Os resultados da eleição autárquica lisboeta, hoje ocorrida, não constituem qualquer surpresa seja para quem for, com um mínimo de noção da coisa política.
A abstenção
Tem vindo a subir a cada acto eleitoral e de referendo realizado. Quanto às responsabilidades pelo que tem sucedido, não é preciso muito efabular para se concluir que elas pertencem inteiramente aos políticos que, de há dezenas de anos, têm moído o juízo aos portugueses, sem proveitos que se vejam para o País e desacreditando-se cada vez mais perante o eleitorado. Na verdade, é difícil resistir à tentação de fugir das urnas, quando os políticos são, realmente, tão maus, tão irresponsáveis, tão merecedores de uma corrida em pêlo, por indecência e má figura...
O PS
Teve uma vitória por números ridículos e nem o facto de ter obtido grande diferença de votos para o segundo classificado na tabela nem o de, desde 1976, ou seja, de há 31 anos a esta parte, ter, pela primeira vez, vencido em Lisboa sozinho, escamoteia o incómodo de uma vitória sem razões para euforias.
O conjunto dos votos PSD/Carmona
Como tive oportunidade de escrever dias atrás, a não ter havido a ruptura PSD/Carmona, António Costa teria sido francamente derrotado, pois que, mesmo sem estarem num só grupo, que potencia sempre os ganhos, a soma dos resultados obtidos por Carmona e Negrão suplantaria, sem sombra de dúvidas, os resultado de Costa.
Significa isto objectivamente que o PS venceu sem mérito, mas com a imprescindível muleta de quem, no PSD, não sabe o que anda a fazer, ou seja, os mesmos que impediram o PSD de infligir a Pinto de Sousa a quarta enorme derrota eleitoral consecutiva em 2 anos e meio (as outras haviam sido as autárquicas de 2005, as presidenciais de 2006 e as regionais da Madeira de 2007)... É obra, mesmo para tanta incompetência!
O CDS
Para além do mais, colheu os louros do "trabalho" de Maria José Nogueira Pinto no decurso do mandato anterior na CML, ela que, desde que anda na política, sempre se constituiu em certo e não negligenciável factor de amuo, guerrilha e desestabilização em tudo quanto se mete, como é amplamente sabido.
O PSD
Entrou no desastre total, como de há muito se esperava. Jamais tinha obtido resultado tão baixo e desmobilizador. Jamais certamente o voltará a obter. Tudo ajudou. A começar por Marques Mendes, revelando uma inabilidade total como estratega e líder (dele sempre entendi que tem perfil adequado para director de serviços mas jamais para director-geral...) e um autismo, um total alheamento do que o rodeia e uma notória incapacidade de reagir com eficiência aos escolhos que pelo caminho encontra, a continuar por tudo quanto antecedeu esta crise da CML e o decurso da mesma e a terminar na fraquíssima prestação (porque de melhor não é capaz) do candidato de 5ª ou 6ª escolha descoberto por MM já no estertor da agonia, o que o levou a nem sequer tentar saber, em Setúbal, se o candidato valia a aposta... e o tremendo risco inerente. O que, diga-se em abono da verdade, logo nos primeiros passos da campanha se constatou que não.
Em tais condições, jamais o PSD poderia ter alcançado mais do que efectivamente alcançou. Entendo mesmo que não ter sido pior só pode ter acontecido por intercessão de algum santo de altar verdadeiramente milagreiro.
As responsabilidades, segundo os eleitores
A julgar pelos resultados, restam pouquíssimas dúvidas de que o eleitorado lisboeta não responsabilizou Carmona Rodrigues pelo que na CML se passou, mas, isso sim, atirou toda a culpa para as costas do PSD, por inteira responsabilidade de quem não soube estar à altura da situação.
O que fica dito, resume, em traços largos, o que me parece mais relevante nos resultados verificados.
* * *
O que segue
a) A Marques Mendes resta apenas uma saída de dignidade. Isso mesmo: sair de cena. E certo que será uma saída pela esquerda baixa, mas, ao menos, preservará uma certa e muito necessária dignidade política. Tem que demitir-se e, de preferência, já esta noite. Ele é o grande responsável pelo sucedido, como igualmente pela falta de liderança do PSD e pela completa ausência de oposição a Pinto de Sousa e aos seus desmandos.
Não se demitindo de imediato, Marques Mendes não só penaliza o PSD, como abre as portas a nova maioria absoluta de Pinto de Sousa, em 2009, mesmo que este continue a praticar enormidades como até aqui. É que, não havendo contradita, não tarda que o eleitorado se "habitue" a este estilo de vida e passe a considerá-lo coisa normal. E quem é que quer desfazer o que já será "normal", para ir em busca do desconhecido?
b) Para sobreviver com alguma dignidade e capacidade de regeneração e recuperação, o PSD tem que livrar-se, com a máxima urgência, da tenebrosa influência de "inscritos" seus como Manuela Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros, mas estes principalmente, piores para o partido do que os piores dos adversários.
