Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

terça-feira, 30 de junho de 2009

2391. Ansiedade e precipitação

1. O presidente da República marcou as eleições legislativas para uma data diferente das eleições autárquicas. Fê-lo a contragosto: pelo que se percebeu das suas declarações, o chefe de Estado preferia que os dois actos eleitorais ocorressem ao mesm o tempo. Tal como o PSD. A atitude de Cavaco Silva foi sensata. Não só porque vai de encontro ao que a maioria dos partidos desejava, mas também porque as circunstâncias políticas do momento aconselham a que se separem as eleições.

Verdade que a realização em simultâneo das legislativas e das autárquicas poupava dinheiro ao país e tempo aos eleitores, como notou Manuela Ferreira Leite. Verdade que os eleitores portugueses têm maturidade suficiente para saber separar as águas no acto de votar. Verdade que a experiência já se consumou, sem notícia de grandes dramas, em muitas outras democracias. Por que razão não a aplicar, então, em Portugal? Resposta: porque as eleições legislativas de 27 de Setembro têm um carácter singular que nos deve obrigar a todos, partidos e cidadãos, a um sério exercício de reflexão.

A tempestade que se abateu sobre o país na sequência da crise económica e financeira deixou-nos sem fôlego e numa encruzilhada. Isto é: sem saber muito bem que caminho seguir para, pelo menos, vislumbrar a luz ao fundo do túnel. Acresce que o resultado das eleições europeias veio baralhar ainda mais os dados do problema. O "povo" castigou severamente o Governo e deu uma nova alma ao PSD, cuja líder esbracejava, até então, com vigor para se manter à tona. Isto quer dizer que o "povo" está disposto a dar uma oportunidade a Manuela Ferreira Leite.

Ora, se o momento é (muito) sério, porventura decisivo, e os eleitores querem ouvir o que o PSD tem para oferecer, o melhor é não deixar que nada se meta no meio de uma séria discussão sobre os destinos do País. Concentremo-nos nas legislativas. Oiçamos o que têm para nos dizer os partidos que almejam formar Governo, cotejemos as propostas de Sócrates e de Ferreira Leite, comparemos a personalidade de um e de outro. Sem pressas. Usando mais a razão do que o coração. Escolha feita, partamos para as autárquicas. Sem dramas.

Paulo Ferreira

Opinião JN 2009.06.30

* * *

Continuo a entender que com as eleições realizadas no mesmo dia, quem ganharia seria o país. E a poupança de uns milhões de euros (e não apenas de um milhão como por aí alguns tarefeiros afirmam) seria o ganho menor.

A maior afluência de eleitores às urnas do que vai acontecer é, esse sim, o bem mais precioso que tal solução consigo traria. Não interessa nada, se ela beneficiaria o PSD ou qualquer outro partido ou vice-versa. O que interessava era que o país ganhasse ou perdesse com isso. E, decididamente, ganharia. Tudo o mais que se diga, é engrolar o pagode.

No entanto, desta vez Manuela Ferreira Leite, para além de tramar o amigo Cavaco, tramou-se também.

Porquê?

Simplesmente, porque falou quando deveria ter estado calada e, falando, disse o que não devia, o que, muito pelo contrário, deveria tê-la obrigado a calar.

Ao falar por antecipação, tirou espaço de acção ao amigo.

O que se impunha era que nada tivesse dito naquela altura e, quando inquirida pelo Chefe de Estado, dissesse que, embora preferisse uma das soluções por lhe parecer a que melhor defendia os interesses do país, para o PSD tanto fazia uma como outra, já que confiava no discernimento dos portugueses e na sua capacidade de entender o que é melhor para Portugal.

Na ansiedade de sair da passividade e mostrar serviço, após uma inesperada vitória eleitoral que lhe caíu no regaço, precipitou-se, porém. E, com isso, entalou o amigo, que tinha já, ele também, manifestado essa mesma opinião.

Do entalanço do PR não vem grande mal ao mundo. Esperemos, contudo, que, com a ansiedade e precipitação subsequente, não tenha igualmente entalado o país. Donde, aí sim, já vem mal bem mais grave.

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