Como apanhar um mentiroso em flagrante
“A frequência de um piscar de olhos normal e descontraído é de seis a oito piscadelas por minuto, sendo os olhos fechados durante um período de cerca de 1/10 de segundo. Pessoas sob pressão, por exemplo quando estão a mentir, apresentam uma grande probabilidade de aumentarem sensivelmente a sua frequência de piscadelas de olhos”
E sabe o porquê do aumento das piscadelas? Trata-se de uma reacção instintiva e inconsciente, na tentativa de evitar que alguém descubra, através dos olhos, a mentira que se está a dizer. Porque os olhos não mentem. Por muito que se queira, os olhos são verdadeiros. Dou-lhe um exemplo concreto. Se V. reparar nos olhos do seu interlocutor que está na sua frente a olhar para si que a íris se contrai, pode ter a certeza de que isso significa que você está a desagradar-lhe; se, pelo contrário, a íris de alargar, pode ficar descansado porque o efeito que causa nele é bom. E será tanto melhor quanto maior for o alargamento da íris.
O texto que acima deixo no primeiro parágrafo é uma pequena transcrição do capítulo 8, “Sinais dos olhos”, da tradução portuguesa do livro de Allan e Barbara Pease intitulado “Linguagem Corporal”, editado pela Bizâncio e que aconselho vivamente a que compre e tenha sempre à mão, porque lhe vai ser muito útil pela vida fora, na avaliação do que lhe está a ser transmitido pelo seu interlocutor ou da reacção que nele causa o que V. lhe diz. Eu já não dispenso a sua consulta, porque os ensinamentos ali colhidos me fizeram ver e compreender coisas que para mim sempre tinham sido um mistério.
Claro que a série televisiva “Lie to me” também ajuda um pouco a perceber a coisa. No entanto, como as situações são rápidas, não é possível apreender bem a coisa. O livro, porém, é precioso para profissional de relações humanas ou mesmo para simples curiosos.
Devo, porém, prevenir de algo que pode bem constituir um inconveniente. É que pode tornar-se uma obsessão e V. já não conseguir falar com alguém descontraidamente, sem tentar analisá-lo para saber se mente ou diz a verdade, se está confortável consigo ou intimidado, se V. lhe é agradável ou desagradável. É que é injusto para as pessoas das nossas relações e uma tirania para nós próprios. Se as nossas relações do dia-a-dia não passarem em crivo que pode ser muitíssimo apertado, conviver saudavelmente em sociedade pode facilmente tornar-se singularmente difícil.
Todos nós, uns mais do que outros, temos necessidade de mentir. Já nem falo das mentiras, mentiras, mas das mentiras sociais, até das mentiras piedosas, porque, admitamos ou não, elas ajudam-nos a conviver. Posto isto, imagine-se agora metido no papel de avaliador das reacções alheias, a analisar um amigo ou um familiar em conversa consigo e descobre que ele lhe mente, com frequência maior ou menor. Acha sinceramente que as suas relações não sofrerão fortíssimo abalo? Que podem chegar mesmo a um rompimento irreversível? E experimente imaginar a multiplicação desse fenómeno por todos os seus familiares ou todos os seus amigos. Está a ver, não?
* * *
Bem, mas não vim aqui escrever isto por causa dos seus familiares ou dos seus amigos, mas sim de José Sócrates, o conhecido vilarista.
Se não reparou em toda a sua postura durante o debate de há pouco com Paulo Portas, foi pena. Mas se não atentou em pormenor na sua postura durante a declaração final, então perdeu uma excelente ocasião de provar, com factos palpáveis, que a criatura estava a mentir com quantos dentes tem na boca.
Deixe-me que repita aqui um dos par+agrafos com que iniciei esta prosa:
“Pessoas sob pressão, por exemplo quando estão a mentir, apresentam uma grande probabilidade de aumentarem sensivelmente a sua frequência de piscadelas de olhos”
Ora muito bem. Quando mentem aumentam sensivelmente a frequência das piscadelas de olho, não é? E qual é o número de piscadelas em condições normais? Seis a oito por minuto, não é?
Pois José Sócrates, o tal vilarista, piscou muito mais do que isso sempre que intervinha no debate. E, durante a intervenção final, as piscadelas não andaram nunca abaixo de – ora sente-se para não cair de costas! – quatro piscadelas a cada 10 segundos, o que dá a média de 40 piscadelas por minuto!
Isto, para ficarmos apenas pelas piscadelas. Porque há outras formas, descritas no livro, de apanharmos um mentiroso compulsivo em plena actividade. E, pelo que tenho podido constatar, ele preenche todos os requisitos, por abundância.
Experimente estar atento ao próximo debate e faça o exercício. Garanto-lhe que vai ficar fascinado.
Em resumo: a melhor forma de o destronarmos de forma permanente e por números concludentes é dar aos portugueses em geral um curso de linguagem corporal.
Estavas lixado, ó vilarista!
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4 comentários:
Amigo Ruvasa!!
Descobri, finalmente, por onde andas. O teu blog está fantástico. Mais tarde lerei com mais atenção.
Um abraço
Viva, Fernanda!
Há quanto tempo!
Tudo bem contigo?
Aqui o blog tem estado mais ou menos a andar... parado.
Vou ver o teu.
Um abraço blogamigo
Ruben
Olá caro amigo. É um prazer ver o seu cantinho renovado, no bom sentido, claro. Gosto especialmente do destaque, é deveras elucidativo! Quanto ao texto, além de interessante também é didáctico, pois muita gente desconhece essa especificidade, mas no caso do indivíduo em questão, nem isso é necessário para provar as "qualidades" que refere. Um abraço renovado no tempo. Amigo, tudo de bom para si.
Viva, Eduardo!
É sempre um prazer tê-lo por cá. Mesmo quando o blog quase não mexe.
Quanto ao nosso "amigo", felizmente é já chão que deu uvas, mas que esperemos jamais as volte a dar.
Abraço para si
Ruben
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