在这里,我再度是
(Aqui me tem de novo)
A descrição de Federico Rampini deixa-nos, mesmo àqueles que foram prestando alguma atenção ao despertar chinês, verdadeiramente perplexos. Lendo agora isto e rememorando o que in loco foi visto recentemente, não canso de me confessar estupefacto e... expectante!
Rampini, novamente:
(…) A 7 de Dezembro de 2004, a IBM, a multinacional norte-americana que, mais que qualquer outra, associamos à informática, vendeu, por 1,75 mil milhões de dólares, toda a sua actividade no sector dos computadores pessoais a uma empresa estatal chinesa, a Lenovo. Um dos símbolos do capitalismo americano e da tecnologia passa de facto a estar sob o controlo do partido comunista de Pequim. É uma viragem que teria sido impensável ainda há poucos anos. Vem confirmar a ascensão económica chinesa e as transformações nos equilíbrios de forças da economia global. É uma época que chega ao fim. A IBM, de acordo com uma sondagem da Business Week, é a terceira empresa americana mais conhecida no mundo inteiro depois da Coca-Cola e da McDonald's. (…) Ainda que não tenha sido a IBM a inventar o computador pessoal, foi esta a impô-lo nos mercados mundiais como um produto de massas, inaugurando a era da informática difundida a partir de 1981.
A empresa de Pequim que conquistou a IBM - e cuja designação original era Legend - é já hoje em dia o primeiro produtor de computadores na China e em toda a área do Pacífico asiático. o grupo chinês saltou para o terceiro posto mundial, atrás das norte-americanas Dell e Hewlett-Packard-Compaq. O presidente da Lenovo, Yang Yuangqing, declara: «Nós não vamos ficar por aqui, não nos contentaremos com o terceiro lugar.»
Numa primeira análise, a operação representa até uma espécie de deslocalização às avessas. Estamos habituados a que as multinacionais dos países ricos, para reduzir os custos, descentrem a actividade e os postos de trabalho para a China. Desta feita, a multinacional chinesa assume a seu cargo 10 000 funcionários da IBM, dos quais 4000 trabalham já em instalações chinesas, enquanto 2500 se encontram em território dos Estados Unidos, e os restantes, espalhados pelo resto do mundo. O emprego daqueles 2500 norte-americanos depende agora das decisões tomadas por Pequim. É possível que um dia a empresa dirigida pelo partido comunista tenha de anunciar despedimentos e negociar no papel de patrão com os sindicatos da América capitalista.
(…) Um outro sinal dos tempos é visível na ausência de resistência na América. Nos anos 80, quando o Japão estava forte e as suas multinacionais invadiam os Estados Unidos através da compra da Columbina e do Rockfeller Center, difundiu-se a psicose do «perigo amarelo». E, no entanto, o Japão, por muito competitivo que fosse então no plano industrial, do ponto de vista político, era um estado-vassalo, que contava com a frota militar dos Estados Unidos nos seus portos. A China não é certamente um satélite, pelo contrário, a administração Bush considera-a um rival estratégico. Por que motivo o governo dos EUA não procurou impedir a operação?
Antes de mais, porque a entrada da China na competição mundial transformou os computadores num objecto de uso quotidiano, produzidos em larga escala e cujas margens de lucro são arriscadas: como tal, a lógica económica incita a indústria americana a evitá-los. Para além disso, as regras da OMC dificultariam um veto político e a China poderia retaliar contra as multinacionais norte-americanas que investem no seu território, desde a Microsoft à General Motors. Por fim, a China possui um formidável poder contratual em relação a Washington: no final de 2004, o seu Banco Central acumulou 600 mil milhões de dólares de reservas monetárias, dos quais 200 mil milhões em Títulos do Tesouro dos EUA. Pequim é o banqueiro dos Estados Unidos.
Para além da neutralidade de Bush, surpreende a ausência de reacções negativas por parte da opinião pública norte-americana. Não se registaram sinais de alarme nem no mundo político, nem no sindical. No dia seguinte ao anúncio, entre os meios de comunicação social destaca-se um The New York Times muito positivo que traz como título «Uma ponte entre duas culturas», sublinhando, em tom satisfeito, que a Lenovo se prepara para transferir o quartel-general dos seus computadores pessoais para Nova Iorque (embora continue a manter as suas sedes estratégicas de Pequim e Hong Kong), e cita um economista que considera a operação «um sinal encorajador da criação de laços cada vez mais fortes entre a China e os EUA».
(…) A história da Legend-Lenovo, e a personalidade dos seus dirigentes, ilustra a estrepitosa transformação ocorrida na China.
(…) Todavia, uma vez abertas as fronteiras, a Legend suporta magnificamente o choque da concorrência. Escolhe o slogan: «It's cheap, it works, and it's Chinese» (é barato, funciona e é chinês).
(…) Actualmente a Legend detém o primado absoluto, com 28 por cento dos computadores vendidos na China. Dell, IBM e HP não chegam, todas juntas, a metade das suas vendas.
(…) Uma outra consequência surpreendente deste acontecimento é que a dirigente mais poderosa do grupo Lenovo é uma mulher de cinquenta anos, Ma Xuezheng, directora financeira, responsável pela cotização na Bolsa de Hong Kong e das relações com os investidores estrangeiros. A sua biografia é um exemplo da atribulada história chinesa. Em 1976 - o ano da morte de Mao e o momento em que é assinalado o fim da Revolução Cultural – Ma Xuezheng consegue obter a licenciatura na Escola Normal de Pequim apesar da crise do sistema universitário provocada pelas campanhas dos Guardas Vermelhos contra a «cultura burguesa».
