Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

833. Ainda o caso do aeroporto da Ota (5)

(continuação do post 832 e final do Resumo)

Entretanto…

Chegou-me a notícia de que NAER pensa encomendar um estudo para avaliar a possibilidade de construir uma terceira pista na Ota. Qualquer técnico com um mínimo de conhecimentos sobre aeroportos que saiba minimamente ler uma carta topográfica, descobre, imediatamente, que uma terceira pista não pode ser transversal às já previstas e, para ser paralela, se for a Oeste, obrigará a um desmonte gigantesco de rochas, e se for a Este, será construída, exactamente, sobre o leito da referida ribeira e a linha prevista para o TGV.

Penso poder afirmar que, hoje, a NAER não sabe, ainda, como pode ser construído o aeroporto na Ota.

Este texto já estava praticamente terminado e pronto para ser enviado, quando li no Sábado, no jornal o "Público", um texto com o título: "Governo vende mais de 50 por cento da ANA para atrair privados para a Ota".

O governo está muito mal informado. É vítima de uma campanha de desinformação conduzida pelo MOPTC para impor, sem estudos de qualquer espécie, ou, mais exactamente, contra as indicações de todos os estudos, uma solução contrária aos interesses do país, que o atrofia e diminui, e que hoje tem como principal suporte a teimosia e o capricho de um ministro que se esforça por criar situações irreversíveis, e que recentemente disse: "O novo aeroporto de Lisboa vai ser feito na Ota e ponto final." (Em Setembro, em Macau. E como acrescentou que o processo já estava decidido desde 2000, a responsabilidade nem seria dos actuais ministros).

Mas a notícia do "Público" tem algo mais. Mostra o ânimo leve com que os ministros desinformados aceitaram, no fundo para não se opor à teimosia e capricho de um colega, a transferência para entidades estranhas, não se sabe ainda quais, da efectiva soberania nacional sobre um dos sectores mais importantes para o nosso futuro: o controlo e a possibilidade de termos uma política para os nossos aeroportos. É isto que significa a privatização de mais de 50% da ANA, aceite para atrair privados dispostos a construir o aeroporto da Ota.

Se o processo for para diante, os futuros governos portugueses terão menos poder que o actual. Não poderão decidir sobre uma política aeronáutica. Terão só que se preocupar com os encargos financeiros que resultem dos acordos feitos (eventualmente mal feitos) pelos governos anteriores.

Mas o processo ainda está no início. O que se vai ver, a partir de agora, é até que ponto o governo estará disposto a ceder na defesa dos interesses nacionais para atrair privados dispostos a construir um aeroporto na Ota.

Este processo terá, assim, de ser muito melhor acompanhado e analisado pelos ministros, pelos outros órgãos de soberania, e pelos cidadãos em geral, porque o país é nosso, da colectividade, e se não temos cuidado, fica-nos muito pouco dele.

Aos deputados e à Comunicação Social acho que pode ser feito um pedido especial:

Interessem-se por este assunto, informem-se, informem, apresentem críticas e opiniões próprias, oiçam as alheias.

(a) António Brotas

* * *

Aqui fica, pois, a transcrição integral do resumo.

Outros dados foram referidos pelo ilustre Professor no decurso da palestra. Apenas serviram para reforçar o que aqui fica já evidenciado de forma iniludível: o projecto de construção do novo aeroporto de Lisboa (NAL) está, como em tantas outras situações tem acontecido, a ser conduzido com uma ligeireza e falta de sustentação alicerçada em estudos correctos e fiáveis tais, que já só não nos causa qualquer espanto, por tantas terem sido as situações similares ocorridas no passado.

Aí está, pois, mais um desastre em perspectiva, um outro elefante branco - que para o país é bem negro!... - na economia portuguesa, no desenvolvimento de Portugal.

É sabido que ao cidadão comum pouco é possível fazer para evitar estes atentados contra os interesses gerais do país. No entanto, algo se pode fazer e ninguém deve furtar-se a isso:

Esse algo é dar notícia, a mais ampla difusão possível deste e de outros documentos que esclareçam a opinião pública, na tentativa de levá-la a constituir-se forma de pressão social legítima e com força necessária para obrigar a que os governantes se capacitem - de uma vez por todas - de que governar é gerir bem e com critério os recursos públicos, em prol do bem da comunidade de todos os portugueses e não apenas de alguns privilegiados, só porque munidos de meios que lhes possibilitam obter vantagens, quase sempre de forma pouco clara e justa.

E, por agora, fiquemos por aqui.

...

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