Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

domingo, 20 de abril de 2008

1512. O eucalipto que tudo seca

Como tinha prometido aqui há tempos atrás e ontem ao meu blogamigo Camilo em comentário ao post anterior, aqui deixo hoje a prova provada de que Cavaco Silva é - sempre foi, aliás - e continua a ser um verdadeiro eucalipto egocêntrico que se está nas tintas para quem ou o quê seque à sua volta, para que SEXA tenha água suficiente para reinar, pairando sobre tudo quanto mexe... enquanto Sua Alteza permitir que mexa.

Em 1985, por ocasião das eleições autárquicas e depois de muitos anos de esforços inauditos para tirarmos o PSD de Setúbal da profundíssima caverna em que sempre estivera confinado, às escuras, completamente à míngua, depois das terríveis perseguições de que fora alvo desde 1975, alguns militantes social-democratas, entre os quais quem isto escreve, conseguiram delinear um acordo com o PS, no sentido de retirar a Câmara Municipal do poder da PCP. Embora muitos desacreditassem da possibilidade, conseguimos.

Confortados com o resultado e numa perspectiva que nos parecia correcta e normal, entendemos, no PSD de Setúbal, que, passado aquele mandato (1985-1989), durante o qual conseguiram os nossos autarcas desenvolver um trabalho notável, reconhecido pela generalidade dos cidadãos e, com isso, o PSD tornar-se "visível" e credível no concelho e até no distrito, deveríamos reeditar a experiência, no sentido de reforçarmos a posição do partido, em ordem a podermos, a médio prazo, conquistarmos sozinhos a autarquia de Setúbal.

Obtida a necessário aval da Comissão Política Nacional, abalançámo-nos às conversações e obtivemos o acordo que consta do documento aqui transcrito.

Nele se pode constatar que, embora liderada por um socialista, a Câmara passaria (já era em boa parte, mas agora sê-lo-ia completamente) a ser efectivamente governada pelo PSD. Bastará que se atente na parte abaixo transcrita para se perceber isto mesmo.

1. As áreas de actuação dos futuros vereadores de ambos os partidos
serão
as seguintes:
do
Partido Social Democrata,
os
Serviços Municipalizados,
as Obras Municipais,
os
Bombeiros,
a
Habitação,
o
Urbanismo,
a
Indústria,
o
Ambiente
e os
Jardins;
do
Partido Socialista,
os
restantes.

Quem tiver um pouco de experiência municipal ou, mesmo sem ela, saiba quais são os pelouros que uma câmara da dimensão da de Setúbal tem, logo chegará à conclusão de que, efectivamente, a Câmara "seria" social-democrata, com um presidente socialista, tipo jarra de flores.

E quem for mais atento, ao ler aquele extracto, achará estranho que, relativamente aos pelouros atribuídos ao PS, apenas se diga os "restantes", em vez de os enumerar. Pois bem, tal deveu-se a não criar problemas aos negociadores contrários, perante o seu público, uma vez que esses "restantes" pelouros eram as Finanças, o Pessoal, os Cemitérios, o Trânsito, as Colectividades e full stop...

Devo referir também, que este acordo foi publicamente assinado em conferência de imprensa expressamente convocada para o efeito e muito concorrida, tendo tido, igualmente, honras de telejornal o que hoje não tem grande importância, já que aos telejornais vai qualquer "gato pingado" e até o mais corriqueiro assunto de quintal, mas na altura as coisas fiavam muito mais fino.

Perante um acordo desta natureza, qual acha você, que me lê, que deveria ser a atitude do Presidente do partido e do inefável e arrogante Secretário-Geral de então, Manuel Dias Loureiro. que não teve pejo em dar o dito por não dito?

Pois. Deveria ter sido essa em que está a pensar, sim, mas não foi.

Encurtando razões, porque a uns quantos "senhoritos" em Setúbal, concelho e distrito, não convinha tal acordo, por razões que me escuso de aqui apontar, por falta de mérito para verem a luz do dia, o "chefe eucaliptal" e o seu "homem às ordens" tudo boicotaram, sem respeito pelo trabalho de muitos anos de uns quantos esforçados social-democratas que o faziam por amor à camisola e só por isso, com muitas provas dadas até ali e mesmo depois.

Impediram, pois, que o acordo se cumprisse, obrigando a que o PSD concorresse sozinho. Tal esclarecida e muito democrática decisão provocou que o PSD desaparecesse até hoje (já lá vão19 anos) do panorama autárquico e o PS vencesse as eleições com maioria absoluta, tendo ficado a dominar a câmara por largos anos, que coincidiram com o marasmo em que entraram o concelho e a cidade, parados no tempo e ultrapassados por todas as aldeias galegas em redor.

