Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sexta-feira, 29 de junho de 2007

1160. Exemplo ilustrativo


Última hora
2007-06-28 - 21:00:00

Caso remonta a 2000

Vereador condenado por acidente de trabalho

O vereador da Câmara de Setúbal foi condenado a três anos de prisão, suspensa por dois anos, devido a um acidente de trabalho que causou a morte a um trabalhador da Portucel, em Novembro de 2000.


Na altura dos acontecimentos, Paulo Valdez era director dos Serviços de Apoio da Portucel, que integrava o departamento de segurança. O trabalhador morreu na sequência de um atropelamento provocado por um empilhador.

O autarca foi condenado pelo não cumprimento das normas de segurança, mas assegurou que já interpôs recurso.


* * *

Esta é a notícia propalada (sim, propalada é termo mais adequado do que publicada...) pelo Correio da Manhã de 27 de Junho corrente, pelas 21.00 horas, na sua edição online. Chamo a atenção para as seguintes circunstâncias:

1 -
Última hora
- o Correio da Manhã começa aqui a inventar e a não dizer a verdade aos seus leitores. Não se trata de qualquer tipo de notícia de última hora. A condenação ocorreu no dia 8 de Maio último (que o jornal não refere, como, aliás, era de esperar...), portanto 50-cinquenta-50 dias antes da última hora do matutino.

A que propósito e com que intuito vem o jornal, em desfilada, 50 dias após, dar a notícia em última hora?


2 -
Vereador e Vereador da Câmara Municipal de Setúbal
- Paulo Valdez foi condenado (não se vai aqui discutir a decisão judicial, porque está em recurso) na qualidade de Director dos Serviços de Apoio da Portucel, que integrava o departamento de segurança.

Foi nessa qualidade que esteve em tribunal e foi julgado. Não em qualquer outra. Duvida-se mesmo que a Portucel algum dia permitisse que um vereador da Câmara Municipal de Setúbal - ou de qualquer outra - ali debitasse instruções ou ordens, sugestões sequer!...

O Correio da Manhã, atrasado, quis talvez compensar o deslize com uma pitada de sensacionalismo, provinciano e imberbe, é certo, mas sensacionalismo enfim.

Então, vá de lhe acrescentar o toque de mestre: vereador e vereador da Câmara Municipal de Setúbal.

Arrebitem-se ó orelhas!... Mais um patife de um autarca condenado. Isto é que é uma corja, hein?


Claro que, de imediato, surgiu o alvoroço. "Temos que dar cabo do gajo", pensou-se em várias redacções. E logo telefonemas em catadupa surgiram para o meu amigo.

Contou-me, esta manhã, que a pergunta sacramental era a seguinte:

- E então, sr. vereador, vai renunciar ao seu cargo na autarquia? O partido já lhe deu instruções nesse sentido?


Está a topar a coisa, não está?
E diga-me cá: isto é ou não uma miséria?

* * *

Falta, agora, a parte final deste post, que é tentar ensinar as estes aprendizes de feiticeiro como é que uma tal notícia deve ser dada, muito mais completa e até com elementos que muito gostariam de ter incluído, tendo em vista o intuito não declarado mas de rabo à mostra, mas que não incluíram porque até nisso são incompetentes.

Para começar e por respeito à verdade, não davam ao caso o tratamento de última hora. Última hora 50 dias depois?!
Ridículo!

Vamos lá e façam o favor de prestarem atenção, para ver se aprendem, que a gente não dura para sempre:

* * *

Caso remonta a 2000
Quadro da Portucel condenado por acidente de trabalho


Um alto quadro da Portucel foi, em 8 de Maio último, condenado a três anos de prisão, suspensa por dois, devido a um acidente de trabalho que causou a morte a um trabalhador da empresa, em Novembro de 2000.

Na altura dos acontecimentos, Paulo Valdez era director dos Serviços de Apoio da Portucel, que integrava o departamento de segurança. O trabalhador morreu na sequência de um atropelamento provocado por um empilhador.

