Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 14 de novembro de 2009

2485. Face oculta, a revisitação do Apito Dourado

Não sei se quem me está a ler se apercebeu já de que no caso Face Oculta há já quem esteja a usar o estratagema experimentado com sucesso no caso Apito Dourado.

Mas a questão contém igualmente afloramentos do "Casa Pia", onde tudo, afinal, começou. Pela Lei, verdadeiro casaco por medida.


No caso do Apito Dourado as não condenações não se deveram à prova da inocência nem à ausência de prova de culpabilidade, mas à circunstância de as escutas telefónicas terem sido consideradas nulas e, portanto, sem possibilidade de ser usado como prova, aquilo que elas provavam, ou seja, que, sem margem para dúvidas, os crimes teriam sido praticados.

Em vez de se defenderem negando a existência dos factos que lhes são imputados, como seria lógico por parte de pessoas de bem, inocentes, esgrimem com a ilegitimidade das escutas, ilegitimidade legal - não moral nem social - essa criada por lei tecida em alfaiate por conta pessoal.

Dito de outra maneira, para que não restem dúvidas em qualquer espírito:

Suspeitos no Face Oculta não vêm - por si ou por interposta pessoa - dizer que "não senhor, eu não falei acerca desse assunto, não fiz pressão, não negociei abusivamente seja com quem for".

Pois.

O que vêm dizer é que "as conversas que eu tive com determinadas pessoas foram escutadas pela Polícia Judiciária, autorizadas por um juiz, mas a tal lei feita de propósito para mim e para outros como eu, não permite essa escuta".

Quer maior clareza?

Para quem vos escreve, isto significa, sem tirar nem pôr, que os suspeitos estão implicitamente a admitir terem, em boa e sã verdade, praticado os actos de que são suspeitos, só que se acobertam à sombra de lei abusiva, criada para casos similares.

Ou seja, o que negam não é a prática do crime, mas sim a possibilidade de que quem tem por missão promover a Justiça e defender a legalidade democrática no país os escute enquanto praticam os seus crimes.

Chega isto para esclarecer de vez o que realmente de passa?

Nem na Itália, que sempre foi considerada a terra da Mafia e da criminalidade organizada, a partir dos mais altos escalões da sociedade e da política, se chegou a este desplante.

Nada me daria maior felicidade do que ouvir os suspeitos afirmarem perante câmaras e microfones que "é completamente falso que alguma vez eu tivesse tido conversas dessas, usasse cargos que ocupo para exercer pressões sobre quem fosse ou para obter vantagens para mim ou para quem está próximo".

Infelizmente, uma frase destas, que é tão simples e tão definitivamente esclarecedora, ainda não foi ouvida por ninguém, por mais atento que esteja às notícias. E pior ainda: nem vai ouvir, porque tal frase - ou semelhante - jamais vai ser proferida. Quer meter-se a adivinhar porquê!

Ora, sendo certo que quem não desmente, consente, a ilação a retirar disto é que o que por aí consta relata mesmo a verdade das coisas. Habetur pro veritate
, ou seja, vale como verdade aquilo que não é desmentido.

Isto é o que a capacidade de inteligir me assegura. Até que os interessados venham a terreiro, como é sua obrigação democrática e dever de honorabilidade pessoal, dar conta da sua verdade e convencer-me do contrário.

E a inteligência, que lhe diz ela, a si que me lê?
...

4 comentários:

H. Sousa disse...

Caro Ruben, agora vão destruir as escutas a Vara porque nelas está o primeiro ministro?

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

Claro!

A decisão em favor de um aproveita ao outro. E assim todo o mundo é jóia!

Mas a decisão de anulação relativamente ao sr. Sócrates é um abuso, porque quem estava a ser ouvido era o sr Vara.

A coerência e honorabilidade de certa gente é tal que, a seguir a teoria que leva à anulação e destruição das gravações das escutas, se, no decurso das conversas escutadas, o sr. Sócrates desse a conhecer ao amigo que estava a preparar um golpe para a assassinar o Presidente da República, a PJ estaria impeduida de intervir e as gravações teriam que ser anuladas e destruídas.

Assim está este país e as suas instituições, entregues a bicharada de merda.

Abraço

Ruben

H. Sousa disse...

Será possível que Cavaco não aja?

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

Claro que Cavaco não age. Porque não está lá para agir. Apenas para estar...

Nas palavras do próprio (veja o post 2483) Cavaco não pode comentar as acções do Governo nem de qualquer outra entidade, Cavaco não pode comentar as acções de qualquer entidade ou do Governo... e os senhores, isto é, os jornalistas e nós, parvos dum raio, devemos compreender isso mesmo e mais alguma coisa, ou seja, que ele não está lá para comentar e, consequentemente, muito menos para agir, e, assim sendo, menos ainda para incomodar esses senhores, façam eles as tropelias que fizerem.

Cavaco está lá apenas para ver a banda passar e gastar anualmente uma pipa de massa do erário público, sem proveito nenhum para os Portugueses.

E sem fazer ondas, por estar concvencido de que os tipos o vºão ap+oiar na recandidatura, quando tyoda a gente sabe que o próximo presidente da república vai ser o camarada deles, Jaime Gama (que se há-de fazer?, estamos condenados a isto!...) e o Cavaco volta para a Rua do Possolo, de onde nunca devia ter saído...

Ámen!

É apenas para isso que Cavaco lá está, por pouco tempo mais, haja Deus!

Abraço

Ruben


Ora