Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

terça-feira, 2 de março de 2010

2604. Queirosiana alocução

- Caros descendentes, amigos, conhecidos de longa e fresca data, meros passantes, cidadãos portugueses de todas as idades, credos, raças, religiões, sexos (os três, para não esquecer o mais importante nos tempos que correm cá por estas bandas… ou haverá mais?). Compatriotas!

Pois que imaginais vós, seus trouxas? Que nunca antes os portugueses passaram por situações de tal aperto, de tal humilhação perante vizinhos próximos ou afastados, tormentos por terem de suportar ignomínias inauditas?

Pois desenganai-vos, caríssimos, desenganai-vos de uma vez!

O problema tem afloramentos cíclicos, por que nos está na massa do sangue.

Nem saberíamos viver de outra forma. A nossa idiossincrasia jamais permitiria tal desatino!

Logo no acto da concepção ficamos marcados para o fado que há-de fadar-nos! (tenho a impressão de que o verbo não era bem este, mas adiante!). E ao fado que nos fada (será mesmo este o verbo?) ninguém escapa! É o escapas!

É certo que os vossos actuais patrões são bem pior do que “cuspir na sopa” ou “bater na avó”, como soe dizer-se, mas não vos iludais, não! Quando estes sacripantas se forem – que Alá os proteja, Manitú os não sodomize e as areias do Atacama os não soterrem!… – é bem possível que outros um pouco menos maus os substituam, porque estes são mais do que permite a santa pachorra humana! Mas, tomai boa atenção do que vos digo: tal como as pragas, os politicos e correlativos portugueses mentirosos, sem vergonha nas fuças, incapazes e desprovidos da noção do que seja o escrúpulo constituem safra colhida de parideiras de entranhas pútridas e… inesgotáveis.

Por isso vos digo: tende cuidado e, acima de tudo. paciência e caridade para com as suas torpezas. A caridadezinha tão necessária ao convívio com os pobres de espírito!

E agora, se me permitis, caríssimos concidadãos, retiro-me para o recanto a que nos Céus ganhei jus por ter sofrido as penas do inferno em Portugal, com cavalheiros muito semelhantes a esses de quem vós sofreis indignidades inenarráveis. A cada dia que passa, o que desmesuradamente agrava a coisa.

Como vedes, nem tudo é prejuízo! Sofremos a bom sofrer por aí, mas, no fim de contas, Deus ajuiza que é mais do que pode a resistência do esqueleto com que nos dotou e amerceia-se da nossa desgraça, pelo que, a título de redenção compensatória, oferece-nos um lugarzinho a Seu lado. E, de quando em vez, deixa-nos de lá sairmos para darmos um saltito aqui, trazendo-vos um pouco de ânimo e esperança numa vida melhor. Se se vai desta p’ra melhor, pois bem, que melhor seja mesmo!

Mas enquanto o dia da vossa Redenção não chega, tende presente esta máxima:

“Sob o manto diáfano da fantasia (lede “mentiras dos gajolas”) a nudez crua da verdade”. Que é eterna e imutável.

Fadam-vos eles agora cá na terra; fadai-os vós na próxima esquina da Eternidade. (mas por que raio de carga de água continuo com a impressão de que o verbo não é bem este?)

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