Paulo Valdez, que é também vereador eleito da Câmara Municipal de Setúbal, pelo Partido Social Democrata, foi condenado como responsável pelo cumprimento das normas de segurança, que não terão sido observadas, tendo afirmado ao CM entender não poder ser responsabilizado pelo sucedido pelo que, inconformado com a decisão, interpôs já recurso para a instância competente.

* * *

Custa muito fazer-se jornalismo isento e objectivo, acima de tudo com estrito respeito pela verdade integral?
Que objectivo é que o Correio da Manhã perseguia com esta notícia de última hora e tão canhestra? Tê-lo-à atingido?

Trata-se de um mistério que fica por esclarecer, mas que era bom que fosse trazido ao conhecimento público. Mesmo que com um atraso de 50 ou mais dias...

...

16 comentários:

Ruvasa disse...

Magnífico post meu amigo.
Apenas não dissecou a ideia - que modéstia á parte é minha - de que o jornalismo já não persegue o interesse público (dever de informar) mas apenas procura despertar o interesse do público (e este é o que é e todos sabemos e conhecemos).

A notícia como a refez era de interesse público mas... não do interesse do público. Logo nesses termos não seria lida e não valia a pena fazê-la.

Pena termos chegado a isto não acha?

abraço

Tira Nódoas

Ruvasa disse...

Viva, Tira Nódoas!

Sim, tem razão. A eles pouco importa o "interesse público"; para eles apenas conta o "interesse do público" (coisa bem diversa) e melhor ainda se se tratar do "interesse mórbido do público", porque é esse que efectivamente eles perseguem diariamente.

É pena que tenhamos chegado a isto, realmente, mas temos o que temos e há que aguentar e... cara alegre. De qualquer modo, sempre que a oportunidade surge e posso, casco nos tratantes!

Respeito muito qualquer profissional seja em que área de actividade se ova; não suporto os outros, os pilantras.

Abraço

Ruben

carneiro disse...

è como o "Cabo Costa da GNR"...

O que é que a GNR tem a ver com as taras de um seu reformado ?

Se os crimes tivessem sido cometidos em exercício de funções...

Curiosamente quando um pretito ou um ciganito faz um assalto, só se pode noticiar que foi "um jovem"...

(repare-se no cuidado que tive com os diminuitivos carinhosos, para não ser acusado de xenófobo.)

Abraço

Ruvasa disse...

Viva, Carneiro!

É isso.

Eu abomino estes senhores. Porque diariamente se vê como gente desta, que não é escrutinada por ninguém, tem mais poder do que ninguém no País, arruinando reputações da forma mais leviana que se possa conceber ou criando pedestais para gente sem valor que lhes esteja mais de feição e tudo isto sem que alguém lhes vá à mão.

Antigamente, dizia-se que tipos assim eram biltres. Hoje, porém, não são. Quem é que se atreveria a tal dizer?

Abraço

Ruben

Isabel Filipe disse...

magnifico o teu texto Ruben ...
não podia deixar de estar de acordo com ele....

uma vez mais podemos ver o que vale o nosso jornalismo: um monte de nada.

beijinhos e bom fim de semana

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Obrigado,amiga.

As coisas estão cada vez piores.

Sabes, o problema é que, se a notícia não é encomendada, imita muito bem. Desde logo, pela questão da "última hora" de um facto sucedido há quase dois meses!... Ajusta-se aqui um telefonema feito para uma agência noticiosa (a Lusa, por exemplo...) ou a redacção de um jornal, a dar conta do facto...). A intenção subjacente é que não está explicada. Por enquanto, mas o mais certo é vir a saber-se...

Depois, a presumida encomenda seria não a de que um quadro da Portucel fora, por "homicídio por negligência", condenado a 3 anos de prisão, suspensa por dois, mas que "um autarca - e para mais de Setúbal - fora condenado em tribunal a pena de cadeia". Autarca que, ainda por cima o é a título gracioso, uma vez que continua a trabalhar no seu posto de emprego, onde lhe continuam a pagar o ordenado, não recebendo remuneração da Câmara.

