Os portugueses têm de salvar-se de si próprios, para salvarem Portugal

terça-feira, 15 de julho de 2008

1609. "O melhor lugar do mundo"

O Eduardo Lunardelli, de Piacaba, Santa Catarina, Brasil, e o Jorge Pinheiro, aqui dos arredores de Lisboa, na linha do Estoril, resolveram desafiar-se - e desafiar quem a eles se queira juntar - para que, mensalmente, ao dia 15, se reúnam em tertúlia virtual, de cada vez subordinada a um tema previamente anunciado, publicando no blog próprio de cada qual, um texto, fotos, imagens, seja lá o que for respeitando o tema de cada mês.


Nesta oportunidade, o leit motiv é “O melhor lugar do mundo”.


Confesso que, esquecendo, pelo menos por agora, que ninguém me tira da cabeça que o melhor lugar do mundo sou eu mesmo - porque é em mim que me encontro, sempre que regresso de qualquer lugar do mundo, real ou imaginariamente, porque é em mim que me realizo, muito embora não possa viver sem a envolvência que me rodeia e a circunstância que me norteia também - tentei escolher aquilo que considero, fora dos parâmetros acima delineados, o segundo melhor lugar do mundo. E confesso igualmente, que tive muita dificuldade em fazer uma selecção.


Na verdade, considero tarefa extremamente difícil valorar de modo exclusivo em relação a outros, um inigualável Tibete, o seu incomparável planalto desértico de centenas e centenas e centenas de quilómetros, a perder de vista, que percorri de “jeep”, em jornada de mais de quatro loucos e incríveis dias, sentindo-me anão perante tal grandiosidade e deslumbrado pela luminosidade de um sol quase nada filtrado a 5.230 metros de altitude, em que a cabeça nos volteia constantemente e os pulmões não deixam, a todo o tempo, de exigir que a inspiração lhes forneça mais oxigénio, para reforçar o pouco que a altitude deixa que lhes chegue em condições normais,

ou

o Nepal e os seus aromas característicos, a azáfama dolente das suas gentes, a sua filosofia de vida,

ou, por exemplo,

a enorme China, com as suas medidas não comparáveis com outras na Terra, as suas gentes, cuja simpatia merecia bem melhor sorte do que uma ditadura que se vai abrindo, mas que, ao mínimo sinal de simples aparência de vontade dos cidadãos de chegarem um pouco mais longe, logo se fecha sobre si mesma,

ou, também,

o extraordinário Vietname, de uma beleza campestre verdadeiramente cativante e de um anseio fortíssimo de se chegar aos seus parceiros mais desenvolvidos,

ou, também,

a Índia profunda, tão profunda que não a conseguimos inteligir, ainda que sofrivelmente, um mundo à parte, dentro deste nosso mundo,

ou, quiçá,

os muito orientais e absorventes Tailândia e Camboja, repletos de imensos tesouros de milénios passados a que as gerações actuais atribuem um valor que nós, ocidentais, imbuídos do espirito imediatista e mercantilista que nos enforma, na maior parte das vezes, muito raramente entendemos, os que entendemos…

ou, até,

os bem mais ocidentais México dos incríveis Maias e Aztecas e Mixtecas e… e… e…, Argentina e o seu renomadíssimo tango, as belíssimas pampas, os pecaminosos bifes de um país com 40 milhões de pessoas e o dobro de vacas, Chile e as suas amabilíssimas gentes e as suas paisagens de estarrecer e outros… tantos outros…


Assim, deixando-os todos em segundo lugar, e porque o melhor lugar do mundo, nesta perspectiva, é igualmente o lugar onde vou encontrar vestígios, memórias, conversas de hoje, em que se fala dos dias de ontem e, nelas, vêm à baila, por todo o lado, a chegada dos primeiros europeus, os portugueses – e quem mais poderia ser?!... - opto, nesta oportunidade, por dar realce, ainda que muito insuficiente, à cidade chilena de Punta Arenas, mais meridional do que quase todas, apenas um pouco menos do que a bem mais pequena e argentina Ushuaia.


E porquê Punta Arenas, a cidade da Patagónia chilena, capital da região administrativa de Magallanes y Antártica Chilena?


