Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quinta-feira, 28 de junho de 2007

1158. "Acha honesto" ?

No encerramento do debate parlamentar sobre os objectivos da presidência portuguesa da União Europeia no segundo semestre deste ano, o deputado do PSD Mário David recuperou as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros holandês que, após um encontro com o seu homólogo português, admitiu que o novo Tratado da União Europeia não seja referendado no seu país.

"Não penso que irá haver referendo. Respeitamos os desejos dos holandeses", declarou Maxime Verhagen, considerando que os resultados alcançados na Cimeira de Bruxelas respondem às questões levantadas pelos holandeses, quando chumbaram o projecto anterior.

"Para o ministro dos Negócios Estrangeiros da Holanda já há conteúdo suficiente para se decidir", salientou o deputado social-democrata Mário David, considerando que esta posição do Governo holandês "deita por terra" o argumento do executivo português de que "não há ainda o conteúdo" do novo Tratado da União Europeia.

"Para a Holanda já há conteúdo e isso é verdade", acrescentou Mário David, reiterando que "80 a 90 por cento do antigo Tratado foi recuperado".

Na resposta, o primeiro-ministro acusou os sociais-democratas de desonestidade, salientando que "há uma diferença entre admitir e dizer que não vai ser referendado". (Nota do blog - Anotou o preciosismo?)

"Acham isto honesto? Com sinceridade, eu não acho", disse, referindo-se ao facto do PSD ter dado como certo que a Holanda não irá referendar o futuro Tratado da União Europeia.

Em tom irónico, o primeiro-ministro pediu ainda aos partidos que já conhecem o texto do futuro Tratado para o enviarem ao Governo, pois assim o executivo poupará trabalho.

"Os partidos que já conhecem o novo texto, enviem-no ao Governo, assim poupam-nos trabalho. Se algum gabinete de estudos já tiver o Tratado, envie-o ao Governo", disse.

RTP online (bolds e outros realces da responsabilidade do Blog)

* * *

Resta saber quem está a ser verdadeiro e quem, pelo contrário, está a - usando um eufemismo - esquivar-se à verdade, ou seja, a faltar às suas responsabilidades, à ética de Estado a que está obrigado.

Se Maxime Verhagen, ministro dos negócios estrangeiros holandês (que, afirmando o que afirmou corre o risco de ser acusado pelos eleitores holandeses de os estar a defraudar, pelo que a sua atitude, além de gratuita, por sem motivo, é completamente desprovida de sensatez política e honorabilidade pessoal)

ou se, pelo contrário, José Sócrates.

Para falar com franqueza, não sei quem, na verdade, estará a querer ludibriar a opinião pública do seu próprio país.

À primeira vista, tudo indica que o ministro holandês não tem qualquer interesse em afirmar algo que, não correspondendo à verdade, muito o irá penalizar - e ao seu governo -, quando, daqui por algum tempo, se constatar que mentiu ao povo que representa.

Claro que tenho a minha opinião. No entanto, não a vou expender por ora, ficando na expectativa. Prometo, no entanto e desde já, não me calar, se aquilo que antecipo vier mesmo a acontecer...

E, você que me lê, que opina? Isso, opine, mas com cuidado... É que, como bem sabe, está visto que já chegámos à encruzilhada do demo, onde o "chifrudo" tem por hábito aparecer travestido de "cabrão", de pata fendida e rabo alçado. Atenção, portanto!...

Numa coisa estou completamente de acordo com o primeiro-ministro. Com ele cerro fileiras, pois, quando afirma, em jeito de pergunta: Acham isto honesto? Tem vocelência toda a razão, senhor Sócrates. Na verdade, "isto" não é honesto. Nada mesmo! Estamos em perfeita sintonia.

* * *

De qualquer modo e para já, de uma coisa estou certo e posso garantir a todos que me lêem: o executivo português, a começar pelo primeiro-ministro, não parece estar a conformar-se com a verdade quando, para justificar que não se fale nem trate do referendo, afirma que não há ainda o conteúdo (do Tratado).

É evidente para todos quantos não são lélés da cuca que há mesmo conteúdo. Se o não houvesse, o senhor Sócrates teria sido mandatado para redigir o quê?

Os restantes 26 países da UE estariam dispostos a entregar-se, de mãos atadas, nas do senhor Sócrates, ou seja, a deixar que o referido senhor metesse no Tratado o conteúdo que bem entendesse?!?!

Evidentemente que não. Não estão todos chanfrados! Definiram o conteúdo, redigiram as directivas e "pediram" ao senhor Sócrates:

- Caro amigo, agora que tem ai as nossas orientações, faça o favor de mandar que os seus serviços (ou quem entender) redijam um documento que não atraiçoe o espírito do que aqui deixamos decidido e de, no prazo x, nos apresentar o resultado do seu esforço, para que o possamos conferir, para se ver se está em conformidade, sem adulteração da nossa comum vontade e, por conseguinte, capaz de ser adoptado.

Ah! E não se esqueça: o trabalho tem que vir redigido em todas as línguas oficiais dos países integrantes, ok? Sim, sim. Na do seu também.

Foi isto o que se passou. É isto o que se passa. Será isto que se vai passar. Tudo o mais que se diga para lá do que dito fica, é material de enchimento de balões em quermesse de feira. Dura a eternidade inerente a qualquer balão de feira.

...

5 comentários:

carneiro disse...

O voto já não serve para pedir a opinião ao povo.

Está a servir, cada vez mais, para entalar o povo. Ou seja, os políticos escolhem previamente o que sujeitam à opinião popular, para depois poderem dizer: "foi a maioria que votou, por isso aguentem-se, não há mas nem meio mas..."

E, mesmo assim, só lá vão quando têm hipóteses de ganhar ...

Estamos na europa ou fora dela com tanta consciencia social e empenho popular como os que tivémos durante os 80 anos filipinos. A opinião do povo vale nada.

E daí a decorrência lógica: Votar para quê ? Para depois reverterem o voto contra nós do tipo : votaste, agora não te queixes ?

Se é para isso, deixo de votar. Eventualmente já nas próximas eleições em Lisboa.

Ruvasa disse...

Viva, Carneiro!

É como diz e ainda pior do que isso.

Ainda o Eça dizia coisas! Se cá viesse hoje, dava-lhe uma sulipanta e passava-se logo de imediato...

Abraço

Ruben

PS (lagarto, lgarto):

Vou publicar em seguida o texto do discurso do Francisco Louçã, ontem no Parlamento. Acho que vale a pena.

Anónimo disse...

Agora não se pode falar em Referendo porque não há nada para referendar, o Tratado ainda não está redigido o que até é formalmente correcto.
Amanhã não se poderá falar em referendo porque o Tratado já estará redigido e teraá sido objecto de um concenso entre todos os países, referenda-lo seria um absurdo...

Se alguém encontrar alguma lógica nestas argumentações agredecia que o dizesse...

Ruvasa disse...

Viva, Raio!

Claro que há uma lógica: a deles.

O problema é que a lógica deles não pode, por uma questão de decência, ser adoptada por nós, cidadãos comuns, a quem apenas move o interesse geral e não interesses particulares e esconsos.

Só isso. Nada mais.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Raio!

Se estivéssemos de acordo com a lógica deles - a lógica final, claro! - então faria mais sentido que emigrássemos para a China.

Ao menos, lá, os decisores são mais frontais e a gente sabe com o que conta. Eles não se auto-apelidam de democratas.

Abraço

Ruben