Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sexta-feira, 3 de julho de 2009

2409. Mia Couto e a reforma ortográfica

Antes da unificação da grafia da língua portuguesa nos países africanos que falam oficialmente o português, é preciso discutir questões do âmbito social e político.


Mia Couto, escritor moçambicano, no Rio de Janeiro, onde foi homenageado no decurso do Festival de Teatro da Língua Portuguesa.


O escritor entende que a reforma ortográfica não faz sentido.



* * *


Tenho vindo a insistir muito nesta questão, também.


Na verdade, que sentido faz proceder a uma reforma que apenas terá como resultado afastar a língua portuguesa da sua raiz, do seu sentido etimológico, aproximando-a, via Brasil, da construção frásica inglesa na sua vertente americana?


A raiz da língua portuguesa é predominantemente derivada do Latim, com afloramentos do Grego e do Árabe, e levá-la pelos caminhos que alguns pretendem é, para além do mais, desvirtuá-la sem necessidade e até sem respeito pelas suas origens, isto para não referir que é vulgarizá-la, dando-lhe um cunho de manifesta falta de conhecimento.


Por outro lado, talvez que os exemplos – que, noutras circunstâncias e, por via de regra, apenas por faltarem argumentos mais sólidos, estamos sempre a trazer à colação… – de outras línguas, igualmente sujeitas a pressões várias do linguajar quotidiano, mas cujos falantes entenderam não ser necessário reformar para que se entendam, devessem servir para alguma coisa mais concreta e realmente importante do que para simples foguetório improdutivo e a roçar a idiotia mais ingente.


É o caso da língua inglesa, com os ingleses de uma banda, os americanos de outra, os canadianos de outra, os australianos de outra e mais não sei quantos outros povos de outras ainda. E o caso do francês. E o caso do espanhol (melhor dito, castelhano). Algum destes inúmeros povos teve a peregrina ideia, o desplante de pretender, por estúpido e cretino decreto, alterar o que só a vontade popular, a força do costume está, desde que as sociedades humanas existem, autorizada a fazer? E entendem-se com mais dificuldade, por isso? E comerciam menos por essa razão?


Os argumentos para a reforma ortográfica da língua portuguesa são os característicos de mentes totalitárias, incapazes de compreender que qualquer língua é dinàmica, sim, mas apenas quando por si própria, naturalmente aceite pelos seus falantes, no quotidiano, jamais por decreto. Tal como as economias dirigidas nunca tiveram bom fim, a línguística dirigida está, logo á partida, condenada ao fracasso mais traumatizante. Merecido,aliás.


A alteração das características de uma língua, símbolo máximo da idiossincrasia de um povo não é decretável. Tentar fazê-lo é teima demencial que, como todas as aberrações, forçoso é que seja sujeita a intensivo tratamento de correcção, com fármacos poderosos que em definitivo erradiquem tal desvio comportamental.


2 comentários:

Teresa Diniz disse...

Completamente de acordo. Aliás, as diferenças só trazem um gostinho mais saboroso, não impedem a comunicação.

Ruvasa disse...

Viva, Teresa!

Confesso-me um tanto chauvinista, neste assunto.

É que me custa muito ter que me curvar ao Português do Brasil (porque a cedência é total), quando nós é que estamos dentro da razão e não deturpamos a línguia, por ignorância.

E tudo porquê? Só porque eles são 180 milhões e nós apenas 15? Mas com angolanos, moçambicanos e outros, devemos andar pelos 50 a 60 milhões, o que já não é tão "desprezível" assim. Nem os 15, quanto mais...

Tudo porque uma caterva de patetas se curvam a tudo o que vem do estrangeiro.

Se os nossos antepassados tivessem tido a mesma atitude, jamais teriamos saído de sob a para alienigena.

Abraço

Ruben