Porque ali ao lado está o Estreito de Magalhães, o ponto onde arribou o nosso navegador quando, ao serviço dos reis espanhóis, e a caminho das especiarias do Oriente, iniciou, verdadeiramente iniciou, a descoberta de novos caminhos marítimos para o mundo e, com eles, forneceu aos seus contemporâneos o conceito de “aldeia global”, hoje em dia tão propalado por outros, gente pouco avisada certamente, como descoberta recente e de rara felicidade... E, com essa descoberta, pôde realizar a primeira circum-navegação do nosso planeta e dar-nos o motivo de maior orgulho que um povo pode para si reclamar com toda a justiça.


Eis aqui, para o efeito desta tertúlia virtual de 15 de Julho de 2008, o meu melhor lugar do mundo.


Para que o viva também, embora não tão real, aqui ficam fotos e outras informações que julgo interessantes, contidas no post a que o link conduz.


Fotos:

. Vista geral de Punta Arenas

. No Canal Beagle, Avenida dos Glaciares, Nov.2004


Link:

. Aldeia Global Portuguesa – Punta Arenas

...

28 comentários:

Anónimo disse...

Formidavel sua postagem. Sua escolha, por acaso é a minha. Também procurei muitos lugares para escolher o melhor e foi no centro da minha consciência que encontro, sempre o melhor lugar do mundo.
Mas as suas outras multiplas escolhas e experiências de viagem são fabulosas, e mostra que esse mundo tem muito a apresentar aos homens de espirito aberto, e mentes livres!
Muito boa a postagem. Parabéns e obrigado por participar!
Abçs

Jorge Pinheiro disse...

Não fosse eu estar apaixonado e também me escolheria a mim mesmo!
Estive para ir a esse sul mítico, mas não tive di$ponibilidade. Adorava.
Excelente participação (a figura de Magalhães tem muito que se lhe diga, mas a viagem não).

Ruvasa disse...

Viva, Eduardo!


Ovrigado pelas amáveis palavras. Ainda bem que gostou. Espero que outros gostem também. E, se não gostarem, que batam forte.

Vou, agora, de seguida, ver a sua. Claro que será algo de deixar o pessoal maravilhado. Como sempre.

Esta passada, há que pensar na próxima tertúlia.

Abraço transatlântico

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Jorge!

Bem, também estou apaixonado. E há muitos e muitos anos. Está quase a fazer 38, imagine!

Diga-se, porém, o que se disser, é dentro de si mesmo que o ser humano é verdadeiramente ele próprio. Aí se encontra e reencontra, sempre que os baldões da vida o levam a perder-se. Esse é, para mim, o melhor - mas, por vezes, tambóm o pior - lugar do mundo.

Depois vêm todos os restantes. Tão belos, tão evocativos de memórias que nem sequer se têm, que não há palavras para os descrever. Punta Arenas, a pequena cidade do Sul do Chile, é certamente um deles.

Abraço

Ruben

Maria Augusta disse...

Realmente esta tertúlia virtual nos está dando a oportunidade de conhecer novos blogs interessantes como o teu, e isto é um grande mérito. Fiquei encantada com este teu texto, com esta "volta ao mundo tão bem escrita" nos conduzindo a teu "melhor lugar do mundo" material, e destacando que mentalmente o melhor lugar do mundo se encontra dentro de si mesmo. Excelente postagem, parabéns!
Um abraço.

Ruvasa disse...

Viva, Maria Augusta!

Obrigado pela amabilidade.

Também gostei e muito - como te disse lá - da procura de Shangri-la.

Concordo. vale a pena aderir a esta iniciativa, para conhecer outras perspectivas... de classe.

Abraço

Ruben

Só- Poesias e outros itens disse...

Ruvasa,
adorei conhecer o seu "melhor lugar do mundo".
Ao meu ver o tema das Tértulias abriu esse espaço de diálogo entre nós.

Obrigado pela sua presença no Só Poesias...

