Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quarta-feira, 2 de maio de 2012

2943. Duas histórias da actualidade portuguesa (1)



N ão sei se Vocências se aperceberam do charivari, ou seja, chinfrim, balbúrdia, desordem, alvoroço, gritaria que ontem se armou nas lojas do Pingo Doce.

Já sei que vai haver algumas  almas muito piedosas que virão logo com lições de moral, dizendo que aquilo que Alexandre Soares dos Santos fez é uma patifaria aos trabalhadores e aos consumidores.

Mas confesso que estou marimbando-me para essa parte da questão, muito embora tenha alguma dificuldade em perceber como é que os consumidores se irão mostrar muito danados com o homem, depois do bodo que receberam e mesmo os trabalhadores, quando chegar o momento do pagamento que lhes vai ser feito do trabalho extraordinário que ontem tiveram. Mas, como disse atrás, não quero saber dessa questão.

O que me traz aqui é o seguinte:

Pelos vários estabelecimentos do Pingo Doce espalhados pelo País passaram ontem, dezenas de milhares de pessoas, que se empurraram, se insultaram, se bateram, se esgadanharam, pintaram a manta, para chegar aos produtos que lhes interessavam. Foi engraçado, mas também não é isso que me ocupa neste post.

O que me ocupa neste post é o que segue.

Não sei se Vocências repararam que houve ontem dezenas de milhares (pelo menos!) de pessoas que entraram nos estabelecimentos Pingo Doce para fazer aquisição de bens.

Pois….

Até aqui nada de surpreendente. As pessoas foram ao engodo de preço anormalmente aliciante, bónus antes insuspeitado. Portanto, tudo “normalmente normal”.

Só que… para terem acesso esse aliciante, a esse bónus, necessitavam de fazer compras no valor mínimo de 100 euros.

Então, é assim:

ontem, dia 1º do mês de Maio do ano da graça de 2012 da Era de Cristo Nosso Senhor, houve em Portugal – onde, rezam as crónicas de vida, diárias, se morre de penúria – dezenas de milhares (pelo menos!) de pessoas que dispunham, sob as mais diversas formas (dinheiro vivo, Multibanco, cartão de crédito, etc.) de 100 euros por cabeça, prontos a ser gastos.

Mais:

Não consta que nenhuma dessas pessoas fosse mulher, irmã, filha, enteada, sobrinha, neta, bisneta, trineta, tetraneta, amiga colorida, conúbia, e por aí fora de, por exemplo Joe Berardo ou Américo Amorim ou Duarte Lima ou José Pinto de Sousa ou outro qualquer assim, pela simples razão de que as mulheres, irmãs, filhas, enteadas, sobrinhas, netas, bisnetas, trinetas, tetranetas, amigas coloridas, conúbias desses ilustres senhores não se metem nessas coisas, por não precisarem e essas coisas se destinarem ao povoléu ou povo ao léu e não a elas.

Mas nem elas nem outras com rendimentos menos avultados, mas razoáveis ainda assim. Quem se mete nestas coisas são as gentes da classe média, maioritariamente da média baixa

Portanto e resumindo, houve ontem dezenas de milhares (pelo menos!) de pessoas do povoléu que dispuseram, sob as mais diversas formas (dinheiro vivo, Multibanco, cartão de crédito, etc.) de 100 euros – uma centena de euros!!! – por cabeça, prontos a ser gastos.


Alexandre Soares dos Santos tem destas coisas, raios o partam! De uma assentada, com é hábito, destrói, deita por terra, teorias e conceitos aceites como certos e que, afinal não passam de endrominações sem jeito.

E mais, num só gesto, demonstra aquilo que alguns, como eu e outros, de há muito andamos a tentar demonstrar por escrito.

Que se há-de fazer?!

Portugal está assim. Por mais que algumas almas queiram desmentir, Portugal está mesmo assim.

Por alguma razão os depósitos bancários têm vindo a crescer anormalmente, para o que era hábito.

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