Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

segunda-feira, 21 de julho de 2008

1630. Vem aí a guerra!

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Esta é uma dura realidade de que muitos de nós não se apercebem, mas que não deixa de o ser. E fatal como o destino.


Não vai ser uma guerra igual a tantas outras, mais ou menos graves. Vai ser, sim, a guerra decisiva. A guerra inevitável. A guerra justa, certamente a guerra mais justa com que algum dia a Humanidade se viu confrontada.

Durante décadas sucessivas, enquanto as sociedades mais avançadas iam prosperando, assistia-se a um progressivo atraso das comunidades mais desfavorecidas, com o surgimento da extrema pobreza, em contraste com a abundância excessiva. E os homens, todos os homens, foram sistematicamente ignorando os sinais, alheando-se dos afloramentos vistos aqui e ali, um pouco por toda a parte. Principalmente os detentores dos vários poderes por esse mundo fora.

As coisas agravaram-se de forma decisiva, após a massiva descolonização verificada em África. Não quero, com esta observação, emitir juízos de valor, catalogar o post-colonialismo. Não é esse o propósito deste escrito. Mas já quero, isso sim e tão somente, deixar referência a uma verdade tão evidente que nem precisa que se a demonstre.

Efectivamente, enquanto as potências colonizadoras se mantiveram em África, a guerra mais desvastadora, mais cruel e a fome mais pungente foram sendo evitadas. Se bem que não vivendo, de um modo geral, ao nível das dos restantes continentes, as populações maioritárias de África lá se iam aguentando com um mínimo indispensável de recursos alimentares e de saúde.

Após a descolonização, porém, a situação africana em geral foi-se degradando cada vez mais e hoje é o que é e que todos os que não cerram os olhos para fugir à realidade conhecem.

Todo o continente esteve, alternada ou simultaneamente, em guerras fraticidas ou sofrendo de convulsões sociais muito graves, de há meio século para cá.

Da parte das nações e governos dos países mais desenvolvidos nunca houve uma resposta minimamente adequada a tentar minimizar os efeitos de tal descalabro. Muito pelo contrário, assistiu-se à instalação, e subsequente incremento, de uma nova forma de exploração do homem pelo homem, através de um neo-colonialismo feroz, sem dúvida muito mais agressivo e desumano do que o velho colonialismo que veio substituir. É que, enquanto o colonialismo, colhendo é certo os benefícios sabidos, permitia - até por força da sua sediação local - que as populações indígenas desfrutassem de uma parte do resultado da exploração dos recursos do continente levada a cabo pelas potências ocupantes, o novo colonialismo - cobarde, sem cara que o identifique - nada tem oferecido a África em troca da delapidação dos mesmos recursos. Apenas os novos senhores do continente, de um modo geral déspotas de uma dimensão antes julgada impossível de existir, a essa parcela imensa podem ter acesso, criando para si próprios e para as entourages que os suportam no Poder, fortunas imensas e de obscenidade sem medida.

Enquanto isso, os povos vão definhando, nas guerras, nas doenças, na fome mais aviltante que se pode conceber; enquanto isso, algumas acções, desenvolvidas aqui e ali, por entidades ou particulares de alma mais misericordiosa e posses mais notórias, por maior que seja a sua dimensão, nem sequer em meros lenitivos conseguem contituir-se.

Enquanto isso, e para vergonha, escândalo e revolta por parte de quem não tenha ainda perdido um mínimo da noção de solidariedade humana e de dignidade, os senhores deste mundo de merda em que vivemos, os representantes do G8, conseguem, nas suas indecentes caras de pau, banquetear-se opiparamente e de forma acintosa, como recentemente foi amplamente noticiado, no decurso de uma cimeira convocada precisamente para abordar o tema da fome no mundo. É o cúmulo da pouca vergonha, o ponto mais alto da desfaçatez, o zénite da filha-de-putice!