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Entre a minha nova tarefa de 'avó militante', a casa, os cães e a pintura lá arranjei um bocadinho para dar espaço à criatividade. :)

Dos quatro que já li consegui traçar um perfil cosmopsicológico, - o seu não conta porque eu sei que é 'Leão'! :) - mas foi interessante para mim, que me interesso pelo assunto, fazer essa associação... :)

Importa-se que 'pick' o logo da 'Tertúlia Virtual'? para o meu post?

Abraços

I.

Isabel Magalhães disse...

Ruben;

Enganei-me, desculpe. O logo q eu queria era o verdinho do Eduardo.

[]

I.
(Coração de 'Leão')

;)

Ruvasa disse...

Viva, Ju Gioli!

É exactamente isso que diz. Para além de diversificar os nossos contactos, a Tertúlia dá-nos a conhecer gente que, na verdade, vale a pena.

Se outros méritos não tivesse, já não seria tempo perdido.

Vá aparecendo, que farei o mesmo, ok?

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Não sou apenas Leão. Sou-o do segundo decanato. O que é importante, julgo eu. Só não sei o meu ascendente. Mas sou também "Cavalo", no signo chinês, já que nasci em 1942 - faz já um tempão - o único ano que teve a honra de servir de título a um filme de Hollywood. É isso, nós, os distuibntos, somos assim. Insuperáveis!... ;-)

Sim, senhora, "lionheart"! Mas, também, "eagleheart"!... ;-)

Abraços

Ruben

Ví Leardi disse...

Ruben,
que prazer fazer esta viagem "com" vc....Ficou fácil através de seus olhos e delicioso texto...Por acaso Punta Arenas e o estreito de Magalhães foi um dos lugares que mais me impressionou...a visão dos pinguins nas próximas ilhas Marta e Magdalena é inesquecível.
E que o melhor lugar do mundo é, como disse o Eduardo e vc a nossa consciêcia tranquila e, como brincava minha avó "Nóis com nóis mesmo".
Um grande abraço e obrigada pela visita e comentário.

Ruvasa disse...

Viva, Vi!

Se gostou tanto, como eu gostei de a conhecer, então gostou mesmo de verdade.

É. A região de Punta Arenas é magnífica. E mesmo sem necessidade de referir as Torres del Payne.

Apareça sempre que quiser. para mim é um prazer. Eu farei o mesmo.

Abraço grande também.

Ruben

Anónimo disse...

"ninguém me tira da cabeça que o melhor lugar do mundo sou eu mesmo" grande verdade...

Ruvasa disse...

Viva, Alice!

Já disse isto em qualquer lado, não recordo onde. Mas repito aqui:

Pois que outro lugar no mundo é melhor do que o nosso interior? Pode tudo e todos em redor nos faltar que, no fim dos tempos, para lá mesmo dos tempos, quem aqui está sempre para mim sou eu mesmo sou eu.

E mais: se não estou bem comigo, com quem conseguirei estar?

Abraço, Alice

Ruben

Anónimo disse...

Rubem, tenho o prazer imenso de vir até aqui e ler sua magnífica participação no "Tertúlias Virtuais". Fantástica aventura por esses caminhos do mundo, que de carona com você, agora também passei a conhecer um pouco.

Além da riqueza que o tema nos trouxe, o melhor de tudo está sendo conhecer novas gentes e quiçá podermos transformar este conhecimento em uma grande amizade.

Forte abraço.
Ery Roberto Corrêa
www.infinitopositivo.blogger.com.br
Curitiba PR - Brasil.

Francine Esqueda disse...

Adorei teu blog, inspirador... Foi uma delicia viajar nesses mundos...
Um Grande abraço.

Ps:Lindo seu melhor lugar!!!

Ruvasa disse...

Viva, Francine!

Também gostei muito do teu, até pela frescura, pela brisa refrescante.

Vai passando por cá. Farei o mesmo pelo teu. Valeu?

Abraço grande também, através do Atlântico.

Ruben

Francisco Coelho disse...

Rubens

Podemos rodar o mundo e não encontraremos outro lugar melhor que é aquele nosso ser interior.


Abç

maria antunes disse...

Estou a adorar conhecer os melhores lugares do mundo para cada um. Adorei visitar o seu blogue. Vou voltar.

Silvares disse...