Durante aqueles anos de isolamento para a China, vai para Inglaterra estudar a língua e a literatura inglesas. Regressada à pátria, entra na prestigiada Academia das Ciências Sociais e torna-se intérprete dos dois líderes políticos fundamentais na história das últimas décadas: Deng Xiaoping e Hu Yaobang. O primeiro é o homem das reformas, que abre a China à economia de mercado. O segundo, secretário do partido entre 1980 e 1987, possui ideias tão democráticas que simpatiza com os primeiros movimentos de contestação estudantil; em 1987, é obrigado a demitir-se e quando morre, em 1989, o seu funeral é a faísca que faz explodir o movimento da praça Tien’anmen. O trágico 1989 é o ano em que Ma faz a mesma escolha que muitos jovens da sua idade: abandona o mundo da política e dedica-se aos negócios. Ma e a sua geração estão a atingir metas que teriam deixado estarrecido até mesmo um visionário como Deng: agora os gestores e os engenheiros da IBM recebem ordens da sua antiga intérprete.
(…) Um mês decorrido sobre a operação Lenovo na América, é a vez de o magnata Li Ka-shing de Hong Kong causar furor em Paris: compra a Marionnaud, a maior cadeia de perfumarias da Europa, com 500 lojas em França e outras centenas de pontos de venda espalhados pela Itália e a Espanha, a Suíça e a Áustria.
(…) o governo de Pequim encara-o (a Li Ka-shing) com benevolência, e esta China capaz de comprar empresas desperta a imaginação dos franceses. A operação Marionnaud acabou por ir parar à primeira página do diário francês Le Monde, até porque o preço causou celeuma: quase mil milhões de euros. Um preço excessivo, no parecer de muitos especialistas. A confirmação de que, para os grandes grupos chineses, os recursos financeiros não constituem um obstáculo.
A indústria francesa, habituada como a italiana a lamentar-se da concorrência desleal do «made in China», vê-se obrigada a rever os seus preconceitos: a China já não se contenta em ser a fábrica do planeta, o exportador de bens de baixo valor acrescentado. Chegou a hora das multinacionais chinesas. (…) Aos franceses que inventaram os «campeões nacionais» - grandes empresas a serem mantidas com recursos estatais, porque determinam a competição global - causa uma certa impressão vê-las tornar a surgir em Pequim. O senhor Li Dong-sheng, de 47 anos de idade, presidente da Ta, é também membro do Congresso Nacional do Povo. A convivência entre política e negócios é passível de ser criticada... desde que nos esqueçamos de quantos présidents-directeurs-généraux parisienses das indústrias pública e privada iniciaram a respectiva carreira nos gabinetes ministeriais.
Tendo em conta que a China é a segunda potência económica atrás dos Estados Unidos - se convertermos o PIB em paridade de poder de compra -, no futuro, o «lugar» das multinacionais chinesas no mundo não será marginal. Antes de ter lançado os seus campeões na campanha de aquisições no estrangeiro, Pequim acolheu as empresas estrangeiras em sua própria casa. 59 por cento das exportações chinesas são realizadas por grupos estrangeiros. Para um país desta dimensão, trata-se dum grau de abertura sem precedentes.
Seguramente, nem o Japão nem a Alemanha, nem a França nem a Itália, países com uma tradição capitalista mais antiga, alguma vez deram mostras do pragmatismo que tiveram os chineses ao deixar-se primeiro «colonizar» pelas multinacionais para depois aprender com elas e transformarem-se em seguida em conquistadores.
(...)
Aqui está o pé em que as coisas actualmente se encontram. Mas há mais, muito mais. E 2008, podem crer, vai ser o ano das surpresas em catadupa.
很快,我将跟你一起,再次
(Em breve estarei consigo uma vez mais)
…
Nb.- A foto foi recolhida no interior da gruta das Flautas de Cana, em Guilín.
...
2 comentários:
A IBM vendeu aos chineses a part dos notebooks, mas esteve envolvido no negocio mais do que o dinheiro, a possibilidade de entrada no mercado chines pela a IBM ate' ai' vedada pelos os chineses. A Lenovo vai poder usar o nome da IBM por 3 anos e depois vai ter que retirar o nome dos computadores, na verdade eles tiveram uma grande venda porcausa do preço, muita gente comprava os computadores a pensar que eram IBM e ate' se admiravam no facto que os preços eram bastante razoaveis.
A estrategia da IBM foi boa, livrou-se de um negocio muito complicado que eram os notebooks e livrou-se de entrar na guerra aberta entre Dell e HP/Compaq e assim dedica-se naquilo que na verdade eles sao bons -- serviços, supertechnologia (supercomputadores, etc).
O mercado de computadores esta' a crescer e por exemplo a China ja' nao joga "sozinha" muitos se esquecem da India que tambem continua a crescer a olhos vistos, grande parte dos programas sao escritos na India, serviços tecnicos de toda as grandes empresas mundiais estao na India, (IBM, DELL, HP por exemplo), na verdade aquela parte da Asia acordou, mas vamos ver se nao vamos ter uma crise de energia naqual pode e vai afectar o mundo e em especial os paises em crescimento.
Enganei-me, sao 5 anos e nao 3 e a IBM fica dona de 18.9% da Lenovo...
"Lenovo will be the preferred supplier of PCs to IBM and will be allowed to use the IBM brand for five years under an agreement that includes the "Think" brand. Big Blue has promised to support the PC maker with marketing and via its IBM corporate sales force. "
http://news.com.com/IBM+sells+PC+group+to+Lenovo/2100-1042_3-5482284.html
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