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segunda-feira, 11 de abril de 2011

2774. O mad spin doctor Marcelo



O mad spin doctor Marcelo


S e seguiu a arenga dominical do comentadeiro-mor cá do burgo, Marcelo Rebelo de Sousa, espero que tenha compreendido a razão por que, de há anos para cá, digo que o homem tem de sair do PSD.

É que o que ele fez ontem foi, pura e simplesmente, campanha pelo PS.

Razões por que as pessoas devem estar com o vilarista, ou seja, de modo a que seja ele, vilarista, a prosseguir a gestão da ajuda externa, porque é ele que já lá está há anos e a negociará, em substância foi o que ele se empenhou em demonstrar.

Dito de outra forma, para melhor entendimento, a partir do tal princípio salutar de chamar os bois pelos nomes.

Cavaco Silva defendeu, sábado passado, em Budapeste, que o que deve ser, a partir de hoje, discutido com a Comissão Europeia, o BCE e o FMI, é um mero apoio intercalar, pelo que as autoridades europeias devem usar de alguma imaginação, para não criarem mais dificuldades do que aquelas com que o País se debate. Não disse Cavaco, mas digo eu, que, não atenderem a esta circunstância é pôr-se objectivamente do lado do prevaricador, ou seja, o actual governo que nos atirou para a situação em que a todo o transe tentamos não acabar mortos por afogamento.

Portanto, a proposta de Cavaco faz todo o sentido: para já, viria uma ajuda intercalar imediata, para evitar que o doente faleça antes da chegada da terapêutica completa e, subsequentemente, tratar-se-á da terapêutica geral. E, claro, que o que viesse agora, seria descontado nas remessas seguintes, de modo a que o total da ajuda fosse um único.

A resposta do finlandês Olli Rehn, Comissário Europeu para os Assuntos Económicos e Monetários da União é, no mínimo, de uma deselegância nunca vista, de uma arrogância de wise-guay, sem a mínima noção do que seja a convivência institucional inter-nações ou organizações internacionais, que não devem pautar-se por “peixeiradas” como a que ele teve o atrevimento de fazer.

Raramente ou quase nunca estou de acordo com Cavaco, mas, desta vez, não posso estar mais.

Na verdade, Portugal precisa urgentemente de uma injecção de fundos já no mês que vem, sem o que haverá rupturas de tesouraria em vários serviços, departamentos do Estado e empresas públicas, de tal modo que nem os ordenados poderão ser pagos. Esta a situação em que nos deixa o vilarista.

Portanto, não se pode esperar pela realização das eleições. Trata-se de uma medida de urgentíssima necessidade. Como do pão diário na boca.

Ora, para isto, pode – e deve – o acordo ser negociado por quem está em gestão. O actual governo, portanto.

Outra coisa bem diferente, é a negociação do acordo geral. Que deve ser feito pelo governo que o venha a gerir e pagar e não por um que está a prazo.

Dou um exemplo muito a propósito e perceptível para todos: o vergonhoso, anti-democrático e venal caso Freeport não teria acontecido se o então governo de Guterres, já demissionário e a dois dias de ser substituído por outro, entretanto eleito, não tivesse, à pressa, tomado decisões impróprias, inadequadas e até de âmbito criminal, como é sabido.

Como é que, pois, um governo de mera gestão, vai negociar o acordo geral, se poderá não ser ele – e provavelmente até nem qualquer dos seus integrantes, a começar pelo primeiro-ministro – a ter que o gerir? Seria uma perversão inadmissível que tal acontecesse. Ora, é isto precisamente que o vilarista pretende e foi para isto que apontou no congresso.

E pretende-o com dois objectivos essenciais, um de campanha e o outro mais fundo, de rancor, mesmo próprio dele:

O primeiro, coligir argumento para a campanha eleitoral. “Se fomos nós a negociar a ajuda, devemos ser nós a geri-la”. Nas circunstâncias presentes, consegue imaginar maior indignidade?

O segundo, o tal de rancor, assenta neste princípio básico, de gente que não presta, porque é o de quem não terá vencido as eleições de 5 de Junho, mas deixou já armadilha preparada: “Não tivemos os votos e vocês é que ganharam? Então, desenvencilhem-se lá de mais esta trapalhada que vos deixamos!

Ora, isto foi o que objectivamente, Marcelo Rebelo de Sousa se deu ontem ao trabalho de defender, sem o mínimo pudor, na sua comentarice semanal e festivaleira na TVI. Ou seja, o integral ponto de vista de Sócrates. Por isso pergunto: que está um homem destes, a fazer como militante do PSD?

Tenho escrito com frequência que Marcelo Rebelo de Sousa é um homem de uma inteligência brilhante. E muito rara. Para o bem e para o mal, há que acrescentar. E há algo que ele não tem estômago para aceitar. Que alguém consiga o que ele não conseguiu. Nada há que o descontrole tanto como isso.

Foi presidente do PSD e saiu sem glória, ele que a antecipara em sonhos que não dorme, pelo que tanto falha. Por isso está recorrentemente a lembrar a grande vitória do referendo ao aborto em 1998, único feito visível do seu consulado, para ele desconsolado!

De então para cá, não consegue sequer admitir que alguém triunfe onde ele falhou rotundamente. Doeu-lhe muito a vitória eleitoral de Barroso, em 2002, e, para que não voltasse a acontecer, toda guerra do Solnado que, na TVI, armou a Pedro Santana Lopes, na qual foi bem sucedido, por ter tido o auxílio de outros, como, a começar, Cavaco e, a terminar, o inefável José Pacheco Pereira, o filósofo de filosofias alheias da Marmeleira. Depois, com os presidentes social-democratas seguintes, não correu qualquer risco, pelo que se manteve sossegado. Mas com Pedro Passos Coelho a coisa já soa de outra forma. E aí o temos, qual “mad spin doctor”, em louco rodopio, contra o presidente do “seu” partido e a favor do afundador da III República.

Marcelo não serve mesmo. É uma raridade de inteligência, mas não serve. A ninguém. Nem a ele mesmo, porque se desacredita. Sem precisar de ajuda.

* * *

NB.- “Spin” (literalmente “rotação, rodopio”, v. p.ex. derviches rodopiantes turcos) é uma forma de propaganda, conseguida através de uma interpretação de um evento ou uma campanha para convencer a opinião pública a favor ou contra uma determinada organização ou pessoa pública.

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