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domingo, 17 de fevereiro de 2008

1496. À atenção geral...

A Independência do Kosovo:
“O fim da Europa”

Peritos analistas políticos pronunciam-se acerca do aviso do ministro dos Estrangeiros russo, Lavrov.

MOSCOU, Fevereiro 15 (RIA Novosti) - RIA Novosti pediu a peritos analistas políticos que comentassem as palavras do ministro dos estrangeiro russo, Sergei Lavrov, que disse que a independência do Kosovo podia ser o começo do fim da Europa, e esse reconhecimento oficial da soberania ameaçará a segurança global.

- Quais, perguntámos, serão as consequências geo-políticas da declaração de Kosovo de independência unilateral?

Alexander Rahr, analista político no Conselho alemão de Relações Exteriores e membro do Clube Internacional de Discussão Valdai:

- A declaração unilateral de independência do Kosovo e, especialmente, o seu reconhecimento por países europeus, abriria uma caixa da Pandora. Pode criar um precedente para outras repúblicas separatistas e regiões autónomas, o que exigiria acção semelhante e os mesmos direitos que poderão ser concedidos aos Kosovars.

Lavrov tem uma certa razão. Os bascos poderão exigir a secessão de Espanha, os tiroleses poderão separar-se da Itália e os húngaros da Roménia. Os Caucasianos do Norte poderão exigir a secessão da Rússia, e a Baviera pode insistir na independência separando-se da República Federal de Alemanha.

Mas o Ocidente pensa que Lavrov está a dramatizar a situação, porque o separatismo assenta principalmente em problemas económicos, e a Europa espera que sua economia seja forte e suficientemente estável para não origem a qualquer separatismo.

Mas a ameaça existe e as palavras de Lavrov, que não serão consideradas importantes hoje, poderão tornar-se significativas daqui a alguns anos.

John Laughland, co-autor do livro 'Rússia: A Nova Guerra Fria'? e membro do Clube Internacional de Discussão Valdai:

- Como sabe, apoio a posição russa no Kosovo porque tem o mérito da coerência, ao passo que a posição do Ocidente é inconsistente e contraditória. O Ocidente (UE + EUA) apoia a independência de Kosovo mas opõe-se à independência da Flandres, do Chipre do norte, da República Srpska, na Bósnia, de Transnistria, Abkhazia, Ossetia do sul, etc. O Ocidente opõe-se também à divisão do Kosovo, ainda que apenas sérvios residam a norte de Mitrovica. A independência do Kosovo estimulará apelos de independência semelhantes na Macedônia Ocidental e no vale de Presevo. Indirectamente, pode causar inquietação também no Cáucaso.

Além do mais, o Kosovo não será realmente independente. A UE assumirá as funções de protectorado da ONU. Foram elaborados planos para enviar milhares de funcionários de UE e polícia para o "post-status" no Kosovo, enquanto os 16.000 militares da NATO ali permanecerão. O Kosovo teria tido uma independência mais real dentro da Sérvia que teve sob a ONU ou terá cm a Europa.

Lavrov está certo quando diz que a independência de Kosovo será o começo do fim da Europa actual porque a situação de agora do Kosovo foi fixado por uma Resolução (2144) do Conselho de Segurança da ONU. Se a UE e os EUA anularem essa resolução, que diz que Kosovo é parte da Sérvia, eles uma vez mais terão demonstrado o seu desprezo pela lei internacional e mostrar-se-ão aliados internacionais incertos.

O Kosovo assemelha-se à Bósnia no período 1878-1914. Em 1878, o Tratado de Berlim põe Bósnia sob administração provisória austríaca enquanto estipula que permaneça parte do império Otomano. Em 1908, a Áustria transgrediu os termos do Tratado e anexou o território directamente. A Sérvia protestou, mas em vão. Dez anos mais tarde o Arquiduque Franz-Ferdinand foi assassinado por um patriota sérvio em Serajevo. O resto, como se diz, é história.

Jan Carnogursky, primeiro-ministro da Eslováquia entre 1991 e 1992, perito em assuntos do Kosovo membro do Clube Internacional de Discussão Valdai:

- O reconhecimento da independência do Kosovo seria uma tragédia para sérvios, para quem Kosovo é um fundamento e uma parte inalienável da sua história nacional.

O estado sérvio nasceu no Kosovo e territórios adjacentes nos séculos IX e X. A ortodoxia sérvia está também aí enraizada, desde que Stº. Savva, o santo mais venerado na Sérvia, fundou muitos mosteiros no Kosovo no século no princípio do séc. XIII. A província era também o âmago do estado sérvio durante a primeira metade do século XIV.

O ministro dos estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse que esta independência do Kosovo podia ser o começo do fim para Europa. Isto é um dramático, embora essencialmente correcto, ponto de vista acerca do problema.

Moscovo nunca aprovou a política ocidental relativamente ao Kosovo e à Jugoslávia anterior como um todo. Embora tenha jogado um papel chave no fim da guerra, em 1999, a Rússia era o único membro do Grupo de Contacto que não indicou o seu próprio sector de responsabilidade na província. Quando os pára-quedistas russos fizeram a sua marcha sobre Pristina em Junho de 1999, os sérvios ficaram radiantes, porque sempre viram presença da Rússia como a melhor garantia dos seus direitos.

Infelizmente, desenvolvimentos posteriores no Kosovo mostraram que, no séc. XXI, a geopolítica facilmente pode deitar por terra a Moral e os princípios legais. A secessão do Kosovo da Sérvia, sem o acordo de Belgrado, criará um precedente para a Abkhazia, a Ossetia do sul e o Transdnestr e dão a Moscovo o direito moral de reconhecer a independência das repúblicas, após o fim do sovietismo.