Ora, como a maioria das pessoas só lê os títulos, estás a ver o que fica na memória do cidadão comum - mais comum - para discutir à mesa do café ou no autocarro:

- Vereador condenado por acidente de trabalho.

Estás já a imaginar o diálogo, não?

- Eh pá! Viste aquela do vereador que foi condenado a prisão?

- Não, não... Conta lá? O que é que mais esse sacripanta fez?

- Bem, não sei, mas se eles dizem que o gajo foi condenado a três anos de pildra, boa não foi!

- Ah, pois! Esses gajos são todos uma cambada! Apanham-se lá no poleiro e fazem tudo o que lhes apetece.

- Se calhar, obrigou o acidentado a trabalhar em condições miseráveis...

- Pois, assim é que elas se dão. Nas autarquias aquilo é tudo à la Gardère!...

- Pois é! Aquilo é uma corja! Mas este lixou-se qu'até apanhou choça. Foi é pouco. Deviam ter sido para aí uns dez anos.

A continuação deduz-se facilmente. Depois, um daqueles encontra outro conhecido e conta-lhe a história, acrescentando uns pontos de sua autoria, para enfeitar mais a coisa. E assim sucessivamente sem cessar...

Ou seja, o papel da Comunicação Social está feito. Agitar as massas. Não foi isto que fizeram com O Governo Santana Lopes? E pior ainda! E para quê? Para o deitarem abaixo, sem lhe darem tempo a fazer fosse o que fosse e meterem no poleiro o José Sócrates.

Estão de parabéns. Têm o que quiseram...

Beijinhos e bom fim de semana.

Ruben

Menina Marota disse...

Por favor vai aqui... e vê se tem algum fundamento e se podes alertar alguém... (fiquei preocupada)

http://jeunesfillesenfleur.blogspot.com/

Um abraço ;))

Ruvasa disse...

Viva, Menina!

À mon avis, trata-se de uma brincadeira de mau gosto.

Os motivos que me levam a tirar esta conclusão, expliquei-te em email que te enviei.

Beijinho

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Menina!

Só agora reparei na parte final do teu comentário, ou seja,

"Um abraço ;))"

Menina e marota! ;-)

Beijinho

Ruben

Ruvasa disse...

Caro Amigo

Esta rapaziada está, a mando de alguém, sempre pronta a corromper a opinião pública e quem fica mal na fotografia é sempre o cidadão.

Só te digo que estamos bem "lixados" neste País onde se exoneram e perseguem funcionários e onde se limitam as liberdades individuais. Estão a tentar acabar com os direitos fundamentais da liberdade, dos conceitos da pessoa
humana e dos seus direitos. Daí deriva todo o resto...!

Um abraço

AAlves

Ruvasa disse...

Viva, Alves!

Pois é.

E, à sombra desse guarda-chuva iníquo, vivem os bajuladores que, sentindo-se protegidos, cometem as maiores barbaridades.

Quem é que já se imaginou a chefiar um departamento estatal qualquer e - só porque diz uma graçola parva e alguém a afixa e lhe junta outra graçola, que a primeira estava mesmo a pedir - tem o desplante de exonerar do lugar o que disse a graçola menos prejudicial e se deixa, por dua vez, ficar no seu? que moral é esta?

Isto é pura e simplesmente o arrancar da máscara. É o totalitarismo a revelar-se a cada dia que passa, em cópia fiel do que o chefe faz.

Desgraçado país.

Curiosamente, não ouço o Mário Soares berrar aos quatro ventos, como só ele sabe, o direito à indignação por parte dos cidadãos, a começar por si próprio.

A moral republicana tem uma elasticidade mais do que ordinária, mesmo extraordinária a que alia notabilíssima capacidade de se amoldar ao jeito das conveniências parcelares.

Abraço

Ruben

Camilo disse...

