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sábado, 28 de fevereiro de 2009

1997. Freeport - PJ e PGR desavindas

Freeport abre guerra entre a Polícia Judiciária e a Procuradoria

Direcção da PJ tem relatório com quase vinte páginas com todas as diligências realizadas

00h30m

CARLOS VARELA

O PGR tem dito com insistência que o processo "Freeport" só andou depois de chegar ao DCIAP. Os investigadores da Polícia Judiciária de Setúbal não gostaram e vieram dizer publicamente que isso "não corresponde à verdade".

A agitação e o incómodo tomaram conta dos investigadores ligados ao caso "Freeport" a partir do momento em que o procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro, começou a criticar a alegada morosidade nas investigações, que já duram há quatro anos.

O JN sabe que as palavras de Pinto Monteiro caíram mal na Judiciária, em particular em Setúbal, e procuradores do próprio Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), que no ano passado avocou o processo, retirando-o ao MP do Montijo, não receberam bem as palavras do PGR, uma vez que continuaram sempre a trabalhar no "Freeport" com a PJ de Setúbal, onde ainda ontem foi ouvido o arguido Charles Smith, durante praticamente todo o dia.

Três dos investigadores, através da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da PJ (ASFIC), vieram agora, em comunicado, esclarecer que "não corresponde à verdade (...) que o 'Processo Freeport' tenha estado parado durante três anos. Se assim fosse, como explicar que, em Junho de 2008 (altura em que o DCIAP avocou o caso), o processo tivesse 9 volumes e 230 apensos!".

Os três investigadores - cuja identidade não é divulgada publicamente por razões disciplinares - adiantam que o processo "já tinha estado por duas vezes" no DCIAP antes de este o ter o avocado e salientam que "é impossível concluir, por tão evidente, que se fizeram mais diligências nos últimos 15 dias do que em 4 anos", o que recai directamente numa expressão de Pinto Monteiro (ver caixa de citação).

Carlos Anjos, da ASFIC, confrontado pelo JN, contrapõe que o comunicado "não é virado para ninguém em particular, mas para todos aqueles que falaram sobre o assunto" e "destina-se a trazer a seneridade à investigação", embora admita que a questão dos atrasos foi despoletada pelo PGR.

O JN sabe, no entanto, que as acusações de atrasos na investigação foram levados em linha de conta pelo director da PJ, Almeida Rodrigues, que ordenou uma sindicância ao trabalho da equipa de investigadores de Setúbal. A sindicância está concluída e o relatório tem cerca de 20 páginas, pormenorizando todos os passos dados na investigação do "Freeport". Desconhece-se se Almeida Rodrigues já mostrou ou não o relatório a Pinto Monteiro, mas o documento existe no caso de serem pedidas responsabilidades.

António Cluny, do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, apelou, em declarações ao JN, "à contenção de todos os intervenientes" e que a estratégia da investigação não seja discutida na praça pública". Não foi possível obter um comentário da Procuradoria-Geral da República.

* * *

Mal, muito mal estão postas as coisas quando os três investigadores da PJ, que trabalham no caso Freeport, sentem a necessidade de, por interposta Associação Sindical, vir publicamente esclarecer que não é verdade que o processo de investigação tenha estado alguma vez parado, com o que desmentem frontalmente o próprio PGR, circunstância que vem acontecendo amiúde e em distintas ocasiões e por variados agentes, de há tempos para cá.

Como aconteceu já com Cândida Almeida, do DCIAP e até com partes do processo que foram sendo conhecidas e que vieram contrariar em absoluto anteriores afirmações do referido senhor.

Na verdade, mal, muito mal vão as coisas quando o Procurador Geral da República, o putativo garante-mor da legalidade democrática em Portugal, é, assim, sucessiva e quase quotidianamente desmentido em público, de modo frontal.

É caso para perguntar:

Por que ou por quem correrá o PGR? Ou quem assim o afronta? Ou ambos? Ou nenhum?

Que trapalhada! What a mess!

E, no meio destas singularidades de gravíssimo sinal, ninguém se demite nem é demitido!!! Tudo é permitido, tudo vale! Abençoado país!

E que dizer de alguém que, ao contrário deste senhor, devia falar, algo dizer no sentido de pôr cobro a tal desfile de nonsense e, a despeito de para tal dispor de toda a legitimidade e até ser seu dever fazê-lo, se queda mudo e quedo, como se vivesse, não já ali, portas meias com os pastéis, mas na Conchichina ou, sei lá, a sul da Patagónia, lá para os confins de las Tierras del fin del Mundo?

E os partidos políticos? Por que insondável desígnio, permanecem todos tão estranhamanente calados acerca da matéria, nela apenas tocando com as pontas de pinças do tamanho da légua da Póvoa?

Agora que teriam uma oportunidade - como nenhuma outra igual ou semelhante - para mostrarem que são diferentes, impolutos..., ficam-se nas covas, alinhando ombro a ombro, em escudo defensivo, todos misturados, todos um, sem identidade própria! Mesmo o PCP, o "campeão da honestidade", como gosta de se afirmar, acima de qualquer possibilidade de trafulhice, praticada ou consentida!!!

Nestas condições, quem pode valer ao Zé Povinho? Sim, ao Zé Povinho, já que o Zézito não precisa, pois que esse tem multidões prontas a dar a cara - e sabe-se lá mais o quê... - por si, embora não tenham a mínima noção do que terá, à rédea solta e a toda a brida, andado a fazer por aí?...

...

2 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Lembra-se como se dizia à época?


"Portugal não é um estado de direito. Portugal é um estado que já não se endireita."


Ontem como hoje o slogam continua actual!

Abraço

I.

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Eu cá diria mais:

- Não há o direito de haver um Estado neste estado!

Abraço

Ruben