Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sexta-feira, 3 de julho de 2009

2410. João Pereira Coutinho

A Voz da Razão

Corridas de morte

Ontem, o Parlamento conheceu o seu momento tauromáquico: aconteceu quando Manuel Pinho convidou Bernardino Soares para uma faena. A oposição não gostou. O PS também não. E Pinho lá saiu do governo, encolhido e humilhado. Pinho não merecia tanto: em violência verbal e gestual, o nosso Parlamento já conheceu bem pior. Basta consultar a prosa parlamentar do Portugal pós-revolucionário para ficar encantado com a elegância dos tribunos.

O problema é que a imagem televisiva, hoje, não perdoa. E ao fazer o gesto que fez, Pinho não insultou apenas um adversário; ele pôs literalmente um par de chifres no seu próprio governo, atraiçoando-o com uma estocada que pode ser fatal. Quatro anos de PS terminam como começaram: pela imagem. Vem nos manuais: quem vive pela imagem, normalmente morre pela imagem.
João Pereira Coutinho, Colunista

CM 2009.07.03


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João Pereira Coutinho é, talvez, o colunista que mais aprecio, de entre uns quantos que não dispenso.

Porquê? Pela elegância do estilo, pela razão que imprime ao que escreve, pela enorme capacidade de síntese e pela certeza definitiva do estoque.

Aqui fica mais um
exemplo.

Só numa coisa não concordo inteiramente. è que não será necessário ir à I República buscar exemplos de má postura no hemiciclo de São Bento.

O actual primeiro-ministro tem lá tido fartos momentos de completa inadequação postural relativamente à tribuna em que se encontra. Evidentemente que não tão graves quanto o de Pinho ontem. Mas, mesmo assim, pouco... adequados, digamos assim.


E aquela berraria, meus senhores, a berraria recorrente e as mãozinhas na cintura! De deixar de cabelos em pé qualquer cidadão vulgar de Lineu, com os impostos em dia!...

Aliás, de postura de contenção terá sido testemunha o edifício, mas apenas enquanto foi simplesmente o Mosteiro de S. Bento da Saúde. Desde que, em 1834, passou a Palácio das Cortes, a contenção não terá sido a característica mais assinalável dos seus frequentadores. É evidente, todavia, que há frequentadores mais contidos e menos contidos. Tudo radica sempre numa questão de princípios. Por mais voltas que se dê...
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