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quarta-feira, 11 de março de 2009

2034. Caso do Envelope - Mentiras pagas

Foto CManhã
As novas acusações de Ana Salgado
poderão determinar a acusação de Pinto da Costa
e do advogado Pedro Alhinho
no crime de instigação de falsificação de testemunho.
O caso ainda está em inquérito


11 Março
2009 - 00h30

‘Caso do envelope’: Ana acusa dirigentes do FC Porto

Pinto da Costa paga "mentiras"

Ana Salgado foi paga para descredibilizar a irmã. Quem o garante é a própria, que ano e meio depois de ter sido ouvida no DIAP do Porto foi à Procuradoria-Geral da República dizer que foi Pinto da Costa quem lhe pagou para mentir e providenciou a entrega, nestes últimos dois anos, de uma verba mensal de cinco mil euros.

O depoimento foi prestado na madrugada de 4 de Março, em Lisboa, poucas horas depois do início do julgamento, tendo Ana recusado depor por falta de condições psicológicas. Já na PGR, Ana relatou que o líder dos azuis-e-brancos e outras pessoas ligadas ao clube lhe arranjaram dinheiro para que constituísse uma empresa, lhe alugaram uma casa onde podia viver com mais conforto e lhe pagaram uma mensalidade para que acusasse a irmã de mentir. 'No julgamento do sr. Pinto da Costa e do árbitro Augusto Duarte foi-lhe pedido que fosse dizer que a sua irmã estava acamada (...), o que não corresponde à verdade', pode ler-se no primeiro de dois depoimentos prestados pela testemunha.

Ontem, no Tribunal de Gaia, o procurador Augusto de Sá tentou que os depoimentos de Ana fossem juntos ao processo agora em julgamento. A juíza não aceitou, alegando que o testemunho era 'irrelevante' e que nada acrescentava ao caso, mas a questão será analisada pelo Tribunal da Relação. Poderá ordenar a repetição da diligência judicial.

Mesmo assim, a magistrada permitiu a audição de Paulo Lemos, que diz ter sido namorado de Carolina e que também nada sabia sobre o julgamento em causa.

As declarações de Ana Salgado foram proferidas na investigação a cargo do ex-vice-procurador geral da República – tinha sido aberto um inquérito na sequência das denúncias de Ana, no DIAP do Porto –e podem agora resultar numa acusação pública contra Pinto da Costa e o advogado Pedro Alhinho (que Ana garante ser uma das pessoas que lhe entregavam cinco mil euros por mês). Está em causa o crime de falsificação de testemunho na forma de instigação.

Ambos poderão também vir a responder nos processos interpostos pela procuradora-geral adjunta Maria José Morgado e pelo inspector da PJ Sérgio Bagulho.

A magistrada e o investigador da Judiciária queixaram-se de difamação contra Ana Salgado, já tendo sido deduzida acusação deste processo.

MP VIU DUAS VEZES REJEITADA A AUDIÇÃO DE TESTEMUNHA

Foi a primeira novidade do dia no Tribunal de Gaia. Tal como o CM já havia avançado, o procurador José Augusto de Sá requereu ouvir como testemunha Ana Salgado, pedindo, ao mesmo tempo, que fossem acrescentadas ao ‘caso do envelope’ todas as declarações que a irmã gémea de Carolina tinha prestado noutro processo.

Contudo, a vontade do Ministério Público não colheu receptividade da juíza Catarina de Almeida, que não viu 'relevância' em ouvir Ana Salgado. Ainda assim, o MP não iria desistir e, no início da parte da tarde, José Augusto de Sá, na posse dasdeclarações prestadas pela irmã de Carolina, voltou a efectuar o mesmo pedido. Recebeu, de novo, a mesma nega por parte da juíza.

'VIEIRA QUERIA ENCRIMINAR O FC PORTO'

Luís Filipe Vieira recebeu Carolina Salgado com 'beijos e abraços' em Lisboa quando a ex--companheira de Pinto da Costa ainda se encontrava a escrever o livro ‘Eu, Carolina’. A acusação foi feita ontem por Paulo Lemos, alegado ex-namorado da testemunha-chave do ‘Apito Dourado’, que não tem dúvidas do objectivo do presidente do Benfica: 'Queria incriminar o FC Porto.'

