Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

806. Vêm aí os chineses… (4) – Fórmula Um

您好跟每个人
(Boa tarde a todos)

Reporto-me, como sempre, a Federico Rampini, correspondente em Pequim do jornal italiano La Repubblica:


(…)
“A corrida de automóveis mais importante da história”. Assim definiram os dirigentes da Mercedes o Grande Prémio de Fórmula Um disputado em território chinês. Não pela emoção do resultado (…) mas (…) pelo “início de uma nova era”.


A 26 de Fevereiro de 2004, a F1, o desporto que exprime todos os excessos da sociedade consumista estreou-se no coração do novo capitalismo global (….) em Xangai, a sedutora capital dos negócios e da moda na nova China pós-comunista.

(…)
O novo circuito de Xangai-Jiading – uma obra no valor de 300 milhões de euros – foi concebido pelo especialista alemão Hermann Tilke, possui uma estrutura futurista com o formato de uma asa de 140 metros de comprimento (…). É a cenografia do espectáculo que o canal de televisão estatal chinês CCTV transmitiu para o maior número de ecrãs do planeta: a população de 1,3 mil milhões encontra-se agora praticamente toda “catodizada”. Na China, o rosto de Michael Schumacher sorri nos cartazes ao longo das auto-estradas (…).

“A aquisição de automóvel é o símbolo de estatuto desta geração da China, com o boom da economia e da difusão do bem-estar material em massa, tornámo-nos os novos adeptos do volante”, afirma Yu Zhifei, gerente do Shangai Internacional Racing Circuit.

(…)
Se bem que seja verdade que na China o rendimento médio ainda não ultrapassa os 1000 euros por ano, entre os 1,3 mil milhões encontram-se 200 milhões da classe média urbana que podem aspirar ao automóvel e 20 milhões de neoburgueses com um nível de vida elevado, mesmo segundo critérios ocidentais.

(…)
A Ferrari inaugurou o showroom de Xangai no início de 2004 com a intenção de abrir uma rede de concessionários em mais 12 cidades, dentro de ano e meio. A BMW revela uma informação surpreendente: as suas viaturas 760Li de 12 cilindros, o topo da gama alemã, vendem-se mais na China do que em qualquer outro país do mundo. As séries 3 e 5 têm uma saída tão grande que a casa bávara as fabrica aqui. E, não menos importante, impõe aos seus fornecedores de componentes que se mudem com ela para a China. (…) Um outro nome célebre nas viaturas de luxo, a Cadillac (…), prevê que dentro de cinco anos um quarto das suas vendas a nível mundial será efectuado na China. (nota: e Rampini esqueceu-se de falar na Buick, cuja frota na China, a nível de monovolumes, é assombrosa!...)

(…)
Os investimentos estatais para adequar as estradas não podem deixar de encorajar a tendência da motorização em massa. À China bastaram dez anos para construir a segunda rede de auto-estradas do mundo, depois dos Estados Unidos: 35.000 Kms. Em 2005, o governo de Pequim aprovou um novo programa tricenal (30 anos) para aumentar as auto-estradas até aos 85.000 Kms, incluindo um projecto (nota: politicamente muito controverso…) de um túnel submarino que ligue o país a Taiwan!!!

(…)
Os investimentos na rede rodoviária são elevados, assim como a velocidade a que estão a ser construídas as novas linhas de metropolitano.

Pequim (…) possui uma rede de auto-estradas urbanas que em nada ficam atrás das highways de Los Angeles (…). Em pleno centro da capital não é raro encontrarem-se vias de oito faixas. Pequim acabou agora de construir o seu sexto anel concêntrico de circunvalação urbana e, para as Olimpíadas de 2008, tem projectado o sétimo.

(…)
Depois de anos de aplicação de elevadas taxas aos automóveis de importação, o governo chinês obteve precisamente aquilo que queria: as marcas americanas, japonesas, europeias, para poderem ser competitivas, tiveram de transferir as suas fábricas para a China. Ora, se não conseguem vender no mercado local toda a sua produção, vêem-se obrigadas a exportá-la. Assim, os operários chineses da Audi farão concorrência aos operários alemães da Audi. Para além disso, a China obrigou as multinacionais estrangeiras a aliarem-se aos produtos chineses. Desta forma, foi “treinada” uma concorrência local.(…)
Fim de transcrição

E a China começou já a comprar grandes marcas no estrangeiro. A Sangyong, na Coreia do Sul, e a MG-Rover inglesa, são exemplos. Mas muitos mais há.


Chamo a sua particular atenção para a parte final da transcrição, que sublinhei a bold. Leia e medite. Certamente que chegará a uma conclusão interessante. E tremendamente incómoda.

Entretanto, enquanto isto se vai passando da forma que se relata atrás, que faz a Europa, já “entalada” entre os USA, o Japão e a Coreia do Sul?

Perde-se em tergiversações, na contemplação do próprio umbigo, sem se aperceber de que à sua volta o mundo está em completa e rapidíssima transformação é não é já o mesmo que era aqui há 5-10 anos atrás.


Há uma caducidade mental e incapacidade de acção, mesmo tolhimento de reacção nos políticos e empresários europeus, que não augura nada de bom para a “velha, caduca e decadente Europa”. A breve prazo, muito breve prazo...

Sim, enquanto “lá fora” se trabalha no duro, para conquistar a vida, na Europa vive-se do passado e de questiúnculas estúpidas e sem sentido. Bruxelas e Estrasburgo são hinos à incompetência geral. Que não levam a parte alguma que não seja ao fundo do poço. Lamacento, pútrido, sem vida, repletos de mortos-vivos, que só ainda não são mortos-mortos, por nem terem percebido que já morreram.

Os chineses vêm aí?! Mas eles já estão cá. A cada esquina. Vamos rasgar os olhos também? Só para não destoar…

Este alheamento, esta atitude de tacanhez mental profunda, este “chamberlanismo” comercial, industrial, geral, enfim, reporto-o à Europa.

Quanto a Portugal, nem vale a pena falar. Com as caricaturas de políticos que nos têm governado e continuam, com os empresários de vão de escada que temos, sempre à espera de que alguém faça o que só a eles cabe, com a força de trabalho que também há por aí, que só respeita direitos que ainda nem sequer adquiriu, mas é lesta a enjeitar deveres, o
nosso destino está traçado: já temos os olhos rasgados.

我将回来
(Hei-de voltar)

(espero que antes de que os chineses dominem o mundo…)

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NB.-
A foto, sobre que deve clickar, para ampliar, é uma vista aérea da Praça Tian'anmen (Praça da Paz Eterna).
Do lado esquerdo do observador, o edifício da Assembleia Nacional Popular;
do lado direito, o do Museu Nacional da China;
ao fundo, depois da grande Avenida da Paz Celestial, todo o conjunto da Cidade Proibida e seus telhados de tijolo;
no interior da Praça, o Mausoléu de Mao Dze Dong.
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