Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quinta-feira, 24 de março de 2011

2764. Não tenhamos ilusões

Não tenhamos ilusões.

Alguém de senso comum acredita que um governo português, seja ele de que cor política for e integre um, dois ou três partidos, por si só, tenha força política e anímica suficiente para dar fim a tantas situações a necessitar de corte radical?

Alguém de senso comum acredita que um governo português, por si só, tenha força política e anímica suficiente para, de repente, acabar com milhares de empresas públicas altamente deficitárias, absurdamente ruinosas, e institutos, fundações e outros organismos fantasmas, cuja finalidade consiste, única e simplesmente, em dar guarida a clientelas que têm que ser alimentadas custe o que custar?

Alguém de senso comum acredita que um governo português, por si só, tenha força política e anímica para, contrariando a vontade de confederações patronais e sindicatos, fazer aprovar e cumprir decisões que todos sabemos absolutamente indispensáveis à reformulação do País, porque sem elas jamais conseguiremos sair do atoleiro em que estamos?

Alguém de senso comum acredita que um governo português, por si só, tenha força política e anímica para actuar com firmeza nas áreas laboral e fiscal, e pôr no são a Justiça portuguesa?

Alguém de senso comum acredita que um governo português, por si só, tenha força política e anímica para cortar pela raiz tantos males que afligem a sociedade portuguesa e que estão nela alapados de tal forma que só com muito “sangue, suor e lágrimas” poderão ser extirpados?

É evidente que ninguém de senso comum acredita em tal. E quem disser que sim, que acredita, que é possível, ou mente ou é inconsciente.

Assim sendo, como efectivamente é, ninguém acredita que se veja, mesmo que muito ao longe, alguma possibilidade de as coisas se modificarem de forma substancial.

É certo que é um alívio termo-nos livrado – veremos até quando – da arrogância, despotismo, atropelos às leis e às regras sociais, autoritarismo, enfim, de Sócrates. Tal não basta, porém. É preciso ir mais fundo, muito mais fundo. Porque o mal já existia antes de Sócrates. Este apenas o agravou, levando-o aos limites do inconcebível.

E ir mais fundo, implica uma descomunal força política e anímica, que não se vislumbram, tanto no quadro estritamente político nacional, como na sociedade portuguesa em geral.

A única forma de se dar a volta necessária, indispensável à actual situação, é através de medidas muito duras e impopulares – embora mais justas do que as que o vilarista pretendia levar por diante – impostas com o respaldo do FMI. Só a força do FMI terá mesmo o poder de obrigar a que se actue correcta e integralmente.

Supor que se pode alcançar o objectivo necessário por outra forma, é não viver de olhos e ouvidos bem abertos para as realidades da vida, no Portugal actual.

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