Segundo Lemos, ouvido ontem, o encontro sucedeu no restaurante de Babá, antiga companheira do empresário Jorge Baidek, com a presença de Leonor Pinhão. ' O presidente do Benfica perguntou a Carolina o que tinha para ele e quanto queria receber', disse o homem que admitiu ter incendiado os escritórios de Lourenço Pinto e tentado matar Fernando Póvoas. Tudo 'a mando de Carolina', disse.

ZANGA DE IRMÃS FOI POR DINHEIRO

As irmãs Salgado zangaram-se por causa do dinheiro para constituir a empresa. Ana e César precisavam de 50 mil euros para o investimento inicial mas Carolina foi adiando o apoio, exigindo documentos sobre o negócio. Carolina e Pinto da Costa estavam separados e o livro ‘Eu, Carolina’ já estava editado. As gémeas discutiram várias vezes. Carolina acabou por negaro financiamento do investimento. Um mês depois, Ana depôs no DIAP do Porto e acusou a irmã de ter roubado objectos da casa de Pinto da Costa, na Madalena.

SUSPEITAS

DESEMPREGADOS

Ana Salgado e o marido estavam ambos desempregados antes da criação da empresa Green Clima e do depoimento contra Carolina.

DÍVIDA AO BANCO FOI PAGA

O casal tinha uma dívida ao banco relativa à prestação do empréstimo da compra do apartamento de Vila Nova de Gaia. A dívida foi liquidada em 2007.

FAMÍLIA NUMEROSA

Ana e César têm a seu cargo o sustento de cinco filhos, três meninas do casal e dois rapazes do anterior casamento de César.

DECLARAÇÕES IRRITAM DEFESA

Os representantes dos três arguidos do ‘caso do envelope’ revelaram incómodo pela pretensão do Ministério Público de juntar ao processo as declarações de Ana Salgado à Procuradoria-Geral da República.

'A defesa de Augusto Duarte revela o seu repúdio pelo acto processual pretendido', assentou Marcelino Pires, advogado do árbitro de Braga, já após a segunda tentativa do procurador, novamente rejeitada pela juíza.

Já Gil Moreira dos Santos, advogado de Pinto da Costa que de manhã não tinha colocado qualquer problema em ouvir Ana Salgado, disse não compreender a insistência do MP em querer juntar os depoimentos ao processo. 'Não deixamos de exarar o veemente protesto pela violação das regras da probidade processual', atirou, ignorando que tinha sido ele próprio, numa primeira fase, a pedir que Ana fosse ouvida.

Os protestos da Defesa chegaram a tal ponto que o procurador José Augusto de Sá repreendeu os representantes dos arguidos por adjectivos como 'ínvio' dirigidos ao MP. 'Nunca qualificaria da mesma forma a actuação dos advogados', disse o procurador.

PAI DE ÁRBITRO À PORTA FECHADA

Azevedo Duarte, pai do réu Augusto Duarte, foi ontem ouvido à porta fechada. Tal como na véspera, em que permitiu ao árbitro de Braga justificar a visita a casa de Pinto da Costa com 'caso familiar', a juíza Catarina Almeida determinou que o testemunho do pai do arguido Augusto Duarte fosse também realizado com a sala vazia. Aquele confirmou a história do filho.

DEPOIMENTO INTEGRAL: ANA SALGADO CONTA TUDO À JUSTIÇA

'MANDAVAM TODOS OS MESES 5 MIL EUROS'

O julgamento do ‘envelope’ começou dia 3 (terça-feira), em Gaia. Ana encontrou-se cara a cara com Carolina, mas alegou não ter condições psicológicas para depor. No dia seguinte foi a Lisboa e, perante o ex-vice-procurador-geral, acusou Pinto da Costa de pagar a ‘mentira’.

