Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 17 de fevereiro de 2007

885. As boas surpresas para os reformados pobres

O documento que reproduzo junto deste texto, é, depurado das partes que não interessam para a apreciação do caso, uma factura autêntica da PT, referente ao mês de Novembro de 2006.

O telefone a que respeita a factura pertence a uma pessoa viúva, idosa (83 anos), que tem como único provento regular a pensão social de 230,00 €, e vive sozinha, a 240 quilómetros da família, pelo que necessita de diariamente ser acompanhada telefonicamente.

Abro aqui um parêntese, que vem muito a propósito, muito embora se trate de uma outra história a que, aliás, se vai dar remédio imediato, como abaixo esclareço.

Os contactos diários que referi são efectuados pelos familiares, pelo que o custo das chamadas feitas são contabilizados nos telefones desses familiares, que os pagam, evidentemente, pelo que a titular do telefone o tem praticamente para receber telefonemas.

Serve isto para dizer que a idosa reformada e octogenária em questão não faz as chamadas, nem locais e muito menos nacionais, menos ainda internacional que constam das facturas. As facturas dos outros meses são similares, variando muitíssimo pouco, ou seja, em cerca de um total de 4 a 5 chamadas de uma factura para outra.

Bastará que se diga que 16 chamadas locais, a que acrescem 28 nacionais e 1 internacional, somam um total de 45 chamadas mensais, o que dá 1 e ½ por dia. Uma e meia por dia aos 83 anos de idade, mesmo para mulher... caramba!!! Só a PT descobriria uma destas…

Tratando-se, como digo atrás,

* de uma pessoa de 83 anos,
* com o rendimento mensal de 230,00 €,
* não tendo ninguém de família ou amiga a residir no estrangeiro,
* vivendo numa aldeia com cerca de 200 pessoas,
* morando todas elas junto umas das outras,

deve ser difícil que alguém acredite que faça este número de chamadas mensalmente, ou seja, 1 e ½ por dia, sem falhar um único dia. Ou não?

Ainda por cima sendo os familiares mais próximos que efectuam – e pagam nas suas contas telefónicas – as chamadas de contacto diário.

Antes de encerrar este parêntese, seja-me permitido deixar uma sugestão a cada um que me esteja a ler: se tem telefone fixo não se esqueça de exigir factura mensal detalhada. Digo-lhe isto porque também cá em casa, desde que passámos a exigi-la, a conta telefónica baixou para metade do que era antes. Não faço quaisquer comentários. Limito-me a relatar factos.


E fica fechado o parêntese, pelo que regressamos ao assunto que me trouxe a este escrito.

Como se pode ver no interior do tracejado a vermelho, o Estado subsidiava estes reformados - refiro-me ainda e sempre aos das pensões sociais de 230,00 € mensais, já que com os outros não sei o que aconteceu – em 6,330 €, correspondente a 50% do montante da assinatura mensal do telefone.

Tal desconto, porém, só era atribuído a quem satisfizesse as condições referidas, e anualmente fizesse prova de que assim continuava, mediante apresentação de documento oficial emitido pela junta de freguesia.

Pois bem, chegado momento de renovar o documento, a titular do telefone em causa dirigiu-se à Junta de freguesia, para o efeito.

Debalde. Mal ali chegada, foi-lhe dito que não seria precisa qualquer renovação, uma vez que o “Estado” resolvera acabar com esse grandíssimo privilégio e o “decepara” do Orçamento de Estado para o corrente ano.

Limito-me a transcrever factos passados. Não emito juízos. Serão necessários? Apenas deixo uma pergunta: alguém tem que pagar a crise, não é assim?

Desculpem, mas não resisto a um comentário da Isabel, aqui ao meu lado:

- Está visto que a socrática governação é a que mais convém ao país. Por este andar, não tarda nada, temos todos os nossos problemas resolvidos, pois que o Estado passa a dar lucro. Verás que Portugal ainda vai ser um negócio catita!
........

Nota. - Claro que não foi apenas por isto, mas foi também por isto - esta capacidade de, com uma frase directa ao alvo e cortante, reduzir à sua expressão mais simples aquilo que parece ser difícil de caracterizar – que casei com ela. Podem crer.
...

7 comentários:

Anónimo disse...

Vergonhoso...mais um golpe baixo...nada que nos surpreenda, infelizmente.

Faz-me lembrar aquela anedota de que o défice baixou...não admira,
o desemprego aumentou! (8,2%)

Beijinho
e outro beijinho para a Isabel :-)

Anónimo disse...

esqueci-me de referir que sobre a PT já nem é preciso fazer comentários...toda a gente os conhece ;-)

Ruvasa disse...

Viva, MJoão!

Cá foram recebidos.

Beijinhos para aí.

Ruben

Ricardo disse...

Viva Ruben,

Realmente há aspectos sociais que o Estado não devia negligenciar e o apoio ao idoso é um deles. É difícil encontrar o equilíbrio entre um Estado mais eficiente sem deixar de ser solidário. E, concerteza, quem cortou este subsídio, que não conheço ao pormenor, foi um técnico com pouca noção do que se passa na "vida real".

O comentário final, cortante, acerta no alvo, Portugal ainda vai ser mesmo um "negócio catita".

Abraço,

Ruvasa disse...

Viva, Ricardo!

Sim, terá sido um técnico frio e sem a noção das coisas.

Acontece, porém, que a responsabilidade maior, última, nunca é dos técnicos, porque os técnicos são meros instrumentos, ajudantes dos governantes.

Não há a mínima possibilidade de estes sacudirem a água do capote, embora seja o que mais fazem.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Meu caro amigo Ruben

Eu julgava que residia na Europa Social, onde os cidadãos tem igualdade de deveres e de direitos.

Obrigado por me ter lembrado que vivo num País governado por "elites" que dividem os cobres despudoradamente entre eles
(veja-se a CP e outras empresas ditas públicas), já não contando com gastos com obras que não interessam a ninguém ou foram mal estudadas e planeadas.

Agora as verbas sociais, dizem os governantes, são para abrir creches(instituições que segundo parece são destinadas a incentivar os jovens a fazer filhos, pois o Estado tomará conta deles sem qualquer preocupação para
os pais), não havendo quaisquer verbas para ajudar a construir lares para os mais idosos, como se não fôssemos um País de gente com idade avançada e a necessitar de apoio.

Olha amigo fiquemos por aqui por que a necessidade é muita e não se vê a quem recorrer para mudar este tipo de atitudes intolerantes e "modernistas".

Um abraço

A.Alves

Ruvasa disse...

Viva, Alves!

Pois... pois...

Abrir creches?!

Para quê?!?!?!?

Para lá meter as crianças que o governo de Sócrates não ajuda a que nasçam, mas, isso sim, subsidia para que morram antes de nascer?

Chegámos a esse cúmulo da hipocrisia?

Abraço

Ruben