Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

domingo, 28 de outubro de 2012

3021. Diógenes continua em busca

É mesmo preciso ir além da Taprobana, perdão, da Troika.

Não o fazermos, é repetir as doses de 1977-78 e de 1983-85 e, daqui por poucos anos, estarmos na mesma situação.

Quem não compreender isto, o melhor que tem a fazer é pedir que algu

ém lhe explique com desenho colorido, o mais depressa possível.

E o que é ir além da Troika, hoje, em Portugal?

Pois bem, é, além de dar cumprimento rigoroso e integral ao memorando - que remédio temos!... - concretizar reformas urgentes de procedimentos e principalmente de mentalidades.

Isto, se realmente queremos a salvação.

* * *

Pedro Passos Coelho disse ontem, no discurso de encerramento das jornadas parlamentares da coligação PSD-CDS, algo a que atribuo a maior importância, porque essa frase é muito sintomática e merecedora de meditação.

Disse que cumprir as cláusulas do memorando de entendimento não é suficiente, para sairmos da situação aflitiva em que nos encontramos. Há que ir mais longe, porque há que proceder a reformas profundas na sociedade portuguesa.

Não disse, mas quanto a mim teria feito bem se tivesse dito que, cumprindo à risca as cláusulas do memorando e por aí se ficando, corremos o sério risco de, muito em breve, estarmos novamente em situação aflitiva.

É que cumprir estritamente o memorando foi o que se fez em 1977-78 e o que aconteceu foi que, seis anos depois, em 1983, lá estávamos nós novamente com o FMI a vasculhar as nossas contas e a ditar leis no País.

E a bancarrota demorou mais a chegar desta vez, apenas porque, a partir der 1986, começámos a receber toneladas de euros a fundo perdido. Não fora isso, e, lá para 1991 ou 1992, cá o teríamos tido uma vez mais.

Mas não, demorou um pouco mais (25 anos), porque fomos sendo inundados com os tais milhares de milhões a fundo perdido.

Em resumo, conseguimos a proeza de gastar o que tínhamos (as toneladas de ouro legadas pelo Estado Novo), mais o que veio às carradas e nem tivemos que pagar e, não contentes com isso, ainda nos endividámos de forma absolutamente criminosa.

Será que somos suficientemente cretinos e tão pouco inteligentes que não percebemos que há que mudar de vida, porque os nossos parceiros não estão na disposição de alimentar indefinidamente pançudos pelintras com a mania de que são abastados?

Sei que é muito duro dizer isto e se um político o fizer, cair-lhe-à tudo em cima. Mas alguém terá de o dizer sem deixar margem para dúvidas ou tergiversações.

Porque, enquanto todos nós não formos suficientemente despertados para esta vergonha, e enquanto não sentirmos vergonha a sério desta vergonha colectiva, vai ser impossível endireitar o País.

É preciso que alguém com autoridade moral, aponte tudo isto aos Portugueses e os leve a querer desagravar-se desta situação humilhante para que todos, afinal, contribuímos, em maior ou menor grau de culpabilidade.

Mas... sinceramente, muito sinceramente, onde ir buscar tal espécime de português, com essa carga moral? Até essa indispensabilidade nos falta, senhores, até essa! A esta pobreza de espírito chegámos!

Alguém tem para aí uma lanterna que possa dispensar, para que tal seja tentado, à moda de Diógenes?

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