América rende-se ao «made in China» também nos bancos da escola. Alarmadas com os péssimos resultados dos seus estudantes do secundário em Matemática e nas disciplinas científicas, nas quais os alunos asiáticos se encontram muito mais avançados, as autoridades académicas dos EUA estão a importar da China os programas de estudo e os métodos de ensino. A esperança é (...) deter o declínio que (...) terá consequências no nível científico da América e na competitividade da sua indústria.
O choque, para os Estados Unidos, chega (...) todos os anos, na época em que é publicada a classificação mundial das nações com base nos resultados da instrução. A lista é compilada através de rigorosos métodos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que tem sede em Paris e congrega os 30 países mais industrializados. A classificação é obtida depois de se terem submetido dezenas de milhares de estudantes - uma elite seleccionada entre os melhores de cada país - a um teste de leitura, matemática e ciências. (...) Há já muitos anos que os estudantes norte-americanos são remetidos para os últimos lugares entre os países desenvolvidos, enquanto no vértice da classificação dominam as nações asiáticas.
Em 2004, o orgulho dos Estados Unidos sofreu um golpe mais duro que o habitual. Os estudantes norte-americanos caíram para o 25º lugar na prova de Matemática, descendo várias posições, porque, pela primeira vez, foram admitidas a exame duas cidades da China comunista, Hong Kong e Macau. (…)
Na prova de Matemática, os estudantes de Hong Kong, mal foram admitidos, conquistaram de imediato o primado absoluto da classificação. Em ciências, o primeiro lugar cabe à Finlândia, mas atrás desta coloca-se um trio asiático: Japão, Hong Kong e Coreia. De registar o óptimo desempenho de Macau, que ainda menos de dez anos atrás era uma colónia portuguesa, mas que adoptou o sistema de ensino chinês: surge classificada entre os primeiros dez países na globalidade das provas. (…)
O receio é de tal ordem que obriga a remédios extremos. O The Wall Street Journal revelou que mais de 200 escolas secundárias americanas (...) adoptaram uma solução radical: importar na totalidade o sistema de instrução chinês, usando os mesmos manuais e os mesmos métodos didácticos. O modelo de longe mais copiado é o programa de Matemática e Ciências de Singapura. (…)
Os professores norte-americanos que utilizam o «método Singapura descobriram que na China os programas científicos são muito menos extensos mas muito mais aprofundados. «Na escola média de Singapura», revela o professor de Matemática Steve Keating, citado pelo The Wall Street Journal, «resolvem problemas de álgebra que até a mim me apresentam dificuldades e que, na América, só são tratados no final do secundário.» (…)
Para os Estados Unidos, os resultados desta experimentação em larga escala já são visíveis, e revelam-se positivos. O «made in China» exporta-se bem mesmo nesta área. Os primeiros testes realizados nas escolas secundárias americanas que utilizam os programas didácticos de Singapura denotam nítidas melhorias dos resultados. Todavia, o National Council of Teachers of Mathematics (…) considera que «para atingir os mesmos resultados de Singapura, não basta adoptar os manuais». Os especialistas sublinham que o facto de na Ásia se fazer uma melhor aprendizagem da Matemática e das Ciências é também fruto de outros factores: «Uma cultura de autoridade e de disciplina, na qual toda a comunidade social, desde os docentes aos pais, espera dos alunos um esforço árduo e uma dedicação total aos estudos.»
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Uma testemunha desta diferença cultural é o americano Peter Hessler, que chegou à China em 1996 (…) para ensinar numa escola secundária de Fuling, na província de Sichuan. Da sua experiência de vários anos (…) recorda o choque perante os métodos de ensino chineses. «Nos meus tempos de estudante na América», revela Hessler, «estava habituado a ter professores que tentavam dourar a pílula: poupavam-me sempre a juízos severos ou a críticas demasiado directas. Mas os meus amigos sino-americanos já me tinham avisado de que nas famílias e nas escolas chinesas não se faz o mesmo. (…) Buduei, está mal. Um sete na caderneta escolar contava menos que todos os dez com louvor nas outras disciplinas. Buduei. Continua a trabalhar. Não fizeste ainda nada que se aproveite.» Neste momento, o passo seguinte a dar pela América parece óbvio: importar professores chineses, impregnados da dura disciplina confuciana.
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Federico Rampini, in Il secolo Cinese
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(continua)
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3 comentários:
Já li esta parte :-)
O livro é fascinante.
Thanks pela dica!
Beijinho
nem imaginava.
obrigado pela divulgação.
Vivam, Maria João e Carneiro!
Sou de opinião que todos os portugueses o deviam ler.
A mim, impressionou-me mais, pois que veio corroborar o que in loco pude apreciar, mas que certamente poderia ser mal interpretado se o viesse para cá referir.
Não obstante, sempre me atrevi a começar. Ainda meti uns quantos posts nesse sentido. Entretanto, porém, ofereceram-me o livro, que desconhecida totalmente. Li-o, fiquei fascinado e apressei-me a divulgá-lo!
Beijinho para uma e abraço +para o outro.
Ruben
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