Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 25 de agosto de 2012

2964. Intoxicação da opinião pública?

Todos sabemos – estamos cansados de saber, aliás – que a RTP tem dado, de há pelo menos 20 anos para cá, prejuízos de raiz ciclópica, sem que a sua programação mostre sinais evidentes de que o serviço público que deverá prestar, em obediência constitucional, é realmente relevante ou minimamente se contém nas balizas que lhe deram forma.

Muito pelo contrário, a RTP, designadamente o Canal 1, tem-se limitado a seguir os passos eminentemente comerciais de SIC e TVI, na maior parte dos casos com gastos muito mais avultados e resultados muitíssimo piores. Mesmo no famigerado serviço público em que as outras duas frequentemente a ultrapassam de largo.

Para além do que fica dito, em termos de pessoal a RTP tem-se revelado, aos olhos da opinião pública, um “mare magnum” onde tudo cabe, inclusivamente na concepção e divulgação de programas de lamentável nível cultural e social que me abstenho de nomear para não ser acusado de destruição de reputações, mas que, na verdade, nem precisam de ser nomeados, tal a falta de um mínimo de substrato e decência cultural, bem do conhecimento da generalidade dos portugueses menos alienados.

Pois bem, após a entrevista televisiva de António Borges, em que se aventou – meramente se aventou – como uma das possíveis soluções para o ruinoso, lamentável e escandaloso (sob todos os pontos de vista que se queira apreciar) caso da RTP, logo um coro imenso dos “habitués” se levantou.

Claro que era de esperar. Ninguém gosta de perder prebendas, sinecuras ou conezias assim do pé para a mão…

O que talvez – seguramente mesmo – ninguém ou muito poucos esperariam era que, da noite de 5ª feira para a de 6ª, portanto num máximo de 24 horas, qual milagre que actualmente já nem a Senhora de Fátima consegue realizar, os brutais prejuízos anuais da RTP – sem a devida justificação em termos de serviço público e alguns casos igualmente sem a muito merecida punição pela sua falta ou completa deturpação – resultassem em avultadíssimos ganhos e saldos positivos, apresentados em gráficos, de “barras, queijos,e linhas”, muito coloridos para mais atractivos, “acompanhados” do habitual cortejo de individualidades, “generalistas de tudo e especialistas de nada”, tonitruando definitivas sentenças, de alguidar e avental de xadrez, sobre o assunto, todas elas muito mais sábias, embora partejadas em 24 horas, do que as conclusões governamentais provenientes de estudo intensivo de cerca de um ano.

Bichana-me aqui ao ouvido o vizinho do lado – tipo sempre muito desconfiado e matreiro – que tudo não passa da habitual intoxicação da opinião pública, na tentativa de que os idiotas úteis de serviço e mais uns quantos inúteis de plantão ajudem a salvar o que salvo não merece ser, por dezenas de anos de incompetência, desvario e, em muitos casos certamente, de verdadeiros actos do foro criminal.

Não sei se o raio do vizinho terá razão ou não, pelo que me abstenho de aplaudir ou contestar. Por agora, fico-me nas minhas tamanquinhas, à espera de Godot, ou melhor, à espera de novos desenvolvimentos, que me esclareçam ou confirmem o que no íntimo penso mas a que agora não quero dar publicidade.

Será que me faço entender ou continuo canhestro?…

25 Agosto 2012

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