Desde que, no período que antecedeu as legislativas de 2005 (Marcelo mesmo de muito antes, como todo o Portugal bem sabe...), juntamente com Cavaco Silva, criaram inúmeras dificuldades ao partido, algumas das quais ainda não foram superadas, não têm parado na perniciosidade da sua acção.
Urge libertar o PSD. E essa libertação passa, não tenhamos dúvidas, pelo corte de ervas daninhas que muito prejudicam o normal desenvolvimento do conjunto do partido.
Ou se vai fundo e os sociais-democratas tomam as decisões correctas, entre as quais estas duas absolutamente imprescindíveis ou redundará em tarefa inglória tudo quanto se tente fazer pelo partido. Os militantes, principalmente os que detêm maiores responsabilidades institucionais, sempre souberam mostrar-se à altura dos acontecimentos e da história do Partido. Espera-se, portanto, que não falhem desta vez. Os militantes, não os que do partido apenas se servem...
Nota final... e indispensável
Uma última palavra que pretende ser de reparo a alguém a quem o PSD muito deve em pugnas eleitorais e que tem sido muito injustiçado e em relação ao qual, o tempo que passa, quanto mais alargado, mais revela tal injustiça: Pedro Santana Lopes.
O que lhe foi feito pelos adversários - legítimos, nos partidos, e ilegítimos, na Comunicação Social - foi uma vergonha. Nada, porém, comparável com o que lhe fizeram "companheiros", entre os quais Marcelo Rebelo de Sousa (o homem para quem tudo só está bem quando bem não está e que não consegue "admitir" que alguém consiga o que ele próprio não consegue..., caso a que não me atrevo a rotular de patológico), Manuela Ferreira Leite (que está, sempre esteve, ao serviço de uma estratégia cavaquista pessoal, pouco parecendo importar-lhe o que mais convém ao partido de que é militante) e Cavaco Silva (que, como aliás se vem constatado uma vez mais, agora na Presidência, apenas tem como objectivo em mente o poder pessoal, tratando-se de um homem para quem o PSD sempre foi apenas e só mero instrumento de perseguição de fins pessoais e apenas na medida em que o desiderato não podia ser alcançado por meios diversos dos do Partido e seus esforçados militantes).
Pois bem, toda a competência política que Pedro Santana Lopes revelou, bem como o árduo trabalho que desenvolveu para levar de vencida a coligação PS-CDU - que há muitos anos dominava Lisboa a seu bel-prazer - vitória essa conseguida contra adversários frontais, nos partidos, e contra adversários assolapados e subreptícios, na Comunicação Social, e bem assim putativos companheiros, que tudo fizeram para obstar à sua excelente vitória - que foi também uma bela e inolvidável vitória do PSD - pela incompetência de uns e ressabiamentos e invídias mal disfarçadas e estúpidas de outros - que nada de útil fazem pelo país há muitos anos já ou mesmo jamais algo fizeram... - foram agora deitados a perder e será muito difícil de recuperar nos tempos mais próximos, e menos ainda enquanto por lá andarem tais aves de mau agoiro.
...
15 comentários:
É difícil não estar de acordo como tudo o escreveu, mormente a parte em que aborda PSL.
Mas eu sou mais céptico. Sou dos que acham que o partido perdeu o seu espaço - pela culpas que elenca - e já não tem condições para o rehaver.
O interesseirismo e o clientelismo mataram-no.
Ao PS também... mas estão no poder...
Perdão, "reaver"!
Viva, Agnelo!
Eu sou mais crente. Acredito que é possível, mas há que não evitar a prévia limpeza e obrigatória penitência, com promessa firme de não reincidência.
Abraço
Ruben
...pois:
'Os resultados das intercalares para a câmara de Lisboa mergulharam a direita numa crise profunda. O PP perdeu o seu único vereador e o PSD perdeu a presidência e teve o seu pior resultado de sempre.'
http://sic.sapo.pt/online/noticias/pais/20070716+-+Rescaldo+das+intercalares+em+Lisboa.htm
Beijinho
Bem escalpelizado, Amigo Ruvasa.
Fosse Marques Mendes um "político-a-sério"... e teria ganho estas eleições, com Carmona à cabeça.
Perante tanta estupidez (PSD) há que reconhecer:
Santana Lopes foi um... "herói"!...
