Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quinta-feira, 17 de maio de 2007

1075. "A Fórmula de Deus"

Foi-me oferecido, corriam ainda os dias do ano de 2006.

Apenas agora, porém, me foi possível lê-lo, tal foi a disputa que na família (somos uns quantos...) se gerou para todos serem o primeiro a ler. Fui, pois, ficando para trás, até que chegou a minha vez. Em boa hora.

José Rodrigues dos Santos não tem, diga-se em abono da verdade, o cunho característico dos grandes romancistas, entendidos como manipuladores da palavra escrita por excelência.

No entanto, escreve escorreitamente e, de forma hábil e despretensiosa, prende o leitor ao enredo e às pesquisas e aos conhecimentos que vai carreando para as suas obras. Que evidenciam muita transpiração e igual dose de inspiração.

Dele já lera a "Ilha das Trevas" (Timor), pusera de parte (para melhor oportunidade) a "Filha do Capitão" (corpo expedicionário português em França), mergulhara nos intrincados mistérios do "Código 632" (Cristóvão Colombo português).

Foi agora a vez de "A Fórmula de Deus", que me despertou imenso interesse, não somente pelo tema - a busca da prova científica de existência de Deus - e pela forma muito característica de romancear de JRS, como por alguns dos lugares descritos, com particular relevo para o desértico planalto do Tibete, desde Kodari, no Nepal, e Zhangmu, já em território tibetano, até Lhasa (com o Potala e o Jokhang), passando por Shegar, Lahtse e Shigatse - com o Tashinlumpo - (mas não por Gyantse, por motivos de força maior relacionados com saúde de amigo e companheiro de viagem, resultantes da altitude, principalmente da transposição de La Pass, a 5.230m), que conheci há dois anos.

Não me arrependi. É um livro a não perder. Bastará que diga isto: a não perder!

José Rodrigues dos Santos, naquele seu jeito de eterno jovem bem humorado e que parece não dar muita importância ao que o rodeia, vai ser, está a ser já, um caso muito sério na literatura de ficção portuguesa.

E, curiosamente - ou talvez não... -, sem os espaventos e feiras de vaidades que por aí temos visto em outros casos... de valia mais do que duvidosa. O que também conta. E muito.

Venha outro, caro José. Estou cliente. Fiel.

* * *

Somente a título de curiosidade... talvez de humor.

Contrariamente a
Tomás de Noronha, o protagonista do romance, não teve a Isabel, minha mulher, a felicidade de conseguir encontrar em Lhasa - aliás, em todo o Tibete que percorremos - uma foto do Dalai Lama, que não havia à venda, por proibição chinesa, ao que disseram. E, curiosamente, uma que ela levava já, comprada em Katmandou, foi-lhe pedida em segredo tão veementemente, que não teve outro remédio - e satisfação, claro! - que não dispensá-la, tendo comprado outra, quando de volta ao Nepal.
Do Panchen Lama, sim, havia. Pelo menos no Tashilunpo.

Não se incomode com isto que digo, JRS, pois que a intenção não é essa, muito pelo contrário. E o facto que relato, se for verídico no que se refere à proibição de fotos do "papa" dos tibetanos, em nada deslustra a sua obra, que é, na verdade, inesquecível.

...

6 comentários:

Isabel Filipe disse...

"...
prende o leitor ao enredo e às pesquisas e aos conhecimentos que vai carreando para as suas obras."

a sério???

nem sabia que ele escrevia ...

não gosto dele no telejornal ...

irrita-me aquele ar que põe de sempre admirado ... ou sempre muito atento ... ou sempre muito chocado ...

acho-o absolutamente "não natural"...

bom fim de semana
bjs

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Não dou conselhos, mas permite-me uma sugestão.

Lê-o. Vais ver que gostas mesmo. E talvez que essa opinião que tens e agora manifestaste venha a mudar, pelo menos em parte.

E, depois, é simples. Dei-lhe a conhecer o que dele disse no post. Respondeu-me de imediato, por email, de forma muito agradável.

Só não meto aqui a resposta porque não estou autorizado, muito embora não tenha sido proibido.

Beijinhos

Ruben

H. Sousa disse...

Excelente! Vejo que ando muito desactualizado. Mas o homem inspira confiança, sem dúvida. Exactamente pelo despretensiosismo. Vou já tratar de o conhecer melhor, passou-me ao lado. Nunca ninguém me chamara a atenção antes, até terei pensado que era apenas mais um...
Obrigado!

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

Não, não é apenas mais um.

Com tudo o que de relativo uma apreciação destas pode conter - e certamente contém -, para mim é, sem dúvida, o melhor valor que apareceu na literatura de ficção, nos últimos - longos - anos em Portugal.

O "Código 632" e, mais ainda, este último, "A Fórmula de Deus", são romances a não perder. Não só no conjunto das obras em si, como pelos temas abordados e igualmente pela forma despretensiosa e "leve" como é escrito.

Qualquer comparação com essa treta de "escritores" de meia tigela, muito propagandeados que por ai anda, até de outras Tvs... é pura coincidência.

O trabalho de pesquisa é fenomenal e as hipóteses que proporciona de discussão, realmente assombrosas.

Há, finalmente, a curiosidade de desmistificar aquela imagem de ligeireza, de "bon vivant" e até de um certo "blazénisme" que Rodrigues dos Santos - sabe-se lá porquê - dá de si mesmo na TV. Com o que, aliás, nem me sinto nada incomodado e que considero mesmo bastante simpático.

Mas é melhor não dizer mais nada, pois ainda vão pensar que eu tenho comissão nas vendas...

O melhor é cada um ajuizar por si.

Abraço

Ruben

Isabel Magalhães disse...

Sei que escreve - há larga divulgação das suas obras nas livrarias - e embora tenha um ou dois exemplares cá em casa ainda não lhes chegou a vez na lista das prioridades.

Acho que vou alterar a ordem... :)


Bom fim de semana
abraço.

I.

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Não vai arrepender-se, estou certo.

[]

Ruben