análise muito bem feita. Parabéns! Com algum humor saudável à mistura, «É caso para dizer que, a despeito da canção, o cantor (Louçã) não desagrada nada às multidões». Eu não diria multidões mas ... ihihihi!
Estas sondagens são o máximo, só enganam as... multidões!

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Gostei do seu trabalho de politólogo... no entanto uma coisa não acho bem: então trocou(-me)o nome à Rainha? ;)

Abraço

Isabel (não das rosas) de Magalhães

:D

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

Obrigado pela referência.

Quanto ao Louçã, o que é ceryto é que, pouco a poiuco, a água lá vai sendo levada ao moinho.

Por culpa de quem?!...

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Tem razão, caramba!

Mas é curioso. Tenho um certo apego por ambas e ambas por motivos semelhantes, ou seja, pelo fundo caritativo e, portanto, de grande solidariedade. À Isabel, quase apanhada em flagrante, mas salva pelas belas rosas; à Leonor pela pobre magnífica e já cpm mais de meio milénio das Misericórdias, algo em que, uma vez mais, o pa+is foi pioneiro em todo o mundo e copiado em alguns continentes. Talvez por isso, desde sempre as troco com frequência. Não foi esta a primeira nem a décima primeira vez, nem certamente será a última.

Diga-me, se é capaz? Que mal teríamos feito para termos descaído tanto? Para de Isabéis, Leonores, Henriques, Gamas, Cabrais, etc., termos acabado por chegar a Sousas? Ó sorte!

Foi praga que nos rogaram?

Abraço

Ruben

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Dá-me licença que acrescente mais um? Do Fernão de Magalhães ao 'magalhães' do sousa!

(Eu torço sempre pelos
'ancesters'!) ;)


Abraço
I.

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Sim, faltou-me esse.

Pois é, os ancesters devem ser sempre lembrados e recordados com saudade e... respeito.

Abraço

Ruben

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Voltando à Rainha Santa, olhe que nem nas 'santas' e nos 'milagres' somos originais.

Encontrei em Budapeste, numa igreja sob a colina Gellért, uma imagem da Rainha Santa Isabel da Hungria.

Era tia-avó da Rainha Santa Isabel (Aragão) mulher de El-Rei Dom Dinis. Foi canonizada por lhe ter sido atribuído - entre outros - o Milagre das Rosas. Creio que nasceu cerca de 80 anos antes da nossa Isabel.

http://a-redea-solta.blogspot.com/2007/07/viagens.html

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Ná, isso cheira-me a aldrabice magiar.

Então haverá expediente, desenrascanço, seja em que modaliodade for, que não tenha sido inventado por um de nós?!

Como é que é possível, hã?!

Ná, grandes aldrúbias, esses húngaros de uma figa!

Ouviram falar da nossa e... vá de arranjar uma para eles e, para serem eles os originais, "atiraram-na" para 80 anos antes.

Só pode!

Abraço

Ruben