(Os que o traíram continuam a disparar em várias direcções... a outros acabaram-se-lhes as "munições")...!
A verdade é esta:
Marques Mendes "MATOU" O PSD.
E não acredito que LFMenezes o "ressuscite".
Não tem mostrado "tarimba política".
Viva, MJoão!
Mas estes resultados já toda a gente esperava, mesmo antes de a campanha ter começado. Só autistas com os actuais dirigentes do PSD não o perceberam ou, percebendo-o, não foram, capazes de encontrar meios de sair de tal desastre.
As incapacidades e guerrinhas idiotas pagam-se caro. Nada de novo na frente ocidental...
Beijinho
Ruben
Viva, Camilo!
Sou dessa opinião. De umas eleições que seriam pagar ganhar com uma perna às costas (basta ver os resultados de Negrão e de Carmona para o constatar e fazer a sua coma, sem mesmo contar que o acréscimo percentual resultante da aglutinação dos votos em um,a só lista...) Marques Mendes conseguiu fazer com que fossem perdidas.
E, num momento de real aperto em que se encontrava Pinto de Sousa e que em muito piores assados ficaria com mais essa derrota (que seria a quarta em 2 anos e meio...), Marques Mendes conseguiu deitar-lhe a mão e proporcionar-lhe mais um fôlego. Se MM fosse socialista não teria sido mais útil a Pinto de Sousa.
Agora, tudo sorri a este último, porque, além do mais, os adversários que realmente o poderiam deixar em má situação, não comparecem a jogo ou, fazendo-o apresentam-se a cometer sucessivos penalties contra a sua própria equipa.
Não há, pois, quem aguente tal desaforo.
Abraço
Ruben
Viva Ruvasa,
A "vitória" de Costa foi, sem dúvida, muito magra, um resultado que noutras circunstâncias garantia uma derrota (não teve muita mais percentagem que Carrilho há 2 anos e isto diz tudo).
Vejo com pena, confesso, que políticos (que se chamam de independentes) obtenham volumosas votações. Falo, obviamente, de Carmona Rodrigues. Não coloco em causa a presunção da inocência, claro está, nem concordo que um arguído deva renunciar ao seu cargo mas, e este mas é importante, julgava que os eleitores exigissem esclarecimentos cabais de situações menos claras. Veja-se que uma empresa tem um certo direito de preferência então, independentemente da leitura criminal, há a obrigação ética e política de esclarecer os cidadãos do porquê dessa situação. E depois há o caso EPUL e Gebalis que, entre outras coisas, gerou um relatório que diz: “fraccionamento sistemático das empreitadas, sem justificação, para evitar a aplicação do concurso público, privilegiando sem razão o convite directo a um núcleo restrito de empresas”; adjudicação a determinadas empresas por valores muito superiores ao valor real dos trabalhos, em detrimento de propostas anuladas, em iguais condições de garantia, por valores inferiores”; [pagamento a um fornecedor avençado] “preços de materiais muito superiores aos praticados no mercado, chegando a atingir 50 vezes esse mesmo valor”. E é isto que me preocupa, ou seja, independentemente do que é decidido em tribunal, o cidadão não quer ser explicado e esclarecido, bastando o candidato dizer que "outros fizeram bem pior". Surreal e muito preocupante.
Quero deixar uma última nota. Costa teve um resultado meramente razoável mas discordo da tua leitura dos se e se .... "a não ter havido a ruptura PSD/Carmona, António Costa teria sido francamente derrotado" até porque se não houvesse a ruptura PS/ Roseta também não conseguimos calcular como seriam distribuídos os votos. Eu, pessoalmente, não ia votar Costa - disse-o no blogue - mas esta(s) matemática(s) não são lineares.
Abraço,
Viva, Ricardo!
No essencial, tirando talvez um ou outro pormenor sem importância, estamos de acordo.
Deitados todos ao Tejo... ainda era pouco.
Concordo contigo que a soma dos votos de um e de outro não se sabe o que poderá dar, ao certo, se bem que, quanto a mim, não andaria muito longe do que afirmei. E o qu afirmei fi-lo com base na circunstância da divisão dos votos de Carmona e Negrão, sem tomar em conta a cisão PS-Roseta, em que PSD e Carmona não podiam interferir. E, nessa medida, é muito como eu digo, como bem sabes, meu amigo.
Abraço
Ruben
Nem uma palavra sobre Roseta! Parece mal! Aliás acho que deixa de fora um aspecto muito importante: a deriva da população eleitora em 2 sentidos - os independentes (não é só de agora, vejam-se os casos de Alegre e nas últimas autárquicas) e para a abstenção.
Tecnicamente, apenas 24% dos eleitores votaram nos partidos clássicos. O que quer dizer que 75% lhes fugiram para um lado ou outro.
