Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

804. Vêm aí os chineses… (3) – A geração Ikea

Prossegue Rampini:

A minha tradutora Zhang Yin passa lá (nos armazéns Ikea de Pequim) todos os fins de semana, com o marido, para decorarem a nova casa. A agente mobiliária Liliana Xu compra lá tudo, até mesmo as toalhas das mãos. Zhimin Ma, funcionária duma multinacional farmacêutica, gastou num armário o equivalente ao que o pai ganha em dois meses. É a geração Ikea de Pequim. Os membros da classe média (nota: mais de 200 milhões – Os USA têm 260 milhões de habitantes...), na faixa dos 30 anos de idade, decoram as respectivas casas apenas ao estilo informal mas sofisticado sueco, de design jovem, madeiras claras e linhas ultramodernas.


(…)
Dado o sucesso, os suecos inauguraram um segundo hipermercado do móvel na capital e possuem outros quatro em Xangai, Shenzhen, Guangzhou (Cantão) e mais dez em construção por toda a China.


(…)
A geração dos pais e das mães que viveram a revolução cultural dos anos 70 – os estudos interrompidos, o trabalho nos campos – ou as esperanças políticas dos anos 80 desfeitas na Praça Tian’anmem consola-se hoje em dia com a prosperidade destes filhos. Zhimin, com duas licenciaturas e fluência em três línguas, trabalha na empresa farmacêutica italiana Bracco e aufere um salário oito vezes superior ao do pai (nota: professor de liceu, residente a 4 horas de Pequim e com um salário mensal de 150€): é o bilhete de entrada no novo mundo do Ikea, das idas às compras aos supermercados Carrefour, Matro, Wal-Mart; dos restaurantes de comida rápida Pizza Hut, KFC, dos cafés Starbucks, dos automóveis Volkswagen (nota: o modelo mais baixo é o Passat) e Buick.

Todavia, mesmo em Pequim, este novo mundo não se encontra ao alcance de todos. O rendimento médio na capital, revelam as estatísticas oficiais, é de precisamente 2500 iuanes (250€) por mês.

(…)
Mas a média estatístuica não passa de uma abstracção, num país que, numa questão de meia dúzia de anos abriu no seu interior desigualdades mais profundas que as existentes na Índia.
(...)

Cabe agora aqui referir que, paredes meias com este trem de vida há em Pequim outro. Aquele que se serve do célebre comércio tipicamente chinês, aos preços chineses habituais. Mesmo o próprio Ikea criou uma secção de objectos ao preço único de 1€, para aqueles que não dispõem do poder de compra acima descrito. Também eles são contemplados e neles se está a incutir o espírito consumista, com vista ao futuro.

Onde antes existia apenas uma classe, a dos chineses comuns, todos por igual, de onde apenas se destacavam os dirigentes políticos, notam-se, agora claramente, três estratos sociais, a saber:


* as grandes fortunas, os multimilionários;
* a classe média – a tal que não existia e tem agora salários da ordem dos 250€ mensais;
* os chineses tradicionais, com os rendimentos abaixo deste nível.

O que não se encontra, nem na China do Norte (Pequim, Xi’an), nem na do Centro (Shanghai), nem na do Sul (Guilin) – é qualquer sinal de miséria como se topa por todo o lado na Índia, no Nepal, no México…


E não se encontra igualmente, o mínimo sinal de restrição de acesso seja a que local for. Impressionante!

Voltarei.

13 comentários:

Anónimo disse...

«a classe média (nota: mais de 200 milhões – Os USA têm 260 milhões de habitantes...), na faixa dos 30 anos de idade»

...Fantástico!!


Mas mais abaixo dizes:

«a classe média – a tal que não existia e tem agora salários da ordem dos 250€ mensais»

Como é que com 250 euros compram no Ikea tudo??...


Beijinho

Ruvasa disse...

Viva, Maria João!

A tua pergunta parte de um pressuposto que não é aplicável.

Os preços lá não são os de cá. Nem parecidos.

A média de vencimentos em Pequim anda pelos 2500 yuan (250€) mensais.

Com a continuação das transcrições vais perceber melhor.

Beijinho

Ruben

Anónimo disse...

pois...qd acabei de escrever pensei logo nisso.

Então ganhar 250 euros lá,
é o mesmo que aqui ganhar
2 a 3 mil euros, mais ou menos?
ou é mais?

Outro beijinho

Anónimo disse...

Atão?...apagaste tua resposta?

