Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

1334. Retrato fiel

Ora aí está o que se pode chamar de retrato fiel do que são as actuações do senhor Pinto de Sousa no Parlamento, sede da democracia formal – e não mais do que isso – que vamos tendo.

Atente bem na foto. Que lhe sugere ela? Mais precisamente, que lhe sugere a atitude postural do dito cujo gentleman?

Uma peixeirada, não?

A postura não deixa lugar para dúvidas. A mão na anca, a gravata meio de través, o casaquinho de banda, o sobrecenho carregado, o olhar agressivo, o cabelo meio em desalinho, ao contrário do habitual penteadinho à maneira… À foto só falta, enfim, o som, para o retratinho ser completo.

E, aqui, o referido senhor Sousa acabara de tirar a mão esquerda da outra anca, para se apoiar na secretária, não fosse o Diabo tecê-las e, no fragor da gritaria, no ardor da disputa (bem, para falar a verdade nunca o ouvi dizer isso…), o nosso herói desequilibrar-se e estatelar-se no chão ou, quem sabe?, cair desamparadamente, de costas, sobre o coitado do Teixeira dos Santos, ou de borco, sobre o seu alter ego, o igualmente penteadinho Silva Pereira. E, depois, que seria de nós, sem ambos os três?!... Como é que iríamos viver!?...

Bem, de regresso à foto, renovo a pergunta: que lhe sugere tal imagem? Uma qualquer discussão na antiga Praça da Ribeira, no Bolhão, no Mercado das Flores, lá para as bandas do Funchal, sei lá!, não?

Pois esta é a postura habitual do senhor em apreço (não que eu o aprecie – muito ou pouco – ná!...). Sempre que vai ao parlamento, transforma o hemiciclo numa casa de espectáculo baratucho, onde o actor – que, pelo que tem revelado da sua excelsa personalidade, muito apreciaria ser, não o principal, mas único –, grita desalmadamente. Tão desalmadamente que nos deixa em permanente suspense, com receio de que lhe dê alguma coisa má. E a nós uma boa, que sei eu?!...

E por que razão o fará ? perguntaremos, numa tentativa desesperada de encontrar razão lógica que justifique o evento. Só encontro na sabedoria popular, transmitida de geração em geração, a de que quem grita para afirmar os seus pontos de vista, a sua razão, só o faz porque não tem realmente pontos de vista e menos ainda tem razão, porque de há muito que ela lhe faleceu de morte macaca.

Pois é verdade, resulta sempre em feira de matrecada desanimadora qualquer ida de SExa – que nos vexa – à dita sede da democracia.

De tal forma que, para me recompor, logo a seguir me vejo compelido a assistir a mais uma sessão del Congreso de los Diputados, em Madrid, para me recordar de que há políticos que discutem com ar sério e composto – mas não somente o ar – e em termos urbanos, com um mínimo da sociabilidade que se exige.

Curiosamente, vou ouvir os políticos de um povo que, todos sempre o ouvimos dizer, é extremamente agressivo e de navalha de ponta e mola e de faca na liga, consoante o género.

Pués, por supuesto, los españoles lo serán, pero seguramente no han freqüentado la escuela donde hay sacado su graduación el esplendoroso señor Don Sousa.

Heureusement pour eux, n’est-ce pas?
...