E sociologicamente isto tem leitura. E políticamente permite muitas ilações.
Um abraço!
Viva, FM!
Tem razão. Não referi Roseta. Nem uma palavra.
Foi propositado.
E certo que tenho um certo "parti pris" relativamente a ela. Conheci-a em Setúbal, em 1980, quando ela era uma "grande" social-democrata, e, confesso, nunca fiquei fã. Muito pelo contrário.
É que nem tudo o que parece é...
Portanto, logo à partida houve esse contra, digamos assim. Não gosto, pois, de falar muito da senhora.
Por outro lado, estou na expectativa. É que, não fora a circunstância de Pinto de Sousa não lhe ter dado conversa, e estou certo de que a estas horas ainda estaria ligada ao PS, sem dúvidas e cheia de certezas.
Isto diz bem das convicções... E eu conheço-a.
Ora, não aceito que a política seja feita de birrinhas. Olhe, como no caso de Maria José Nogueira Pinto. Essa, então, é de "birretas". Mas dessa falei, porque não a conheço pessoalmente, enquanto que a Helena conheço e, há 27 anos que decidi não lhe ligar a mínima importância. Pode crer que tenho as minhas razões. E não falo das razões de outros, vindas da mesma ocasião.
Quanto à última questão que refere, estou de acordo consigo, mas prefiro esperar um pouco mais para ver. Se quer que lhe diga, agradou-me que assim tivesse acontecido. A malta acantonada nos partidos tem que levar uma lição. Duvido é que, em próximo acto eleitoral, a disposição se mantenha.
Tenho defendido - aqui e em outros lados - que só considero coerente uma atitude a tomar pelos eleitores: quem não se revê na actuação dos partidos políticos, por entender que a acção que estão a desenvolver é altamente lesiva dos interesses do país deve, pura e simplesmente, votar NULO em massa.
É que votar NULO significa que não se está alheio da política, que a situação política o preocupa, que não está numa posição de comodismo, muito pelo contrário, está interventivo e, finalmente, tudo pesado, "estes" políticos não interessam a ninguém.
O voto NULO é um voto interventivo, de afastamento, de repulsa enquanto que a ABSTENÇÃO é comodismo, falta de noção da cidadania e outras coisas pouco respeitáveis e nada recomendáveis, e o voto EM BRANCO um convite à trafulhice eleitoral, aliás, como a ABSTENÇÃO.
Abraço igual, amigo.
Ruben
espero que a tua ausência seja devida a férias ... e que esteja tudo bem...
beijinhos
Viva, Isabel amiga!
Não, não é devida a férias, que serão apenas na 2ª quinzena de Setembro, no Vietname e Camboja.
Está tudo bem, apenas um pouco mais ocupado com outros afazeres e também alguma falta de vontade de escrever seja o que for.
A política no País, desanima-me muito.
A propósito, viste o post do António Balbino Caldeira, em que fala da entrevista do Carlos Pinto, presidente da câmara municipal da Covilhã? E leste a entrevista, na Visão?
Enfim!
Mas, para não estar tão parado, vou meter hoje um post de pintura. Vai-te dedicado, muito embora o gosto (barroco ou outro) seja o meu, Ok?
Obrigado pelo cuidado, amiga.
Beijinho
Ruben
Amigo Ruben
Estou de acordo com o teu texto e com os comentários que li.
Ainda bem que estive de férias para poder ignorar as eleições intercalares para Lisboa. De facto as instituições políticas não representam, hoje, os cidadãos eleitores conscientes, mas também é verdade que esta "malta" se está nas tintas para os votos que não recebem e acham que tiveram resultados retumbantes pelo facto de alguém ter deitado, a pedido, alguns votos nas urnas.
Paz às suas almas...!
Um abraço
AAlves
Viva, Alves!
Pois claro que está nas tintas. Desde que sejam eleitos, nem que seja por meio voto, tudo bem. Eles apenas querem o tacho.
Esta eleição em Lisboa foi uma verdadeira desgraça...
E - para culminar!... - a história patética e pouco digna de terem brindado uma caterva imensa de velhotes com um passeiozito a Mafra e outras localidades, de molde a que chegassem, de regresso a Lisboa, à hora adequada, para os levar para a frene do Altis, de modo a engrossarem os eleitores "sastefêtos" com a vitória do Antoninho Costa.
A história tem sido muito comentada e glosada, mas acho-a de muito mau gosto e altamente preocupante. Além de autoritários, os tipos são capazes de coisas destas. Ora, quem é capaz disto, também o é de "chapeladas".
Isto está cada vez melhor, sem dúvida.
Abaço
Ruben
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