Há uma dúvida que por vezes me dá que pensar. É imaginar como será o mundo olhado de dentro de outra cabeça que não a minha. Aquelas cores serão iguais ou sequer semelhantes? E o cheiro? E o som (ouço bastante mal)? E tudo junto? Assim sendo, o Mundo é igual para a cabeça de cada um de nós? Parece evidente que não mas será assim tanto?
Obrigado pela visita e fique bem aí, nesse lugar que também tem Punta Arenas lá dentro...

Anónimo disse...

Ruvasa
Belo texto sobre um desses quase "fins do mundo" que temos em nosso planetinha.
Uma vez conversei com alguns brasileiros, na Argentina, que estavam voltavando lá da Patagônia, estavam absolutamente encantados.
abraço

Ruvasa disse...

Viva, Chicoelho!

Grande verdade, amigo, grande verdade. Por ter constatado isso é que eu afirmei que o lugar que apontei - e todos os outros - são apenas o segundo. O primeiro sou eu próprio. Queira-se ou não se queira, ou estamos de bem connosco próprios ou não conseguimos estar de bem commais ninguém, com mais paisagens, por muito belas que sejam. A disposição interior o amarmo-nos a nós pr+oprios ou nºao é que está na base de tudo.

Abraço e vá voltando aqui, ok?

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Maria Antunes!

Isso só prova que a ideia do Eduardo e do Jorge foi tida em feliz momento. Tenho tido algumas excelentesn revelações, de pessoas que não conhecia. E venho reforçando a certeza de que, enquanto liberto de interesses mais escusos, o ser humano é extremamnete agradável, essencialmente bom.

Ao longpo destes textos, ao longo destes contactos tal circunstância tem sido evidente.

Então seremos visitas rec+iprocas, pois que também gostei muito o seu blog.

Abraço

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Silvares!

Sabe, tenho para mim que, na verdade, as cores são iguais para todos - excepção feita aos daltónicos ;-) - o que varia e muito de pessoa para pessoa é a tonalidade. Igual circunstância se passa com o cheiro e o som.

Mas ainda bem que assim é, porque é na diversidade que está o progresso da Humanidade. Se víssemos, cheirássemos, ouvíssemos e, finalmente, interpretássemos tudo e todos como o nosso parceiro do lado faz, o que é que ficava para discutir, analisar, contraditar, provocando, desse modo, que o mundo avance?

É nessa constante diversidade salutar que está a fundamentação da vida, porque a vida nada é que valha a pena se todos pensarmos o mesmo, virmos o mesmo, o mesmo sentirmos... da mesma forma.

No entanto, esta oportunidade, que nos foi dada pelo Eduardo e pelo Jorge, tem mostrado que as divergências de pensamento não impedem - pelo contrário, até ajudam - a que o relacionamento entre nós se processe saudavelmente e que o mundo connosco continue a avançar, ao mesmo tempo que todos enriquecemos as nossas experiências pessoais.

Abraço grande e volte sempre, que a retribuição está garantida.

Ruben

Ruvasa disse...

Viva, Peri!

Julgo já a conhecer, pelo menos minimamente, da caixa de comentários do Varal. E tenho gostado dos seus comentários e da postura geral.

Não foi, pois, surpresa deste nosso encontro.

Fico, assim, fazendo votos no sentido de que ele se mantenha, para nossa comum satisfação e que o encantamento se assemelhe aom de seus compatriotas com a Patagánia.

Abraço grande e volte sempre, que eu farei o mesmo.

Ruben

L.Reis disse...

Lemo...s e ao ler, quase tocamos, cheiramos, sentimos...quase estamos lá nestes "outros melhores lugares" que tu e todos os participantes descrevem...desta ou daquela maneira...estamos lá nesses outros "eus" com experiências tão diferentes, tornadas tão próximas...

Ruvasa disse...

Viva, L.Reis!

Que melhor síntese poderia alguém encontrar para este melhor lugar do mundo a que o Eduardo e o Jorge deram corpo?

Melhor síntese e melhor gratificação!...

Vai aparecendo que de gente como tu... precisamos mesmo.

Foi um prazer.

Abraço

Ruben