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quarta-feira, 25 de abril de 2012

2941. As efemérides e seus donos


AS EFEMÉRIDES E SEUS DONOS

Há feriados que, embora não festejados com pompa e circunstância, não são alvo de manipulação, sendo, por isso, consensuais e outros que estão nos antípodas dessa consensualidade e, portanto, da dignidade indispensável a tais datas.

Os casos mais evidentes de uns e outros são os feriados de 25 de Abril, de 10 de Junho, de 5 de Outubro e de 1 de Dezembro.

Claro que há grandes diferenças entre uns e outros, datas relevantes da nossa História.

O de 10 de Junho, por exemplo, comemora nem se sabe bem o quê, uma vez que o primeiro e determinante acontecimento que levou à nossa identidade nacional foi a batalha de São Mamede, travada em 24 de Junho de 1128, devendo ser essa, pois, a da comemoração da Fundação de Portugal. A de 10 de Junho em nada é para o assunto chamada.

Com ela comemoramos o quê? O facto de o País ter ficado sem o seu Poeta maior, já que teria morrido precisamente nesse dia e essa a razão por que uma alma cretina se lembrou de que deveríamos comemorar o dia da Nação nessa data? Se há datas idiotas nos nossos festejos nacionais, esta é, sem dúvida a maior de todas.

E causa funda estupefacção que os revolucionários de Abril – ou alguns dos seus aviltadores – tenham deitado abaixo tudo e mais alguma coisa que lembrasse o Estado Novo e não o tenham feito relativamente, como se impunha, a uma data que não passa de uma verdadeira treta e a ninguém diz nada, excepto a uma cabecinha tonta do Estado Novo, como já referi.

Afastado o 10 de Junho, por falta de cabimento, restam as três outras, 25 de Abril, 5 de Outubro e 1 de Dezembro.

O 25 de Abril há-de vir a ter a dignidade de um 5 de Outubro. E merece-a. Ainda a não tem, contudo. E por que razão a não tem e apenas a virá a ter? E quando a virá a ter?

Pois bem, não a tem, porque aquela data, que era suposto ser de todos os Portugueses, parece cada vez mais de apenas alguns, que a têm apequenado, por se reclamarem seus donos, coutada sua.

Uma data festiva, que devia ser de alegria geral, torna-se, por isso, divisor comum, contrariamente ao que se impunha que fosse, ou seja, comum, sim, mais denominador.

Quanto ao momento em que poderá passar a ser uma data consensualizada e aceite, real e sinceramente festejada por todos, não estou em condições de precisar a data em que acontecerá. Mas, de uma coisa tenho a certeza: não acontecerá antes de que se vão todos aqueles que hoje têm a lata de se reclamar seus donos. E outra coisa estou em condições de garantir. Pode levar mais ou menos tempo, mas vai acontecer. Felizmente.

Nessa altura, sim, o 25 de Abril, chegará ao patamar do panteão onde se encontram o 5 de Outubro e o 1º de Dezembro. Por enquanto, infelizmente, não. Os “pais da pátria… deles” não deixam que tal aconteça. Em desespero de causa, não deixam!...

Portanto, enquanto o feriado de 10 de Junho pouco ou nada diz a quem não foi alienado pela propaganda do Estado Novo e não é ignorante ou descuidado como os próceres abrilentos, as outras três datas são representativas de momentos da História de Portugal que merecem ser recordados. Mesmo sem esquecer que o 1º de Dezembro tem um lugar verdadeiramente à parte na História Portuguesa.

Porquê? É que, enquanto o 25 de Abril comemora a reinstauração da Democracia em Portugal e o 5 de Outubro a implantação da República, conceitos e valores de uma enorme dignidade a que todos devemos homenagem, o 1º de Dezembro celebra a restauração da independência do País, isto é, subtrai-nos ao jugo do estrangeiro. E muito embora todos se revistam de enorme dignidade, não são, ainda assim, comparáveis.

E, precisamente agora, que tanta alminha ignara por aí se indigna por alguma perda da independência, no seio de uma organização em que todos os membros a perdem em prol do bem comum que se prossegue, causa verdadeira surpresa que a reconquista da independência, sacada a ferros das mãos do agressor estrangeiro, em 1 de Dezembro de 1640, seja levada em tão pouca conta.

Uma última nota de esclarecimento necessário: não fui, não sou e presumo que jamais virei a ser monárquico.

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