Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 7 de março de 2009

2025. Afeganistão, 2009Março

Finalmente esta manhã comecei a compreender o que se passa no Afeganistão!

Como e porquê? Já vai ver a seguir.

Acordei tarde - cerca das 8,30 porque a noite passada deitara-me ainda mais tarde - fiz umas lavagens sumárias e dirigi-me à cozinha, como habitualmente faço, para tomar o pequeno almoço e o comprimido que ajuda a que a tensão não suba para valores desaconselhados, principalmente sempre que o nosso Amado e Nunca Por Demais Incensado Líder desata a berrar pelo hemiciclo fora e por tudo quanto é sítio neste país, como jovenzito a quem algum patifório, só para arreliar, tira o brinquedo preferido, escondendo-o por momentos. (O homem descontrola-se e descontrola-me os nervos e, como a minha hipertensão é emocional, está-se mesmo a ver, não?) Mas deixemos tristezas e voltemos à vaca fria, ou seja ao que se passa no Afeganistão com as tropas dos países da UE, neste caso com os franceses.

Pois bem, tendo ligado o televisor enquanto a fatia de pão torrava, assisti - já nem recordo se na TVI24 se na SIC Notícias, se na RTPN - a uma reportagem com as tropas de Sarkozy no Afeganistão. Só vos digo que foi aterrorizante!

Tratava-se de os repórteres acompanharem uma patrulha do contigente francês estacionado algures no Afeganistão a uma pequena aldeia perdida no meio do nada. Enquanto a coisa foi correndo ao sabor da reportagem, tudo bem. Patati... patatatá... muito patuá e sorrisos televisivos.


No caminho para a tal aldeiazeca de menos de seis tugúrios habitados passaram por outra aldeia, também ela "zeca".

Aqui, a caravana composta por três tanques calmeirões e uns trinta gars fortemente armados e com coletes à prova de bala dentro deles - pelo menos dez em cada - deteve-se por uns bons minutos em amena cavaqueira com uns quantos afegãos, estabelecendo-se o diálogo através de intérprete que os
franciús levavam e que até havia sido o causador do atraso de uma hora com que o destacamento se fizera ao caminho, pois que o homem nunca mais aparecia, obrigando os trinta mânfios, mais os três tanques, a secar à espera... (cá para mim, o homem demorou-se por estar a telefonar à família, a dizer onde ia e ao que ia e com quem ia... mas isso agora não interessa para nada...).

E então de que constou o peculiar diálogo? Pois bem, em saber quem eram os tropas mais amigáveis e quem eram os menos. Os mais, claro, eram os franceses, uma simpatia de rapazes que não faziam mal a ninguém e certamente menos ainda aos taliban; os menos eram, claro, os rufias dos americanos. Porquê? Porque... "conduzem depressa e andam sempre com a arma a tiracolo"! Ipsis verbis!

Depois desta tirada de génio, para sarkozies enfatuarem, a caravana prosseguiu. À chegada à aldeiazeca de destino, ouviram-se os estampidos de dois tiritos muito pífios.

Deviam ter visto, meus amigos! Aquela catrefada de gente armada até aos dentes saltou dos tanques a correr desalmadamente e a correr desalmadamente foi abrigar-se atrás dos felizmente muitos pedregulhos ali existentes. Nada mais se ouviu e nada se viu. Nem uma "agulha bulia na quieta melancolia" da paisagem circundante. Porém, nenhum franciú entendeu razoável "ir ver" quem espingardara. E, pelo sim e pelo não, não querendo, quiçá, perder o estatuto de boa rapaziada que não faz mal a ninguém, nem sequer aos
taliban, decidiram que o melhor a fazer seria retrocederem sobre as próprias pegadas e lagartadas (dos tanques, evidentemente...) e regressarem a penates.

Se bem o pensaram, melhor o fizeram e, uma vez chegados ao aconchego do quartel, os trinta heróis, mais os espingardões e todo o restante material, incluindo os coletes e não excluindo os tanques, solicitaram, para o dia seguinte, apoio aéreo dos helicópteros... isso mesmo,
amaricanos, adivinhou!...

No dia seguinte, lá seguiu a rapaziada toda novamente, agora com três helicópteros por cima. Ah, sim! E os repórteres televisivos ao lado. Para bem registarem as façanhas dos seus heróicos compatriotas.

Chegados à maledetta da aldeiazeca, vasculharam com zelo impressionante todas as casas e nada encontraram. Nem taliban nem arnas nem fosse o que fosse de agressivo. Desanimados, lá pediram ao intérprete que perguntasse aos civis como era, afinal. E foi então que todos - eles lá e nós cá - ficámos a saber que, no dia anterior - que por mero acaso havia sido aquele em que eles haviam estado ali a cerca de 200 metros - na aldeia estavam dois taliban, cada qual com sua espingardeca, e tinham sido eles que haviam disparado os dois tiros, tendo ficado muito sossegados da vida, à espera dos acontecimentos.

Como não tivesse havido acontecimentos, amuaram por não lhes ter sido dada qualquer importância e foram-se sem ao menos se despedirem. Parece que ainda houve quem lhes dissesse que não se fossem assim porque ia parecer má educação, pois que os franciús poderiam vir satisfazê-los no dia seguinte, mas... qual quê?! Rancorosos, como só taliban sabem ser, foram-se...

Deste modo, os ditos franciús duma cana regressaram uma vez mais ao quartel, com o que apanharam, ou seja, um telefone via satélite, sem pilhas, e cinco carregadores de telemóvel, sem préstimo, por não haver qualquer telemóvel nem hipótese de carregar fosse o que fosse por completa ausência de energia eléctrica, que ali jamais houvera. Levaram igualmente sete ou oito fios eléctricos, cada qual com 10cm de comprimento, que se destinariam a fazer ligações eléctricas a telefones e deles a explosivos, se tivessem sido encontrados os explosivos e se houvesse pilhas eléctricas para serem usadas.


Ah! Esqueci o essencial. Os franciús levaram isso, mas não só isso. Levaram consigo também, com grande pompa e circunstância, intacto e impante, o seu lema: "não fazer mal a ninguém nem sequer aos taliban".

A reportagem não contava nada mais, nem sequer o que acontecera aos "américas" dos helicópteros, mas não parece difícil de adivinhar que a essas horas estariam a gritar fucks e mais fucks e ainda mais fucks para aqueles europeus da treta que, uma vez mais provavam que não serviam para coisíssima nenhuma. Imagine-se que nem para chatearem ou, sequer, porem a correr, em fuga, qualquer taliba de meia tijela!...

Pois! Foi assim que comecei a perceber o que realmente está a acontecer no Afeganistão, onde os taliban estão a regressar em força. E o que está a acontecer é o mesmo que tem sucedido por todo o lado por onde os tropas europeus - excepção feita aos ingleses - têm andado, mesmo quando se trata do território europeu, que a eles compete defender em primeira mão, como foi o caso da Sérvia e da Bósnia...
...

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