AUTO DE INQUIRIÇÃO - 4 DE MARÇO

Ana Maria Ribeiro Salgado Curado declarou (...) querer retratar-se do seu depoimento [anterior].

Assim (...) declarou: que tem consciência das declarações que hoje decidiu prestar (...), começando por afirmar que mentiu nos seus depoimentos (...). Já há muito tempo que andava a pensar em vir contar toda a verdade no tocante a esta matéria. Só que o medo era maior que a sua vontade de dizer a verdade e por isso tardou sempre em fazê-lo. Hoje está aqui porque viu o que se passou no Tribunal de Vila Nova de Gaia e encheu-se então de coragem, pensando para consigo própria que não poderia pactuar mais com tudo o que se estava a passar à sua volta.

(...) Assim refere que em data que não pode precisar telefonou ao senhor dr. Lourenço Pinto para combinar o modo e o tempo em que lhe poderia entregar algumas coisas que julgava pertencerem ao sr. Pinto da Costa e que se encontravam, parte delas, na garagem da declarante. (...) Nessa conversa, a declarante começou por dizer (...) que tinha muita consideração por ele e que por essa razão é que lhe ligava e não ao proprietário das coisas que tinha na garagem. Recebeu de seguida um telefonema do sr. dr. Lourenço Pinto a fim de combinarem onde é que se haviam de encontrar, tendo ficado acordado que seria num hotel (...). Já no hotel, o dr. Lourenço Pinto disse--lhe que o sr. Pinto da Costa gostaria de falar consigo, referindo-lhe que ele, Pinto da Costa, não era o 'monstro que pintavam' e que até tinha muita consideração e respeito pela declarante. É evidente que, perante essa afirmação, a declarante, humana como é, fraquejou e aceitou conversar com o sr. Pinto da Costa e recebê-lo naquele mesmo hotel. O sr. Pinto da Costa apareceu passado pouco tempo (...). Decorridos alguns momentos, o sr. dr. Lourenço Pinto saiu e ficou a declarante sozinha com o sr. Pinto da Costa. Tiveram uma conversa diversificada, mas ele soube tocar--lhe nos pontos mais sensíveis da sua vida. Referiu-lhe nomeadamente que Carolina, sua irmã, a iria prejudicar e que, se precisasse no futuro de alguma ajuda, ele estava ali para ajudar em tudo o que fosse preciso, chamando-lhe inclusivamente a atenção para o facto de ter três filhos. A declarante não aceitou logo expressamente qualquer ajuda, tendo-lhe dito inclusivamente que ele não era seu pai (...). Voltaram a encontrar-se passado algum tempo (não sabe precisar quando) em Oliveira do Douro, junto a uma escola primária, na altura em que a declarante ia buscar as coisas pertencentes ao sr. Pinto da Costa. Este fazia-se acompanhar então pelo irmão do sr. Reinaldo Teles, o sr. Joaquim Pinheiro. Conversaram por pouco tempo, até porque a declarante sentiu na altura bastante receio, em virtude de ter visto dentro do carro onde foram colocados os pertences do sr. Pinto da Costa uma pistola e uma máquina fotográfica. Decorrido mais ou menos o mesmo tempo, encontrou-se então a sós com o sr. Pinto da Costa numa casa que ele possuía na cidade do Porto. Recorda-se que nessa altura, após uma conversa mais ou menos prolongada em que ele se mostrou sensível às dificuldades financeiras da declarante, lhe entregou um envelope com uma quantia em dinheiro que neste momento não sabe quantificar.

AUTO DE INQUIRIÇÃO - 6 DE MARÇO

Em continuação do seu depoimento prestado no dia 4 de Março e que neste momento confirma na íntegra, com excepção do seguinte pormenor: no tocante à quantia que o sr. Pinto da Costa lhe entregou no envelope (...) sabe agora, e depois de ter conversado com o seu marido, que a quantia era de 500 euros, que ele disse que era para as meninas. Mais disse que, e depois de lhe ser perguntado quando e onde voltou a encontrar­se com o sr. Pinto da Costa, se encontrou com ele num apartamento à beira do Parque da Cidade do Porto, recordando-se de que quem a levou a esse apartamento foi o sr. Luís Sampaio. Sendo-lhe perguntado quem é essa pessoa, informou que se trata de um proprietário de uma imobiliária do Porto, próximo e, segundo pensa, sócio de Pinto da Costa nessa imobiliária. Foi aliás este sr. Sampaio quem tratou de arranjar comprador para a casa onde viviam, em Vilar de Andorinho, e depois arranjar-lhes esta casa onde vivem há dois anos, que é arrendada.

