Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sexta-feira, 3 de julho de 2009

2416. A sanha de Marinho e Pinto

A Marinho e Pinto acontece aquilo que inevitavelmente acontece a qualquer pessoa imoderada, que fala sem peso nem medida, apenas por falar, por gostar de se ouvir, pois que, ouvindo o ruído que produz, não presta atenção à tradução correcta do que diz.

As constantes declarações que profere acerca de tudo e de nada têm-no demonstrado ex abundante.


Uma vez mais, esta tarde, na SIC Notícias, entrevistado pela jornalista Carla Jorge de Carvalho, isso aconteceu.


Convidado a pronunciar-se acerca do inquérito de opinião levado a efeito pela Intercampus, que apresenta como resultado mais negativo na opinião dos portugueses a actuação da Justiça, eis que se espraia em pouco ponderadas considerações, que apenas demonstram que o que parece determiná-lo é a sanha que manifesta ter por determinadas classes, profissionais ou outras - e tem-na a quase todas! - e não por verdadeiros critérios de equanimidade e de avaliação pensada e equilibrada, justa, enfim.


Evidentemente que não reconhecer que a Justiça em Portugal não trilha os caminhos mais seguros e rectos, é não querer reconhecer a realidade.


No entanto, fazê-lo como Marinho e Pinto faz, constitui abuso que parece revelar verdadeiro sectarismo. E só não lhe dou qualificativo mais gravoso, porque efectivamente não o conheço pessoalmente, não estando, pois, suficientemente seguro do que o move.


Afirmo, porém, que ainda bem que Marinho e Pinto não é juiz. Ser julgado por alguém desta fibra deveria ser algo de muito inquietante e doloroso porque, por muito inocente que se estivesse, estar-se-ia sempre com a espada de Dâmocles da sua convicção distorcida sobre a cabeça, pronta a desferir o golpe final, sem remissão.

Tudo, porque se assemelha a alguém que despreza os elementos de análise e de prova que tem ao seu dispor e, não obstante involuntariamente os reconhecer - sem que formalmente os reconheça como mister seria que acontecesse - profere a sua imponderada sentença, que é definitiva, portanto sem possibilidade de apelo.


De um profissional do foro do nível de Marinho e Pinto, para mais alcandorado em bastonário da Ordem dos Advogados, seria de esperar mais, muito mais. Seria de esperar, quando menos, uma atitude de, como já atrás ficou dito, equanimidade.


Mas, então, que disse Marinho e Pinto na entrevista?


Pois bem, referindo-se ao funcionamento da Justiça, apontou uma série de erros e insuficiências, com os quais estaremos todos de acordo. No entanto, imputou-os exclusivamente à Justiça de modo lato e aos juízes de modo mais restrito. Ora, como é sabido, também por ele - e por maioria de razão por ele - a quase totalidade (se não a totalidade mesmo) dos vícios que apontou, repito, só podem ser imputados aos poderes legislativo e executivo e não, como ligeiramente usou e usa fazer, aos actores judiciais.


O legislativo, pelos diplomas legais que produz e que são, como bem se sabe, em grande medida, verdadeiros abortos, alguns deles - e certamente não os menos relevantes - parecendo terem sido pensados e levados à prática com destinatário pré-definido, ou seja, uma Justiça claramente dirigida, em vez de, como deve acontecer, abstracta por se destinar a todos em geral, mas a ninguém em particular;
o executivo, porque é a ele que cabe dar condições materiais aos profissionais do foro, magistrados ou não - e claro que não apenas aos juízes - para exercerem o seu trabalho a contento da generalidade dos cidadãos e em favor da Justiça que a Constituição prescreve.

Que podem estes profissionais fazer, com leis que não redigem e sobre que nem sequer são ouvidos e com meios manifestamente insuficientes que não gerem?

Que independência podem os tribunais evidenciar, se na realidade estão subjugados à vontade daqueles dois poderes que muito lhes tolhem a acção?

Esforçarem-se por uma administração da Justiça o menos gravosa possível dos interesses gerais dos cidadãos, em grande parte dos casos de forma altamente condicionada e sabidamente inadequada. Mas trata-se de um esforço desde logo condenado ao fracasso.

Referir estes condicionamentos e inadequações, mas atribuí-los à classe dos juízes não será, talvez, inominável, mas é inadequado e profundamente injusto e só pode provir de uma mente com parti pris.

Evidentemente que os juízes e os restantes profissionais do foro não estão totalmente isentos de responsabilidades pelo estado a que as coisas chegaram. E certamente que nem pretenderão que assim se os considere. Daí, porém, a atribuir-se-lhes a exclusividade, sequer o maior quinhão, vai um passo que ninguém de bom senso e, à partida, sem opinião já deformada, pode atrever-se a dar.

Confesso que, até Marinho e Pinto ter chegado à Ordem, jamais se me pusera a questão de admitir que alguém tivesse a ousadia, o desplante de uma tal posição. Desde que o advogado passou a colunável, porém, com a sanha que parece ser-lhe inerente já de há muito, acrescida do deslumbramento a que estes cargos sempre dão corpo, já nada do que dali venha me surpreende.


E fico-me por aqui, para não cair na tentação, que certamente seria injusta, de atribuir tal postura a factores ainda menos recomendáveis.

...

2 comentários:

Marco Valle disse...

Pois eu gosto de o ouvir. Ele diz aquilo que todo o bom portuguesinho gostaria de dizer a plenos pulmões de um sitio de destaque. Como nós não podemos, ele que o diga. Adoro ver todos esses pançudos desses juízes a estrebuchar. E os políticos também. Ferra-lhes bem Marinho enquanto aí estiveres, pica-lhes onde dói, a ver se por uma vez sentem o que o resto do povo sente. Justiça para o povo não existe. Este é o país que temos. Ele que seja o nosso Robin dos Bosques, também com os seus defeitos mas enviando setas a todos esses nababos.

Ruvasa disse...

Viva. Marco!

Não tens razão no que afirmas, não porque queiras errar deliberadamente, mas tão somente porque não sabes, não podes saber, como não sabe a generalidade dos portugueses, que não são do métier, o que se passa por detrás da cortina.

Vou responder-te em privado.

Abraço

Ruben