Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quarta-feira, 21 de março de 2012

2920. Vida de reformado

As pessoas que ainda estão na vida activa convencem-se de que a vida de reformado é um dolce far niente... Ora, nada mais falso. É preciso muita disponibilidade mental e física, além de inventiva e persuasão, para obter alguma satisfação, sem o que a vida é uma enorme chatice!

Por exemplo, no outro dia fui à Baixa tratar de um assunto com o meu banco. Não demorei quase nada, questão de uns meros cinco minutos.

Quando saí, um polícia municipal estava a passar-me uma multa por estacionamento indevido.

Aproximei-me rapidamente dele e disse-lhe:

-
Vá lá, sôr guarda, eu não demorei mais que cinco minutos... Deus olhe que Deus há-de recompensá-lo se tiver um pequeno gesto para com um pobre reformado...

Olimpicamente, olhou-me de alto a baixo e ignorou-me, continuando a preencher o formulário.

A verdade é que me passei um pouco e disse-lhe que devia ter vergonha.

Olhou-me novamente com a maior friezas, mesmo desprezo, e, rapando de outro impresso, iniciou o preenchimento da notificação de outra, esta por não ter colada a vinheta comprovativa do pagamento do seguro.

Aí, alterou-se-me a voz ao dizer-lhe que já tinha percebido estar a lidar com um autêntico fascista e que nem compreendia como é que ele tinha sido admitido na polícia.

Terminou a anotação da segunda infracção, colocando-a no pára-brisas, e começou um terceiro preenchimento.

Pronto! Eu já estava incomodadíssimo com a história que estava a arrastar-se por mais de 20 minutos e, confesso, cheguei mesmo a xingá-lo um pouco, chamando-lhe algumas coisas que, por algum decoro, aqui não me atrevo a reproduzir. Garanto que não sou muito destas coisas, mas a criatura estava a ultrapassar todas as marcas e há coisas que nem santo aguenta, quanto mais eu!

A cada provocação, o homem respondia com um novo papelinho onde escrevinhava mais uma infracçãozeca a que, escrevia o malvado, correspondia nova multa. Pareceu-me mesmo ver um esboço de sorriso de escárnio sacanola na deslavada cara do facínora. Raios partissem o homem! Não vir o raio de um tsunami e levá-lo de escantilhão, lá para onde o Judas perdeu as botas!

Por fim, já cansado daquilo e vendo que não o demovia da enorme patifaria que me estava a fazer, após a décima violação, cheio de raiva, regouguei-lhe nas fuças:

- Oh, que o pena! – olhou para mim, surpreso, sem dizer palavra, mas com as sobrancelhas em interrogação muda e eu fazendo-me de novas… Que pena realmente ter de ir-me embora! Sabe… o meu autocarro está mesmo a chegar…

E lá subi para o 9, em direcção ao Rato, pois moro na Rua de S. Filipe Nery.

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