Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sexta-feira, 5 de março de 2010

2615. O apito encarnado

E disse então o inquiridor:

- Realiza-se esta audiência de inquirição, na sequência da instauração do processo de averiguações sugerido pelo dirigente do Foculporto, ilustradíssimo senhor Apito da Costa, por factos ocorridos ao longo das jornadas do campeonato da Liga que mostram, segundo aquele mui excelente e iluminado dirigente, existir um apito encarnado. Sem necessidade de mais considerandos, vamos passar então à diligência.

Senhor Apito da Costa, queira fazer o favor de explicitar melhor as suas afirmações, designadamente dando a saber quais os factos que consubstanciam as acusações que faz.


- ????

- Constato que nada disse. Talvez com uma pequena ajuda, não?... O apito encarnado de que falou é apitado por quem?

- ????

- E em benefício de quem?

- ????

- Tem alguma coisa na garganta? Está a ficar meio encarnado... Terá engolido o tal apito?

- ????

....

- Desculpe, senhor Apito da Costa, mas estamos aqui há já 3 horas e 42 minutos e o senhor ainda não referiu qualquer facto de que tenha conhecimento - ou, pelo menos, lhe tenha sido sugerido - que evidencie a existência de apito de tal cor, excepto a sua "vermelhidão" de há pouco que até bem nos assustou... Necessita de mais algum tempo para ver se se recorda de seja o que for?

- ????

....

- Bem, meu caro senhor, já passaram mais 5 horas e 15 minutos e... nada. Peço desculpa, mas não posso prosseguir. Há que encerrar esta diligência, cujos resultados, como se vê, foram absolutamente nulos, porque o senhor nada concretizou. Isso deveu-se à falta de elementos ou a qualquer outra circunstância?

- Fo... fo...

- Precisa de desabafar, senhor Apito da Costa? Bem, não é muito usual, mas nós gostamos de que as pessoas se sintam aqui como em casa. Por favor, desabafe...

- Nã, nã... Fo... fo... foi otra cicrunstansa, setôr...


- Então e que circunstância foi essa?

- É qua pasta incarnada qu'o setôr tem aí arrecebe a luz do soli e fere mavista, carago!

- Ó senhor Apito da Costa... desculpe lá, mas esta pasta não é encarnada...

- Ai num é incarnada?...

- Não, senhor. É azul. Da cor das riscas das camisolas do seu clube.

- Eh, pá! Desculpe lá vocemecê, carago, mas a mim aparecia-me a modos qu'incarnada...

- Pois é, senhor Apito. Afinal, temos que concluir que o senhor atropelou a verdade, sim, com a insinuações que fez, mas tem atenuante muito forte.

- Ai, tanho? 'Inda bem, carago! E cal é a antenuante q'eu tanho?

- A de ser daltónico, homem, a de ser daltónico!...

Com o susto da inesperada revelação, Apito desatou a expelir ruidosas e mal odoradas ventosidades o que tornou a situação extremamente incómoda, desagradável mesmo, dada a ausência no local da solícita "companhia de outrora" que tossia aflitivamente e acendia cigarros sobre cigarros quando desses apertos, pelo que, de imediato, foi encerrada a audição e toda a gente fugiu a bom fugir para a rua, em busca urgente de ar livre e despoluído...
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