;-)

Anónimo disse...

...decididamente,
deixaste-me aqui
'pendurada' hein?

;-)

Ruvasa disse...

Não, não é bem assim. É menos. Também não podia ser, não é?

Quanto à tua "real" pergunta, quem vai ao Ikea, não é a classe média, a malta dos 250€.

São os outros, os que ganham mais, a nova classe emergente, a trabalhar nas multinacionais e a auferir 5.000 yuan (500€) e mais, por mês.

Isto, muito embora a própria Ikea, para atrair para o consumismo, tenha aberto secções (loja dos 300...) com produtos a 1€.

Beijinho

Ruben

Ruvasa disse...

Sim, apaguei porque não estava correcta. Desculpa.

Beijinho

Ruben

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

A Sulista trouxe-me a este post... deve querer saber a minha opinião. :)

Não conheço a China (ainda) mas vivo em Portugal e faço compras nas lojas IKEA.

Cá no burgo, os que vivem com o salário minimo nacional tb vão à IKEA. Não sei se compram 'tudo'... se vão comprando... se compram e usam o crédito (a não sei quantos meses sem juros).

A IKEA, não vende móveis para durarem uma vida mas vende bom 'design' e com isso contraria a tendência nacional de que tudo o que não é caro tem quer ser FEIO, pouco prático, e obsoleto.

Também não conheço a relação salário/preço dos artigos Ikea na China mas estive na Russia em 2000 e o ordenado do uma Professora Universitária - de cerca de 40 anos de idade - era de, na moeda actual, 4o euros.

A dita professora, uma das guias do circuito, aceitou trabalhar todo o verão apenas pela alimentação e gratificações.

Nos 2.000 kms da viagem em solo russo não vi lojas com artigos compatíveis com tal ordenado. Perguntei se fabricavam móveis, dada a quantidade de bosques de bétula, e foi-me dito que eram importados da Rep Checa mas que as listas de espera chegavam a ultrapassar dois anos.

Não sei se - entretanto - a IKEA já chegou à Rússia.

Abraço aos dois.

Anónimo disse...

Ahhhh...quem vai ao Ikea, não é a classe média, a malta dos 250€.

Atão, não são os tais 250 milhões (mais que os americanos tds juntos) que compram no IKea...que pena :-/

Essa «nova classe emergente»
então são poucos...não contam, a comparar com os milhões dos outros chineses...

Outro Beijinho Grande ;-)

Anónimo disse...

Bem visto Isabel...

Bjs tb pa ti ;-)

Ruvasa disse...

Explico-me mal ou tu entendes-me mal?

O salário médio em Pequim são 250€. Como o próprio nome indica, médio é médio. Há para cima e há para baixo.

A classe média, que aufere para cima de 250€ mensais, é superior a 200 milhões, ou seja uns milhões a menos que a população total dos USA.

É, quando se entra na questão dos biliões, as pessoas perdem a noção.

A classe média inicia-se nos 250€ mensais e vai por aí acima.

Só indo lá ver ou lendo os relatos de quem lá vive e é ocidental, como o Federico Rampini. Aceito o que ele diz, porque foi o que vi, na verdade.

Aliás, se olhaste com atenção para as fotos que tenho publicado, logo terás notado que os tipos vestem bem, bem melhor do que a maioria de nós.

Beijinho

Ruben

Anónimo disse...

Ah! agora explicaste bem ;-)
Estava um poucoconfuso sabes, é que eu ná fui lá e os gaijos são biliões! É muita amarelinho ;-)

beijinho

Ruvasa disse...

Viva, Isabel Magalhães!

Ainda não fui à Rússia. Tive viagem mais ou menos marcada já algumas vezes, mas não aconteceu.

Isto para dizer que não posso falar muito sobre o assunto.

Apenas poderei fazer notar que será talvez difícil "equilibrar" ambas, Rússia e China. E por um motivo simples: é que a China está em pleno boom, que teve início, timorato ainda, em 1976, com a morte de Mao, convulsões na década de 80, mas que acelerou imenso nos últimos 5 a 6 anos, enquanto que a Rússia está em plena queda a pique.

Talvez este exemplo concreto seja elucidativo:

A Isabel apontou como ordenado mensal de uma professora universitária russa, uns simples 40€;

Federico Rampini aponta 150€ como o salário mensal de um professor liceal, vivendo a 4 horas de Pequim, portanto em pleno campo (os salários e preços em Pequim são de outra ordem...)

Abraço

Ruben