Não cintentes com isso, encarregaram os seus subordfinados locais de instaurar processos disciplinares a alguns subscritores do acordo. Procedimentos com a intenção de expulsão, mas que deram em nada porque não havia matéria para incriminar disciplinarmente fosse quem fosse, que não o próprio Cavaco e o secretário geral, por violação dos Estatutos do Partido.

É. Dali nada de bom se pode esperar. Apenas o que ao "eucalipto" e sua corte de interesses convém. Como verificaram, mais tarde, Santana Lopes, em 2004-05, e Luís Filipe Menezes, agora.

Santana Lopes, porque não convinha à candidatura de Cavaco a Belém, que o PSD estivesse no poder; por igual razão, relativamente à guerra tremenda a Menezes, agora por força da aproximação da recandidatura, que terá lugar em 2010.

Enquanto aquele senhor tiver poder dentro do PSD e não forem postos na ordem os seus mandaretes, o Partido Social Democrata não sairá da vil tristeza em que se encontra.

Aqui ficam os factos, para a História e para que não se alegue ignorância.
...

8 comentários:

Anónimo disse...

Exmo Sr

Nao sei quem o senhor é nem quero saber. Agradeço que me retire da lista de envio de emails imediatamente.
Aliás diz bem do seu caracter dizer mal de um dos melhores e mais honestos politicos portugueses de sempre.
jaime1965@iol.pt

Ruvasa disse...

Exmo Sr. Anónimo,

Seria com todo o prazer que o retiraria da lista, se soubesse a quem pertence o endereço de email que indica.

É que, como deve saber, um endereço de email é fácil de conseguir e meter aqui. O nome é que parece ser um pouco mais difícil.

Por outro lado, eu estaria preocupado com o que o sr. Anónimo pensa de mim, se o que eu disse não fosse a expressão correcta e ainda não integral da verdade.

Mas, infelizmente, é. E há muito mais, para além do que eu referi. Apenas não posso cometer a indelicadeza de transcrever, a título de exemplo, desabafos que me foram endereçados, por escrito, em 1995, quando das facadas.

Logo que saiba do seu nome, pode crer que o eliminarei com todos o gosto. Ao nome, evidentemente.

E, repito-lhe, para que fique bem marcado na sua mente. Cavaco Silva foi o maior eucalipto que apareceu no PSD. E em todos os sobressaltos que o Partido tem tido, de 1995 para cá, tem estado a sua (dele) mão.

Cumprimentos

Ruben Valle Santos

Camilo disse...

Amigo Ruben,
TOTALMENTE DE ACORDO CONSIGO!!!

Ruvasa disse...

Viva, Camilo!

As pessoas criam ídolos - é humano - e depois convencem-se de que os seus ídolos não têm pés de barro. Apenas os ídolos alheios. Infelizmente não é como pensam.

De qualquer modo, é sem+re penoso constatar as realidades e mais quanto mais duras forem.

Abraço

Ruben

Anónimo disse...

Bem, aqui também temos nossos maus políticos, inclusos em conchavos e peripécias para encher seus bolsos direta e indiretamente. Tirando isso tudo resta o povo! A grande massa que patrocina toda essa ladroagem!!! Falando em povo, vi, ontem, por uma emissora brasileira, a bela Lisboa, com seus prédios antigos, seus portais, seu bondinho... Parabéns!!! Beijos!!!

Anónimo disse...

Viva, Leila!

Bem, no caso de Cavaco, isso não se aplica, pois se trata de um político rigorosamente honesto, absolutamente sem mácula.

O que é criticável nele é, para chegar onde quer, tudo fazer, nos bastidores, para abater tudo quanto lhe possa atrasar a marcha. Sem o mínimo remorso.

Já foi capaz de apunhalar que, durante anos, o apoiou de forma absolutamente impecável.

Para ele, apenas ele conta. Tudo o resto é deserto. Ele próprio desertifica.

Quanto a Lisboa, é evidente que não tem as condições naturais do Rio de Janeiro, mas podes crer que é uma cidade belíssima e muito agradável, onde ainda se vai podendo viver, sem medo de ser assaltado ou morto em qualquer esquina.

Tenho andado um pouco por todo o mundo (Brasil está guardado para o fim) e posso garantir-te que Lisboa é mesmo das excelentes para se viver cidades que conheço, embora não tenha as características de outras de maior nomeada.

Beijos

Ruben

Ruvasa disse...

NOTA:

Retirei daqui um comentário deixado por um Anónimo. Fi-lo por se tratar disso mesmo: um Anónimo

Neste blog existe o hábito de as pessoas darem a cara e o nome. Existe também uma aversão congénita aos anonimatos, por todas as razões e mais alguma de que ressalta a circunstância de algo revelarem acerca de quem como tal se apresenta.

Ruben Valle Santos

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.