Nesse encontro lembra-se de terem conversado acerca da criação da empresa Green Clima. O seu marido estava então desempregado, pois tinha-se despedido da firma onde trabalhava e tinham programado criar uma empresa. O sr. Pinto da Costa, então, disse--lhe que estava disposto a ajudá-los a criar a empresa e que contasse com ele para esse efeito. Depois de ter ouvido da boca do sr. Pinto da Costa que os considerava como se fossem de família, deu o seu número de telemóvel e disse também para aguardar algum tempo que o sr. Sampaio iria entrar em contacto consigo para lhe dar um telemóvel. Mais lhe disse que, sempre que quisesse falar com ele, deveria utilizar apenas o telemóvel que lhe iria ser fornecido. Ainda durante esse encontro, o sr. Pinto da Costa referiu-lhe que andassem com a criação da firma para a frente, que tratassem de tudo, que ele os ajudaria em tudo o que fosse necessário. Disse-lhe ainda que o telemóvel deveria servir apenas para ligar para ele, só para esse número e para mais ninguém. Ainda tem o telemóvel com ela e tem o seguinte número:(...). Por outro lado, a declarante ligava para o sr. Pinto da Costa e para o seguinte número:(...). Esclarece ainda que havia ainda um outro telemóvel com o número (...) para ligar exclusivamente ao sr. Sampaio para o número (...) e este também só lhes ligava para aquele número. A declarante tem também ainda consigo este telemóvel. Passado algum tempo resolveram então começar a tratar da criação da firma. Em tudo o que foi necessário para esse efeito foi o sr. dr. Pedro Alhinho que tratou do expediente. O dinheiro para os custos era entregue normalmente pelo referido sr. Sampaio. O capital social da empresa foi-lhes dado em dinheiro e a importância foi de 5000 euros. Além desta importância, todos os meses lhes enviavam, no início através do sr. Sampaio e depois através do sr. dr. Pedro Alhinho, à volta de 5000 euros. Esta importância vinha dentro de envelopes que lhes eram entregues em mão. Isto até ao mês passado. É evidente que a declarante, segundo as suas próprias palavras, teve desde o momento em que lhe entregou o primeiro envelope a noção de que mais tarde ou mais cedo algo lhe seria pedido em contrapartida de todas estas dádivas. E de facto assim veio a acontecer. Logo no primeiro depoimento que fez perante a sra. dra. Teresa Morais, houve coisas que disse que lhe foram pedidas pelo sr. Pinto da Costa. Também no que toca ao julgamento do sr. Pinto da Costa e do árbitro Augusto Duarte, foi-lhe pedido por aquele que fosse dizer que a sua irmã Carolina estava acamada e, por isso, impossibilitada de ter visto o que quer que fosse. Ora sabe a declarante que isso não corresponde à verdade porque não estava lá em casa do sr. Pinto da Costa quando isso ocorreu.

EMPRESA E VIVENDA

A Green Clima foi instalada no edifício Pargaia, em Vila Nova de Gaia. No pequeno espaço, apenas duas estantes, duas secretárias e um telefone. Ana e o marido, César Curado, passavam o dia no escritório com o computador portátil, mas nunca havia sinais de clientes. O casal tinha um potente jipe. Quando criou a empresa, Ana e a família moravam na casa arrendada em Vilar de Andorinho. Menos de um ano depois mudaram-se para uma vivenda geminada do Corredoura Park, empreendimento na freguesia de Novais, em Vila Nova de Famalicão. A casa situava-se paredes-meias com uma moradia que na altura estava arrendada pelo FC Porto.
CManhã

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