Daniel Vernet, director do gabinete de relações internacionais do Le Monde e membro do Clube Internacional d discussão Valdai, em 2004:

- Penso que as palavras de Lavrov são demasiadamente dramáticas. A decisão de independência do Kosovo está longe de ser a ideal; mas dada a situação actual, é o menor de muitos males. Se bem me lembro, é a política que Slobodan Milosevic prosseguiu desde 1989 que é a culpada da situação actual.

Quanto às consequências geopolíticas, não penso que alguém aponte da independência do Kosovo como pretexto para a destabilização nos Balcãs nem em regiões europeias adjacentes. Penso que esse bom senso prevalecerá e as consequências internacionais de independência do Kosovo serão mínimas.

James George Jatras, director do Conselho Americano para o Kosovo:

- Parece que dentro de dias a Administração da ONU para a supervisão muçulmano-albanesa no Kosovo emitirá uma declaração unilateral de independência seguida pelo reconhecimento pelos Estados Unidos e de outros países. A Sérvia naturalmente rejeitará tal desenvolvimento, como o fará a Rússia, e quase certamente a China, cujos vetos no Conselho de Segurança os EUA teriam rodeado.

Parece ainda subavaliada a extensão que a acção de EUA estraçalharia qualquer aparência de legalidade no sistema internacional. Pode ser a primeira vez que um grupo de países pretenda separar parte de um território do estado sem retirar qualquer privilégio. (Fique ciente de que muitos países foram derrotados e ocupados e forçados assinar tratados cedendo terra. Edvard Benès foi mesmo mais longe e assinou o Tratado dos Sudetas, em 1938. Nenhuma mão sérvia jamais chegará tão longe). Garantias internacionais de integridade territorial tal como o Alvará da ONU e o Acto Final de Helsínquia seriam uma letra morta.

A acção dos EUA é também um golpe pesado e talvez a única parte do sistema da ONU com qualquer valor real: o Conselho de Segurança, que ajudou a prevenir qualquer guerra importante desde 1945, muito como no século XIX o "Concerto das Potências" ajudou a assegurar que nenhuma guerra geral tenha ocorrido na Europa entre 1815 e 1914. De facto, mesmo desvalorizada, a posição da Rússia no Conselho de Segurança, por opor o seu veto, é um grande "factor positivo" para Washington, cuja mensagem para Moscovo pretende ser: "O que você talvez pense, é que estamos ainda em 1999. Podemos fazer como como quisermos e você não nos pode parar".

A acção de EUA -- apoiado por nossos "aliados" totalmente servis da Europa - não determinará o estado do Kosovo. O estado actual do Kosovo está claro: é parte de Sérvia com uma presença internacional com que a Sérvia relutantemente concordou. Depois que uma declaração unilateral de independência e o reconhecimento de alguns países, começaria uma espécie de competição entre países reconhecedores e não reconhecedores. Apesar da reivindicação absurda de Washington de que o Kosovo não constituiria um precedente, um governo de qualquer estado multi-étnico logo veria o Kosovo como um perigo. O Kosovo nunca se tornaria membro da ONU.

A Sérvia recuperaria o controle da área do norte de Kosovo e talvez algum enclave. Isto não seria um prelúdio de partilha, contudo a libertação de parte dele, isso sim, seria a ocupação ilegal de parte de Sérvia por um ilegítimo e criminoso regime separatista em Pristina apoiado por poderes estrangeiros agressivos. Duraria até que os albaneses e os seus apoiantes decidissem começar um novo ciclo de violência, atacando os sérvios, que viveriam no temor de que o terço restante da população de antes da guerra seria desenraizado e o resto de suas igrejas destruído.

As áreas de controlo albanês no Kosovo afundar-se-iam mesmo mais no buraco preto do crime organizado (drogas, escravatura, armas) e o terror de "jihad" sob um "governo" composto de criminosos de guerra e manda-chuvas da Mafia albanesa. Longe de estabilizar os Balcãs ocidentais, perpetuar-se-ia a instabilidade pela alienação da Sérvia, o único país consequente da região.

Num todo, visionamos um autêntico "desastre de comboio," como mesmo os proponentes da independência lhe chamam: destruindo o sistema legal internacional, a confrontação de EUA-RÚSSIA, violência no terreno, criminalidade, desrespeito pelos direitos humanos e uma nova guerra fria. Quem poderia pedir mais?

* * *

Aqui fica esta peça, publicada no Global Research.ca – Center for Research on Globalization e de que tomei conhecimento através de ma chamada de atenção do blogamigo Ralf Wokan.

A tradução do documento foi feita com alguma rapidez, pelo que poderá haver alguns aspectos que se desviem ligeiramente do sentido das intenções dos declarantes. Para colmatar possíveis deficiências, no final do texto deixo o url.

Relembro que a I Guerra Mundial teve como fundamento mais próximo o assassinato de Francisco Fernando da Áustria, arquiduque da Áustria-Hungria, em Serajevo, actual capital da Bósnia Herzegóvina (que encontrará no mapa publicado), em 28 de Junho de 1914.

http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=8098
...

4 comentários:

Camilo disse...

Também creio.
Um barril de pólvora, cujo rastilho já está a arder.
Veremos o que vai acontecer.
Pode ser que esteja aqui um novo "ciclo" europeu de consequências imprevisíveis.
O Putin já "alertou"... e mais "países" -por simpatia- estão na calha.
Mas, Amigo Ruben, pior do que já estamos... ...

Ruvasa disse...

Viva, Camilo!

Pior do que já estamos... podemos ficar num instante.

Abraço

Ruben

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Grande verdade;

Pior do que já estamos... podemos ficar num instante.

Sei-o da História e do que os meus Pais e Avós contavam...


[]
I.

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Este texto fica aqui guardado para o futuro...

[]

Ruben