Desde a saída do director João Marcelino que o "Correio da Manhã" tem alterado a sua linha "sensacionalista", visando "outras personalidades", ou seja: "alvos".
Até na última página onde aparecia uma prosa engraçada do Ferreira Fernandes, agora aparece um "escritozinho" sofisticado, com "pontaria" algo tendenciosa.
Julgo (é a minha ideia) que o "CM" está com um objectivo.
Mas também julgo que lhe irá custar a perda de leitores.
Há sábados, que quando leio a 2ª página,até fico na dúvida:
estarei a ler o "Correio da Manhã" ou enganei-me e comprei o "Correio da... Manha"?!!!
Cumprimentos.

Ruvasa disse...

Viva, Camilo!

É isso mesmo.

No antigamente, como julgo que saiba, havia o "Diário da Manhã", vulgarmente conhecido por "Diário da Manha", por motivos pouco honrosos.

Talvez que a mesma trilha esteja agora a ser percorrida pelo CM. Mas não somente pelo CM. Outros há, ainda piores. Como caso do Diário de Notícias, nas mãos de António José Teixeira e o seu comissariado político.

Abraço

Ruben

Isabel Magalhães disse...

Caro Ruben;

Por um qq motivo que nem eu sei este seu artigo escapou da minha leitura diária.

Não posso estar mais de acordo consigo em relação ao exposto, ao vereador, a algum jornalismo que se faz por cá, e até a Pedro Santana Lopes.

Quanto ao Sr. Sousa, quando será que cai do 'burro'? Ou que o 'burro' dá uma 'cangocha' e o atira por cima da cabeça!

[]
I.

Nota - Tb só tardiamente reparei no abraço sorridente da menina_marota. :)

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

É uma tristeza!

Conheço bem o Paulo, de há, pelo menos, 30 anos para cá, ou seja, desde quando era um jovem muito jovem e diligente social-democrata, condição e características que nunca abandonou.

Nos seis anos em que fui provedor da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, entre 1981 e 1987, acompanhou-me sempre, como vice-provedor.

Foi uma bela equipa, que muito ali sofreu, tentando arrancar a Instituição ao descalabro e insolvência em que se encontrava e tivemos a grata sensação do dever cumprido quando, em Julho de 1987, demos lugar a outros, deixando a Santa Casa financeiramente equilibrada, completamente limpa de dívidas, património imobiliário aumentado e com um fundo que permitiu aos seguidores arrancar para empreendimentos que pudessem dar-lhe outras perspectivas que, felizmente, vieram a verificar-se.

Nunca ninguém os agradeceu esforço tão violento - e apoios apenas aqui e ali, esporadicamente, os de umas três ou quatro pessoas, entre os quais, infelizmente, não se contou o do então bispo de Setúbal, que teria tido a obrigação de o fazer, porque fizemos retornar a Santa Casa à comunidade católica, de onde havia sido arrancada a ferros, mas que o não pôde fazer por andar muito mais ocupado com os seus amigos do PC e correlativos.

Também não nos importámos com isso, porque não era de honras e glórias que tínhamos ido em busca e das quais sempre fugimos, mas do cumprimento de um serviço que entendemos não poder deixar de prestar à comunidade.

Enfim, outros tempos...

Mas é esse companheiro de uma luta extremamente difícil, de seis anos, nos gloriosos tempos da "cidade vermelha" que agora vejo judicialmente condenado por um crime que toda a gente de Setúbal, afecta ou não afecta ao Paulo, sabe que ele não cometeu não cometeu nem podia ter cometido. Mas isso são outras histórias de que talvez um dia fale...

* * *

Do senhor Sousa não falo, hoje.
O dia está lindo, a vida vai sorrindo. Acha que estou disposto a estragar um momento destes com tal personagem de tragi-comédia?

* * *

Quanto à Menina_marota, well... É menina e é marota, não? ;-)

[]

Ruben

Isabel Magalhães disse...

Caro Ruben;

Obrigada pela 'partilha'. :)

[]

I.