O ponto de viragem, porém, aproxima-se a passos largos. A situação é completamente insustentável e alguma coisa há que fazer. E sê-lo-á, quando menos se espere, numa curva da História.

Com ou sem Spartacus, os escravos vão revoltar-se e fazer justiça por suas mãos. Pode tardar mais ou menos. Não faltará, porém. E que se desiluda quem, hipócrita e abjectamente, entenda que o estado de fraqueza física e moral em que se encontram os impedirá de tomarem atitudes radicais. Supor tamanho dislate é erro grosseiro que mais tarde ou mais cedo, será pago por preço muito alto. O limite do desespero tudo consente. Mesmo a pouco conjecturável transformação das fraquezas em força, a busca de ânimo e de poder no estado de fraqueza mais evidente. Há no ser humano sempre, mesmo em situações extremas, uma reserva de fortaleza que consegue levar à sua frente, arrastada pela torrente do desespero, qualquer outra força deste mundo.

Sim, a guerra vem aí.

Não a guerra entre potências. Não a guerra entre ideologias. Não a guerra entre religiões. Não. A guerra que aí vem, irremediavelmente aí vem, é a pior de todas. A decisiva. A guerra de toda uma civilização que não soube adaptar-se com dignidade às circunstâncias. Será a guerra em que tudo será esclarecido de uma vez por todas. A guerra dos que nada têm, dos que sofrem as piores provações, daqueles a quem tudo é retirado e negado, inclusivamente a própria dignidade da sua condição de ente humano, contra os que tudo têm e nada dividem, os que oprimem sem remédio, os que aviltam o seu semelhante a um ponto que se torna completamente insuportável.

Sim, vem aí a guerra!

A quem não quer acreditar nos sinais espalhados um pouco por toda a parte, apenas uma sugestão: espere, de braços cruzados, nada fazendo no sentido de evitar a catástrofe que se avizinha..., que logo constatará a realidade. Por certo, pela via mais devastadora.
...

9 comentários:

H. Sousa disse...

Assino por baixo!

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Aplaudo o post e subscrevo.

[]

I.

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

O que para mim é uma honra, creia.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Faço minhas as palavras do orador antecedente.

[]

Ruben

Poesia Portuguesa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Poesia Portuguesa disse...

Deixaste-me com um nó na garganta...

"Já vimos
todas as imagens de Varsóvia
da Somália ou de Saigão.

Vimos
todos os gritos de terror
da criança a preto e branco
a branco e preto
a preto e sangue
a criança que ficou desmembrada na cratera da imagem
convocando para sempre
os navios da demência e da vergonha.

Já vimos
imagens de todas as guerras
em todos os cantos da geografia do pavor.

Mas o cheiro não vem nas imagens.
Digo o cheiro azedo.
O insuportável cheiro a medo e morte
o cheiro a carne a arder
o cheiro a ódio que desliza pelo metal bem oleado
e retalha a carne jovem
até dela só restar
dor e lama negra
negra lama e dor.

As imagens que já vimos
trazem o olhar vazado
e frente a elas
os poemas são inúteis.

Para lá da composição,
do papel, do grão,
no sítio do precipício
onde Munch enlouqueceu,
todas as palavras são crucificadas
e todos os nomes naufragam no vitríolo
e as pétalas da rosa
caminham estupefactas
para dentro da podridão."

(Poemas da "Linha da Frente" de José Fanha, Editora Ausência, Porto, 2003.)


Um excelente alerta que aqui deixaste... que embarga, comove... e apetece gritá-lo!

Beijinho

Ruvasa disse...

Viva, Poesia!

Os "incréus" que riam e zombem, porque o último a rir, será que melhor rirá.

Mas ninguém vai rir, amiga!

Beijinho para ti também.

Ruben

Jorge Pinheiro disse...

Só espero que nessa altura (já não falta muito) os países ricos já sejam a China e Índia. Safa!

Ruvasa disse...

Viva, Jorge!

E já será desejar muito. Certamente que não demasiado, mas muito.

Abraço

Ruben