Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

sábado, 30 de junho de 2007

1163. Acabe-se com a aleivosia!

Corre por aí - com inusitada frequência, aliás - que o governo capitaneado pelo senhor Pinto de Sousa, tem horror a permitir que os portugueses possam usufruir do discutível mas impostergável direito de adoecer.

É hábito - de muito mau gosto, forçoso é que se diga - alegar-se em abono de tal tese as questões relacionadas com o encerramento de estabelecimentos hospitalares em quantidades verdadeiramente espantosas (e, em enormíssimo número de casos, sem justificação minimamente aceitável), a redução nas comparticipações do Estado em receitas medicamentosas, o aumento indiscriminado e cego das taxas moderadoras, bem como o corte abrupto de vários direitos a nível de cuidados de saúde até agora vigentes.

Pois bem, não obstante os fundamentos invocados parecerem razoáveis ex abundante, dizer-se tal constitui verdadeira aleivosia e só pode afirmá-lo quem, por razões - certamente ínvias - pretende denegrir os esforçados trabalho e competência do referido e muito estimável senhor e do mui excelso governo que capitaneia com alto e gabarito e mestria jamais vista.

É, pois, necessário repor a verdade. De imediato, se possível. E é-o.

Por isso, hic et nunc me apresso a vir fazê-lo proclamando, urbi et orbi que o senhor Pinto de Sousa e o seu nunca por demais incensado grupo de ministros, secretários de estado e correlativos, não consideram - nem jamais consideraram - a odiosa hipótese de coarctar aos portugueses o sacrossanto direito de adoecerem. Sim, os portugueses podem ficar absoluta e definitivamente descansados: ninguém os vai proibir de adoecerem. Era o que mais faltava! Adoeçam, pois, sossegadamente e com a maior das alegrias.

O que não se aceita de boa mente nas altas esferas decisórias do país, isso sim, é que, uma vez doentes, tenham o sumo desplante de desejar ser tratados em condições de dignidade humana e recuperar a saúde o mais rápida e eficazmente possível.

(Abra-se um pequeno parêntese para esclarecer que, fora do imbróglio, ficam apenas as mulheres que decidam abortar, o que parece justo, pela humanidade implícita no acto).

E pronto! Aqui ficam repostas a verdade e a justiça. Como era devido.

Que ninguém mais ouse dizer - pensar, sequer! - que os aludidos senhor e governo se preparam para não permitir que os portugueses continuem a desfrutar do inalienável direito de adoecer. Porque tal não é verdade. Permitem, sim senhor. E sem qualquer restrição. Adoeçam para aí, portanto, o mais que puderem, indiscriminadamente. O problema até é vosso. De quem adoece, evidentemente! Portanto, amanhem-se

* * *


Nota final para manifestação de estranheza:

Curiosamente - talvez não?! - desde que o actual governo e seu chefe, senhor Pinto de Sousa, tomaram em suas lavadas e alvas mãos as rédeas do cavalo do Poder, jamais se ouviu o também muito estimável senhor Jorge Sampaio afirmar - enfaticamente ou menos - que
há vida para além do déficit, frase que, como é sabido, proferia antes com todo o garbo e pundonor que são apanágio seu - bem como a quilométrica prolixidade de Luís de Góngora - para grande gáudio da rapaziada d'habitude.

Mas talvez que tal circunstância se fique a dever a evolução do esclarecido pensamento do senhor em causa que, quiçá, terá, entretanto, concluído que, contrariamente ao que vinha de supor, afinal, talvez seja emais exigir-se que, para além do
déficit haja vida, mas já não o seja tudo fazer para que haja dor, angústia, sofrimento e, muito a final de tudo, a salvífica morte, ainda que desamparada.
...

7 comentários:

H. Sousa disse...

Apesar de dramática e revoltante, o post tem o mérito de tornar a pílula menos amarga (e cara). Conseguiu fazer-me rir, aquele riso entre a dor e a consciência de que os visados são mesmo ridículos.
Abraços

Ruvasa disse...

Viva, Henrique!

Ora ainda bem que me diz isso. É que, sabe, só na galhofa é que é possível levar isto para a frente sem perder o tino.

A cada dia que passa, mais um despautério.

E - com sua licença e licença também dos restantes respeitáveis leitores - não há cu que aguente tantas e tão violentas investidas e, ao mesmo tempo, consiga manter a sanidade de espírito.

É que uma "epopeia" destas arranca do sério um qualquer cidadão, por mais resistente que se mostre, e desatina o siso mais ensimesmado que conceber se possa.

E não há como comê-los? Isso mesmo, eu disse comê-los, manjá-los, degluti-los de cebolada ou, se se preferir, com batatinhas fritas e ovo a cavalo.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Henrique, de novo para um acrescento:

Ou, já agora, de rabadilha.

Outro abraço

Ruben

Imagens disse...

Sempre que posso passo por aqui. Me chamou a atenção o livro L'enfant terrible! Hehehehe! O que é?



Beijos!!!

Anónimo disse...

...por isso ele queria dar os remédios fora de prazo ao pessoal...sempre eram uns milhares a menos...


Olha, tu tens ali ao lado um desenho e pêras amigo Ruben!
Que ganda pinta! Ehehehehehe...

BEijinho Grande!

Ruvasa disse...

Viva, Leila!

Não se trata de um livro, amiga.

É uma caricatura minha, da autoria da amiga Sulista.

E, como é amiga de verdade, favoreceu-me imenso...

Beijos

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, MJoão!

P'st'á claro! Os medicamentos fora de prazo inserem-se precisamente no grande plano estratégico do governo do excelso senhor Pinto de Sousa, imaginado, neste caso, pelo não menos excelso sr. Correia de Campos.

Mas qu'a grandes gobernantes a gente tem p'raí, c'um caraças! Quando eles se forem, comé q'ua gente vai viver... perdão, morrer?!

Beijinho

Ruben